quinta-feira, 31 de março de 2022

UCRÂNIA: OS REFUGIADOS

UCRÂNIA: OS REFUGIADOS
José Horta Manzano

Fluxo de refugiados que deixam a Ucrânia
Crédito Infográfico: Alto-Comissariado da ONU para Refugiados

Na terça-feira 29 de março, a contagem oficial dos ucranianos que deixaram o país em busca de refúgio no exterior atingiu a marca simbólica e impressionante de 4 milhões. Pela contagem do Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados, exatamente 4.019.287 pessoas tinham atravessado a fronteira.

A imensa maioria de solicitantes de asilo é constituída de mulheres, crianças e anciãos. De fato, todos os homens com idade entre 18 e 60 anos foram convocados pelo Ministério da Defesa. Não podem partir. Têm de ficar para defender a pátria agredida.

Embora todas as mulheres tenham permissão para ir-se, muitas delas preferiram ficar para ajudar como podem. Enfermeiras, parteiras, médicas e outras terapeutas estão nesse caso. Mas outras, ainda que não estejam familiarizadas com funções médicas nem paramédicas, contribuem na logística, na preparação de refeições para os combatentes, na confecção de peças de camuflagem e em outras atividades que não exijam extraordinária força física.

Mais da metade dos ucranianos que buscam refúgio no estrangeiro se dirigiram à Polônia. Exatamente 2.336.800 pessoas entraram no país, segundo o governo polonês. Há duas razões para isso. Em primeiro lugar, entre as fronteiras da Ucrânia com países ocidentais, a polonesa é a mais extensa. Em segundo lugar, a Polônia sofre com falta crônica de mão de obra, provocada pela emigração de muitíssimos poloneses que partiram em busca de trabalho mais bem remunerado em outros países da Europa.

Os países europeus – incluindo a Suíça, que não é membro da União Europeia – decidiram, em conjunto, conceder gratuidade de transporte a todo titular de passaporte ucraniano. Os requerentes de asilo podem viajar de ônibus ou de trem sem pagar. Quando passa o controlador, basta exibir o passaporte. É medida simbólica, simpática e extremamente útil. Muitos deles deixaram tudo pra trás e não têm mais que a roupa do corpo.

Faz muito tempo que a Europa não assistia a uma onda de solidariedade tão intensa. A última vez tinha sido em 1956, quando a Rússia (sempre ela!), que se chamava então União Soviética, mandou suas tropas à Hungria para esmagar no nascedouro um levante popular contra o autoritarismo do regime comunista, vassalo de Moscou. Os refugiados húngaros de então se espalharam por toda a Europa ocidental. Mas dois grandes fatores fazem a grande diferença entre os civis que fugiram da Hungria em 1956 e os ucranianos de hoje.

O primeiro é uma simples questão de volume; os húngaros eram “apenas” 200 mil, ao passo que os ucranianos já passam de 4 milhões – 20 vezes mais. Em seguida, o que talvez seja a diferença mais importante. Os húngaros deixaram o país natal em família (homens, mulheres, crianças e até anciãos), ou seja, saíram para não mais voltar. Já os refugiados ucranianos são praticamente só mulheres e crianças; as famílias estão separadas. Todos têm em mente a ideia fixa de reunir a família e retomar a vida de antes.

Assim, prevê-se que a maioria dos ucranianos expatriados retornará ao país natal assim que as coisas se acalmarem e que o ogro russo tiver voltado a hibernar nas neves da Sibéria. Até despertar de novo.

Fonte: brasildelonge.com
Aquele que diz uma mentira não sabe a tarefa que assumiu, porque estará obrigado a inventar vinte vezes mais para sustentar a certeza da primeira. (Alexander Pope, poeta inglês, 1688-1744)

LUGARES

ASSIS - ITÁLIA
A Basílica de São Francisco de Assis, na região italiana da Úmbria, é a igreja-mãe da Ordem Franciscana e um Patrimônio da Humanidade desde 2000.

NÃO TROPECE NA LÍNGUA

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE VÓS
--- Por que nos cursos de português não se usa mais o pronome vós? Como usar vós, o que significa? Amélia, São Paulo/SP
Precisamos começar lembrando que temos três pronomes pessoais no singular e três no plural. A primeira pessoa é a que fala: eunós. A segunda é a pessoa com quem se fala: tu e vós. A terceira é a pessoa de quem se fala: ele/ela eles/elas. Ocorre que nós brasileiros deixamos de lado tu e vós em favor de você e vocês, que seriam pronomes de tratamento tanto quanto o senhor, a senhora, vossa senhoria, vossa excelência.

O pronome pessoal tu é ainda usado em algumas regiões do Brasil (eu mesma tuteio a maioria das pessoas com quem converso), mas o seu correspondente no plural – vós – não é jamais falado neste país. Seu uso ficou restrito ao âmbito religioso e literário, podendo ser encontrado ainda em escritos de natureza bastante formal como um discurso. É por essa raridade que os livros didáticos não incluem mais este pronome na conjugação verbal, Amélia. Mas é interessante saber como ele funciona, ao menos como “conhecimento geral”.

VÓS SINGULAR

Apesar de pertencer à categoria plural, vós pode ser usado em relação a uma só pessoa. É o caso, por exemplo, da Divindade: Pai Nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome...

Também é muito comum os fiéis se dirigirem a Deus com a segunda pessoa do singular, sem que isso signifique menor respeito ou reverência. Assim sendo, a mesma oração pode ser feita com o uso do pronome Tu, mas neste caso é preciso observar a mudança dos verbos, naturalmente, e demais pronomes: Pai Nosso, que estás no céu, santificado seja o Teu nome...

VÓS PLURAL

Para ilustrar o uso do pronome vós como segunda pessoa do plural, trago um trechinho do poema Versos, de Cruz e Sousa, escrito em 1881 na então Desterro, hoje Florianópolis: 
  • Eia, jovens, avante!
  • Ser artista é brilhante, 
  • Trabalhar é uma lei!
[...]
  • Não temais os pampeiros
  • Sois gentis brasileiros
  • Deveis pois progredir!
  • Quem vos traça na história
  • Vossa augusta memória
  • É um deus – o Porvir!
Do mesmo Cruz e Sousa destaco o poema O Assinalado para demonstrar que ele usava tu sempre que se dirigia a uma só pessoa, reservando vós para o coletivo (no poema acima, vimos que se tratava dos jovens):

Tu és o louco da imortal loucura,
o louco da loucura mais suprema.
A terra é sempre a tua negra algema,
prende-te nela a extrema Desventura.

Mas essa mesma algema de amargura,
mas essa mesma desventura extrema
faz com que tu’alma gema
e rebente em estrelas de ternura.

Tu és o Poeta, o grande Assinalado
que povoas o mundo despovoado,
de belezas eternas, pouco a pouco.

Na natureza prodigiosa e rica
toda a audácia dos nervos justifica
os teus espasmos imortais de louco!

Fonte: www.linguabrasil.com.br

FRASES ILUSTRADAS

quarta-feira, 30 de março de 2022

A CUMPRIDORA DE PROMESSAS

A CUMPRIDORA DE PROMESSAS
Pedro Hallal

Quem dera nossos políticos fossem que nem a variante ômicron

Logo que surgiu, a variante ômicron parecia um político em momento eleitoral: chegou cheia de promessas. Em primeiro lugar, prometia ser a versão mais transmissível do coronavírus até então. Além disso, prometia ser menos agressiva do que as versões anteriores do vírus, e a combinação desses fatores, sugeria que a onda da ômicron seria mais curta do que as anteriores.

Mas a ômicron começou a mostrar suas diferenças em comparação aos políticos rapidamente. Em curto espaço de tempo, ela infectou uma quantidade recorde de pessoas, no Brasil e no mundo, cumprindo sua primeira promessa. Alguns chegaram a dizer que a ômicron teria sido a versão de um vírus que se espalhou rapidamente na história da saúde global.

Esse aumento explosivo do número de casos ligou o sinal de alerta em todos. Se com a baixa capacidade de testagem no Brasil os números eram aqueles, imaginem quais os números reais? Mas, felizmente, a ômicron também cumpriu sua segunda promessa: o aumento no número de casos não veio acompanhado de aumento, na mesma proporção, do número de óbitos. Começou então um debate se isso seria uma característica da variante (seria ela menos agressiva realmente?) ou uma característica da população (seria a menor agressividade explicada pelo maior percentual de vacinados?).

A verdade é que o menor número de óbitos pela ômicron é decorrente dos dois fatores. Estudos mostraram que, sim, a ômicron é realmente menos agressiva do que as versões anteriores do vírus, mas também ela encontrou uma população mais imunizada, o que dificultou a sua vida.

Rapidamente, se multiplicaram os estudos mostrando que pessoas vacinadas tinham risco muito menor de mortalidade pela variante ômicron em comparação aos não vacinados. Em alguns lugares, como os Estados Unidos, a onda da ômicron ficou conhecida como a pandemia dos não vacinados.

A terceira promessa da ômicron era que sua onda seria mais curta do que as observadas para as variantes anteriores. Vários pesquisadores rodaram modelos preditivos e estimavam que a onda da ômicron seria mais rápida. Dito e feito. Depois da explosão de casos no início do ano, o Brasil já completa um mês de queda na média móvel de mortes.

Isso significa que podemos celebrar e fingir que a pandemia acabou?

Claro que não. Mesmo em queda, a média móvel ainda registra que morrem quase 200 brasileiros diariamente de uma doença para a qual já existe vacina. Estivéssemos atuando adequadamente, poderíamos estabilizar rapidamente a média móvel em dois dígitos, abaixo de cem mortes por dia.

Os mesmos que mentiram para a população que a Covid-19 era só uma gripezinha...

Os mesmos que mentiram que seriam menos de 800 mortes no total no Brasil...

Os mesmos que mentiram que a pandemia já estava acabando, ainda no primeiro semestre de 2020...

Os mesmos que se recusaram a usar máscaras...

Os mesmos que mentiram sobre imunidade de rebanho...

Os mesmos que deixaram faltar oxigênio em Manaus...

Os mesmos que debocharam dos seus amigos e familiares que morreram com falta de ar...

Os mesmos que mentiram que cloroquina e ivermectina resolviam o problema...

Os mesmos que mentiram (e ainda mentem) que a vacina era experimental...

Os mesmos que mentiram que o vírus era um projeto da nova ordem mundial...

Esses mesmos seguem mentindo para vocês, até hoje.

Fonte: Folha de S. Paulo
Três pessoas podem manter um segredo, se duas delas estiverem mortas. (Benjamin Franklin, político americano, 1706-1790)

LUGARES

VIENA - ÁUSTRIA
A Coluna da Peste, ou Coluna da Trindade, é uma coluna da Santíssima Trindade localizada no centro da cidade de Viena, na Áustria. Erguido após a epidemia da Grande Peste em 1679, o memorial barroco é uma das peças escultóricas mais conhecidas e proeminentes da cidade. Christine M. Wikipédia

NÃO VALE DIZER

NÃO VALE DIZER
Ruy Castro

'Vale dizer', 'Na verdade' e 'Em tempo' são tiques da linguagem que as pessoas estão usando sem pensar

Vale dizer. Vale lembrar. Vale ressaltar. Vale destacar. Vale acrescentar. E outros vales isso ou aquilo, só mudando o verbo. Você pode não ter se tocado, mas, de há algum tempo, essas palavras estão lhe entrando pelos olhos com alarmante frequência e ocupando espaço à toa. A frase começa com "Vale dizer que ..." e segue-se o que a pessoa acha que vale dizer. Não ocorre a ela que, se dispensar o "vale dizer" e disser logo o que tem a dizer, sua informação não sofrerá nenhum prejuízo. Ao contrário, ganhará em concisão e objetividade.

É um vício de linguagem, como um tique nervoso ou uma pálpebra que dispara. E, como todo vício ou tique, brota de algum lugar no espaço e chega direto aos dedos de quem escreve, sem um estágio intermediário no nicho do cérebro onde se escolhem as palavras. A pessoa, quando se dá conta, já escreveu e, na verdade, nem se dá conta. Aliás, "na verdade" também é um desses tiques. Na verdade, por que "na verdade"? E quem garante que seja verdade? Em tempo: experimente escrever sem usar "na verdade" e veja como não lhe fará a menor falta.

"Em tempo"? Eis outra relíquia arrancada do passado e posta a circular na mídia como se já não pudéssemos passar sem. Equivale ao "vale dizer". Dá-se assim: na sequência de uma informação, sapeca-se um ponto-parágrafo e, sem qualquer motivo, começa-se o parágrafo seguinte com "Em tempo ..." --e lá vem a preciosa informação. É como se o autor temesse esquecer-se dela ou que seu espaço fosse acabar e ele não a usasse a tempo. Donde volto a sugerir: se escrever "Em tempo ...", experimente apagá-la e veja se seu conteúdo perde alguma coisa.

Alguém dirá que são implicâncias de um escriba ranzinza e que ninguém está ligando para isso. Pois devia estar. Manter a língua eficiente, como queria Ezra Pound, é obrigação de todos os que fazem uso dela.

"Fazer uso"? Epa! De todos que a usam, digo.

Fonte: Folha de S. Paulo

FRASES ILUSTRADAS

terça-feira, 29 de março de 2022

QUE FALTA FAZ MILLÔR FERNANDES

QUE FALTA FAZ MILLÔR FERNANDES
Lygia Maria

O debate político brasileiro precisa de humor e ceticismo

Filho de imigrantes, nascido no subúrbio carioca do Meyer em 1923, Millôr Fernandes começou a escrever na revista "O Cruzeiro" aos 16 anos e teve uma das carreiras mais longevas do jornalismo brasileiro. Foi desenhista, dramaturgo e tradutor, mas preferia ser chamado de jornalista: "para evitar qualquer pretensão", dizia. Faleceu há dez anos, em 27 de março de 2012, e deixou um vácuo na imprensa e no debate público. Que falta faz Millôr nesses tempos polarizados. Que falta faz seu ceticismo.

Falo do ceticismo analisado por Michael Oakeshott, aquele que se contrapõe à fé extrema na política: ceticismo como dúvida constante sobre construções racionais que se arvoram a criar sociedades perfeitas. Segundo Millôr: "Se uma pessoa estava no governo, eu ficava contra. Isso em qualquer época".

Mas o ceticismo milloriano não se aplicava apenas ao poder institucional, e sim a ideologias de um modo geral. Após ser demitido de O Cruzeiro (por causa de uma sátira à Bíblia), Millôr publicou a "Pif-Paf" um mês após o golpe militar. A revista criticava a ditadura, óbvio, mas também se opunha à esquerda dogmática. Tiradas irônicas como "Os comunistas são contra o lucro, nós somos apenas contra os prejuízos" ou "Esta revista será de esquerda nos números pares e de direita nos números ímpares" permeavam as edições. Imagine essa postura em plena Guerra Fria, comunismo versus capitalismo: quando todos tomam partido, é preciso coragem para não tomar partido algum.

Atualmente, vemos dicotomia semelhante: quem critica Bolsonaro é chamado de petista e quem critica Lula vira logo bolsonarista. Como se a oposição a "A" implicasse necessariamente em apoio a "B", ou seja, uma falácia lógica grotesca. O mesmo se dá com o identitarismo: qualquer crítica a práticas ou conceitos do movimento é taxada de racismo, machismo, homofobia etc. Nesse ambiente político tóxico e abafado, que falta nos faz uma lufada de ceticismo. Que falta nos faz Millôr Fernandes.

Fonte: Folha de S. Paulo
A violência é o último refúgio do incompetente. (Isaac Asimov, escritor americano)

LUGARES

ELVAS - PORTUGAL
O Aqueduto da Amoreira, no Alentejo, localiza-se na freguesia de Caia, São Pedro e Alcáçova, concelho de Elvas, distrito de Portalegre, em Portugal. Liga o local da Amoreira à cidade de Elvas. Wikipédia

ROMANCE FORENSE

Charge de Gerson Kauer
Viagra para o advogado aposentado

O advogado jubilado, já setentão, e sua esposa, 65 de idade, vão ao Rio de Janeiro visitar o filho (que se prepara a concurso de ingresso na carreira de promotor de justiça), nora e neto. E lá passam três noites no apertado apartamento.

Quando o advogado encontra uma cartela de Viagra no armário do banheiro, pergunta a seu filho se pode experimentar um dos comprimidos.

A resposta é um tanto evasiva.

- Pai, acho que não deves usar, pois é um estimulante muito forte. E são comprimidos que custam muito caro...

- Quanto? – pergunta o advogado aposentado.

- Mais ou menos 20 reais por comprimido - responde o filho.

- Não importa – diz o advogado - eu quero muito experimentar e amanhã, antes de irmos embora, deixo o dinheiro debaixo do travesseiro.

No dia seguinte, depois da partida do casal idoso, o filho descobre R$ 520 justamente debaixo do travesseiro.

À noite, liga ao pai que já está em Porto Alegre.

- Ô, pai, eu te falei por brincadeira que cada comprimido custava 20 reais e não R$ 520. De qualquer forma, agradeço pela generosidade.

Do outro da linha telefônica, vem a surpresa.

- Eu sei, filho, eu entendi perfeitamente. Mas saibas que os outros 500 foram presentinho da tua mãe! 

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS

segunda-feira, 28 de março de 2022

O LADO ERRADO DO CERTO

O LADO ERRADO DO CERTO
Carlos Brickmann

A guerra já passa de um mês, os dois lados comemoram as mortes que impõem ao inimigo, a destruição sem sentido prossegue, aumenta os preços no mundo inteiro, reduz a produção agrícola, leva à fome populações que nada têm com a luta. A propósito: por que a guerra entre Rússia e Ucrânia?

Lembremos que Vladimir Putin foi criado como agente secreto, com treino e licença para matar. Mata há muito tempo, e agora em larga escala. Não precisaria demonstrar sua barbárie: pode ter saído do serviço secreto, mas o serviço secreto não saiu dele. E o Ocidente lhe ofertou as desculpas.

O fim da União Soviética, com Mikhail Gorbatchev, poderia ter levado à cooperação econômica. Prometeu-se à Rússia que a OTAN, o tratado militar ocidental, ficaria onde estava (mas a OTAN se expandiu, assustando Putin). Dois dos maiores especialistas dos EUA se manifestaram contra a expansão da OTAN: Henry Kissinger e George F. Kennan (este o ideólogo da doutrina de contenção do comunismo, na Guerra Fria). A OTAN trouxe de sua criação em 1949 um lema claro: “Manter os americanos dentro da Europa, os russos fora e os alemães em baixo”. Com o tempo, a Alemanha se tornou membro importante da OTAN, mas os russos foram mantidos fora. E por que a OTAN se expandiu? Porque outros países quiseram se sentir seguros: houve 14 que entraram, fora Bósnia-Herzegovina, Georgia e Ucrânia, que estão na fila.

A propósito, na dissolução da URSS, a Ucrânia entregou aos russos suas armas atômicas, com garantia de paz. Em troca, enfrenta 190 mil invasores.

Prevendo o passado

E se as opiniões de Kennan e Kissinger tivessem sido levadas em conta? Talvez nada fosse diferente: Putin já disse que a dissolução da URSS foi uma das maiores tragédias da História. Ele não tem nada de comunista: seu sonho é a volta do império que existia antes dos comunistas, tendo vizinhos bem obedientes. Isso consta nos textos de seu guru Aleksandr Durgin, uma espécie de Olavo de Carvalho que fala menos palavrões. Putin já invadiu a Georgia e a Ucrânia. Que faria com a pequena Letônia, que fechou seus portos, se os letões não tivessem entrado na OTAN? Olhando para trás, é fácil ver que as promessas não foram cumpridas. Se fossem, seria tudo igual.

Visão curta

Enquanto os líderes fazem besteiras que levam gente à morte, liderados se esmeram nas bobagens. Um restaurante se recusa a servir estrogonofe, os maestros russos Valery Gergiev e Pavel Sorokin ficam fora da programação em Paris e Londres. Imagine se os EUA, em guerra com Alemanha e Itália, tivessem afastado de suas universidades o professor alemão Albert Einstein e o físico italiano Enrico Fermi? Mas essas bobagens têm precedente: 1964, no Brasil, logo após a tomada de poder pelos militares. O Ballet Bolshoi não pôde se apresentar, nem a Seleção soviética. Parece que era tudo comunista!

Fonte: https://www.chumbogordo.com.br
Na política é, às vezes, como na gramática: um erro no qual todos incorrem finalmente é admitido como regra. (André Malraux, escritor francês, 1901-1976)

LUGARES

JARAGUÁ DO SUL - SC
(Parque Malwee)

O Parque Malwee foi inaugurado em 1978 por Wolfgang Weege, fundador do Grupo Malwee. A ideia do projeto nasceu em 1975 quando, em sua primeira viagem à Europa, Wolfgang conheceu diversos lugares que o inspiraram a criar um parque em Jaraguá do Sul. Foi então que resolveu dar início aos estudos de implantação e planejamento do que viria a ser o Parque Malwee. Com 1,5 milhão de metros quadrados, o grande campo com pouquíssima vegetação nativa recebeu o plantio de espécies de árvores trazidas de várias partes do mundo e de muitas espécies típicas da região norte do Estado de Santa Catarina. Após dois anos de estudos e trabalhos, o sonho tornou-se realidade em 27 de setembro de 1978. Ponto turístico do estado de Santa Catarina, recebendo mais de 200 mil pessoas anualmente, o Parque Malwee abriga 16 lagoas, mais de 35 mil árvores e uma infinidade de espécies animais. Aberto todos os dias da semana e com entrada gratuita, o local reserva diversos atrações para toda a família como o Museu Wolfgang Weege, trilhas de caminhada e bike, pista de bicicross, passeio de pedalinho, choupanas com churrasqueiras ao ar livre, restaurantes de comida típica e muito mais.
Venha nos conhecer!

QUEM AMA, CUIDA

QUEM AMA, CUIDA
Lya Luft

Somos uma geração perplexa, somos uma geração insegura, somos uma geração aflita — mas, como tudo tem seu lado bom, somos uma geração questionadora.

O que existe por aí não nos satisfaz. Sofremos com a falta de uma espinha dorsal mais firme que nos sustente, com a desmoralização generalizada que contamina velhos e jovens, com uma baixa auto-estima e descaso que, penso eu, transpareceram em nossa equipe de futebol na Copa do Mundo.

Algum remédio deve ser buscado na realidade, sem desprezar a força da imaginação e a raiz das tradições — até no trato com as crianças.

Uma duradoura influência em minha vida, meu trabalho e arte, foram os contos de fadas: antiquíssimas histórias populares revistas e divulgadas por Andersen e pelos Irmãos Grimm, para povoar e enriquecer alma de milhões de crianças — e adultos.

Esses relatos, plenos de fantasia, falam de realidades e mitos arcaicos que transcendem linguagem, raça e geografia, e nos revelam.

Nessa literatura infantil reúnem-se dois elementos que me apaixonam: o belo e o sinistro. Ela abre, através da imaginação, olhos e medos para a vida real, tecida de momentos bons e ameaças sinistras, experiências divertidas e outras dolorosas — também na infância.

Na realidade, nem sempre os fortes vencem e os frágeis são anulados: a força da inteligência de pessoas, grupos, ou povos ditos “fracos”, inúmeras vezes derrota a brutalidade dos “fortes” menos iluminados. Porém o mal existe, a perversão existe, atualmente a impunidade reina neste país nosso, confundindo critérios que antes nos orientavam. Cabe à família, à escola, e a qualquer pessoa bem intencionada, reinstaurar alguns fundamentos de vida e instaurar novos.

Não vejo isso em certa — não generalizada — tendência para uma educação imbecilizante de nossas crianças, segundo a qual só se deve aprender brincando, a escola passou a ser quase um pátio tumultuado, e a falta de respeito reproduz o que acontece tanto em casa quanto em alguns altos escalões do país.

Essa mesma corrente de pensamento quer mutilar histórias infantis arcaicas como a do Chapeuzinho Vermelho: agora o Lobo acaba amigo da Vovó… e nada de devorar a velha, nada de abrir a barriga da fera e retirá-la outra vez. Tudo numa boa, todos na mais santa paz, tudo de brincadeirinha — como não é assim a vida.

Modificam-se textos de cantigas como “Atirei o pau no gato”, transformando-a em um ridículo “Não atire o pau no gato” e outras bobajadas, porque o gato é bonzinho e nós devemos ser idem, no mais detestável politicamente correto que já vi.

O mundo não é assim. Coisas más e assustadoras acontecem, por isso nossas crianças e jovens devem ser preparados para a realidade. Não com pessimismo ou cinismo, mas com a força de um otimismo lúcido.

Medo faz parte de existir, e de pensar. Não precisa ser terror da violência doméstica, física ou verbal, ou da violência nas ruas — mas o medo natural e saudável que nos faz cautelosos, pois nem todo mundo é bonzinho, adultos e mesmo crianças podem ser maus, nem todos os líderes são modelos de dignidade. Uma dose de realismo no trato com crianças ajudará a lhes dar o necessário discernimento, habilidade para perceber o positivo e o negativo, e escolher melhor.

Temos muitos adolescentes infantilizados pelo excesso de proteção paterna ou pela sua omissão, na gravíssima crise de autoridade que nos assola; temos jovens adultos incapazes porque quase nada lhes foi exigido, nem na escola, nem em casa. Talvez tenha lhes faltado a essencial atenção e interesse dos pais, na onda de “tudo numa boa”.

Dar a volta por cima significará mudar algumas posturas e opções, exigir mais de nós mesmos e de nossos filhos, de professores e alunos, dos governos, das instituições. Ou vamos transformar as novas gerações em fracotes despreparados, vítimas fáceis das armadilhas que espreitam de todos os lados, no meio do honrado e do amoroso — que também existem e precisam se multiplicar.©Vincent Bourilhon

Não prego desconfiança básica, mas uma perspectiva menos alienada: duendes de pesadelo aparecem em nosso cotidiano. Nem todos os amigos, vizinhos, parentes, professores ou autoridades nos amam e nos protegem. Nem todos são boas pessoas, nem todos são preparados para sua função, nem todos são saudáveis.

Para construir de forma mais positiva nossa vida, é preciso, repito, dispor da melhor das armas, que temos de conquistar sozinhos, duramente, quando não a recebemos em casa nem na escola: discernimento. Capacidade de analisar, argumentar, e escolher para nosso bem — o que nem sempre significa comodidade ou sucesso fácil.

Quem ama, cuida: de si mesmo, da família, da comunidade, do país — pode ser difícil, mas é de uma assustadora simplicidade, e não vejo outro caminho.

— Lya Luft, no livro “Em outras palavras”. Rio de Janeiro: Record, 2011.

Fonte: www.revistaprosaversoearte.com

FRASES ILUSTRADAS

domingo, 27 de março de 2022

FUTEBOL COM CARTÃO DE VISITA

FUTEBOL COM CARTÃO DE VISITA
Ruy Castro

Nossos clubes abundam de Thiagos, Diegos, Lucas, Matheus e Gabrieis

Na segunda-feira (21), ao falar dos monônimos, nomes simples que definem uma situação ou pessoa, comentei que o futebol, antes repleto deles —Zizinho, Pelé, Garrincha, Zico, Romário—, agora é estrelado por jogadores com nome e sobrenome, que só faltam entrar em campo com cartões de visita. Leitores concordaram e um deles observou a inflação de certos nomes em voga nos nossos times —entre outros, Diegos, Thiagos, Lucas, Matheus e Gabrieis—, a ponto de a torcida e os locutores só conseguirem identificá-los pelo nome completo.

Fui investigar o plantel dos nossos 12 principais clubes e dos convocados ultimamente para a seleção. O leitor tem razão. Diegos, por exemplo, são Diego Ribas, Diego Alves, Diego Rossi, Diego Costa, Diego Gonçalves, Diego Gudin, Diego Loureiro, Diego Souza e Diego Churin. Thiagos, com t ou th, temos Thiago Maia, Thiago Silva, Tiago Volpi, Thiago Couto, Thiago Rodrigues e Thiago Santos. Se o seu clube estiver carente de Diegos ou Thiagos, você deve ir ao CT para protestar.

E os Lucas? Luccas Claro, Lucas Piazon, Lucas Mezenga, Lucas Barbosa, Lucas Silva, Lucas Figueiredo, Lucas Braga, Lucas Freitas, Lucas Pires, Lucas Lima, Lucas Veríssimo e Lucas Paquetá. E os Matheus? Matheus Ferraz, Matheus Mendes, Matheus Martins, Matheus Nascimento, Matheus Barbosa, Matheus Donelli, Mateus Silva, Matheus Neris, Matheus Frizzo, Matheus Sarará, Matheus França, Matheus Thuler, Matheus Cunha e Matheuzinho.

Do que os clubes não podem se queixar é da falta de Gabrieis: Gabriel Silva, Gabriel Neves, Gabriel Sara, Gabriel Pirani, Gabriel Teixeira, Gabriel Tigrão, Gabriel Pec, Gabriel Dias, Gabriel Brazão, Gabriel Grando, Gabriel Noga, Gabriel Merendo, Gabriel Boschilia, Gabriel Magalhães, Gabriel Martinelli, Gabriel Chapecó, Gabriel Menino, Gabriel Jesus, Zé Gabriel e Gabriel Barbosa.

Este último, Gabigol, em sua identidade secreta.

Fonte: Folha de S. Paulo