segunda-feira, 31 de agosto de 2020

DE MÃOS DADAS

DE MÃOS DADAS
Edmisol Siqueira

… No fim, não se sabe, claro, quem vai ganhar. Dizer hoje que o PT tem chances de voltar a governar é o mesmo que dizer que Bolsonaro está garantido para um segundo mandato. O que se sabe que é que ambos almejam o poder e farão de tudo para nele permanecer ou reconquistá-lo.

O lulopetismo acha que só vence a eleição de 2022 se tiver o bolsonarismo como adversário. Já o bolsonarismo acha que só vence as eleições de 2022 se tiver o lulopetismo como adversário. Então, pra chegar lá com esse quadro, ou seja, Bolsonaro de um lado e Lula ou um poste seu de outro, ambos devem se preservar até lá. Consequentemente, o que veremos de “embates” entre os dois, serão cenas de ficção, preparadas para manter os respectivos rebanhos devidamente hipnotizados até o aperto final do botão da urna eletrônica, aquele botão do barulhinho que encerra as propagandas da Justiça Eleitoral.

Do lado bolsonarista, continuaremos vendo nas redes sociais posts que mostram facetas terríveis do lulopetismo, como a corrupção desenfreada desde o mensalão até o petrolão, discursos desconexos daquela presidenta, lembram?, que costumava ensacar vento, dobrar metas imaginárias e achar cachorro tão importante quanto uma criança ou vice-versa.

Do lado lulopetista, vamos assistir às cenas de bravatas do ex-tenente do Exército que virou capitão quando reformado, falando coisas terríveis quando deputado, louvando torturadores, metendo o pau no centrão e depois beijando na boca deputados do bloco, traindo amigos, enrolado com corrupções familiares e afundando o Brasil, como o PT fez aliás, com seu governo de rumos erráticos.

Mas tudo isso não deverá impedir que Lula ou seu poste se apresente para a candidatura presidencial. Do mesmo modo, todos os ataques lulopetistas a Bolsonaro, inclusive os pedidos de impeachment que serão feitos apenas para causar impacto no rebanho, mas não serão suficientes para tirar o ocupante do cargo, proporcionando assim totais condições para que ele se apresente como candidato à reeleição.

O que vamos assistir até outubro de 2022 será uma grande farsa, produzidas pelas duas maiores forças eleitorais que o Brasil tem hoje, mas que estão em visível decadência. E é justamente por essa razão – a decadência em consequência de suas próprias lambanças – é que uma precisa se agarrar desesperadamente na outra. Se uma se evaporar antes da eleições, o outro não terá o clássico inimigo real para combater e, principalmente, para dizer a todos que “isso que está aí não pode continuar” ou “se perdermos eles voltam”.

No fim, não se sabe, claro, quem vai ganhar. Dizer hoje que o PT tem chances de voltar a governar é o mesmo que dizer que Bolsonaro está garantido para um segundo mandato. O que se sabe que é que ambos almejam o poder e farão de tudo para nele permanecer ou reconquistá-lo.

Podemos não saber, hoje, quem vai ganhar, mas quem vai perder nós sabemos sim: é o povo brasileiro, mais um vez preso na sua própria ignorância política e feito massa de manobra dos espertos e poderosos, ou melhor, dos desonestos e poderosos.

Lula ganhou a primeira eleição por incompetência do PSDB e por vontade de FHC em não apoiar como deveria seu candidato, achando “lindo” (ou sei lá o quê) que fosse sucedido por um ex-operário de esquerda (sonho marxista?), deixando de lado tudo que sabia sobre regimes socialistas no mundo. Claro que o PT não reproduziu Cuba ou Coreia do Norte por aqui, mas bem que tentou e quase conseguiu. O caminho das pedaladas era esse, com a economia em frangalhos e a estrada pronta para o “partido” dominar tudo. E FHC tem uma parcela enorme de culpa nisso.

Depois de chegar ao poder foi fácil: bastou comprar os eleitores mais pobres com esmolas sociais, garantindo vantagem estrondosa nesse eleitorado, compensando a derrota por pequena margem no eleitorado mais esclarecido. Foi reeleito assim e elegeu e reelegeu seu poste disléxico.

Bolsonaro chegou ao poder graças à corrupção do PT: o que fez felizes políticos e empresários, além de servidores do alto escalão, acabou proporcionando um discurso fácil ao opositor que soube perceber que havia maioria no eleitorado contra a desenfreada desonestidade.

Eleito, Bolsonaro iniciou a campanha de reeleição logo de cara, mas deu com os burros n’água ao perceber que não tinha coragem, competência e inteligência suficientes para manter as promessas de campanha. De resto, sua família era uma orcrim do baixo clero político, que estava se dando bem com as práticas comuns de corrupção nas casas legislativas brasileiras: pegar boa parte da grana dos salários dos seus funcionários. Não há legislativo no Brasil em que isso não ocorra. O que, claro, não ameniza o crime de corrupção.

Então, para pavimentar seu caminho à reeleição, a receita adotada foi a mesma do seu “inimigo”, já que esse “inimigo”, fora do poder, não pode adotá-la. Primeiro se livrou de possíveis empecilhos aos seus propósitos. Um bom ministro da Saúde e um excelente ministro da Justiça não podem ficar no governo contradizendo o presidente populista e ignorante. Então fora com eles. Um ministro da Economia que quer privatizar estatais, diminuir impostos e tentar um desenvolvimento sustentável também não pode, pois são medidas que desagradam o status quo político que vive das mamatas burocráticas, do dinheiro público e dos cargos em ministérios e estatais. Antes de demiti-lo, vão fritá-lo em banho maria, vão deixá-lo cada vez mais sem poder.

O passo seguinte foi a união com a maioria dos deputados. No Brasil, como se sabe, essa maioria é corrupta e só se une a quem pode lhe dar os agrados de sempre: ministérios ou diretorias com gordos orçamentos e com autonomia para executar obras e oferecer serviços à população contratados junto a terceiros. Em suma: órgãos que fazem licitações e emitem notas de empenho.

Assim o cenário para 2022 está pronto: de um lado um grupo dizendo que o outro lado é a pior coisa do mundo e de outro, um grupo dizendo que o outro lado é a pior coisa do mundo.

Se até 2022, as forças democráticas do Brasil não se unirem (e não me venham com essa história de FHC e Marta Suplicy no mesmo barco, porque esse filme nós já assistimos) o que teremos como resultado das próximas eleições presidenciais será mais um desastre. Lulopetismo ou bolsonarismo têm o mesmo objetivo: manterem-se no poder custe o que custar. E geralmente custa muito a todo o povo pagador ou não de impostos.

Fonte: http://www.chumbogordo.com.br







A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda. (Mario Quintana)

LUGARES

AMSTERDAM - HOLANDA

CASAMENTO PEGA

Martha Medeiros

Marília contraiu febre amarela. Rosely contraiu estafilococo. Milton contraiu varíola. E Lizete, coitada, contraiu matrimônio.

Um amigo solteiro me perguntou dia desses: é doença? Bem, não está catalogado como tal, mas há aspectos em comum.

Primeiramente, casamento é contagioso. Os pais vão acostumando seus filhos com a idéia e são capazes até mesmo de estimular seu surgimento, como fazem em relação ao sarampo e à catapora: "Melhor pegar de uma vez pra ficar livre". Então, entre os 25 e 35 anos, homens e mulheres vão se aproximando, se tocando, se lambendo e se arriscando a encontrar o par ideal para com ele contrair a coisa.

Casamento também leva todo mundo pra cama, invariavelmente. No começo dá calafrios, suores, palpitação, taquicardia, mas depois as pessoas vão se acostumando com os sintomas e eles desaparecem. O enfermo começa a ter menos paciência para ficar deitado. Começa a frequentar mais o sofá, a poltrona e nem se dá o trabalho de tirar o pijama e vestir algum troço decente. Cama passa a ser um lugar apenas para dormir.

O automedicamento é desaconselhado. É prudente ter o nome de um psiquiatra de confiança anotado na caderneta de telefones.

Casamento pode ser fatal. Ao menos era, tempos atrás. As pessoas não tinham muita informação e a doença matava mesmo: matava a paixão, matava o sexo, matava a paciência, uma desgraça. O matrimônio, que é o nome científico dessa enfermidade, podia levar anos pra dar cabo do casal, mas os menos debilitados conseguiam resistir bastante tempo, às vezes até 50 anos, amparados pela fé.

Hoje há cura. O remédio chama-se divórcio. Custa uma fortuna e não impede que haja reincidência.

Fora isso, casamento e doença não têm nada a ver um com o outro, a não ser o verbo e o grupo de risco: qualquer um pode contrair.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS


domingo, 30 de agosto de 2020

MALÁRIA


MALÁRIA
José Horta Manzano

Desde tempos antiquíssimos, a malária tem castigado a face da Terra. O combate contra essa praga se confunde com a história da humanidade, dado que tanto o protozoário responsável pela doença quanto o mosquito que a transmite apareceram antes do Homo Sapiens.

Atualmente, a moléstia está praticamente erradicada nas regiões de clima temperado, onde se situa a maioria dos países desenvolvidos. Isso contribui para que seja vista como doença de país subdesenvolvido. É verdade e, ao mesmo tempo, não é.

Nas regiões mais quentes – equatoriais, tropicais e subtropicais – chove muito. A acumulação de água no solo concorre para formar pântanos, banhados e alagados. Toda essa água parada, aliada ao calor, é excelente viveiro para o mosquito transmissor. O combate a sua proliferação se torna complicado. Portanto, as condições climáticas são importante fator a tornar endêmica a doença.

Na época da grande onda de imigrantes europeus, lá pelo final do século 19, os portos brasileiros do Rio de Janeiro e de Santos, de clima quente e úmido, eram infestados pelo mosquito da malária, o que assustava numerosos candidatos à imigração. Na Europa, certas companhias de navegação, para atrair clientes, informavam ter navios de partida para Montevidéu e Buenos Aires sem parada no Rio de Janeiro.(*)

A feroz urbanização das cidades costeiras do Brasil trouxe problemas, mas teve efeito colateral positivo: ao eliminar várzeas e brejos, diminuiu a quantidade de viveiros do mosquito transmissor da malária. E a doença regrediu. Regrediu, mas não desapareceu. O combate continua.

Tenho lido notícias sobre os ajuntamentos provocados por doutor Bolsonaro, em campanha eleitoral temporã. Já se vê que, por detrás do sorriso de fachada, o homem continua dando banana para o povo e rosnando um debochado “E daí”. Ajuntamentos favorecem o alastramento da covid-19. “Ora, todos têm que morrer mesmo”.

Além de eventuais condenações penais, a biografia de doutor Bolsonaro vai carregar dois pecados. O primeiro é o charlatanismo de um mandatário que praticou medicina sem ser médico e receitou antimalárico contra coronavírus. A segunda culpa é ter contribuído, por atos e gestos, para a formação de multidões e, assim, para difusão desenfreada da pandemia de 2020.

Imigrantes europeus já não vêm mais ao Brasil. Mas turistas, sim. Se o fluxo de turistas – que já é minguado – diminuir, doutor Bolsonaro carregará boa parte da culpa. Responda rápido: o distinto leitor arriscaria passar férias num país onde a covid-19 se tornou endêmica e continua, impiedosa, a fazer vítimas?

Vêm aí a covid-20, a covid-21, a covid-22, a covid-23. Todas bolsonáricas de raiz. Prepare-se.

Outros nomes
Malária (do italiano mal’aria = mau ar, ar danoso), maleita (do latim maledicta = maldita), paludismo (do latim palus = lodaçal, brejo) são palavras sinônimas. Certos dialetos brasileiros usam ainda febre terçã e sezão, em referência à periodicidade das crises. Menos utilizadas, há ainda outras denominações para a mesma enfermidade: impaludismo, sezões, sezonismo, febre palustre, febre intermitente, febre quartã.

(*) Muito imigrante italiano há de ter trocado Santos ou o Rio de Janeiro por Buenos Aires com base no nome da cidade. De fato, o nome da capital argentina (Buenos Aires = ares bons) parecia antídoto contra a malária (mal’aria = ares ruins).

Fonte: https://brasildelonge.com

ET MAINTENANT

ISABELLE BOULAY & GILBERT BÉCAUD

 (Live / En public) 1999


Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação. (Charles Chaplin)

FRASES ILUSTRADAS


sábado, 29 de agosto de 2020

Melhor morrer de vodca que de tédio! (Vladimir Maiakóvski)

LUGARES

ATENAS - GRÉCIA

E TUDO MUDOU

E TUDO MUDOU
O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss
O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone
A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
´Problemas de moça' viraram TPM
Confeti virou MM
A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse
Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal
Ninguém mais vê...
Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service
A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão
O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD
A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email
O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do 'não' não se tem medo
O break virou street
O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também
O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bike
Polícia e ladrão virou counter strike
Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato
Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita ?
Gal virou fênix
Raul e Renato,
Cássia e Cazuza,
Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...
A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!
A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...
.... De tudo.
Inclusive de notar essas diferenças.
(Luiz Fernando Veríssimo)

Fonte: www.vindodospampas.blogspot.com.br

FRASES ILUSTRADAS


sexta-feira, 28 de agosto de 2020

BELARUS

BELARUS
José Horta Manzano

Como se sabe, a cultura nacional não desdenha uma regrazinha. Que seja cumprida ou não, é o de menos. O que conta é que esteja lá, gravada na pedra, pra ajudar (ou atrapalhar) a vida de muita gente. O chato é que, de regrazinha em regrazinha, arma-se um cipoal amazônico. Sabia que, até para grafar nome de países, há maneira oficial? Pois é. Nessa matéria, quem dá o tom é o Itamaraty.

Com a explosão da União Soviética, entre 1990 e 1991, surgiu uma quinzena de países dos quais pouco se falava antes. Em maioria, são países discretos, daqueles que a gente teria dificuldade em apontar no mapa. São lugares onde a gente tem a impressão de que nada acontece. Tadjiquistão, Turcomenistão, Uzbequistão estão entre eles. Só muito de vez em quando, uma das 15 antigas repúblicas soviéticas sai do esquecimento e vem à tona trazida por algum acontecimento excepcional.

Nos anos 90, assim que o Estado brasileiro reconheceu esses novos países, foi preciso fixar nome oficial para cada um em nossa língua. O caso de Belarus é curioso. Décadas atrás, o país era conhecido como Bielo-Rússiaou Rússia-Branca. De fato, a primeira acepção da palavra russa Белый(Biély) é branco.

O Itamaraty optou por acompanhar a preferência dos nativos, abandonando a antiga denominação. Oficializou-se Belarus(1). Mas o gato que se esconde costuma deixar o rabo de fora. O próprio Itamaraty não chama os nativos de belarussos, como se poderia esperar; o gentílico oficial é bielorrusso – assim, com dois erres –, numa alusão explícita ao nome de décadas atrás.

Na antiga URSS, imensa região com centenas de línguas e dialetos, a língua-teto, aquela que servia para as trocas do dia a dia, era o russo, que se escreve com caracteres cirílicos. Toda adaptação daqueles nomes para nossa língua será, portanto, uma transliteração, isto é, uma adaptação do som original utilizando nossos caracteres latinos. Uma transliteração será sempre fonética: as letras são utilizadas com o valor que têm em nossa língua. (Essa é a teoria; como veremos, na prática, ela pode variar.)

Estes dias, Belarus está no noticiário. Considerado a última ditadura da Europa, o país anda sacudido por manifestações de uma juventude que tem sede de normalização democrática; estão cansados de sofrer com tanta truculência e corrupção. O nome do ditador, pouco conhecido no Brasil até duas semanas atrás, tornou-se familiar: Lukachenko.

Naturalmente, o Itamaraty não fixou normas para transliteração de nome de gente. Não é sua função. Talvez por causa disso, a quase totalidade da mídia atirou-se de cabeça nos despachos que vêm das agências noticiosas internacionais. Copiou ipsis litteris a transliteração inglesa do original Лукашенко: Lukashenko, com esse sh que não faz parte de nossas convenções. O sh é um dígrafo utilizado nos países de fala inglesa para representar o som ch. Na nossa língua, embora possa parecer familiar, não tem vez.

Resumindo, o nome do ditador de Belarus deve ser escrito Lukachenko (2). (Aproveitem enquanto o homem ainda está no poder – depois, será tarde.)

No duro, no duro, deveríamos escrever Lucachenco. Mas não vamos ser mais católicos que o papa: com um k aqui, outro ali, fica bem mais chique. Fica mais russo.

(1) O Itamaraty não recomenda artigo antes do nome do país. Não é, portanto, nem o, nem a Belarus, mas simplesmente Belarus.

(2) Em russo, esse o final é pronunciado a. Digo isso só pra registro. Afinal, ninguém é obrigado a conhecer essas minúcias.

Fonte: https://brasildelonge.com

I HAVE A DREAM

I HAVE A DREAM
DISCURSO DE MARTIN LUTHER KING JR. EM 28.08.1963

 
Todas as coisas necessárias já foram ditas; mas como ninguém ouve, é preciso sempre recomeçar. (André Gide)

LUGARES

GRAMADO - SERRA GAÚCHA

MR. MILES

NEM DIPLOMACIA, NEM CINOFILIA
Fabio Vendrame

De volta da Crimeia, nosso incansável viajante britânico manda agradecer aos mais de 4 mil seguidores de sua fan page no Facebook e pede aos que ainda não a visitaram que o façam com presteza. “Tem sido uma experiência maravilhosa e estou, finalmente, aprendendo a interagir nesse estranho mundo cibernético.” A seguir, a pergunta da semana:

Prezado mr. Miles: ler sua coluna é sempre um prazer. Sou curiosa, portanto farei logo duas perguntas: o senhor deve ter lido sobre a recusa do vice-presidente da Colômbia ao cargo de embaixador de seu país no Brasil, alegando que o clima não é propício ao seu pastor alemão. O senhor também já refez itinerários devido à sua querida raposa das estepes? A segunda: eu e minha irmã ficaremos hospedadas na casa de um casal de conhecidos dela, por 18 dias, em Jerusalém. Gostaria, obviamente, de arcar com nossas despesas. Como proceder sem ser indelicada pelo excesso (seria soberba) ou insuficiência (mesquinhez). Grata, Miriam Aguiar, por e-mail

“Well, my dear, vamos por partes – como Jack, the Ripper. A exótica mensagem do ex-possível embaixador da Colômbia no Brasil deve ser, for sure, uma piada malsucedida. Mas digamos, for instance, que ele de fato acredite que o seu pet vá sofrer com o ar seco de Brasília. Nesse caso, fica evidente que ele não sabe nada sobre cinofilia nem, tampouco, sobre diplomacia. Ou seja: é melhor que fique mesmo como vice-presidente, já que, na maior parte das vezes, trata-se de cargo cerimonial e sobrar-lhe-á muito tempo para pentear as melenas de seu cachorro. Quanto aos colombianos, I presume, o melhor que eles têm a fazer é rezar para que o presidente Juan Manuel Santos não se ausente. Do you know what I mean?

Sobre Trashie, minha querida raposa das estepes siberianas, houve uma única vez em que fui obrigado a alterar meus planos. As you know, Trashie alimenta-se exclusivamente de whiskies com mais de 12 anos ou single malts de qualquer idade – o que a torna muito sociável e, sometimes, muito dispendiosa. Certa ocasião, quando viajamos para as Ilhas Maldivas, um arquipélago muçulmano, tivemos nosso estoque de bebidas apreendido no aeroporto de Malé.

Fiquei impressionado com a intolerância das Maldivas em relação ao álcool e pensei em seguir adiante, rumo às Seychelles, imediatamente. Fui esclarecido, however, que os hotéis situados nas ilhas do arquipélago vendem bebidas alcoólicas sem restrições. Assim, dirigi-me ao hotel gerenciado por um velho amigo, disposto a pagar pelas doses necessárias à dieta de Trashie. Qual o quê! As bebidas, já que proibidas no país, eram vendidas no bar do hotel a preço de ouro! E como minha mascote não aceita meias medidas – e meu bolso, by the way, não tolera preços aviltados –, decidimos nos retirar no dia seguinte. A boa notícia é que as garrafas de Trashie foram devolvidas antes do embarque.

Quanto à outra questão, a pergunta me parece incompleta. Se você e sua irmã vão hospedar-se na casa de ‘conhecidos’ dela sem que a anfitriã tenha definido um preço prévio, presumo que se trata, in fact, de uma boa amiga. Conhecidos não abrem suas casas para conhecidos, até porque, curiosamente, conhecidos, usually, não se conhecem – apenas sabem de quem se trata.

Nesse caso, dear Miriam, as boas maneiras indicam que, durante a estada, será muito simpático se você trouxer, diariamente, mimos como doces, vinhos ou frutas. E, claro, não se esqueça de levar, do Brasil, uma bonita lembrança para sua anfitriã. Pode ser qualquer coisa durável que marque a sua passagem pelo lugar. Menos, of course, um berimbau, que é quase tão incômodo de carregar quanto um sombrero mexicano.”

Fonte: O Estadão

FRASES ILUSTRADAS


quinta-feira, 27 de agosto de 2020

SEM CARÁTER, COMO TODA NUVEM

SEM CARÁTER, COMO TODA NUVEM
Ruy Castro

Os eleitores de Bolsonaro o olham e ele está de um jeito; olham de novo e já mudou

A frase é conhecida: “Política é como nuvem —​você olha e ela está de um jeito; olha de novo e já mudou”. Deve ter sido inventada na Europa do século 18, mas, no Brasil, é atribuída ao mineiro Magalhães Pinto (1909-1996). Em março de 1964, como governador de Minas Gerais, ele se passava por aliado do presidente João Goulart. No dia 31, sentindo a mudança na nuvem, partiu para derrubá-lo. Mas, ao contrário do que esperava, não ganhou nada com isso. Bem feito, quem o mandou estar com a cabeça nas nuvens?

Há políticos que mudam tanto que nem as nuvens os acompanham. Vide Jair Bolsonaro. Só os papalvos o acreditavam diferente, mas de hora em hora se parece mais com os políticos que fingia combater. Ao sentir, por exemplo, que suas bravatas o estavam isolando, fez como todos os governos antes dele —comprou o centrão, com ministérios, bancos e verbas. Uma das moedas dessa compra foi passar o pano em Michel Temer e mandá-lo oficialmente ao Líbano.

A Lava Jato, em nome da qual Bolsonaro se elegeu, tornou-se a inimiga a destruir, no que ele se juntou a Lula, José Dirceu, Gleisi Hoffmann, Temer, Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, Renan Calheiros, Romero Jucá e, agora, Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra, todos, por acaso, políticos cujas contas não fecham.

Há dias, José Sarney insinuou que deseja uma aproximação —que Bolsonaro, se for esperto, aceitará. Sarney é indispensável para qualquer governo que queira se garantir, motivo pelo qual Lula e Dilma Rousseff se deram tão bem com ele durante 14 anos. Bolsonaro, aliás, refreou seu desprezo pelo Nordeste e, como Lula, também decidiu garantir lá os votos para sua reeleição. Mas, para isso, terá de gastar dinheiro que não tem, no que ameaça ser acusado de irresponsabilidade fiscal, como Dilma.

Os bolsonaristas não elegeram um mito, como eles acreditam, mas uma nuvem —sem caráter, como toda nuvem.

Fonte: Folha de S. Paulo
Se ages contra a justiça e eu te deixo agir, então a injustiça é minha. (Mahatma Ghandi)

LUGARES

VALÊNCIA - ESPANHA
Valência ou Valença é a capital e a mais populosa cidade da Comunidade Valenciana e a terceira mais populosa da Espanha, com 800 666 habitantes no município e 1 738 690 habitantes na área metropolitana. É uma cidade muito antiga, sendo referenciada já no século II a.C., e foi fundada em 138 a.C. Com uma longa história, diversos museus, tradições populares.

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


DEIXEM AS CRIANÇAS BRINCAR

Deve-se dizer "deixem as crianças brincar" ou "brincarem"? Tanto faz. Vejamos por quê.

Na coluna Não Tropece na Língua 49 observamos como funciona o infinitivo pessoal flexionado: com flexão optativa [convidou as crianças para brincar/brincarem no pátio] ou obrigatória [reformou o pátio para as crianças brincarem à vontade]. Um passo além disso é conhecer e aplicar corretamente o infinitivo nas frases elaboradas com os verbos "ver, ouvir, sentir, fazer, mandar, deixar". Se o complemento desses verbos for um substantivo, será optativa a flexão; mas se o complemento for um pronome pessoal oblíquo, a flexão será proibida. Exemplos:

                                Complemento substantivo / Complemento pronome

Viu os meninos pular/pularem o muro./ Viu-os pular o muro.
Ouvi os gatos arranhar/arranharem a porta. / Ouvi-os arranhar a porta.
Não sinto os corações bater/baterem. / Não os sinto bater.
Faça os alunos ficar/ficarem quietos. / Faça-os ficar quietos.
Vou mandar as meninas entrar/entrarem. / Vou mandá-las entrar.
Deixou as duas ficar/ficarem descalças./ Deixou-as ficar descalças.

Os verbos ver, ouvir e sentir (e sinônimos) são chamados de sensitivos; fazer, mandar e deixar, de causativos ou factitivos.

Qual a melhor opção do redator?

1) Preferentemente, não flexionar quando o infinitivo vem logo depois dos verbos sensitivos e causativos:

  • O papel da imprensa é fazer circular as informações.
  • Deixai vir a mim as criancinhas.”
  • Francisco Braga demonstrou sua inclinação para a música fabricando instrumentos rústicos de bambu, nos quais imitava trechos que ouvia executar os seus colegas mais velhos.
2) Quando o infinitivo é um verbo pronominal (com o pronome se), a preferência é pela flexão:

  • O fato é que pelo país afora vemos esses hospitais se afundarem em dívidas e mostrarem-se incapazes de se equipar.
  • O joalheiro vê multiplicarem-se os pedidos e o faturamento da firma.
  • O cinegrafista ainda conseguiu ver as mãos se soltarem do gradil.
Mas devo repetir: em qualquer circunstância, basta haver um pronome oblíquo para que não se possa pluralizar/flexionar o infinitivo:

  • Mande-as entrar, por favor.
  • “Não nos deixeis cair em tentação.”
  • Faça-os calar imediatamente.
  • Nós os ouvimos fechar a porta de mansinho.
  • O cinegrafista as viu se soltar do gradil.
  • Lula sempre nos deixou falar. [Erro gramatical: "nos deixou falarmos"]
Nos demais casos, a escolha é pessoal, talvez até uma questão de ouvido:

  • O que faz certas regiões ser/serem mais populosas que outras?
  • O jacaré deixou os patinhos e todo mundo nadar/nadarem na lagoa.
  • Não há advogado que faça esses baderneiros respeitar/respeitarem a lei.
  • Os surtos de dengue e febre amarela fizeram os indicadores de saúde pública brasileira retornar/retornarem ao início do século.
  • Ficava observando, olhando as formigas carregar/carregarem pedaços de folhas de um lado para o outro.
Fonte: www.linguabrasil.com.br

FRASES ILUSTRADAS


quarta-feira, 26 de agosto de 2020

BOLSONARO INFECTA PELO OUVIDO

BOLSONARO INFECTA PELO OUVIDO
Ruy Castro

Como será dizer 'bundão' e 'encher tua boca' com porrada em libras?

Jair Bolsonaro não se contenta em ser visto como desumano, mentiroso, sem compostura, incapaz de governar, conivente com a corrupção, destruidor do meio ambiente, defensor da tortura, amigo de milicianos, subornador de militares, golpista, genocida e cínico. Também é uma ameaça pessoal à saúde pública. Por seu passado de atleta —como ele define sua carreira de terrorista no Exército—, gaba-se de ser inexpugnável à Covid, chamando de bundões os 115 mil brasileiros que já morreram e quem não tem um serviço médico como o dele, pago com o nosso dinheiro.

Suspeita-se de que, ao circular infectado e sem máscara pelo país, Bolsonaro contaminou uma multidão. A prova é a de que as pessoas ao seu redor, constrangidas a não usar máscara, vivem pegando a doença —só os funcionários do Planalto a contraem à média de três por dia. O mais novo infectado é o seu filho Flávio “Queiroz” Bolsonaro. Mas isso não é causa de preocupação porque, por ser filho de quem é, ele está proibido de reagir como um bundão.

Para mim, quem mais corre perigo com Bolsonaro é aquele pobre intérprete de libras que se vê ao seu lado —também sem máscara— nas declarações oficiais. Não sei o nome, idade ou histórico de atleta do tal senhor, mas espero que ele sobreviva aos perdigotos de Bolsonaro, ao tentar converter em sinais os coices do chefe contra as instituições e a verdade.


Por seu visual sóbrio, parece um homem de família, de sólida formação moral, talvez evangélico. Como será, para ele, dizer “bundão” em libras? E como será quando tiver de traduzir expressões como “porra”, “bosta”, “merda”, “putaria”, “filho da puta” e “puta que pariu”, como as que Bolsonaro ejaculou 28 vezes na reunião ministerial de 22 de abril? E o recente “encher tua boca com porrada”?

É o que me faz temer pela saúde do intérprete de libras. Afinal, certas infecções penetram também pelo ouvido.

Fonte: Folha de S. Paulo

GUERILLA GRAfTERS

GUERILLA GRAfTERS
Adaptado de returntonow.com

Ativistas que, secretamente, enxertam galhos frutíferos em árvores estéreis das cidades

Esses rebeldes estão enxertando “frutos proibidos” em árvores ornamentais urbanas, e as cidades não sabem como detê-los!

Um grupo de lutadores pela liberdade alimentar está escapulindo no meio da noite (e às vezes em plena luz do dia) enxertando galhos produtores de frutas em árvores urbanas estéreis, especificamente criadas para não dar frutos.

Conhecidos como os “ Guerilla Grafters ”, sua missão é fornecer alimentos saudáveis ​​e gratuitos onde são mais necessários – desertos alimentares urbanos.

Você já se perguntou por que nenhuma das árvores nas grandes cidades produz algo útil, como nozes ou frutas? De acordo com os Guerilla Grafters, é porque eles foram criados intencionalmente para não o fazer.

Os planejadores urbanos selecionam especificamente variedades estéreis de muitas árvores frutíferas comuns (maçãs, peras, ameixas, cerejas) por causa de sua beleza para decorar suas ruas.

Mas eles não querem ser responsabilizados por qualquer confusão potencialmente escorregadia que as frutas caídas possam criar nas calçadas da cidade ou quaisquer animais que possam atrair (pense em abelhas, pássaros, esquilos).

Você pode imaginar a rapidez com que a vida selvagem pode se tornar um problema na selva de concreto. Mas talvez esse seja o problema com as cidades. Eles não são selvagens o suficiente. Pelo menos é o que pensam os Guerilla Grafters.

O movimento começou em 2012 em San Francisco, lar de 10.000 árvores frutíferas infrutíferas.

A fundadora do grupo, Tara Hui, tentou usar todos os meios legais para que a cidade legalizasse as árvores frutíferas, mas se frustrou quando percebeu que isso não estava levando a lugar nenhum.

Desde então, ela formou um grupo de dezenas de enxertadores furtivos na área da baía de São Francisco, com milhares de seguidores no Facebook , muitos dos quais formaram grupos de enxerto em suas próprias cidades.

Enxertar galhos em árvores é como “lingueta e ranhura na carpintaria”, explica Hui.

Os ramos emendados são presos com fita isolante codificada por cores, para que os voluntários possam monitorar as árvores e garantir que as frutas sejam colhidas e não desperdiçadas.

“Uma vez que ele cura, ele se conecta”, disse Hui. “Basicamente, o galho se torna parte da árvore”.

E a essa altura, é tarde demais para a cidade fazer qualquer coisa a respeito, gabam-se os enxertadores.

“É como a versão do jardineiro do graffiti”, disse Claire Napawan, professora de arquitetura paisagística da UC Davis, ao LA Times . “Mesmo que haja dúvidas sobre sua capacidade de produzir comida suficiente para fazer a diferença … como uma peça de conscientização, é uma boa ideia.”

Fonte: https://www.pensarcontemporaneo.com
Os homens casam-se por fadiga, as mulheres por curiosidade; ambos se desiludem. (Oscar Wilde)

LUGARES

ST. PETERSBURG - RÚSSIA

O ANALISTA DE BAGÉ

OUTRA DO ANALISTA DE BAGÉ

O analista de Bagé recebe seus clientes de bombacha e pé no chão, nunca deixa de oferecer um chimarrão “pra clarear a urina e as idéia” e o divã do seu consultório é coberto com um pelego. Tudo isto é verdade. Mas algumas coisas que contam sobre o analista de Bagé são inventadas. Como ele mesmo diz “tão botando mais coisa na minha boca que água em pirão de quartel”. Não é verdade que as suas sessões de análise em grupo virem fandango e que ele as chame de “freudango”, ou “arrasta-trauma”. Ele se declara “mais ortodoxo que cafiaspirina e braguilha com botão”. Só o que fez foi mandar sua recepcionista Lindaura (uma china que eu tava criando pra cruzá mas passou do ponto) acompanhar as sessões com o seu acordeon de madrepérola, “tão chique que em vez de baixo tem gaffe”. Mas é claro que se alguém quiser dançar, desde que seja mantido o respeito, pode. Outra ideia do analista de Bagé foi promover jogos de futebol de salão entre os grupos de análise. Jogam os sádicos num time e os masoquistas no outro. Assim o jogo pode ser violento que ninguém se importa.

Mas o analista de Bagé não descuida dos seus clientes individuais. Outro dia recebeu um que teve que ser empurrado para dentro do consultório pela Lindaura.

- Mas que índio más chucro - disse o analista, puxando o moço pelo braço.

- Ele diz que não quer tirar o seu tempo – disse a Lindaura.

- Mas tu não ta tirando, tchê. Tá comprando.

- Mesmo assim... – disse o moço, humildemente.

- Não te fresqueia e deita.

- Mas...

- Deita! – ordenou o analista, ajudando-o a se decidir com um empurrão. – Aceita um mate?

- Quem sou eu?

- Mas tu parece cascudo atravessando galinheiro, tchê. Qual é o causo?

- É uma bobagem...

- Desembucha.

- É que eu tenho este complexo...

- Sei.

- O senhor vai até achar engraçado.

- Engraçado é gorda botando as calça. Fala logo que eu tou com salinha cheia de louco.

- É um complexinho.

- Tô ouvindo.

- Fico até envergonhado. Tanto complexo grande por aí...

- Fala, animal!

- Meu complexo, coitado, é de inferioridade.

- E tu quer ser curado, no más.

- Se não der muito trabalho...

- Olha aqui, ó bagual. O que tu tem é vaidade.

- Eu?

- Mais vaidoso que guri em chineiro. Conheço gente inferior aos monte. Inferior como tu.

- E daí?

- Daí que nenhum pensa que é doença! (VERÍSSIMO, Luis Fernando. O Analista de Bagé, Porto Alegre : L&MP Editores, 1995, p. 200)

FRASES ILUSTRADAS


terça-feira, 25 de agosto de 2020

CANJEBRINA, A ASSASSINA

CANJEBRINA, A ASSASSINA
Paulo Pestana

O rapaz tem pinta de ser um brasileiro que sua para viver. O frio da noite nesta temporada de seca pedia casaco e até um pouco mais, mas ele ainda estava em mangas de camisa quando entrou no bar e, sem economizar na altura da voz – um amigo meu, preconceituoso, diz que pobre só fala gritando – pediu:

– Amigo, por favor, me dá aquela que matou o guarda.

Todos já tinham ouvido a expressão, mas talvez por falta de assunto nessa época em que a política anda dicotômica e o futebol vai à meia-boca, passou-se a especular de onde viria a expressão. É preciso lembrar que, naquela roda, pesquisa no celular é proibida. Preferimos as mentiras idôneas.

O rapaz era um destemido. Virou o copo que continha bem mais que uma dose regulamentar e tomou tudo de um gole só; ao final, estalou o dedo, fez uma careta e tomou folego. Não era um consumidor gurmê, não cheirou e sequer conferiu a perlage nas bordas, até porque a malvada é dessas que se encontra na prateleira de baixo dos mercados, baratinha.

Mas e o guarda? Apareceu todo tipo de teoria para explicar a frase. Algumas óbvias, como a de que se tratava de um soldado pinguço que bebeu até cair e botaram a culpa na pinga; outras mais criativas, alegando que se tratava de uma safra especial que era para ser guardada – mandou à guarda, explicou alguém. Houve também as impublicáveis, pesadas até para aquele ambiente libertino, quase insalubre.

Ninguém sabia, claro. Não é um dito popular, pois não encerra moral ou significado, e não quer dizer necessariamente que se trata de um líquido forte, ou mesmo de um veneno. Eis que, na semana seguinte, Marcão, bancário aposentado, com tempo para fazer pesquisa sobre as irrelevâncias da vida, trouxe uma resposta que, por falta de outra melhor, foi aceita. Em princípio.

Segundo ele encontrou no Google, o livro Inconfidências da Real Família no Brasil, de um certo Alberto Campos de Moraes, narra que D. João VI tinha uma criada chamada Canjebrina que, como se sabe, é sinônimo de uca e que teria matado um dos soldados da corte imperial. Daí começaram a dizer “a Canjebrina matou o guarda”, e a frase se popularizou.

Nem precisei ligar para o Renato Vivacqua ou para o coronel Athos Cardoso, oráculos confiáveis que sabem de quase tudo. O que o Google não disse é que Alberto Campos de Moraes é na verdade o escritor Mário Prata (que tem todos os cinco nomes na certidão) e o livro com a explicação nunca foi escrito.

Prata escreveu um outro livro com uma interpretação pessoal e humorística sobre ditos e frases populares, inventando teorias que explicassem a criação de sentenças como “mas será o Benedito?” (título da obra, aliás), “fazer uma vaquinha” e “cor de burro quando foge”. O autor nunca pretendeu disputar com Câmara Cascudo, que passou a vida pesquisando o folclore brasileiro.

A definição é só uma gaiatice, mas para o Google virou uma verdade.

Fonte: https://blogs.correiobraziliense.com.br
Quem se gasta em palavras, raramente se gasta em ações. (Gustave Le Bon)

LUGARES

SANTUÁRIO DE LOURDES - FRANÇA
Um dos santuários cristãos mais populares do mundo, Lourdes, no sudoeste da França. Seis milhões de pessoas visitam Lourdes anualmente. A cidade possui mais hotéis per capita do que qualquer outro lugar da França, tal o afluxo de visitantes, franceses e estrangeiros. Os fiéis vêm em busca de curas milagrosas para doenças e deficiências. Para muitos, é a viagem de uma vida. Apesar de todo o comercialismo, Lourdes não desaponta.

ROMANCE FORENSE

Charge de Gerson Kauer
TRAVESTI? NÃO, MULHER ESPALHAFATOSA!

A mulher, 40 de idade, empregada doméstica de confiança, vestiu-se chamativamente para, acompanhando a patroa (viúva), irem a um baile dominical da terceira idade, no clube social. Ingresso pago, no evento permitia-se o acesso a pessoas apenas com mais de 45 anos. Mas o porteiro não fiscalizava o detalhe etário.

Após o acesso, as duas se separaram: a patroa ocupou uma mesa de pista com amigas e a mulher personagem deste romance forense - que chamava a atenção por seu traje, pelo seu decote e pelos seus cabelos - ocupou um lugar mais ao fundo, dividindo mesa com algumas conhecidas, integrantes da mesma faixa social.

Idosos sessentões concentraram olhares na novel visitante. De repente, o dirigente do clube acionou um dos seguranças:

- Tira fora aquele ´traveco´, antes que ele consiga iludir alguns velhos gagás!

O brutamontes, em agir característico, foi incisivo no diálogo rápido:

- Com esta cara, com este jeito, com este cabelo e com este vestido você só pode ser travesti - e isso aqui é uma festa de família. Fora!

- Eu sou mulher, posso provar de todas as maneiras - protestou a doméstica.

Sem direito a mais nada, ela foi levada coercitivamente para fora do clube. 

Dois meses depois, a questão estava em Juízo. O clube sustentou ter ocorrido "acontecimento banal e mera sensibilidade" e alegou que a mulher não fora expulsa da festa pela sua condição sexual, mas que o motivo da abordagem e da "solicitação para retirar-se" teria sido outro: ela não tinha a idade mínima de 45 anos exigida para participar do bailareco. 

Ouviram-se testemunhas, a sentença de procedência do pedido deferiu reparação de R$ 35 mil e, no tribunal, o relator não deixou por menos: "ninguém tem o direito de duvidar da condição sexual de uma pessoa, discriminando-a sem dar o direito de provar sua feminilidade". 

O acórdão deplorou que "nada é pior para uma verdadeira mulher do que ser confundida com um travesti".

Na fase de cumprimento de sentença, o clube pagou a condenação. Com os R$ 35 mil, a autora da ação fez uma incursão nos shoppings porto-alegrenses, comprou roupas discretas e voltou ao castanho tradicional da cabeleira.

O tom verde dos cabelos foi abolido.

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS


segunda-feira, 24 de agosto de 2020

A DESPEDIDA DE GETÚLIO VARGAS

  24/AGOSTO/1954
republicação)


Getúlio Vargas deixou dois documentos de despedida. O primeiro, conhecido como Carta-testamento, foi divulgado pelo rádio para todo o país logo após o suicídio. Foi encomendado ao amigo de confiança José Soares Maciel Filho, por este redigido e assinado pelo presidente. O outro, escrito a lápis em papel oficial, que chamaremos de carta-despedida, foi encontrado depois. São dois textos muito diferentes.
Viva o Brasil, onde o ano inteiro, é primeiro de abril. (Millôr Fernandes)

LUGARES

BRUGES - BÉLGICA

O FIM DO OUVIDO NA SEPARAÇÃO

Fabrício Carpinejar

O primeiro sentido que se perde com a separação é o ouvido. Não queira frequentar a casa de alguém na fossa. Ou levantar os fones de um recém separado de repente na rua. 

Nunca o sujeito em crise poderia ser convidado para ser DJ de uma festa. Nunca poderia ter uma caixa de som potente no carro. 

O separado é uma ameaça ao bom gosto. As músicas serão as mais aleatórias possíveis. Ele não tem mais nenhum critério. Suspendeu o seu gosto, fez greve de suas preferências, apagou o seu histórico no Spotify. Não está em condições de recusar um refrão. Pode ser Shakira, pode ser Fagner, pode ser Justin Biber, pode ser Jorge e Mateus. A playlist será esquizofrênica. 

O separado não escuta somente vozes, mas acredita em todas elas. Ele se vê entupido de emoção. Sua identidade foi desativada com o fim do romance. É possível, inclusive, que prepare uma imersão exclusivamente com o que o ex ou a ex gostava, numa espécie de reencarnação em vida, dando início a um processo masoquista mesmo, disposto a aumentar a projeção e a simbiose do sofrimento. 

É capaz de chorar com sertanejo, funk e até comercial de carro. Não há limites em sua breguice. Cantará letras que jamais imaginava saber de cor. Vai recorrer ao cancioneiro adormecido da infância. Pois sofrer é uma hipnose forçada. Alguns vão longe na memória e derramam uma lágrima entoando Escravos de Jó. 

Vai se sentir traduzido com peças incompatíveis. Só ele mesmo para achar conexão entre a sua dor e Não se Reprima, de Menudos. Mas localiza um nexo na falta de noção e sai pela sala criando um karaokê cadavérico com o controle da Sky. 

Pula da infame Manuela de Júlio Iglesias ao pior do Reino Unido, com Build, versão do The Housemartins. Reverte também as melodias: canções tristes são alegres, canções alegres são suicidas. 

Os tímpanos terminam sendo os mais maltratados com o divórcio. O sofredor escutará tudo o que vier pela frente, organizando um inacreditável brechó dos vinis. Sua personalidade é um balaio de CDs por R$ 9,99. 

Não reúne forças para resistir. Seu coração oscila drasticamente, uma frequência de rádio-pirata, prestes a naufragar no mais absoluto silêncio.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS

domingo, 23 de agosto de 2020

FALANDO SÉRIO!

FALANDO SÉRIO!
Elena Landau

Ao choro dos descontentes se junta Paulo Guedes, o chefe de Salim Mattar

Salim Mattar deixou a Secretaria de Desestatização com um saldo positivo: uma estatal a mais. Nestes 19 meses que esteve no comando do programa, descobriu que os tempos no setor público são diferentes do privado, que o establishment resiste à venda de estatais e Bolsonaro não gosta de privatização. E os Beatles são realmente os Reis do Iê-iê-iê.

Falando sério. Sair atirando no presidente é fácil. Ao choro dos descontentes se junta seu chefe, Paulo Guedes. Vou usar uma palavra forte. Hipocrisia. Guedes foi fiador do candidato Bolsonaro. Dizia que faria em um ano o que os outros não tinham conseguido em 30. Prometeu trilhões com venda de ativos. Mattar nunca contestou esses números, ainda que não tenha incluído nenhuma estatal relevante no programa de desestatização. Nem Valec!

Na eleição de 2018, havia muitas opções liberais entre candidatos e assessores. Nomes de primeira linha e com experiência comprovada na vida pública, como Henrique Meirelles, Persio Arida e Gustavo Franco. Guedes fugiu de todos os debates. Afinal, era o “liberal dos liberais”. Não precisava dar explicações. Dizia que bastava convicção, o que teria faltado a todos antes dele, para mudar o País.

Conhecido por sua inabilidade política, inexperiência em gestão pública e falta de contribuição acadêmica na área macroeconômica, foi recebido com muito ceticismo por alguns, mas abraçado por boa parte dos eleitores “liberais” de Bolsonaro.

Com amplos poderes criou um super gabinete. Sem modéstia, trouxe para si a responsabilidade de gerir sete secretarias, antes espalhadas em pelo menos quatro ministérios. Teve liberdade para compor uma equipe com técnicos de sua confiança. Nunca um governo e um ministro assumiram com tanto poder para impor uma agenda própria.

Mas, para espanto de muitos, aquele que passou anos se preparando para assumir a liderança da economia do País, não tinha projeto. Sua obsessão com a capitalização quase inviabiliza a reforma da Previdência, deixada na cara do gol por Temer. A mesma obsessão com a CPMF pode desmontar o apoio, de toda a sociedade, à reforma tributária. Reforma administrativa não veio. Nem mesmo a PEC Emergencial, entregue em novembro do ano passado, recebeu dele qualquer atenção. Abertura comercial nem sequer foi mencionada. A palavra privatização saiu dos seus discursos megalomaníacos. Voltou durante a pandemia, pior momento possível. A culpa é sempre dos outros.

Ninguém chega a um alto cargo executivo apenas por sua bagagem técnica. Habilidade negocial, trabalho de equipe, respeito pelos stakeholders e firmeza na implementação de uma estratégia são parte das qualidades de um líder. No setor privado e no setor público. Não se ganha apoio no grito ou na chantagem. No discurso sobre a debandada desta semana, Guedes mostrou que ainda não aprendeu nada sobre a arte da política ao colocar o presidente contra a parede. Desprezo pela política e pela burocracia estatal explicam o fracasso da sua gestão. Sem falar da falta de liderança para convencer seus colegas da alta administração, incluindo o chefe, da importância da agenda reformista.

As pressões corporativas em um país patrimonialista são parte do jogo. Não há novidade. Se esse é o motivo de Mattar para sair, ele nem deveria ter entrado. Se há uma pressão para a volta de um modelo intervencionista e política fiscal contracíclica é porque não existe um plano econômico que dê esperanças de retomada. Nada que acene com aumento da produtividade e eficiência no País.

Quando a pandemia chegou, já estávamos à deriva. A crise econômica gerada pela covid-19 deu uma sobrevida ao ministro, que havia perdido o apoio político com o pífio resultado do PIB de 2019. De âncora do governo Bolsonaro, se tornou uma pedra no sapato. Está próximo de perceber que “Posto Ipiranga” não é exatamente um elogio.

No meio do furacão econômico e político, Bolsonaro saiu do armário e abraçou o populismo de vez. Caminho sem volta. A saída de Mattar não terá impacto na desestatização, aquela que foi sem nunca ter sido. Bom lembrar que participações minoritárias não são empresas, nem sua venda privatização.

Se Guedes tivesse reconhecido o trabalho de governos anteriores poderia ter sido diferente. O PND foi criado formalmente por Collor, continuado por Itamar e ampliado por Fernando Henrique. Como Bolsonaro, Itamar não era entusiasta da privatização, mas delegou ao seu hábil ministro da Fazenda a decisão. Com sua equipe, FHC implementou reformas modernizantes. Soube explicar e convencer seu presidente e a sociedade da importância delas para a estabilização da moeda.

Esses três presidentes fizeram uma verdadeira reforma do Estado. Nos anos 90, foram privatizados todos os setores de fertilizantes, petroquímica, siderurgia, além da Rede Ferroviária, Embraer, Vale, Telebrás e Eletrosul. Foi com firmeza, governança, transparência e respeito aos protocolos que se obteve esse resultado. Aprender com o passado, ajuda muito. Mais fácil aprimorar a partir daí. Só precisa convicção.

Fonte: http://www.chumbogordo.com.br

POSADEÑA LINDA (RAMÓN AYALA)

QUARTETO CORAÇÃO DE POTRO
Há oradores que procuram compensar a falta de profundidade com extensão. (Montesquieu)

LUGARES

SANTO ANTONIO DE LISBOA - FLORIANÓPOLIS

CRÔNICA LONDRINA

CRÔNICA LONDRINA

Iniciamos um tour pela cidade com um guia que é britânico mas fala muito bem o português, inclusive conhece o Brasil e de modo particular Santa Catarina.

Passando por um determinado lugar ele informou que ali se realizava o melhor carnaval do mundo. Como ninguém comentou a assertiva ele repetiu a informação e aí sim, diante da reação de alguns ele remendou sua fala dizendo que se fazia o segundo melhor carnaval do mundo e complementou: o primeiro é o carnaval de Laguna. (aplausos)

Ontem, na chegada a Londres, chamava a atenção a quantidade de pessoas correndo pelas ruas da cidade ou mesmo andando de bicicleta, sempre portanto uma pequena mochila nas costas. 

Hoje o guia nos explicou que muitas destas pessoas vão ao trabalho correndo ou mesmo de bicicleta. Na mochila levam roupas apropriadas e que em muitos locais de trabalho há a possibilidade de tomar um banho. 

Isto tudo por uma razão maior: o transporte coletivo é caro e é impossível vir para a cidade de carro pois simplesmente não há lugares para estacionar e onde os há, os preços são proibitivos. 

O guia nos diz que há uma máxima em Londres: Você quer dirigir, dirija, mas nós faremos da sua vida um inferno. 

A fiscalização do trânsito, segundo ele, é muito rigorosa e não vale a pena transgredir as leis pois as multas são muito altas. Há muita fiscalização através de câmeras instaladas por toda a cidade.

Existe fórmula mais eficaz para fazer cumprir a lei do que ferir a parte mais sensível do ser humano, o bolso?

FRASES ILUSTRADAS

sábado, 22 de agosto de 2020

VACINA E IDEOLOGIA

Hélio SchwartsmanVACINA E IDEOLOGIA
Hélio Schwartsman

É por nossa conta que transformamos questões técnicas em batalhas ideológicas

Numa rara boa notícia sobre a pandemia, o Datafolha aferiu que 89% dos brasileiros pretendem vacinar-se contra a Covid-19 tão logo o fármaco esteja disponível. Esse número contrasta com o dos EUA. Pela pesquisa comparável mais recente que encontrei, a da NPR/PBS NewsHour/Marist, apenas 60% dos americanos intentam fazer o mesmo.

Igualmente interessante, no Brasil não parece haver um componente ideológico muito forte na predisposição a imunizar-se. A taxa dos que tomariam a vacina é de 86% entre os que avaliam bem o governo Bolsonaro e de 92% entre os que avaliam mal. Já nos EUA, o fator político aparece com muito mais intensidade. Tomariam a vacina 71% dos entrevistados que se identificam como democratas contra apenas 48% dos que se dizem republicanos.

Na prática, isso significa que provavelmente teremos menos dificuldade para convencer a população a imunizar-se contra a Covid-19 por aqui. Significa também, como eu já havia sugerido, que a queda na cobertura vacinal registrada no Brasil nos últimos anos tem mais a ver com preguiça/desinteresse do que com uma militância mais ativa contra a imunização, ao contrário do que se verifica em outros países.

Meu otimismo, porém, não vai muito longe. É questão de tempo até que a ideologização das vacinas chegue aqui. O problema de fundo, creio, é a questão das identidades políticas. Especialmente em tempos de polarização, surgem incessantemente novos temas através dos quais as pessoas expressam sua identificação/lealdade em relação a um grupo.

Vimos esse fenômeno acontecer em tempo real com a crença no aquecimento global, que, até o final dos anos 90, era politicamente neutra, mas depois se converteu num atalho fácil para diferenciar conservadores e progressistas. O mesmo parece estar ocorrendo em relação a vacinas e até a via do parto.

É por conta e risco que transformamos questões técnicas em batalhas ideológicas.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br