domingo, 19 de novembro de 2017

COMO COMBATER FAKE NEWS NO BRASIL?

COMO COMBATER FAKE NEWS NO BRASIL?
Ronaldo Lemos

Nas últimas semanas, vem sendo articulada a ideia de que o Comando de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército tenha um papel de destaque no combate às notícias falsas na internet ("fake news"). Ainda há poucos detalhes sobre qual é exatamente o plano, e mais informações ajudariam no debate público.

No entanto, com base no pouco que se sabe, atribuir uma preponderância militar a esse tema parece ser decisão equivocada e ineficaz.

A internet é um fenômeno complexo, que desafia a capacidade do Estado de agir sozinho. A evidência disso é que as principais ameaças que se materializam na rede hoje são engendradas tanto por atores estatais como não estatais. Para combatê-las, é necessário um arranjo similar.

Basta ler os estudos do professor Jonathan Albright, meu colega na Universidade Columbia, para ver como o debate sobre fake news é mais complexo do que o modo como vem sendo tratado.

Albright mostra que cada notícia falsa é apenas a ponta do iceberg de uma indústria global bilionária que se formou para disseminar propaganda de natureza inflamatória.

Ele batizou essa indústria de "a máquina de micropropaganda". Seu elemento fundamental –pouco visível– é uma constelação de empresas desconhecidas, grandes e pequenas, que monitoram e vigiam os hábitos e preferências políticas dos usuários, sem nenhuma consideração à privacidade ou a limites éticos. As notícias falsas e a máquina de micropropaganda são dois lados de uma mesma moeda. Tratar de apenas um deles não gera resultados.

Para lidar com esse desafio, é necessária uma resposta institucional mais sofisticada. O primeiro passo é destravar a discussão sobre a lei de proteção de dados pessoais, que está pendente no Congresso. Essa lei deve permitir a inovação, ao mesmo tempo em que impõe obrigações de transparência e coíbe abusos éticos.

Outro passo é a criação de um fórum multissetorial para tratar do tema, subordinado exclusivamente ao Tribunal Superior Eleitoral.

Nesse fórum deve haver a presença de vários setores: comunidade acadêmica e científica, governo, Comitê Gestor da Internet, setor privado, sociedade civil e aí sim o Comando de Guerra Eletrônica do Exército. Assim torna-se possível construir uma resposta mais efetiva às fake news. O requisito para isso é coordenar esforços entre os vários setores de forma permanente e estruturante.

As fake news são uma espécie de spam. Qualquer tipo de spam destrói o valor da mídia em que circula. Basta lembrar o fim dos anos 1990, quando os serviços de e-mail foram inundados por propaganda e quase afundaram.

Estamos em um momento em que o desafio é maior. As fake news atuais degradam a esfera pública como um todo. São um problema não só para as redes sociais como para a mídia "tradicional", com quem competem por atenção e minam a credibilidade. É necessário o envolvimento de todos os setores da sociedade para tratar dessa questão. O TSE pode liderar esse processo.

Fonte: Folha de S. Paulo

terça-feira, 14 de novembro de 2017

PROFESSOR: ESPÉCIE EM EXTINÇÃO

PROFESSOR: ESPÉCIE EM EXTINÇÃO
Eduardo Aquino/O Tempo

Charge do Latuff
Professor se tornou espécie em extinção num ambiente muito hostil

Vagas de pedagogia, magistério e congêneres se oferecem em muitas esquinas, longínquas cidades, remotas faculdades. Se preenchidas, se esvaem nos anos de graduação, e alguns gatos pingados (ou professores sagrados) mandam o convite de formatura, como se fosse foto de uma grande família.

Apanhar, ser agredido verbalmente, a absoluta falta de respeito, tudo isso é um espinho que fere a dignidade dos mestres. Assim como o desinteresse galopante dos alunos (e dos pais, muitas vezes).

TERRENO BALDIO – A escola é, hoje, um terreno baldio. A sociedade joga ali o lixo de sua desumanidade, desigualdade e indiferença. Se, antes, a escola pública era exemplo e as privadas eram complementares, hoje a pirâmide se inverteu. Sim, aqui e ali, oásis de excelência se destacam no deserto.

Redundante falar que a educação é a base do sucesso de países que até quatro ou cinco décadas atrás estavam no quarto mundo, como Coreia, Singapura e outros tigres asiáticos, em especial a China.

Somos o somatório de nossos erros e acertos. O mundo é de quem o merece. Se os políticos e os que optaram por carreiras públicas só aprenderam a subtrair e dividir, o resultado só pode ser negativo. Conseguimos piorar a cada ano em todos os índices mundiais de avaliação de qualidade de ensino. Somos lanterninhas da competência.

MUITOS PROBLEMAS – Péssimas faculdades? Salários indignos? Famílias disfuncionais e desestruturadas? O vício desgraçadamente silencioso, espantosamente perigoso da tecnologia? A falência irreversível do medieval modelo, quadro-negro, giz, carteiras e, quando muito, um computador pré-histórico? Porções generosas de tudo isso e diversos outros temperos que se misturam e fermentam num caótico cenário de fim dos tempos, do salve-se quem puder, apague a luz o último a sair.

Tal qual a peste negra na Idade Média, os professores e os funcionários das escolas públicas vão caindo enfermos, inválidos, mortalmente atingidos por estresse, depressão, síndrome de Bournout (esgotamento aversivo, embotamento e robotização funcional).

Sobram discursos, guerras ideológicas esquizofrênicas entre facções entrincheiradas em modelos teóricos catedráticos, enquanto o mamute lento e preguiçoso das políticas públicas é tomado pela infecção sistêmica da corrupção, da burocracia e da falta de mérito.

NA VIDA REAL – Enquanto isso, na vida real, balas perdidas, greves, falta de professores ambientes físicos fantasmagóricos aparecem nas páginas policiais. E alunos terminam o ensino médio sem conseguir formular duas frases simples, analfabetos funcionais e apanhando de tabuadas básicas. E dá-lhe nudes, sexies, redes sociais. O smartphone alienante e emburrecedor, quando mal usado, o que é regra, e não exceção.

Se sou pessimista? Não, de jeito nenhum. Torço para que estrutura viciada e inviável caia de vez. Sonho com uma escola sem muros ou paredes, inventiva, estimulante, absolutamente nova e renovável a cada dia. Onde o prazer de frequentá-la traga satisfação e sensação de recompensa para alunos, professores, pais e funcionários. Um espaço multiuso que atraia a comunidade em seu entorno. Que se filosofe, desperte o desejo pelo conhecimento, amplie o horizonte existencial de todos nós. Que crie, invente, descubra soluções e caminhos para uma humanidade tão perdida. Será que é do interesse político e público? Ou a ignorância e a alienação são essenciais para manter o compadrio, a corrupção, o voto de cabresto e o coronelismo que campeiam neste grande e complacente “país do futuro”?

Fonte: Tribuna da Internet

NA INTERNET, CADA UM É EDITOR DE SI MESMO


Na internet, cada um é editor de si mesmo, o caso Wiliam Waack é um exemplo
Pedro do Coutto

Na internet, a partir da década de 80, com a unificação da rede em computadores, surgiu uma nova era na informação, na interpretação e, portanto, na comunicação de modo geral. Foi um marco importante na história, o primeiro além daquele definido magistralmente por Marshall McLuhan. Mas o sociólogo canadense havia dividido a História da Humanidade em duas eras: a era do relato e a era do registro. A era do registro sucede a imprensa de Gutemberg no século XV. A era do relato antecede.

Para citar dois exemplos de momentos traumáticos na história universal podemos citar a crucificação de Jesus Cristo e o Nazismo. A crucificação é um relato. O nazismo um registro. Na época do nazismo já existiam os jornais, a fotografia e o cinema. As imagens foram incorporadas à memória universal. E também surgia em 1934 a televisão nos Estados Unidos. O nazismo surgiu em 1933 e a segunda Guerra Mundial foi desencadeada em 1939.

TERCEIRA ERA – Mas eu disse que a internet implantou uma terceira era na história da comunicação. Isso porque, a partir dela, qualquer um de nós, que possua um computador, passa a ser de receptor a emissor de mensagens. Este aspecto é essencial nos dias de hoje. As provas da essencialidade são muitas. Uma delas refere-se ao episódio de William Waack, objeto de grande repercussão nas redes sociais e de reportagem de Marcelo Maethe, Daniel Bergamasco, Filipe Vilicio, Maria Carolina Maier e Alex Xavier, na revista Veja que está nas bancas. O episódio do afastamento de William Waack do jornal da Globo e da Globonews foi abordado também por Paulo Cezarino Costa, na Folha de São Paulo deste domingo, e Demétrio Magioly, na Folha de sábado. A repercussão, portanto foi muito grande e na proporção exata do fato. Porém a questão essencial desloca-se para o poder das redes sociais.

Marcelo Marte e Daniel Bergamasco referem-se também a outros episódios que tiveram seu desfecho a partir de divulgações na internet. Entre os quais, os que envolvem o ator José Mayer, o médico Marcos Harter e o ator da série House of Cards, abrangendo também o produtor famoso em Holywood. Os dois últimos casos, relativos a assédio sexual. Aliás, o mesmo problema no qual mergulhou o ator José Mayer.

CASO WAACK – Voltemos ao capítulo relativo a William Waack. A colisão na qual Waack levou a pior refere-se a um vídeo gravado por Diego Pereira, que trabalhou na Globo até janeiro deste ano. Diogo Ferreira colocou na internet um vídeo gravado em novembro de 2016 quando William Waack , em Washington, preparava-se para comentar a vitória nas urnas de Donald Trump. Um motorista de um automóvel próximo ao local onde o repórter se encontrava começou a buzinar de forma insistente. William Waack ofendeu o motorista inquieto, inclusive pelo fato de o motorista pertencer à raça negra.

Surpreende que tal gravação tivesse chegado às mãos da direção da Rede Globo exatamente um ano depois do fato. Causa surpresa também o afastamento imediato do jornalista. Mas o que quero comentar não é apenas o acontecimento e seu desfecho. Desejo comentar a importância das redes sociais no universo da comunicação. Com a internet, como disse no início cada um passou a ser também um transmissor de notícias, deixando de ser apenas um receptor.

SEM REVISÃO – Mas a dimensão desse avanço não acaba aí. Vai além: cada pessoa pode ser um transmissor de notícias e de análises sobre quaisquer fatos e assuntos, não estando suas mensagens sujeitas ao crivo de um editor, como acontece nos jornais, nas emissoras de rádio e televisão. Nada disso. Além de transmissor cada um torna-se também editor de si mesmo. Daí a dimensão maior que se passou a atribuir à colocação de matérias nas redes sociais. O caso William Waack é um exemplo marcante. Ele, ao se desculpar , confirmou a veracidade da gravação colocada na rede,

Entretanto – eis um tema interessante –, podem ocorrer casos em que os editores de si mesmos não estejam ao lado da verdade. Em tais situações, importante assinalar, é necessário que todos nós busquemos a confirmação. E esta será sempre encontrada nos jornais impressos do dia seguinte. Seja como for, a transformação de cada um de nós, de receptor a transmissor, representa a grande página da história moderna. A informação hoje tornou-se mais rápida do que a informação de ontem.

Fonte: Tribuna da Internet

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

OS DIREITOS DO IMBECIL

Antonio Prata

No sábado, dia 4, o STF derrubou o item 14.9.4 do Enem, que previa nota zero nas redações cujo teor desrespeitasse os direitos humanos. Com a decisão, o STF garantiu ao imbecil, na prova do dia seguinte, seu direito à imbecilidade -e, por mais triste que seja, me parece ter sido o correto.

O imbecil também é gente e se quiser defender a volta das crucificações, a instalação de um pato guilhotina diante da Fiesp ou a indicação do Alexandre Frota para o Ministério da Educação, não cabe ao Estado calá-lo, mas a todos os não imbecis rebatê-lo racionalmente.

Além da questão ética há uma outra, estratégica, para que deixemos os imbecis espalharem aos quatro ventos o vento de suas cabeças ocas: o cretino com voz é apenas um cretino, mas o cretino censurado se transforma num mártir da liberdade de expressão.

Se permitirmos que se comuniquem, há grandes chances de os patetas tropeçarem nos próprios cadarços, como os que protestaram diante do Sesc contra a filósofa Judith Butler, brandindo crucifixos, ateando fogo a uma boneca e gritando "Queimem a bruxa!". Basta calarmos o bufão, no entanto, e ele vira um herói das liberdades individuais numa cruzada contra a tirania do Estado, repetindo cacos de Thoreau copiados do Facebook e aspas do Mises pinçadas do Twitter.

Para o discurso delirante dos nossos Teletubbies alt-right, nada é melhor do que o falso papel de oprimido. E, surpreendentemente, nos últimos anos, eles têm conseguido ganhar o público nesse papel. No país em que a polícia tortura sistematicamente, executa suspeitos e promove chacinas, os paranoicos performáticos do Escola Sem Partido conseguem convencer boa parte da opinião pública de que ir contra os direitos humanos é desafiar o establishment.

Nunca é demais lembrar que São Paulo elegeu para deputado estadual o Coronel Ubiratã, comandante do massacre do Carandiru. Mais de 50 mil pessoas digitaram na urna o seu número, 111, o mesmo número de cadáveres que seus homens deixaram no presídio. Achar ousado ser politicamente incorreto neste cenário é mais ou menos como, no Coliseu, crer-se subversivo por torcer pelo leão.

Dilma foi impeachada, Michel Temer está no poder, as bancadas do Boi, da Bala e da Bíblia, se quiserem, em troca de apoio, fazem o presidente dançar "Despacito", de fio dental, no espelho d'água do Planalto, mas os Beavis & Buttheads do conservadorismo continuam se defendendo da esquerda opressora.

Nesta quarta (8), uma comissão da Câmara aprovou, por 18 votos (todos homens) contra um (mulher), a proibição do aborto mesmo em caso de estupro. Serão esses parlamentares influenciados pela poderosíssima "ideologia de gênero" que os carolas do Sesc combatiam com cruzes e chamas? Terão estes senhores sido vítimas do complô de doutrinação comunista que o Escola Sem Partido luta tanto para derrubar?

No domingo passado (5), enquanto 6 milhões de adolescentes faziam o Enem, com o aval do STF para se manifestarem contra os direitos humanos, Luan Nogueira, de 14 anos, saiu de casa para comprar biscoito, em Santo André, e foi morto por um PM com um tiro no pescoço. Sua mãe, impedida pela polícia de se aproximar do corpo, coberto por um saco plástico, reconheceu o filho pela sola do sapato. Sem dúvida, precisamos urgentemente lutar pelas liberdades individuais contra a tirania do Estado, mas será que é combatendo os direitos humanos?

Fonte: Folha de S. Paulo

domingo, 12 de novembro de 2017

FOME À VISTA

FOME À VISTA
Ruy Castro

De repente, até mesmo em regiões onde certas culturas pareciam firmes e a prosperidade, garantida, o fantasma da fome bate à porta.

Em vários países da Ásia, da África e da Oceania, as bananas estão sendo atingidas por um fungo, o Fusarium oxysporum, que causa uma doença resistente a remédios e de difícil detecção. Ele invade a bananeira pelas raízes, penetra no seu sistema vascular, despeja uma gosma que impede a circulação dos nutrientes e a faz produzir, em vez de gloriosas bananas d'água, reles bananicas. As bananeiras das Américas Central e do Sul ainda não foram atingidas, mas, dizem os estudiosos, as repúblicas especializadas no produto não perdem por esperar.

Há também aquele problema há muito denunciado em escala mundial: que fim levaram as abelhas? Mesmo no Brasil, o sumiço já pode ter chegado a 30% das colônias. É grave porque, na busca do alimento, as abelhas polinizam as plantações de frutas, legumes e grãos, significando que, sem elas, a produção cai. As hipóteses para o desaparecimento vão do abuso de agrotóxicos à poluição do ar e até aos sinais emitidos pelas torres de celular, que as fariam perder o senso de direção. O mundo tornou-se hostil às abelhas –não admira que elas estejam caindo fora.

E não sei o que acontece com as vacas francesas, mas a produção de leite na França caiu a níveis alarmantes nos últimos meses. Isso inflacionou o preço da manteiga e, em consequência, os croissants, que são 25% manteiga, desapareceram das padarias de Paris. Os franceses podem passar sem Montaigne, Rousseau ou Voltaire, mas não entendem a vida sem manteiga. É a manteiga que lubrifica a economia da França.

Lubrifica outras coisas também –imagine se essa crise se desse quando Marlon Brando estava filmando "Último Tango em Paris", em 1972.

Fonte: Folha de S. Paulo

domingo, 5 de novembro de 2017

O SHOPPING MORREU

O SHOPPING MORREU
Por Caio Camargo

O papel dos shoppings centers no cotidiano de seus consumidores vem mudando muito nos últimos anos, e precisa imediatamente se reformular. Muito se fala sobre shoppings e grandes lojas de departamento fechando no exterior, mas há algo acontecendo também no Brasil e que o mercado precisa entender desde já.

Quem é lojista e tem loja, principalmente em shoppings, sabe muito bem que nos últimos anos (considerando até mesmo o período antes da crise), o fluxo de clientes em lojas físicas vem caindo ano após ano, sendo cada vez mais difícil encontrar lucratividade nos negócios. A equação entre os custos operacionais, cada vez maiores, e as vendas, cada vez menores, principalmente por conta do forte período de retração de consumo o qual estamos vivendo, só traz uma conclusão: Não está sendo fácil ser varejista.

Por consequência, os shoppings também vêm sofrendo quedas em seu fluxo, e embora não trabalhem a venda de forma direta, a relação com seus locatários vem se tornando cada vez mais complexa e difícil. Num passado não tão distante, grandes empreendimentos, ou shoppings entendidos como “maduros” pelo mercado, podiam cobrar praticamente “o que quisessem”, pois para os varejistas, estar nesses empreendimentos significava vendas garantidas. Hoje, esses mesmos empreendimentos estão tendo que rever seus modelos de valores e relacionamento, de maneira a manter marcas e evitar corredores cheios de tapumes.

Muito dos problemas está na maneira como os empreendimentos se relacionam com as marcas. Em uma relação que, com o agravamento da crise, se tornou ainda menos cordial, quando deveria ser o oposto, há reclamações de lojistas que vão desde valores cobrados, com aumentos fora da realidade do cenário atual, até mesmo questões que invadem a privacidade dos negócios, com alguns empreendimentos obrigando lojistas a ceder informações que deveriam ser sigilosas, como faturamento ou demais informações de vendas.

Por conta disso, já existem no mercado, e de maneira cada vez mais forte, uniões e movimentos que unam lojistas em interesse comum, contra práticas que julguem abusivas.

E se o shopping não está conseguindo se entender com as pequenas e médias marcas, as grandes marcas começam também a apresentar sinais que estão revendo seu papel dentro do shopping. Se antes a presença das grandes marcas eram a salvação dos empreendimentos, atualmente, as grandes marcas de varejo parecem estar se desinteressando em “estar em todos os lugares” e revendo seus modelos de expansão, para lojas cada vez menores e com menores custos, de olho no novo consumidor e assim como em uma lucratividade de seus negócios. Os modelos híbridos de lojas físicas com experiência digital vão permitir cada vez mais uma experiência de compra que necessite de menos espaço e estoque, permitindo lojas menores.

Isso é algo que irá impactar diretamente na questão das lojas âncora, essenciais tanto para os empreendimentos, quanto para os demais lojistas de menor porte, pois significam também fluxo e atratividade.

Outro ponto importante que mostra a necessidade de se rever o papel do shopping no cotidiano, é o fato de que a compra em meios puramente digitais é cada vez mais madura no Brasil. Os consumidores hoje se encontram divididos. Nem todos hoje gostam ou preferem a compra física, comprando em canais que lhe soem mais convenientes, como as compras efetuadas pelos computadores ou celulares. Para muita gente, ir à um shopping, com muitas pessoas ou estacionamentos abarrotados é uma tortura. Comprar online, pelo menos para esses consumidores, é sempre mais conveniente, e confortável.

Por conta de tudo isso, há um novo posicionamento que precisa ser trabalhado. Os shoppings centers, até pelo próprio nome que carregam, que significa literalmente centro de compras, sempre foram considerados como apenas “templos de consumo”. Com a mudança no comportamento de compra dos consumidores provocada pela revolução digital dos últimos anos, o novo papel que precisa ser desenvolvido pelo shopping é o de ser muito mais do que um espaço cheio de lojas, e cada vez mais um espaço que se relaciona com as pessoas, principalmente de sua região ou microrregião.

O Shopping Center, como centro de compras, ao menos como termo, está com os dias contados. Os shopping centers precisam se tornar algo que faça sentido diariamente ou o mais “cotidiano” possível, “Everyday” Centers, onde as pessoas possam de fato ter um espaço de convívio e relacionamento, entretenimento, e até mesmo comprar algo quando julgue oportuno ou necessário.

É possível que o papel de centros de compras sejam delegados aos novos tipos de Outlets, concentrando marcas e ofertas. Os consumidores ainda vêm propósito em se deslocar, mesmo que para uma região mais afastada, para boas ofertas, se de fato forem boas ofertas. Possivelmente o modelo de outlets também tenha impactado nas compras do shopping center nos últimos anos.

Hoje parece que os shoppings já de olho nesse cenário de se tornar cada vez mais um local de convívio, apostam menos em formatos cabíveis na praça de alimentação, e mais em formatos de restaurantes que promovam melhores experiências, como os restaurantes do tipo “casual dining”, como os das redes Outback, Applebees, Madero, entre outros, além de outros formatos como supermercados em formato empório, padarias, academias e até mesmo laboratórios ou escolas como as escolas de idiomas. Opções que façam sentido no cotidiano das pessoas, e não somente quando estão interessadas em comprar algo.

Não sei quanto tempo irá levar até que o mercado se transforme, mas me parece um caminho irreversível.

Um grande abraço e boas vendas,

Fonte: http://www.administradores.com.br

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

REELEIÇÃO: MÃE DA CORRUPÇÃO

REELEIÇÃO: MÃE DA CORRUPÇÃO
Sebastião Nery 

Comprada por FHC, a reeleição se tornou a mãe da corrupção

Há 2.500 anos, na Grécia, Péricles chamou o povo para a praça pública e mandou decidir tudo pelo voto. Começava ali a civilização. Cada um valendo um. O voto é o homem como um animal igual. É a mais antiga e duradoura invenção social da humanidade. Com a roda, a pólvora, a eletricidade, o rádio, a televisão, a Internet, o homem mudou o mundo. Mas quem mudou o homem foi o voto. O voto fez o homem ser e se saber igual. Não enche barriga, mas derruba as tiranias.

A emenda da reeleição de Fernando Henrique foi comprada. A imprensa provou. Todo mundo sabe. Deputados renunciaram ao mandato com a boca na “botija” de Sergio Motta. A reeleição é uma rima de cão. É a vitória irrefreável da corrupção em todos os níveis: presidência, governadores e prefeitos.

INSULTO À NAÇÃO – Quando Fernando Henrique comprou a reeleição, Paulo Brossard, deputado, senador, ministro da Justiça e do Supremo Tribunal Federal, escreveu:

“A reeleição é um insulto à Nação, aos 150 anos do Brasil independente, a todos os homens públicos que passaram por este país. Se os generais tivessem querido, também teriam sido reeleitos. Não faltariam apoios.

Pois bem. Foi preciso que chegasse à presidência da Republica não um militar, não um general, mas um civil, não um homem de caserna, mas um professor universitário, para que o Brasil regredisse ao nível mais baixo da América Latina em matéria de provimento da chefia do Estado.

A Constituição brasileira, na sua sabedoria, proibiu a reeleição dos presidentes. Sempre se vedou a eleição de Presidente para o período imediato.

Bastou um presidente ambicioso e sem senso de respeito à visão histórica nacional, para que a Constituição mudasse a favor de seu intento”.

DISSE DA TRIBUNA – Josafá Marinho, senador, foi para a tribuna mostrar o crime da reeleição:

– “A Constituição de 88 instituiu a inelegibilidade absoluta, para os mesmos cargos, inclusive o presidente da Republica. Estipula a inelegibilidade relativa para os titulares que pretendam “outros cargos”, obrigando-os a renunciarem até seis meses antes do pleito.

– “Se o titular dos postos executivos está obrigado a renunciar para habilitar-se à eleição de “outro cargo”, por maior razão lógica há de ser compelido ao afastamento definitivo para a reconquista do “mesmo lugar”.

– “O fundamento moral e político de resguardo da liberdade do voto e de igualdade entre os candidatos, que o força a deixar o cargo pretendendo “outro”, cresce se seu propósito é ser reconduzido ao “mesmo” posto, de onde pode exercer influência preponderante no processo eleitoral”.

REELEIÇÃO COMPRADA – Não adiantou a reação dos dois ilustres juristas e da maioria da Nação. Fernando Henrique “ronivonou” o Congresso e a reeleição foi comprada.

(O ex-deputado RONIVON Santiago (ex-PFL, PMDB e PP) foi mascate da reeleição. O ex-deputado e delator da Lava Jato Pedro Corrêa (PP-PE) revelou que Ronivon admitiu ter recebido R$ 200 mil para apoiar a reeleição).

A reeleição é o princípio e o fim de todo tipo de corrupção por um motivo claro: no exercício do poder governadores, presidente e prefeitos têm muito mais força para negociar obras, superfaturar projetos e multiplicar apoios com dinheiro público. O Mensalão mostrou isso e o Petrolão tirou a prova dos nove, comprovando que reeleição rima com corrupção no mais alto grau de depravação.

Voto e alternância de poder são a mais antiga e duradoura invenção social da humanidade.

Fonte: Tribuna da Internet