segunda-feira, 31 de julho de 2023

OS FALANTES SÃO DONOS DA LÍNGUA

Eduardo Afonso
A Câmara Municipal de Belo Horizonte aprovou Projeto de Lei que proíbe o uso de linguagem neutra nas escolas do município. Pura perda de tempo e falta do que fazer.

A lei é inconstitucional (o STF já deixou claro que diretrizes e bases da educação são de competência da União). E tentar proibir que se adote a linguagem neutra, como propõem os milicianos do idioma, é tão inútil quanto querer enfiá-la goela abaixo, como pretendem os guerrilheiros da causa.

Lei similar já foi derrubada em Rondônia e logo será também no Paraná e em Santa Catarina bem como em Manaus e Porto Alegre. Igual destino terão os projetos em tramitação em cinco estados, cinco capitais e no Distrito Federal.

Qualquer ação para impor entraves ou transformações no idioma por meio de decreto será ineficaz. Pelo simples motivo de que não é assim que a coisa funciona. A língua não muda de fora para dentro ou de cima para baixo: ela muda porque nós, os falantes, mudamos. Nada impedirá a língua de fluir (não há barragem capaz de contê-la); nada a desviará arbitrariamente de seu curso. (Reforma ortográfica é outro departamento.)

Será que alguém acredita que professorus e alunes passarão, todes juntes, a se expressar de uma forma artificial, contraintuitiva, só porque paladinos da justiça resolveram embaralhar gênero biológico e gênero gramatical? Escolas do Brasil inteiro tentam, há décadas, sem sucesso, ensinar que a conjugação na primeira pessoa do singular do futuro do subjuntivo do verbo "ver" é "quando eu vir". Que há quatro porquês. Que não existem "menas" ou "houveram problemas". Que vocativo leva vírgula. E… nada.

Sim, a língua mudará. Na nossa geração, trocamos chofer por motorista, menu por cardápio, perdemos a vergonha de começar frases com pronome oblíquo. "Não sou alegre nem sou triste:/sou poeta", escreveu Cecília Meireles, numa época em que o usual era dizer "poetisa". Poeta, de dois gêneros, causaria estranheza a nossos avós: para nós, soa naturalíssimo. Assim como "a travesti", que durante muito tempo foi ignorada, apesar de aplicável.

Diz Caetano Galindo em seu ótimo "Latim em pó":

— As línguas mudam. O tempo todo surgem modos alternativos de dizer alguma coisa, formas mais velhas vão desaparecendo, destronadas por novas variantes. E essa mudança, assim que começa a ocorrer, é sempre percebida como um desvio, como aberração a ser evitada a qualquer custo.

Os nobres edis e parlamentares, ocupados em imobilizar a língua, e estus abnegades ativistes, empenhades em expurgar do idioma um suposto laivo machista, precisam conhecer o grande dr. Castro Lopes, que, no final do século XIX, fez o que pôde para expulsar do português os estrangeirismos (futebol, turista, abajur, greve) substituindo-os por neologismos puro-sangue (ludopédio, ludâmbulo, lucivelo, operinsurreição). Não rolou.

Em compensação, ele emplacou calçada, cogumelo, retroagir, postar, cardápio. Sem lei obrigando ou proibindo: apenas porque fizeram sentido para os falantes.

"O povo é o inventalínguas", escreveu Haroldo de Campos. E língua não tem cabresto. Nem nunca terá.

(*) Eduardo Affonso é arquiteto, colunista do jornal O Globo e blogueiro.

Fonte: brasildelonge.com
Para viajar basta existir. (Fernando Pessoa)

LUGARES

SANTIAGO DE COMPOSTELA - ESPANHA
A Catedral de Santiago de Compostela é um templo católico situada na cidade de Santiago de Compostela, capital da Galiza, Espanha. Wikipédia

MULHERES E PALAVRAS SURRADAS

Martha MedeirosMartha Medeiros

Estamos em plena revolução feminista parte 2. Depois de inúmeras conquistas resultantes do surgimento da pílula anticoncepcional e da nossa entrada no mercado de trabalho, pausamos, recarregamos as baterias e agora voltamos à luta, rebatizada de empoderamento e direcionada, principalmente, à violência contra a mulher.

Acho empoderamento uma palavrinha detestável: é por causa da atração pelo poder que o Brasil está metido em encrenca e vive no atraso. Poder é um verbete obsoleto no meu dicionário. Troco empoderamento por conscientização e autoestima – autoestima também não é das melhores palavras, tornou-se um clichê, mas é do que precisamos.

Por que as mulheres são agredidas? Porque se envolvem com homens brutos, ignorantes, machistas: resposta simples. A resposta complexa vai um pouco além. Violência não deixa de ser um contato. O homem que bate no seu rosto, que queima seu braço, que chuta sua barriga e que puxa seu cabelo está enxergando você, está interagindo – da maneira mais cruel, mas está. Eis o perigo: a violência cria a ilusão de vínculo.

Para algumas, a indiferença pode ser muito mais atroz.

Por que ela não cai fora no primeiro tapa? Mulheres seguras não levam adiante uma relação agressiva, suspendem o ultimate fighting assim que ele começa e partem para outra história que seja realmente de amor, e não de carência, de dominação, de submissão. O primeiro tapa tem que ser sempre o último. Mas não é o que acontece: ele gera o segundo. Que gera o terceiro. Que gera todos os outros até a situação ficar insustentável. Decorre um longo tempo até chegar ao ponto do “não aguento mais”. Por que se aguentou tanto antes?

Dependemos do olhar do outro. Queremos ser admiradas, amadas, desejadas. Mas isso não deve valer para o olhar perverso que nos vê como um objeto onde descarregar frustrações. O cara não se suporta e desconta em você – é justo isso? E você segura a onda porque acha que o empurrão dele também é uma espécie de toque. Ele, através da pancadaria, está se relacionando com seu corpo e reconhecendo sua existência. A ausência do olhar dele – e do ataque dele – a transformaria em nada.

É por isso que aquela palavrinha surrada (ela também) tem que ser reforçada: autoestima. Não precisamos temer a solidão. Estar consigo mesma é companhia suficiente. Uma mulher sem homem tem mais valor do que uma mulher com um homem babaca, covarde, pequeno. Nenhuma intimidação é romântica. Sofrimentos emocionais são inevitáveis, mas ter o corpo submetido à violência física não dá poema, não dá filme, não dá nenhuma canção bonita. Tem que dar cadeia, apenas isso.

A grande revolução feminista passa pela consciência de que a solidão não é humilhante, a renúncia à nossa integridade é que é.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS

domingo, 30 de julho de 2023

ANTES DA BARBIE, REINOU NO BRASIL A BONECA SUSI, LANÇADA EM 1966

Marcelo Duarte
Conheça o brinquedo cujos direitos foram comprados pela Estrela, e que foi e voltou algumas vezes do catálogo

De repente, o mundo ficou todo cor-de-rosa. Nos últimos dias, você já deve ter notado que só se fala na boneca Barbie. A favor ou contra. Há filas nos cinemas, roupas rosa estão em alta e até pizzas e hambúrgueres adotaram a cor.

Mas, antes da Barbie, reinou no Brasil uma boneca chamada Susi.

Quando a boneca Susi foi lançada?

A empresa americana Ideal Toy Company criou em 1961 uma boneca chamada Mitzi, que era praticamente uma sósia de Barbie. Como não pegou bem copiar a boneca lançada dois anos antes pela Mattel, a Ideal Toy Company descontinuou a produção bem rapidinho.

Já no ano seguinte, chegou ao mercado a boneca Tammy, que foi produzida até 1965. Na Inglaterra, a mesma boneca recebeu o nome de Sindy, que é vendida até hoje. Sindy foi o primeiro brinquedo do Reino Unido a ser anunciado na televisão. Seu nome foi escolhido em uma votação entre meninas.

Por que então os brasileiros acham que a Susi é mais antiga que a Barbie?

Ótima pergunta! Em 1966, a fábrica de brinquedos Estrela comprou os direitos para produzir a boneca Tammy no Brasil.

Trocou seu nome para Susi. Segundo a especialista Ana Caldatto, blogueira e colecionadora de bonecas, o nome veio de um outro brinquedinho, o Gatinho Susi, que fez sucesso no final da década de 1950.

Durante um bom tempo, Susi reinou absoluta no mercado brasileiro como "fashion-doll" —boneca com roupas e acessórios da moda cambiáveis. O primeiro slogan de Tammy, Sindy e Susi era o mesmo: "A boneca que você gosta de vestir" [The doll you love to dress, no inglês original].

A Barbie chegou ao Brasil somente em 1982 pelas mãos da própria Estrela, que conseguiu o licenciamento da Mattel. Por causa disso, a Estrela deixou de produzir Susi entre 1985 e 1997. A boneca amada pelos brasileiros foi e voltou algumas vezes e hoje ainda faz parte do catálogo da empresa.

A Susi também tem namorado? Quem?

Tem, sim. O nome dele é Beto. Ele foi criado em 1974 como "o alegre companheiro de Susi". Seu nome teria sido uma homenagem ao cantor e compositor Roberto Carlos. Os primeiros bonecos, por sinal, usavam roupas inspiradas no movimento Jovem Guarda.

Fonte: Folha de S.Paulo

FAIA NOSSA

Fernando Albrecht
Roda de papo em cafeteria. Chega um fazendeiro animado que veio passar o Natal com familiares. Surpreende- se ao ver um amigo que não via há muitos anos.

– Mas e daí, vivente? Como vai a família, filhos?

O outro fica desenxabido.

– É só eu e a mulher, não temos filhos.

– A lá pucha! Quantos anos tens de casado?

– Dez anos.

– E quem é o falhado, tu ou tua mulher?

Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br
O homem é o único animal que ri e é rindo que ele mostra o animal que realmente é. (Millôr Fernandes)

LUGARES

BUDAPESTE - HUNGRIA
O Castelo de Buda (ao fundo), no passado também chamado de Palácio Real e Castelo Real, é um castelo histórico dos reis húngaros em Budapeste, Hungria. Foi construído na encosta sul da Colina do Castelo, próximo do velho Bairro do Castelo, o qual é famoso pelas suas casas e edifícios públicos medievais, barrocos e oitocentistas.

A TROCA

 Luis Fernando Veríssimo

A substituição da máquina de escrever pelo computador não afetou muito o que se escreve. Quer dizer, existe toda uma geração de escritores que nunca viram um tabulador (que, confesso, eu nunca soube bem para o que servia) e uma literatura pontocom que já tem até os seus mitos, mas mesmo num processador de texto de último tipo ainda é a mesma velha história, uma luta por amor e glória botando uma palavra depois da outra com um mínimo de coerência, como no tempo da pena de ganso. O novo vocabulário da comunicação entre micreiros, feito de abreviações esotéricas e ícones, pode ser um desafio para os não iniciados, mas o que se escreve com ele não mudou. Mudaram, isto sim, os entornos da literatura. Não existem mais originais, por exemplo. Os velhos manuscritos corrigidos, com as impressões digitais, por assim dizer, do escritor, hoje são coisas do passado — com o computador só existe versão final. O processo da criação foi engolido, não sobram vestígios. Só se vê a sala do parto depois que enxugaram o sangue e guardaram os ferros.

Nos jornais, o efeito do computador foi muito maior do que o fim da lauda rabiscada e da prova de paquê. O computador restabeleceu o que não existia nas redações desde — bem, desde as penas de ganso. O silêncio. Um dia alguém ainda vai escrever um tratado sobre as consequências para o jornalismo mundial da substituição do metralhar das máquinas de escrever pelo leve clicar dos teclados dos micros, que transformou as redações, de usinas em claustros. A desnecessidade do grito para se fazer ouvir mudou o caráter do jornalista para melhor ou o fim da identificação com um honesto e barulhento trabalho braçal lhe roubou a velha fibra? Talvez ainda seja cedo para saber.

Mas é no futuro que a troca do preto no branco pelo impulso eletrônico fará a maior confusão. A internet está cheia de textos apócrifos, inclusive alguns atribuídos a mim pelos quais recebo xingamentos (e tento explicar que não são meus) e elogios (que aceito, resignado), e que, desconfio, sobreviverão enquanto tudo que os pobres autores deixarem feito por meios obsoletos virará cinza e será esquecido. Nossa posteridade será eletrônica e, do jeito que vai, será fatalmente de outro.

Fonte: O Estadão

DELILAH

TOM JONES
DIAMOND JUBILEE CONCERT

FRASES ILUSTRADAS

 

sábado, 29 de julho de 2023

QUARENTA ANOS

Alexandre Garcia
Meu amigo Sérgio lembra que em 1971, de traquinagem, quebrou o farol de um carro estacionado perto da casa dele. O pai soube, deu-lhe uma surra de cinta e o traquina nunca mais fez aquilo. Entrou para a faculdade e hoje é um profissional de sucesso. Em 2011 seu filho fez o mesmo, Sérgio reprisou a surra que levara, mas seu filho o denunciou e ele foi condenado à prestação de serviços comunitários. O filho caiu na droga e hoje está num abrigo para menores.

Em 1971, o coleguinha mais moço de Sérgiu sofreu uma queda no recreio, a professora deu-lhe um abraço e o menino voltou a brincar. Em 2011, outro menino esfolou-se no pátio da mesma escola, a diretora foi acusada de não cuidar das crianças, saiu na TV e ela renunciou ao magistério e hoje está internada, em depressão.

Em 1971, quando os coleguinhas de Sérgio faziam bagunça na aula, levavam um pito do professor, eram levados à direção e ainda sofriam castigo em casa. E todos se formavam prontos para a vida. Em 2011, a bagunça em sala de aula faz o professor repreendê-los, mas depois pede desculpas, porque os pais foram se queixar de maus tratos à direção. Hoje fazem bagunça no trânsito e no cinema, incomodando os outros.

Em 1971, nas férias, todos saiam felizes, enfiados num Fusca. Depois das férias, todos voltavam a estudar e a trabalhar mais. Em 2011, a família vai a Miami, volta deprimida e precisa de 15 dias para voltar à normalidade na escola e no trabalho.

Em 1971, quando alguém da família de Sérgio adoecia, ia ao INPS, esperava duas horas, era atendido, tomava o remédio e ficava bom. Saía a corre, pedalar, subir em árvores de novo. Em 2011, os parentes de Sérgio pagam uma fortuna pelos planos de saúde, fazem exames de toda sorte à procura de câncer de pele, pressão nos olhos, placas nas artérias, glicose, colesterol, mas o que têm é distensão muscular por causa de exageros na academia.

Em 1971, o tio preguiçoso de Sérgio foi flagrado fazendo cera no trabalho. Levou uma reprimenda do chege na frente de todos e nunca mais relaxou. Em 2011, o cunhado de Sérgio foi flagrado jogando xadrez no computador da empresa, o chefe não gostou e o puniu. O chefe foi acusado de assédio moral, processado, a empresa multada, o cunhado relapso foi indenizado e o chefe demitido.

Em 1971, o irmão mais velho de Sérgio deu uma cantada na colega loira de trabalho. Ela reclamou, fez charminho e aceitou um jantar. Hoje estão casados. Em 2011, um primo de Sérgio elogiou as pernas da colega de escritório, foi acusado de assédio sexual, demitido e teve que pagar indenização à mulher das belas pernas que acabou no psiquiatra.

Meu amigo Sérgio me pergunta o que deu em nós, nesses 40 anos, para nos tornarmos tão idiotas, jogando fora a vida como ela é. Dei a resposta: é a ditadura da hipocrisia imbecil do politicamente correto.
Uma casa é uma máquina de morar. (Le Corbusier)

LUGARES

BERCHTESGADEN - ALEMANHA
Kehlsteinhaus é uma suntuosa construção edificada no cume de uma montanha - a montanha Kehlstein - com dinheiro do Partido Nazista, em comemoração aos 50 anos de Adolf Hitler, em Berchtesgaden, Alemanha. Wikipédia

ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE

Carlos Heitor Cony

Qualquer um de nós, em qualquer lugar ou situação que se encontre, sentirá o grau de indignação contra a onda de escândalos que há meses devasta a nação, onda nascida e sustentada por uma unanimidade rara na história de qualquer país. Somente em casos de guerras declaradas consegue-se tal e tamanho consenso: todos são contra a corrupção, todos acreditam que as práticas da nossa política chegaram ao nível mais baixo.

Não sei por que, lembrei ainda há pouco um comentário de Mussolini, o ditador que levou a Itália à tragédia. Um repórter inglês, quando o regime fascista começou a despencar, revelando os crimes e erros daquele período nefasto, perguntou-lhe se era difícil governar os italianos. Mussolini respondeu: "Não é difícil. É inútil".

Mudando-se o contexto, pulando da Itália devastada pela guerra para o Brasil invadido pelos delúbios e valérios, indagamos uns aos outros se é difícil consertar a vida pública nacional, colocando-a nos trilhos da decência e da eficiência.

A resposta poderia ser a mesma de Mussolini: não é difícil. É inútil. Pode parecer pessimismo da parte do cronista --e é mesmo. Tal como se pratica a política, e não apenas no Brasil mas em todos os países, e desde a mais remota antiguidade, a corrupção é o óleo viscoso e nauseabundo que lubrifica os cilindros da máquina oficial, fazendo-a funcionar, às vezes surpreendentemente bem, às vezes rateando e pifando.

Sem óleo, nada funciona. Evidente que a constatação chega a ser repugnante, mas assim é, assim sempre foi. Joga-se ao mar alguns culpados, os mais evidentes. Poupa-se outros e todos se salvam. Assim caminha a humanidade.

Fonte: Folha de S. Paulo - 27/09/2005

FRASES ILUSTRADAS

sexta-feira, 28 de julho de 2023

A GUERRA DOS CHIPS

Hélio Schwartsman


Livro conta a história dos circuitos integrados e como eles moldam até as relações entre potências

Cada vez mais fala-se em desmaterialização da economia. Estão embutidas aí tanto a noção de fazer cada vez mais com cada vez menos recursos materiais como a de que o valor está migrando de produtos físicos para conhecimento, expresso em programas de computador e assemelhados.

"A Guerra dos Chips", de Chris Miller, mostra que, por mais que a informática tenha avançado, ela é e continuará sendo dependente de uma base material, que são os chips, os circuitos integrados. Aliás, a maior parte do incremento do poder computacional de nossos apetrechos tecnológicos se deve a avanços nos chips, que, pela miniaturização, processam cada vez mais informação de forma cada vez mais rápida e eficiente.

E o termo miniaturização não deve ser tomado ligeiramente. Os chips avançados de hoje trazem transistores na escala dos quatro ou cinco nanômetros (bilionésimo de metro). Um átomo tem cerca de 0,2 nanômetro, então estamos falando de transistores do tamanho de alguns átomos. É uma escala tão diminuta que engenheiros precisam criar truques para evitar que os bizarros efeitos quânticos interfiram no funcionamento dos chips.

Os equipamentos necessários para a produção desses chips são verdadeiros monumentos à engenharia. Só o aparelho usado para imprimir litograficamente os circuitos, que utiliza raios ultravioleta extremos, tem 457.329 peças. São investimentos de centenas de bilhões de dólares que não duram mais que três anos, já que a tecnologia não para.

O resultado de tamanha complexidade é que a indústria de chips está restrita apoucos "players" confinados a um número ainda menor de países. Um deles é Taiwan, com a TSMC. O país produz 11% dos chips de memória e 37% dos chips lógicos, o que tem profundas implicações geoestratégicas.

Numa narrativa envolvente, Miller conta toda a história dos chips e mostra como eles moldam não só a tecnologia mas também as relações entre as potências.

Fonte: Folha de S.Paulo
A comissão faz o ladrão. ( Jô Soares)

LUGARES

CASCAIS - PORTUGAL
Cascais é uma estância balnear em Portugal, imediatamente a oeste de Lisboa. É conhecida pelas suas praias de areia e pela marina movimentada. O centro histórico alberga a Fortaleza da Nossa Senhora da Luz medieval e o Palácio da Cidadela, um antigo retiro real. Nas proximidades encontra-se a igreja caiada de Nossa Senhora da Assunção, com azulejos vitrificados. A Casa das Histórias Paula Rego exibe as pinturas da artista portuguesa num edifício moderno. ― Google

MR. MILES


O couvert artístico nas companhias aéreas

Nosso incansável viajante, um assíduo frequentador dos voos das mais diversas companhias aéreas desde os tempos em que o comissário flambava crêpes suzette na frente dos passageiros, responde às perguntas mais frequentes desta semana:

Prezado Mr. Miles: e eis que volta a norma que autoriza a cobrança pelas malas embarcadas em companhias aéreas. O que o senhor tem a dizer a respeito?
José Antunes F. Contini, por email 

Well, my friend: já tive a oportunidade de escrever a respeito, sempre com a mesma indignação. Não me importa tanto a lei quanto o espírito da lei. Companhias aéreas, as you know, existem para transportar pessoas e mercadorias de um canto a outro no planeta. Bagagens, of course, são mercadorias e, por isso, podem ser cobradas. A questão é que, tradicionalmente, os passageiros sempre tiveram o direito de levar, em sua companhia, as malas de que necessitam, dentro de uma determinada limitação de peso.

Fair enough. O valor dos poucos quilos a mais sempre esteve incluido, for sure, no preço dos bilhetes.  Eis que, em manobra para reforçar seu caixa, surge a liberdade para estabelecer preços para a bagagem, sem, é claro, que o valor antes embutido, seja retirado. Dupla taxação, in other words. Pior: não sendo única, a regra será aplicada distintamente em cada empresa, de modo que, agora, o valor do bilhete é apenas referencial. É preciso que a ele se some o valor, variável, do preço do transporte da bagagem. A big mess! 

Como eu já tive a oportunidade de preconizar neste espaço — e sou apenas um viajante, não uma pitoniza — , o mundo caminha para os chamados preços mentirosos. Você vai a um hotel para hospedar-se. Mas paga, além disso (em grande parte dos casos, I'm afraid) altas taxas para usar o wifi ou o telefone ou o estacionamento. O wifi? I'm sorry to say, mas até o mais humilde pub da periferia de Birmingham não cobra por esse serviço, que, besides, não tem custo nenhum para o taberneiro. 

Apenas os hotéis verdadeiramente classy incluem todos custos no valor da diária — e tornam-se mais simpáticos a quem os utiliza. Nos aviões, unfortunately, a realidade é a mesma e tende a piorar.

Vejamos o que vai ser taxada a mais no futuro, além das bagagens:

1- Taxa de reclinamento do assento. O passageiro vai poder comprar um combo que inclui, as well, a taxa da liberação da mesinha.

2- Conta de luz durante a viagem: o viajante dividirá um rateio pela iluminação da aeronave e mais uma continha pelo uso de sua luz de leitura.

3- Custo de entretenimeto: um pequeno valor para a revista de bordo e outro, maior, pelo direito de ligar a televisão.

4- Taxa para o chamado dos comissários. As melhores companhias oferecerão, promocionalmente, um chamado free of charge.

5- Tarifa para a utilização do banheiro de bordo. Há muitos estudos a respeito mas, por enquanto, prevalece a tese da utilização de uma espécie de taxímetro na porta do toalete, medindo o tempo de permanência do usuários.

6- Cobertores de bordo com preço fixo. Observação: se a demanda for baixa, a tendência é diminuir a temperatura na cabine.

7- Incremento no valor já cobrado por snacks, bebidas e refeições, associado a um controle mais rígido para evitar a entrada de farnéis na aeronave.

Os valores terão de ser pagos à vista, em dólares, no momento da entrega do serviço. Ou seja: você define quanto a viagem custará, dependendo do que queira usar. Se, however, decidir não utilizar nenhum serviço, terá de pagar uma espécie de couvert artístico.

Apenas os itens de segurança, como cintos, flutuantes e mapa das portas da aeronave serão gratuitos, para que não se diga que as empresas são negligentes.

Essas são as minhas previsões. Quem sabe o prezado leitor tenha outras sugestões a dar — ficarei feliz em publicá-las.

My God: what a shame!

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS

quinta-feira, 27 de julho de 2023

SE NÃO PUDER FALAR BEM DE ALGUÉM, CALE-SE

Fabíola Simões
Se existe algo que tenho aprendido com a idade e com o passar dos anos, é a arte de conviver. E olha que antes de aprender, a gente erra muito, erra feio. Porém, com o tempo e alguns enganos, vamos adquirindo um certo tipo de elegância e polidez que vão além da educação. É algo sutil, mas que faz muita diferença, e que começa com a capacidade de ouvir mais do que de falar, e principalmente de manter distância das rodas de fofoca.

Quando abro a boca para falar mal de alguém, minha energia se canaliza para a mesquinhez, para a arrogância, para o julgamento frívolo e fútil. Essa energia ruim permanece dentro de mim, e é com ela que irei me alimentar, trabalhar, descansar. E sem perceber desperdiço minha vitalidade, os dons que recebi de Deus, a possibilidade de usar a palavra para algo mais assertivo e produtivo.

A vida já é tão complicada, já nos esforçamos tanto para vencer cada dia… que se não pudermos mandar energias positivas e bons pensamentos a favor das pessoas, é melhor silenciar. Silenciar é um gesto de sabedoria, de encontro com o que é realmente importante e deve ser levado adiante, de retomada do equilíbrio, de regeneração das mágoas e busca do bem estar.

Ninguém sabe o que o futuro lhe reserva. E por mais clichê que seja, realmente "a vida dá voltas", e pode ser que aquilo que você tanto recriminou e condenou na vida alheia, venha acontecer na sua própria vida.

Adoro a frase de Fernando Pessoa que diz: "Segue o teu destino, rega as tuas plantas, ama as tuas rosas. O resto é a sombra de árvores alheias". Pois é assim que deve ser. Cuide da sua vida, lide com as suas dificuldades, apare seus defeitos, aprimore suas qualidades e cure suas mágoas ao invés de ciscar pela vida alheia, se incomodando com que o outro faz ou deixa de fazer. Limpe seus olhos antes de falar sobre o cisco nos olhos do outro.

Tanta coisa a ser feita em nossa casa antes de apontarmos a sujeira na casa do vizinho! Tantas possibilidades de nos aprimorarmos como seres humanos, como seres espirituais, praticando a caridade, a generosidade e a compaixão, que não deveria sobrar tempo para recriminações, julgamentos, hipocrisia e falatórios em nossa vida. Tudo isso é desorganização, é perda de foco, é se afastar daquilo que viemos fazer nesse mundo: amar e sermos amados.

Diariamente somos bombardeados com ondas de indignação coletiva, e somos tentados a reproduzir essa raiva, essa indignação, esse ressentimento. Porém, deveríamos nos proteger dessas mensagens de ódio e segregação. Deveríamos buscar um local de silêncio dentro de nós mesmos e novamente nos conectarmos com o que é importante, com o que nos liga a Deus, com o que vai acrescentar algo de bom em nossa vida.

Todos nós temos a necessidade de sermos ouvidos. De desabafarmos sobre uma relação que não está indo bem ou sobre um mal estar que nos afetou. Porém, é preciso fazer isso da maneira correta, abrindo nosso coração para a pessoa certa, que irá nos ouvir com discrição e cuidado. Isso é diferente de fofocar, de julgar, de espalhar falatórios sem um pingo de responsabilidade.

Quase tudo na vida pode ser praticado e virar hábito. Assim como nos condicionamos a falar mal dos outros, aprendendo com os maus exemplos que tivemos vida afora, podemos recolher nossas cadeiras da calçada e começar a praticar o simples hábito de calar a boca. De não entrarmos em brigas alheias botando mais lenha na fogueira; de não cairmos em tentação murmurando contra os outros pelas costas; de não ocuparmos nosso precioso tempo nos divertindo com fofocas; de silenciar e só abrir nosso coração para quem confiamos.

Finalmente há um ditado que diz: "Não cuspa no prato que você comeu". Então, antes de difamar alguém que já te fez feliz, que já foi importante para você, que já teve algum papel na sua vida, pare e pense. Se em algum momento houve uma parceria, uma conexão, até mesmo uma troca de favores, não é justo nem digno falar mal. É feio, deselegante, grosseiro e vulgar. E mesmo que você tenha saído ferido ou prejudicado, não torne pública a sua mágoa, a sua decepção, a sua raiva ou tristeza. Não mande indiretas pelas redes sociais e descubra que o silêncio pode ser a melhor resposta. Aprenda a arte de conviver e constate o quanto é elegante ser discreto.

Fonte: https://www.portalraizes.com
Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas que pelas respostas. (Voltaire)

LUGARES

INNSBRUCK - ÁUSTRIA
Innsbruck, capital do estado do Tirol, no oeste da Áustria, é uma cidade nos Alpes e tradicional destino para a prática de esportes de inverno. Innsbruck também é conhecida por sua arquitetura imperial e moderna. Suba no funicular Nordkette, com estações futuristas projetadas pelo arquiteto Zaha Hadid, a 2.256 metros do centro da cidade, para esquiar no inverno e fazer caminhadas ou montanhismo nos meses mais quentes. ― Google

NÃO TROPECE NA LÍNGUA

  


Número: 002
Data: 08/11/2017
Título: O MESMO

Embora possa ser relativamente comum em outros idiomas, no português do Brasil o uso de “o mesmo” no lugar de nomes e pronomes é considerado indevido e até inconveniente. A palavra mesmo pertence a diversas categorias gramaticais e seu emprego é absolutamente correto nas seguintes situações:

A. Como adjetivo/pronome (portanto variável), com o sentido de “exato, idêntico, tal qual, próprio, em pessoa”:

1. Foi pelo mesmo caminho.
2. Sou sempre a mesma pessoa.
3. Eles mesmos redigiram o discurso.

B. Como advérbio (portanto invariável), com o significado de “justamente, até, ainda, realmente”:

4. É lá mesmo que vendem o produto.
5. Estes remédios são mesmo eficazes.
6. Há mesmo necessidade disso?

C. Como conjunção concessiva, equivalente a “embora, apesar de”:

7. Mesmo diante de tais alegações em sede de reconvenção e contestação, o apelado quedou-se silente, reforçando ainda mais a veracidade delas.

8. Sendo assim, mesmo inexistente a cláusula resolutória, com o inadimplemento do outro contratante a parte lesada pode requerer a resolução do acordo.

D. Como substantivo (expressão invariável, no masculino), significando “a mesma coisa”:

9. Fato alegado e não provado é o mesmo que fato inexistente.

10. Houve incidência de juros legais a partir da citação e correção monetária a contar do ajuizamento do pedido, o mesmo acontecendo em relação às despesas processuais e custas derradeiras.

O problema está em usar “o mesmo” no lugar dos pronomes pessoais, sejam do caso reto (ele/ela) ou do caso oblíquo (o/a, lhe). Isso indica pobreza de linguagem ou falta de familiaridade com os pronomes pessoais. Algumas vezes – imagino – a pessoa tem insegurança no trato com os pronomes, mas ao mesmo tempo quer evitar a repetição de um determinado substantivo, então coloca o mesmo (ou a mesma, se feminino) no seu lugar.

Observe que nos exemplos 1 e 2, acima, mesmo acompanha um substantivo – não o substitui. No exemplo 3 acompanha um pronome. Em 4, acompanha um advérbio. Em 5 e 6, um adjetivo. Em nenhum bom exemplo a palavra mesmo toma a vez do substantivo.

É mais uma questão de estilo do que de gramaticalidade. Digamos então que fica ruim, ou não convém, escrever da forma abaixo:

Deixou de constar a declaração do condutor do veículo pelo fato de o mesmo estar hospitalizado sem condições de prestá-la.

Registra o parecer técnico que Valente abandonou a esposa e filhos por diversas vezes, sendo que a mesma mudou-se de Estado.

Ontem vi meu ex-chefe e convidei o mesmo para um cafezinho.

Já que o secretário executivo esteve nos visitando, entregamos ao mesmo a documentação.

Busque as fichas no almoxarifado e verifique se as mesmas estão carimbadas.

Desejando rever o conteúdo jurídico do projeto, solicito seja o mesmo retirado de pauta.

Em melhor português você diria assim:

Deixou de constar a declaração do condutor do veículo pelo fato de ele estar hospitalizado sem condições de prestá-la.

Registra o parecer técnico que Valente abandonou a esposa e filhos por diversas vezes, sendo que ela mudou-se de Estado.

Ontem vi meu ex-chefe e o convidei para um cafezinho.

Já que o secretário executivo esteve nos visitando, entregamos a ele [ou entregamos-lhe] a documentação.

Busque as fichas no almoxarifado e verifique se [elas] estão carimbadas.

Desejando rever o projeto, solicitou seja [ele] retirado de pauta.

Instituto Euclides da Cunha
Luiz Fernando de Queiroz, diretor
Rua Marechal Deodoro, 235 cj. 1204
CEP 80020-907 - Curitiba - PR
Fone (41) 3223.6543

Fonte: https://www.linguabrasil.com.br

FRASES ILUSTRADAS

quarta-feira, 26 de julho de 2023

FÉRIAS E USO EXCESSIVO DE TELAS: O GRANDE DESAFIO DAS FAMÍLIAS

Pesquisa aponta que crianças de 0 a 12 anos passam em média três horas e 53 minutos por dia usando smartphone; educadora parental Stella Azulay orienta pais a fortalecer vínculos e conexão

No próximo mês, 47 milhões crianças e adolescentes deixam os bancos escolares do ensino básico para aproveitarem as férias de julho no Brasil, quase uma população inteira da Argentina ou da Espanha. A grande maioria dessas crianças com idade de 0 a 12 anos, 79%, terá um smartphone à sua disposição e vai passar, em média, três horas e 53 minutos por dia utilizando o aparelho, segundo o Panorama Mobile Time/Opinion Box – Crianças e smartphones no Brasil. Conciliar crianças em casa e uso excessivo de telas é o grande desafio das famílias.

A pesquisa Panorama Mobile Time, realizada no fim do ano passado, mostra que 44% das crianças brasileiras de 0 a 12 anos têm seu próprio smartphone e 35% utilizam o aparelho dos pais. O Youtube é o aplicativo mais acessado, seguido de Whatsapp e Youtube Kids, aponta o estudo. O uso do smartphone aumenta conforme a idade das crianças, mas engana-se quem pensa que os menorzinhos estão fora da estatística.

De acordo o Panorama, 12% das crianças de 0 a 3 anos têm seu próprio smartphone e 40% usam o dos pais. A proporção muda nas faixas etárias seguintes. De 4 a 6 anos, 32% possuem o telefone com internet e 53% usam o dos pais. De 7 a 9 anos, 46% têm o seu aparelho e 43% usam o dos pais. Dos 10 aos 12 anos, 77% possuem smartphone e 17% usam o dos pais.

O tempo médio de uso diário começa em duas horas e 56 minutos por crianças de 0 a 3 anos de idade, conforme o estudo. Passa para três horas e 17 minutos na faixa etária entre 4 a 6 anos e para três horas e 29 minutos pelos que têm de 7 a 9 anos, até chegar a quatro horas e 46 minutos de uso pelas crianças de 10 a 12 anos. No levantamento, os pais explicam que a principal razão para dar ou emprestar um smartphone ao filho é entretê-lo. A questão é que o entretenimento pode trazer prejuízos ao desenvolvimento infantil.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que crianças menores de 2 anos não tenham nenhum contato com telas, nem mesmo televisores. A partir de 2 anos a TV pode fazer parte da rotina dos pequenos, por no máximo uma hora por dia. Ainda segundo a OMS, o celular só deve entrar na vida das crianças a partir dos 8 anos, com muita precaução. Os próprios pais reconhecem que o smartphone está ocupando tempo demais na infância dos filhos, 55% deles acreditam que as crianças passam mais tempo do que deveriam usando o aparelho, conforme o Panorama Mobile Time.

A lista de consequências pelo uso excessivo de tela é grande. Pesquisas mostram que a superexposição a eletrônicos pode causar déficit de atenção, atrasos cognitivos, distúrbios de aprendizado, aumento de impulsividade, diminuição da habilidade de regular emoções, provocando ansiedade, depressão e agressividade. Também pode gerar dependência digital, transtornos de alimentação e de imagem corporal, cyberbullying, além de ampliar o risco de abusos sexuais e pedofilia, problemas visuais, miopia, problemas auditivos e de postura.

Para evitar que as férias se tornem um problema de saúde física e mental, a educadora parental e jornalista Stella Azulay, diretora da JUNTOS Educação Parental, orienta os pais a buscarem alternativas de diversão com as crianças, que podem envolver qualquer membro da família. “Conectar-se com o filho é a única forma de os pais realmente estabelecerem bom diálogo e influência positiva. Essa conexão transforma a relação da família numa relação saudável, baseada em comunicação efetiva”, diz.

Segundo Stella, as férias são um excelente período para os pais conhecerem melhor seus filhos, criarem espaços de diálogo, de compartilhamento de emoções e experiências. “É preciso aproveitar as férias para aprimorar a comunicação e fortalecer o vínculo, abrir o caminho para que os filhos se sintam à vontade para relacionar-se com os pais e, amanhã, quando se tornarem adolescentes, não se fecharem no quarto, distanciando-se da família”, comenta.

Stella é autora de dois livros, “Como educar se não sei me comunicar” e “Conte sua história para seu filho”, que justamente propõe uma atividade de conexão e fortalecimento de vínculos familiares. O livro caixinha “Conte sua história para seu filho” traz 100 cartas, cada uma com uma pergunta sobre uma passagem da vida dos pais, na infância, adolescência e juventude, evocando lembranças como a emoção mais forte, a roupa mais marcante e a pior vergonha.

“É uma ótima atividade para as férias em família, para criar vínculos com os filhos e trazer momentos fora das telas. A brincadeira traz lembranças, promove conexão e criatividade. Também permite aprendizados, troca de conhecimento e ensinamentos, como superação e resiliência. É uma brincadeira potente e poderosa, que possibilita à família criar momentos e lembranças valiosas, distante da internet”, afirma a educadora parental. Ela explica que dividir histórias pessoais tem um grande impacto nas mensagens de vida para as crianças.

Fonte: https://www.pensarcontemporaneo.com
O campo da derrota não está povoado de fracassos, mas de homens que tombaram antes de vencer. (Abraham Lincoln)

LUGARES

FLORENÇA - ITÁLIA
Fonte octogonal do século 16 com grande estátua de Netuno e outras figuras mitológicas.

CAPAS QUE NOS FAZIAM BABAR

Ruy Castro

George Lois criou algumas das melhores capas de revista da história

Para quem passou boa parte da vida em Redações de revistas — Manchete, Fatos e Fotos, IstoÉ, Status, Playboy, Veja —, habituei-me a viver as horas de maior angústia e excitação do trabalho: as reuniões para a escolha da capa. As revistas semanais vivem da atualidade, donde a capa é quase sempre o assunto em voga. Já as mensais exigem elucubração, ousadia, criatividade — é um trabalho de equipe, com todo mundo em busca de uma ideia original, ousada e criativa. O problema é a interferência dos patrões e a falta de dinheiro.

Daí que, em todas as revistas em que trabalhei, babávamos com as capas da Esquire, a revista mensal americana fundada em 1933 por Arnold Gingrich e dirigida a um leitor que fazia ótimo juízo de si mesmo: culto, liberal, bem sucedido, másculo (sem exageros) e sensível.

Até pelo menos 1977, Esquire foi um show de artigos, reportagens, ficção, fotos, ilustrações. Seus colaboradores eram gente como Hemingway, Fitzgerald, Aldous Huxley, Truman Capote, John Updike e até Leon Trótski, com crítica de livros por Dorothy Parker, de cinema por Peter Bogdanovich e outros luxos. Mas nada superou suas capas dos anos 1960 e 1970, muitas delas por George Lois.

Lois criou capas antológicas: Muhammad Ali, condenado por recusar-se a lutar no Vietnã, flechado como são Sebastião; o machão Burt Reynolds olhando para baixo apreensivo — era uma reportagem sobre impotência; Andy Warhol afogando-se numa lata de sopa Campbell; o sinistro Richard Nixon sendo maquiado com batom e rouge; Norman Mailer fantasiado de King Kong e segurando em sua manopla a feminista Germaine Greer. Às vezes, por causa de suas capas, anunciantes cancelavam contratos e leitores, assinaturas. Mas George Lois era intocável na Esquire.

Lois morreu na semana passada em Nova York, aos 91 anos. O incrível é que não era jornalista nem capista profissional. Era publicitário.

Fonte: Folha de S. Paulo

FRASES ILUSTRADAS

terça-feira, 25 de julho de 2023

OS INIMIGOS ESTÃO POR AÍ

Paulo Pestana

É difícil precisar quem foi o primeiro inimigo de Brasília, mas todos tinham em comum uma visão tacanha de mundo. Continua assim. Inventavam todo tipo de motivo para dizer que uma capital no centro do país seria inviável.

Um intelectual, Gustavo Corção, chegou a vaticinar que o lago não iria encher por conta do terreno arenoso que ele nunca conheceu. Quando a água atingiu a cota 1000, o presidente JK não perdeu a oportunidade e enviou um telegrama ao detrator: “Encheu, viu?”.

Mesmo depois da mudança da capital Brasília continuou a receber ataques, inclusive de grandes conglomerados de imprensa, que sonhavam com o retorno da Guanabara – a palavra, tupi-guarani, significa braço de mar, mas hoje é só nome de supermercado regional.

Uma reportagem publicada em 2019 pelo jornal O Estado de S. Paulo e assinada por um jornalista de pouca expressão decretou o pejorativo epiteto “ilha da fantasia” para a capital. Só falou com poderosos, não entrevistou ninguém da sociedade que a nova capital formara e ainda plagiou o título de um seriado de TV da época e que, curiosamente, ganha nova versão agora, quando a cidade descobre que seus inimigos ainda estão por aí.

O novo inimigo ocupa um cargo importante no governo federal; não deveria, pois, falar bobagem. Nordestino, parece desconhecer que 53% dos imigrantes que aqui vivem veem dos nove estados da região – só nos últimos três anos 60 mil nordestinos chegaram ao DF. A maioria dessa população (21,7%) veio da Bahia, o estado da referida autoridade, e talvez esteja aí o busílis.

Governador da Bahia nos últimos oito anos, o ministro Rui Costa viu parte da população de seu estado procurar um lugar melhor, mais próspero e com mais oportunidades, para viver. Deve ser frustrante para qualquer governante ver sua população fugir por causa de uma miséria que ele não consegue impedir.

Talvez seja esse o motivo do ministro achar que Brasília é o que ele vê da janela de seu amplo e confortável gabinete no terceiro andar do Palácio do Planalto e os restaurantes de luxo que frequenta prodigamente, certamente atendido por conterrâneos seus.

O ministro plagiou o plágio do jornal e chamou Brasília de “ilha da fantasia”. É grave. Não pela declaração em si, mas pela demonstração pública de ignorância. É uma visão tacanha que não combina com os passos que o Brasil precisa dar, é de uma estreiteza de raciocínio – se é que há algum – de assustar, até porque a história recente mostra a importância que Brasília teve para a virada do país nas últimas seis décadas.

Brasília já teve inimigos bem mais inteligentes. Lacerda enxergava “demônios da selva”, “nojo da maresia” e ainda escreveu que compraria uma fábrica de placas de bronze – tantas eram as inaugurações. O paraense Billy Blanco fez um samba bem-humorado dizendo que não iria para Brasília, cantando “não sou índio nem nada” (e era, pelo menos em parte).

O novo inimigo é legitimo representante da chamada “Bahia branca”, a elite que domina o estado há 500 anos e mantém um conveniente atraso social entre a população. Não saiu dos tempos das caravelas, quando a capital, ora vejam, era Salvador.

Publicado no Correio Braziliense em 11 de junho de 2023
Só se é curioso na proporção de quanto se é instruído. (Jean-Jacques Rousseau)

LUGARES

PROVINS - FRANÇA
Provins é uma comuna francesa no departamento de Sena e Marne, na região da Ilha de França. É uma subprefeitura. Provins, desde 13 de Dezembro de 2001, está classificada como património mundial pela UNESCO. Wikipédia

ROMANCE FORENSE

Charge de Gerson Kauer
O inimigo secreto
Por Mauricio Antonacci Krieger, advogado, OAB-RS nº 73.357 (*)

Final do ano passado, jovens advogados (as) e estagiários (as) de uma grande banca advocatícia gaúcha fazem uma festa particular com direito à entrega de presentes. É o que chamam de “amigo secreto”.

São cerca de 20 pessoas reunidas na bela casa de um deles e, depois de bastante cerveja e churrasco, todos os convidados já ´animados´ começam a troca de presentes.

Após várias adivinhações, chega a vez de o advogado Charles dar as características do seu amigo (a) para que os demais possam tentar adivinhar a quem o presente será entregue.

Charles depois de mais um gole de cerveja inicia seu discurso:

- Diz a lenda que a mulher ou é bonita ou é inteligente! Pois a minha amiga secreta não é nem uma coisa, nem outra. Ela é de meia idade, tratando-se de uma anta feia como o diabo! E etcetera...

Todos caem na risada e apontam para uma estagiária, gritando:

- Só pode ser a Carla, hahahaha!...

Depois de muitas gargalhadas, Charles tenta entregar o presente, que é recusado na hora, o que dá início a uma discussão.

Carla vai embora chorando, desiste de trabalhar no escritório advocatício e um mês após entra com uma ação, pedindo reparação financeira por danos morais “por ter tido sua imagem ferida diante de seus colegas de trabalho e alguns amigos” (...) além do que, qualquer pessoa não deve ser analisada pela eventual falta de leveza nos seus traços faciais, mas sim pelo caráter, pela cultura, pela beleza da alma e outros atributos”.

O juiz designa audiência. Nela, Charles admite os fatos, pede desculpas. E diz que se tratara de uma brincadeira sob o ´efeito orloff´.

Carla não aceita as escusas e o magistrado – dispensando a prova oral, porque os fatos são incontroversos – logo sentencia e condena o jovem advogado a pagar uma reparação moral de R$ 2 mil. Ainda cabe recurso.

No fórum o processo é conhecido como ´o caso do inimigo secreto´.

Segundo o escrivão, “a sinceridade, em alguns casos, pode custar caro”...

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(*) Os nomes usados são fictícios.

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS

segunda-feira, 24 de julho de 2023

OS ANTIPÁTICOS SÃO MAIS SINCEROS, QUEM É SIMPÁTICO DEMAIS É CHATO

Mário Sérgio Cortella
Mario Sergio Cortella, no programa Pânico, analisa como a chatice se tornou um valor na sociedade atual, onde as pessoas querem mostrar tudo o que fazem e se aproximar dos outros sem limites. Ele se baseia em um livro clássico sobre os chatos e em uma frase sobre os antipáticos e os simpáticos. Confira abaixo a transcrição adaptada da fala de Cortella.

“De uma certa maneira, a nossa noção de chatice ganhou uma potência que ela não tinha. Você sabe que o Guilherme Figueiredo tem no Brasil um livro clássico chamado: Tratado Geral dos Chatos, é um livro antigo dos anos de 1960; esse livro ajuda muito a entender o que significa a chatice. Nesse sentido sim, acho que é um pouco da moda as pessoas quererem perturbar os outros.

Por exemplo, alguns não conformam em comer, eles precisam postar o que estão comendo; não se conformam em apreciar o sorriso da filha dele: a ‘humanidade” tem que ter acesso aquilo. Portanto, nesse sentido a chatice ai é quase que inerente. Eu me lembro de uma frase antiga que a filosofia usa e que é verdadeira, que diz: só os antipáticos são sinceros.

Todo mundo que é simpático dissimula. Porque aquele que é excessivamente simpático, ele é chato. É aquele que quer te elogiar, grudar em você. Nessa hora a sinceridade maior vem do antipático.

E de uma maneira geral, a chatice passou a ser levada é um valor que é de ser pegajoso, as pessoas se pegam demais, se grudam demais. Eu, por conta até da atividade em palestras e eventos e de ter me tornado eventualmente pop, em algumas situações há pessoas que não se conformam em pedir, por exemplo, uma foto, um autógrafo, elas querem grudar.

Nunca eu tive nos últimos três anos uma pergunta tão forte que é assim: você me dá um abraço? – Eu respondo: – Claro! – Eu acho uma coisa fofa até, mas essa coisa de terapia do abraço não é a minha área especifica”.

Fonte: https://provocacoesfilosoficas.com
A sabedoria é a única riqueza que os tiranos não podem expropriar. (Khalil Gibran)

LUGARES

FREIBURG - SUÍÇA
Friburgo é uma comuna suíça do cantão de Friburgo às margens do rio Saarne ou Sarine. Em alemão, ela carrega também o nome de Freiburg im Uechtland para distingui-la dos outros Friburgos. O nome completo em francês Fribourg en Nuithonie é pouco conhecido. Wikipédia

PORTA-AMOR

Fabrício Carpinejar
Fabrício Carpinejar

O porta-retratos é soberano. De aparência minúscula, engana a grandeza. Sua composição expressa a réplica de uma fortaleza erguida entre as nossas urgências e afoiteza.

Repare que é um quadro de mão, a pequena parede levantada com cavalete na mesa, como que apontando que aquelas pessoas detrás do vidro são os eleitos de um coração.

É uma trincheira de nossas ternuras, com imagem da esposa, dos filhos, dos irmãos, dos pais, dos amigos. É o nosso santuário, nossa gruta de protegidos e protetores.

O porta-retratos sinaliza o nosso pertencimento a um lugar. Sem ele, somos turistas em nossas casas. Sem ele, podemos partir a qualquer hora. Sem ele, não temos laços e raízes, não cultivamos a nostalgia um pouco por dia.

Não custa quase nada monetariamente e, ao mesmo tempo, guarda o significado de talismã.

Tanto que nas brigas definitivas e separações, o primeiro a apanhar é o porta-retratos. Não escapa da fúria amorosa, sempre sofrendo quedas e arremessos, sempre arcando com retaliação do papel e amputações da companhia.

Quando nos odiamos, quebramos o espelho. Quando odiamos um familiar, quebramos o porta-retratos. O porta-retratos é o espelho que guardamos para o outro.

Assim como serve para a vingança, também é uma maneira lírica de jamais se separar do passado, prático para a saudade. Igual a um travesseiro, fácil de levar ao escritório ou a hotéis. Mantém o tamanho do bolso de um casaco, caracterizado pela simplicidade e despojamento, perfeito para carregar junto ao corpo.

Por mais que seja anacrônico, por mais que seja rudimentar, por mais que seja artesanal, permanece sendo a galeria mais visível de nossas afeições, com um valor maior do que uma foto de tela no celular.

O porta-retratos é o nosso livro para fotos. Encadernamos alguém em nosso amor.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS

domingo, 23 de julho de 2023

DIA DOS AVÓS FOI CRIADO POR MULHER PORTUGUESA COM SEIS NETOS

Marcelo Duarte

Data de 26 de julho foi escolhida porque é quando a Igreja Católica celebra Santa Ana e São Joaquim, avós de Jesus

Comemora-se o Dia dos Avós em 26 de julho. A ideia da celebração foi da portuguesa Ana Elisa do Couto (1926-2007).

Há uma placa em homenagem a Ana Elisa, mais conhecida como Dona Aninhas, em sua cidade natal, Penafiel, na região do Porto. Ela tinha quatro netas e dois netos. Os penafidelenses fizeram a homenagem em 2011.

Por que foi escolhida esta data?

O 26 de julho foi escolhido em Portugal e no Brasil porque é a data em que a Igreja Católica celebra Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria, avós de Jesus.

Conta a história que Ana e o marido, Joaquim, não tinham filhos, mas sempre rezavam pedindo que Deus lhes enviasse uma criança. Não ter filhos era considerado uma maldição. Por isso, o marido tinha direito a ter filhos com outras mulheres.

Certo dia, rezando no deserto, Joaquim recebeu a visita de um anjo, que lhe prometeu que o pedido seria atendido. Ana, então, conseguiu engravidar, mesmo com idade avançada. Ela teve uma menina e a batizou de Maria.

Santa Ana morreu quando Maria tinha apenas três anos. Maria foi entregue aos cuidados do Templo de Jerusalém. Anos depois, ela ficou noiva de José. Aí nasceu Jesus, neto de Ana e Joaquim.

Uma história que não está na Bíblia, é bom que se explique. Não há nomes, pormenores, nem citações da vida e da existência dos pais de Maria. Ambos são citados no evangelho apócrifo de São Tiago, não reconhecido pela Igreja. Portanto, não constam em livros canônicos.

Como a celebração do Dia dos Avós se espalhou pelo mundo?

Na década de 1980, Dona Aninhas visitou Brasil, França, Estados Unidos, Alemanha, África do Sul, Espanha, Angola, Suíça e Canadá para defender a criação do Dia dos Avós.

Inicialmente, ele surgiu apenas como Dia da Vovó. Mas, como a Igreja Católica também celebrava São Joaquim no mesmo 26 de julho, a data ficou sendo Dia dos Avós. A data em celebração a São Joaquim mudou duas vezes. O 26 de julho foi oficializado pelo Papa Paulo 6º.

Mas Dona Aninhas não teve sucesso em tornar a data de 26 de julho consenso mundial.

Na Itália, a "Festa dei Nonni" é comemorada em 2 de outubro. Nos Estados Unidos, ela cai no primeiro domingo de setembro, enquanto os ingleses celebram no primeiro domingo de março. A França dividiu em Dia da Avó (primeiro domingo de março) e Dia do Vovô (primeiro domingo de outubro), como se faz com o Dia dos Pais e o Dia das Mães. Australianos adotaram o primeiro domingo de novembro, e canadenses escolheram o 25 de outubro.

Fonte: Folha de S.Paulo

POLÍTICA E BEBIDA

Fernando Albrecht

Se um político bebe uísque ou espumante em lugares públicos, será chamado de bêbado. Se beber cachaça, será considerado um homem do povo. Com o advento do politicamente correto, a bebida está ausente nos seus perfis.

Já foi diferente em épocas passadas, quando beber fazia parte da liturgia do cargo. Se recusasse um convite para uma cachacinha ou chope, era considerado esnobe.

Mas tudo tinha limite. Um vereador, já falecido, costumava dizer que as três piores dificuldades em uma campanha eleitoral era aguentar mordida de bêbado, latido de cusco nos calcanhares e carreteiro de vila. Não foi reeleito, embora gostasse muito de ajudar o balanço da Brahma. Nos anos 1950 e 1960, era costume deixar garrafas vazias de cerveja nas mesas para mostrar como o dono da festa era bom de bico e de trago.

Claro que brigas eram frequentes nestes encontros. Houve um caso de político de nomeada que pagou uma rodada de uísque no Uísque Center, em galeria da rua Riachuelo nos anos 1970. Como havia um deputado rival, não demorou muito para o clima ficar pesado.

Um dos bebedores piorou a coisa quando colocou a mão devagar no bolso do trás da calça e puxou um… pente. Depois de um breve silêncio, gargalhadas desanuviaram o que poderia ter sido o Duelo do OK Corral guasca.

Em Montenegro, anos 1950, o juiz eleitoral proibiu a venda e consumo antes e depois do dia das eleições, especialmente para um biscateiro, o gambá da cidade. Assim que abriu a votação, o magistrado foi beber o clássico cafezinho no Café Central.

Para seu espanto, o tal gambá estava podre de bêbado, e não era nem 10 horas. Perguntou a ele de quem havia comprado a bebida.

– Doutor, pra mim já arrumei. Pro senhor, bem, o senhor que se vire…

Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br
Todas as grandes coisas são simples. E muitas podem ser expressas numa só palavra: liberdade; justiça; honra; dever; piedade; esperança. (Winston Churchill)

LUGARES

SPLIT - CROÁCIA
Split, cidade da costa dálmata da Croácia, é conhecida por suas praias e pelo Palácio de Diocleciano, uma fortaleza central erguida pelo imperador romano no século IV. O palácio já abrigou milhares de construções e hoje ainda possui mais de 200. Dentro de seus muros de pedra branca e sob seus pátios há uma catedral e um grande número de lojas, bares, cafés, hotéis e casas. ― Google

TARADOS POR ÓCULOS

Ruy Castro

Parece haver uma categoria especial de maníacos: os que roubam óculos de estátuas

O cineasta americano Spike Lee, no Rio para uma palestra há alguns dias, subiu de novo ao morro Dona Marta, em Botafogo, que conheceu há 26 anos. Queria ser fotografado abraçado à estátua de seu amigo Michael Jackson, que ainda não estava lá quando ele foi ao morro na primeira vez. A foto ficou ótima, mas me interessou mais por um motivo: Michael, que, em 2015, teve roubados seus óculos escuros, estava de novo com eles.

É como se houvesse uma categoria especial de tarado, cujo objeto de desejo são óculos de estátuas. A de Cazuza, no Leblon, e a de Renato Russo, na ilha do Governador, também já tiveram seus óculos levados. Mas a vítima imbatível dessa tara é a estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade, sentado de costas para o mar num banco em Copacabana. Desde sua inauguração, em 2002, Drummond já teve seus óculos roubados 13 vezes.

Quase toda escultura tem um acessório saliente, fácil de ser arrancado. Espanta-me, por exemplo, que o cigarro entre os dedos da estátua de Nelson Rodrigues, também em Copacabana, nunca tenha sido subtraído. O violão de Tom Jobim, em Ipanema, também prossegue invicto, assim como a máquina de escrever do colunista Zózimo Barroso do Amaral, no Leblon, e o cachorro de Clarice Lispector, no Leme. A estátua do Chacrinha, no Jardim Botânico, corre duplo perigo, pelos óculos e pela buzina do Velho Guerreiro.

Mas o vandalismo não se limita aos óculos. A estátua de Noel Rosa numa mesa de botequim e sendo servido por um garçom, em Vila Isabel, já teve a mesa roubada. E as saracuras do Chafariz das Saracuras, obra bicentenária de Mestre Valentim, em Ipanema, foram furtadas várias vezes. Nem Noel nem as saracuras usavam óculos.

Roubar os óculos de Drummond, Cazuza ou Renato Russo é mole. Já os de Michael Jackson no Dona Marta só foram levados uma vez. Os vândalos acharam mais prudente investir em outros óculos.

Fonte: Folha de S. Paulo