terça-feira, 30 de junho de 2020

3 MESES DEPOIS...

3 MESES DEPOIS...

É incrível como algumas coisas mudaram tanto em tão pouco tempo.

Há 3 meses: a melhor passagem é a que permite despachar mala sem custo.

Agora: a melhor passagem é a que permite remarcar a data sem custo.

Há 3 meses: o melhor hotel é o que tem comércio, restaurantes e metrô à porta.

Agora: o melhor hotel é o que está no meio do mato, sem nada por perto.

Há 3 meses: é muito longe! São 3 horas de carro!

Agora: é bem pertinho! De carro a gente não leva nem 8 horas para chegar.

Há 3 meses: que saco exigirem certificado de vacina contra febre amarela para viajar...

Agora: poxa, quando é que vão aceitar atestado negativo de covid para viajar?

Fonte: Blog Viagemnaviagem
A função da oração não é influenciar Deus, mas especialmente mudar a natureza daquele que ora. (Soren Kierkegaard)

LUGARES

EMBAIXADA DA FRANÇA - VIENA

ROMANCE FORENSE

Charge de Gerson Kauer
AS DIABAS CATARINENSES

Transitou em julgado em Florianópolis (SC) a sentença que suspendeu venda, distribuição e veiculação do filme erótico “As Diabas Catarinenses". O julgado também condenou uma produtora amazonense a pagar R$ 10 mil porque "cenas da película erótica foram gravadas no interior de uma casa de veraneio, em praia do sul da Ilha de Santa Catarina, sem a autorização do seu proprietário". 

Na Internet, a publicidade sobre o filme anunciou que "as Diabas Catarinenses estão todas loucas de tesão e querem saciar seu desejo por homens de ..." (impublicável). Ainda propagou que "muitas garotas safadas fazem sexo de todas as formas e mostram toda sua volúpia em meio a cenas que mostram a beleza de Florianópolis".

Alertado por amigos de que as cenas tinham sido gravadas (fora do verão) em sua casa de veraneio, o proprietário do imóvel - um empresário argentino - obteve uma cópia, assistiu as imagens, viu o desempenho das oito "diabas" e seus três parceiros e sentiu o constrangimento em ter sua casa violada e exposta neste tipo de filme. Por isso, ingressou na justiça.

A antecipação de tutela foi deferida para a suspensão da distribuição do filme e o recolhimento das cópias já comercializadas. A empresa alegou que fez as filmagens "mediante autorização de um representante do proprietário". Este era o caseiro, incumbido de, simplesmente, zelar pelo imóvel fora da temporada.

Na instrução, a produtora das imagens não conseguiu comprovar que tivesse recebido regular autorização para as filmagens.

Segundo a sentença, "a empresa – experiente no ramo da pornografia – deveria ter se cercado de maiores cuidados ao escolher o local das filmagens, providenciando, inclusive, contrato de locação por escrito com o suposto administrador". 

Observadores ficaram abismados com o desempenho de Tati, Thais e das duas Vanessa. E se espantaram com a dimensão exibida por Don Picone, o principal ator masculino. O dono da residência violada pelas oito "diabas" e seus três parceiros está, até agora, querendo cobrar o valor da indenização. 

A empresa murchou - ninguém mais sabe dela, ninguém viu. A fase de cumprimento de sentença vai prosseguir via edital.

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS

"Não tens que vencer todos os argumentos: Concorda para discordar."

segunda-feira, 29 de junho de 2020

BOLSONARO TENTA CONCILIAÇÃO

BOLSONARO TENTA CONCILIAÇÃO
Augusto Fernandes e Ingrid Soares
Correio Braziliense

Bolsonaro tenta conciliação com o Congresso e o Judiciário para salvar seu mandato
Aconselhado por militares, que montaram uma operação de guerra para salvar o mandato presidencial, Jair Bolsonaro distanciou-se daquela figura explosiva, tida a criar conflitos e criticar outras instituições, dando lugar a um comportamento mais discreto, equilibrado e moderado nos últimos dias.

Preocupado com o futuro político do governo, o mandatário voltou a falar em um “entendimento” com Legislativo e Judiciário, na última quinta-feira, após semanas de ataques.

AGENDAS PROPOSITIVAS – Diante da mudança de postura, a expectativa do Palácio do Planalto é de que o Executivo possa, mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus, avançar em agendas mais propositivas.

Outros movimentos de Bolsonaro contribuíram para a mudança de ares no alto escalão — desde fatos mais simples, como a redução de conversas matinais com apoiadores no Palácio da Alvorada, que lhe passaram a fazer cobranças mais duras, o que o irritou com facilidade, até decisões mais importantes, como o não atendimento ao apelo da ala ideológica para manter no Ministério da Educação algum “aluno” de Olavo de Carvalho, optando por um nome indicado por militares para substituir Abraham Weintraub.

Paralela à transformação do presidente, o governo teve “vitórias” fora do Palácio do Planalto que foram avaliadas como um ponto de inflexão para Bolsonaro: a aprovação do novo marco legal do saneamento básico no Senado — que está pronto para a sanção presidencial — e a inauguração de um dos trechos do Projeto de Integração do Rio São Francisco. Ao concluir obra que presidentes passados não conseguiram, Bolsonaro animou aliados e ganhou pontos com a população de mais baixa renda, que será a principal beneficiada com as medidas.

AINDA HÁ DÚVIDAS – No meio político, fica a dúvida de até quando o presidente manterá esse perfil mais sereno. O temor é de que tudo vá por água abaixo devido ao julgamento da próxima terça-feira, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de duas ações que pedem a cassação da chapa presidencial, formada por Bolsonaro e o vice, Hamilton Mourão, em 2018. O chefe do Executivo declarou publicamente a insatisfação com o assunto e chegou a sugerir que as Forças Armadas não aceitariam que ele perdesse o mandato por motivações políticas.

Independentemente do que acontecer, o entendimento entre parlamentares é de que Bolsonaro precisa deixar as intrigas de lado. “Ele é o presidente do país, foi eleito presidente da República, então, que ele volte as energias para o governo, para a governança. Que ele governe o seu governo e que governe o Brasil. É isso que o Brasil espera do presidente”, comenta o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS).

MAIS RESPOSTAS – Para o congressista, Bolsonaro “tem de ser mais proativo” e “deveria brigar menos, tendo mais resolutividade”. “Mais respostas é o que a sociedade espera, e menos brigas. Eu sei que o presidente tem um monte de problemas pessoais e também com familiares, mas, nesta hora, ele tem de olhar para o Brasil, para os brasileiros, e não cuidar dos problemas de família. Ele tem de cuidar dos problemas da família Brasil”, defende.

O senador Jayme Campos (DEM-MT) acrescenta que o caminho a ser seguido por Bolsonaro deve ser o “da boa conversa e do bom entendimento”. “Precisamos de uma interlocução harmoniosa entre os Poderes. Todos nós buscamos, com certeza, uma tranquilidade para o país, particularmente para a sociedade, que espera um bom exemplo daqueles que são os dirigentes maiores do Brasil”, diz.

“Dá para perceber que o presidente está mais ponderado. Essa sensatez é importante. Precisamos de pessoas com espírito de estadista e compete a todos nós, homens públicos, termos essa visão, sobretudo diante de um momento de crise. Temos de estar unidos. Espero que o presidente se comporte bem neste momento”, acrescenta.

Fonte: http://www.tribunadainternet.com.br

O FUTURO QUE NOS ESCAPA

O FUTURO QUE NOS ESCAPA
Marco Aurélio Nogueira*

Hoje não temos governo e a boçalidade se instalou em diversos setores da vida nacional

Não é só pela pandemia, pela ameaça de uma segunda onda do vírus ou pelas indicações de que ninguém fica imunizado contra ele por muito tempo. Também não é só porque a OMS advertiu que a pandemia continua em expansão, com efeitos que serão sentidos por décadas. É por tudo isso, mas também porque estamos perdendo a ideia de futuro.

Ninguém sabe com certeza como será a retomada. Fala-se em “novo normal” como um esforço para afirmar que as coisas encontrarão um eixo, um padrão regular. É um reflexo automático daquela necessidade primal que temos de segurança, ordem, estabilidade, rotina.

A verdade é que o futuro está coberto por trevas obscurantistas e promessas de regressão. É como uma paisagem na neblina. Sabemos que há algo lá e que lá chegaremos, mas não conseguimos deslindar a imagem por inteiro. O futuro escapa-nos por entre os dedos. Não temos mais uma ideia de “progresso”, que moveu a modernidade e o capitalismo desde que se projetaram na História. Mas intuímos que não voltaremos a viver como nossos pais, mesmo que conservemos muito do seu legado de hábitos e valores. Estamos meio que a esmo, perplexos.

O arranjo socioeconômico, institucional, cultural é outro. A começar da família, que modelou até hoje a sociedade. Nossos filhos adotam novos formatos de vida familiar, de casamento, vivem juntos de maneira distinta, são felizes ou infelizes de um modo todo deles.

A mesma coisa na economia. Damos como óbvio que todos querem empregos estáveis, longas carreiras em empresas sólidas, rotinas estabelecidas, carteira assinada. Seria a receita contra a “precarização”, um remédio para valorizar o trabalho e os trabalhadores. Não sabemos se é isso mesmo que as pessoas querem. Talvez não seja a expressão do desejável para as novas gerações, mais chegadas ao improviso, à excitação do movimento, da velocidade. Também ignoramos se tal cenário é factível num mundo de tecnologias onipresentes e mudanças aceleradas. E as empresas, por sua vez, têm dificuldades para se reposicionar no mercado e reformular plantas e procedimentos.

Dá-se algo parecido na política. É quase impossível admitir que os partidos voltarão a ser o que foram no século 20, estruturas burocráticas, pesadas, focadas na conquista e no controle do poder, com dirigentes que se eternizam no cargo. A democracia está posta como valor, inquestionável para a maior parte dos humanos. Mas os sistemas democráticos estão em crise, são chantageados e corrompidos por líderes e movimentos fundamentalistas, que se querem “patrióticos”, mas minam sistematicamente as bases da Nação e do Estado.

A vida mudou, arrastando consigo as imagens que tínhamos do futuro. Diante de nós se abrem uma interrogação, muitas distopias e nenhuma utopia.

Foi-se o tempo em que o escritor suíço Stefan Zweig podia se encantar com o “país do futuro”, que ele via com uma generosa pitada de ufanismo, como uma comunidade que sabia harmonizar seus contrastes. Zweig viveu no Brasil entre 1940 e 1942, auge do Estado Novo e do hitlerismo, que avançava na Europa. Suicidou-se em Petrópolis.

De lá para cá, houve grandes transformações. Aprendemos muito, o País transfigurou-se de cima a baixo. Mas não temos motivos para nos ufanarmos. Continuamos a carregar o fardo da desigualdade. Nossa produtividade estagnou, junto com a educação. O Brasil está cheio de carências e buracos. Metade da população não dispõe de água encanada e saneamento básico. Hoje não temos governo e a boçalidade se instalou em diversos setores da vida nacional.

O futuro está oculto. Em parte porque pouco sabemos sobre ele e tememos o que imaginamos a seu respeito. E em parte porque o futuro, ele próprio, se oculta de nossos olhos, desarrumado pela realidade. Há um enorme volume de conhecimentos, mas não sabemos, com nossas ciências especializadas, como organizá-los de modo a capturar o fluxo, o processo. Precisamos de uma abordagem que ultrapasse as visões parceladas, “religue-as” (Morin) e apreenda o que está conectado, o todo.

O futuro, a rigor, já está aí, incorporado à vida cotidiana sem que percebamos. Não há por que fazer previsões proféticas. “A dificuldade de conhecer o futuro depende também do fato de que cada um projeta no futuro as próprias aspirações e inquietações”, escreveu certa vez Norberto Bobbio.

A ordem geral é sempre sobreviver. Não é por acaso que tanto se valoriza o aqui e agora, o que pode ser minimamente “apalpado”, é menos incerto e duvidoso.

Mas não há somente trevas à frente. Bem ou mal, o mundo se move, os protestos se acumulam, as perversões ficam mais transparentes, a ciência se afirma, a democracia permanece no horizonte. Buscamos o tempo todo ver além da neblina, para agarrar o futuro que nos escapa.

Para sobreviver com dignidade precisamos manter a lucidez e a serenidade, combinando-as com a indignação que nos faz recusar injustiças, nos mobiliza e nos ajuda a manter a esperança e a grandeza de espírito. Essas são nossas estrelas-guia.

*Professor titular de teoria política da Unesp

Fonte: O Estado de S.Paulo - 27/06/2020
A soma do barulho que uma pessoa pode suportar está na razão inversa de sua capacidade mental. (Schopenhauer)

LUGARES

BARCELONA - ESPANHA

A SOLIDÃO AMIGA

Edvard Munch
Summer night
Inger on the Beach (1889)
A SOLIDÃO AMIGA
Rubem Alves 

A noite chegou, o trabalho acabou, é hora de voltar para casa. Lar, doce lar? Mas a casa está escura, a televisão apagada e tudo é silêncio. Ninguém para abrir a porta, ninguém à espera. Você está só. Vem a tristeza da solidão… O que mais você deseja é não estar em solidão…

Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de um jovem que amava a solidão: ficar sozinho, ler, ouvir, música… Assim, aos sábados, ele se preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ele se assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão. O remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da festa. Vestia-se, saía, ia para a festa… Mas na festa ele percebia que festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro, uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão… A noite estava perdida.

Faço-lhe uma sugestão: leia o livro A chama de uma vela, de Bachelard. É um dos livros mais solitários e mais bonitos que jamais li. A chama de uma vela, por oposição às luzes das lâmpadas elétricas, é sempre solitária. A chama de uma vela cria, ao seu redor, um círculo de claridade mansa que se perde nas sombras. Bachelard medita diante da chama solitária de uma vela. Ao seu redor, as sombras e o silêncio. Nenhum falatório bobo ou riso fácil para perturbar a verdade da sua alma. Lendo o livro solitário de Bachelard eu encontrei comunhão. Sempre encontro comunhão quando o leio. As grandes comunhões não acontecem em meio aos risos da festa. Elas acontecem, paradoxalmente, na ausência do outro. Quem ama sabe disso. É precisamente na ausência que a proximidade é maior. Bachelard, ausente: eu o abracei agradecido por ele assim me entender tão bem. Como ele observa, “parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis“. A vela solitária de Bachelard iluminou meus cantos sombrios, fez-me ver os objetos que se escondem quando há mais gente na cena. E ele faz uma pergunta que julgo fundamental e que proponho a você, como motivo de meditação: “Como se comporta a Sua Solidão?“ Minha solidão? Há uma solidão que é minha, diferente das solidões dos outros? A solidão se comporta? Se a minha solidão se comporta, ela não é apenas uma realidade bruta e morta. Ela tem vida.

Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais amo: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.“Pare. Leia de novo. E pense. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim.

Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga… Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível chamá-la de amiga? Drummond acha que sim:

“Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.!“

Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a natureza. Elas não vêem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que “o inferno é o outro.“ Sobre isso, quem sabe, conversaremos outro dia… Mas, voltando a Nietzsche, eis o que ele escreveu sobre a sua solidão:

“Ó solidão! Solidão, meu lar!… Tua voz – ela me fala com ternura e felicidade! Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas. Pois onde quer que estás, ali as coisas são abertas e luminosas. E até mesmo as horas caminham com pés saltitantes.

Ali as palavras e os tempos

poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim a falar.“

E o Vinícius? Você se lembra do seu poema O operário em construção? Vivia o operário em meio a muita gente, trabalhando, falando. E enquanto ele trabalhava e falava ele nada via, nada compreendia. Mas aconteceu que, “certo dia, à mesa, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela casa – garrafa, prato, facão – era ele que os fazia, ele, um humilde operário, um operário em construção (…) Ah! Homens de pensamento, não sabereis nunca o quando aquele humilde operário soube naquele momento! Naquela casa vazia que ele mesmo levantara, um mundo novo nascia de que nem sequer suspeitava. O operário emocionado olhou sua própria mão, sua rude mão de operário, e olhando bem para ela teve um segundo a impressão de que não havia no mundo coisa que fosse mais bela. Foi dentro da compreensão desse instante solitário que, tal sua construção, cresceu também o operário. (…) E o operário adquiriu uma nova dimensão: a dimensão da poesia.“

Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: “As obras de arte são de uma solidão infinita.“ É na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta.

E me lembro também de Cecília Meireles, tão lindamente descrita por Drummond:

“…Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos… Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília…“

Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava irremediavelmente sozinha.

O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um deles. Nunca convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão…

A sua infelicidade com a solidão: não se deriva ela, em parte, das comparações? Você compara a cena de você, só, na casa vazia, com a cena (fantasiada ) dos outros, em celebrações cheias de risos… Essa comparação é destrutiva porque nasce da inveja. Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói. Dói uma dor da qual pode nascer a beleza. Mas não sofra a dor da comparação. Ela não é verdadeira.

Mas essa conversa não acabou: vou falar depois sobre os companheiros que fazem minha solidão feliz.

– Rubem Alves, do livro “As melhores crônicas de Rubem Alves”. Campinas/SP: Papirus, 2008.
Saiba mais sobre Rubem Alves:

Fonte: https://www.revistaprosaversoearte.com

FRASES ILUSTRADAS

domingo, 28 de junho de 2020

Nenhum gesto de gentileza, por menor que seja, é perdido. (Esopo)

LUGARES

CASTELO DE LINDERHOF (JARDINS) – ETTAL
A 100 km de Munique e a 50 km de Füssen, encontra-se o belíssimo Castelo de Linderhof. Enxuto, este castelo foi o único que Ludwig II (1845 – 1886), rei da Baviera, mais conhecido como Rei Louco, viu concluído.

PARQUE GÜEL - BARCELONA


O Parque Güell é talvez uma das obras de Gaudí que mais tem a cara de Barcelona! Ele traduz, quase literalmente, a natureza que o arquiteto tanto quis mostrar em seus projetos pela cidade.

No terreno particular do seu grande patrocinador, Eusebi Güell, Gaudí deveria criar um oásis para a burguesia da cidade: quase como um condomínio dos dias de hoje, com palácios, casas, praças, mercados, etc. E ele conseguiu fazer tudo isso de maneira incrívell mudando a maneira de se fazer arquitetura em Barcelona! Pena que as outras pessoas da época não conseguiram entender o potencial e modernidade mostrada pelo arquiteto e o projeto de Gaudí foi um grande fiasco…

Já que toda infra-estrutura estava lá, decidiu-se transformar a área num grande parque em Barcelona para alegria de todos!

A área é imensa e dá para passar algumas boas horas do seu dia passeando entre as colinas, se perdendo entre os caminhos e descobrindo aqui e ali obras de Gaudí….Só que a gente sabe que, quando viaja, o luxo de passar um dia inteiro num parque, andando aleatoriamente é para poucos, então para tornar a sua visita um pouco mais objetiva, vou colocar aqui os principais pontos para visitar, que você não pode deixar de ver essa, que é uma das principais obras de Gaudí em Barcelona: (http://www.blogvambora.com.br/roteiro-cultural-barcelona-de-gaudi-o-parque-guell/)

FRASES ILUSTRADAS

sábado, 27 de junho de 2020

PRECISAMOS DE BONS ENTREVISTADORES

PRECISAMOS DE BONS ENTREVISTADORES
Stefhen Kanitz

Brasileiro não lê livros, não tem líderes que respeitam, por isso ter bons entrevistadores que entrevistem pessoas inteligentes e competentes é tão necessário e importante.

É disso que o Brasil precisa.

Entrevistadores bons entrevistando pessoas boas, com perguntas boas, ouvindo e explorando as respostas boas, repetindo as ideias boas, resumindo bem o que foi dito.

Mas não é isso que vemos na TV, nas mídias sociais e nos jornais.

O que tenho visto é mais ou menos isso:

1. Pessoas burras entrevistando pessoas inteligentes sem entender nada do que foi dito.

2. Entrevistadores burros deliberadamente entrevistando pessoas mais burras ainda, para poderem aparecer.

3. Entrevistadores burros com perguntas prontas, uma após a outra, sequer ouvindo as pérolas de sabedoria ditas, pois estão procurando a próxima pergunta na lista.

4. Entrevistadores arrogantes que acham que sabem mais do que o entrevistado.

5. Pessoas inteligentes ficando em casa, e pessoas com Distúrbio de Personalidade Narcisista aceitando de graça todo convite possível para serem entrevistados.

O pior é que a maioria dos entrevistadores nos Estados Unidos são ex-comediantes frustrados.

Mais preocupados em achar a piada, fazendo todos gargalharem em vez de pensarem.

Eu gostaria de ver um programa, onde pessoas inteligentes e competentes entrevistassem outras pessoas igualmente ou mais inteligentes e competentes.

Seria pedir demais? Não seria o mínimo esperado?

Quero ver entrevistadores usando a sua inteligência para ouvir, e não para falar.

Quero alguém que possa destilar, simplificar, resumir, explicar de uma segunda forma as pérolas de sabedoria ditas.

Conversei com várias rádios e TVs, ao longo dos meus 50 anos de vida ativa, para fazer um programa de entrevistas, copiando Crosstalk, um sucesso inglês.

Dois entrevistadores, um de centro direita outro de centro esquerda, porque não há mais ninguém inteligente de extrema direita nem de extrema esquerda, entrevistando duas pessoas ao mesmo tempo.

Isso permitiria perguntas sem o viés político que temos hoje, e respostas mais variadas.

Por isso decidi realizar o meu sonho.

Hoje todo cidadão possui um canal de TV, razão deste pânico da Globo e da sua luta contra a mídia comunitária e democrática.

Vou criar um canal de entrevistas e passarei a ser um mero entrevistador.

Mais preocupado em divulgar as ideias dos outros e não mais as minhas.

Quero extrair o melhor do meu entrevistado e não o destruir.

Quero levantar a bola do entrevistado, e não ganhar toda rodada intelectual para me mostrar superior ao um Jordan Peterson, que o tornou famoso e a entrevistadora desacreditada.

Quero explorar ideias novas e não as matar no nascedouro.

O problema é achar essas pessoas inteligentes, que não são mais entrevistadas ou que tem medo de serem arrasadas.

Ou as novas cabeças pensantes ainda não descobertas e que nunca foram entrevistadas.

Narcisistas, nem pensar.

Quem souber de pessoas realmente inteligentes e competentes no seu assunto, me enviem seus nomes e um breve currículo.

Garanto que ele ou ela sairão do programa parecendo heróis, e não o entrevistador vitorioso como sempre.

Garanto que todos que assistirem, em vez de boas risadas, sairão com boas ideias para se aprofundar.

Quem for um craque em produção e quiser também ajudar agradeço. Dessa parte, eu não entendo.

Fonte: https://blog.kanitz.com.br
Um banco é um lugar que lhe empresta dinheiro sempre que você demonstre não necessitar dele. (Bob Hope, ator inglês)

QUANDO VOCÊ IGNORA UMA MULHER

Por Mary Wright

Acontece que muito homem ainda acredita na teoria que ignorar e agir como se não se importasse com uma mulher apaixonada, ela sempre vai procura-lo.

Alguns homens até pensam que tratando uma mulher mal, ela lhe dará mais amor e atenção. No entanto, se o homem está em busca de uma parceira para um relacionamento sério e comprometido, precisa fazer totalmente o oposto.

Uma mulher de verdade sabe que quando você realmente ama alguém, você não pode ignorá-lo.

Uma mulher de verdade adora ser amada, querida e regada com atenção o tempo todo. Ela quer ter certeza de que seu parceiro quer tê-la sempre por perto.

Além disso, muitos homens pensam que, em um relacionamento, é melhor não revelar seus verdadeiros sentimentos a sua parceira. Eles esquecem que a base de qualquer relacionamento bem-sucedido é a honestidade.

E as mulheres reais valorizam a honestidade mais do que qualquer coisa. Elas sabem que nunca pode dar certo um relacionamento se não for baseado na verdade.

Então, homem se você quer ter uma mulher de verdade ao seu lado, seja sempre carinhoso, amoroso e atencioso. Principalmente trate com respeito.

Apenas tratando-a bem, ela poderia se apaixonar por você e recompensá-lo com ainda mais amor e carinho e isso poderia ser o começo de um relacionamento maravilhoso baseado na confiança, amor e honestidade.

E esqueça essa teoria de ignorá-la, porque isso não vai deixa-la mais interessada, só a ensina a viver sem você!

(Texto originalmente publicado no The Power of Silence, livremente traduzido e adaptado pela equipe da Revista Bem Mais Mulher)

Fonte: https://www.bemmaismulher.com

FRASES ILUSTRADAS

sexta-feira, 26 de junho de 2020

EFEITO SANFONA

FECHA-ABRE-FECHA:O NOVO EFEITO-SANFONA

Lembra Gramado, que precisou fechar atrações e restaurantes na semana passada? Pois nesta semana tudo já foi autorizado a abrir novamente.

Lembra Foz do Iguaçu, que reabriu tudo dia 10 de junho? No fim de semana passado, uma das atrações mais populares da cidade, o Parque das Aves, achou melhor fechar por tempo indeterminado. O motivo alegado: o índice de contágio no estado está subindo.

Lembra Portugal, que foi o país mais comportado da Europa ocidental durante a quarentena? Escuta essa: ao registrarem-se aglomerações e aumento de casos depois da desconfinamento, o governo português restabeleceu o estado de calamidade em Lisboa e adjacências.

Em Lisboa voltou a ser proibida a venda de bebidas alcoólicas para consumo em pé ao ar livre. Os únicos bares que podem funcionar são os que acomodam clientes em mesas -- e mesmo assim, só até as 20h. Depois desse horário, apenas restaurantes podem manter-se abertos.

Esse fecha-abre-fecha -- o novo efeito-sanfona -- só vai terminar quando acontecer uma dessas duas coisas.

1) Ou quando tivermos total certeza sobre a segurança dos novos protocolos;

2) Ou quando uma vacina estiver disponível.

Vem, vacina!

Fonte: https://www.viajenaviagem.com

QUEIMA DE ARQUIVOS-BOMBA

QUEIMA DE ARQUIVOS-BOMBA
Ruy Castro

Nova técnica na praça pode ser uma ameaça para Wassef e Queiroz

Um problema de quem se dedica à formação de quadrilhas é que os interesses de seus membros nem sempre coincidem. Mesmo nas melhores quadrilhas, cedo ou tarde um desses membros se sente abandonado, traído ou até entregue à Justiça. Nesse caso, sua arma será tornar-se um arquivo vivo, composto de informações que interessem à lei —o que obrigará o chefe da firma, docemente constrangido, à queima do dito arquivo.

Há muitas maneiras de queimar arquivos. Depende da situação de cada um —se ele estiver solto, albergado, foragido, oculto ou preso. Um arquivo solto, por exemplo, será facilmente deletado com uma emboscada em que ele se verá, de repente, sob a mira dos canos e sem reação. Exemplos bem-sucedidos foram a queima do notório assessor collorido PC Farias, em 1996, de Celso Daniel (PT), prefeito de Santo André, em 2002, e, mais recente, do miliciano Adriano Nóbrega, da facção Bolsonaro, na Bahia.

Já um “acidente” de carro é mais complexo —requer planejamento, destreza e especialistas. A “queda” do 10º andar é eficaz, mas menos usual, pela lambança que o arquivo faz ao atingir o chão. Há também a substituição de remédios, destinada a provocar um enfarte, e o envenenamento progressivo, mas ambos exigem convivência com o arquivo e muita paciência, nem sempre possíveis. No caso de o arquivo estar preso, pode-se armar uma “briga” no pátio com outro preso, que fará o serviço, a “tentativa de fuga”, frustrada com tiros pelas costas, e, mais popular, o “suicídio” na cela.

Neste momento há dois arquivos-bomba na praça: um solto, o advogado Frederick Wassef, e um preso, o vigarista Fabrício Queiroz. Ambos estão muito visados, o que inviabiliza as opções acima. Mas os interessados nessa queima estudam uma nova técnica, acima de qualquer suspeita e que se aplicaria aos dois.
Alguém lhes transmitir a Covid-19 —e tratá-los com cloroquina.

Fonte: Folha de S. Paulo - 26/06/2020
Muitos homens passam por sábios graças à ignorância dos outros. (Autor desconhecido)

LUGARES

DUBROWNIK - CROÁCIA

MR. MILES

Ousadas experiências gastronômicas

Ventos gélidos fustigam as ilhas britânicas. Depois de visitar sua tia Agatha, na vila de Naunton, em Cotswolds, e de ser admoestado pela baixa frequência de suas aparições, nosso voluntarioso viajante já se prepara para partir em busca de latitudes mais quentes. Ainda não há, infelizmente, detalhes sobre seu próximo destino.  A seguir, a correspondência da semana:

Mr. Miles: fui convidado a um jantar gastronômico na França e serviram-me carne de cavalo. Enojado, recusei. Será que agi mal? Torquato Melchiades, por e-mail

Not at all, my friend. Eu também jamais provaria a carne de um animal de tal nobreza, sobretudo sem conhecer sua linhagem. Confesso, however, que esta é uma idiossincrasia. Minha infinita – e muitas vezes irresponsável – curiosidade de viajante já me levou, porém, a experiências gastronômicas que, I must say, ultrapassam o limite do bom senso. Passo a contá-las, em seguida, advertindo aos leitores de estômago sensível que, para o seu próprio bem, abandonem essas linhas.

Começo pelo capítulo dos insetos. No Camboja, fui levado a provar uma porção de tarântulas. É uma especialidade local. Exceto pela visão dos quatro pares de pernas (pouco carnudos, aliás), o sabor e a textura de seu cefalotórax não são tão repugnantes quanto se pode supor.

Escorpiões, servidos em abundância na China, são muito mais desagradáveis. A consistência, repleta de arestas pontiagudas do lado de fora e gosmenta por dentro, levou-me a preferir, em uma próxima ocasião, provar uma ferroada. Don’t you agree?

Na Indonésia, um amigo levou-me a um barbecue de morcegos. Eles parecem adorar tais ocasiões. Enriqueci minha cultura gastronômica provando uma carne dura, com notável aroma de pele queimada. Melhor vê-los em filmes de terror.

Já na Coreia do Sul, fui instado a degustar um polvo recém-nascido e cru. Oh, my God! Além da sensação de que o pobre molusco seguia vivo em meu prato, ao invés de mastigá-lo tive de mascá-lo como a um chiclete com sabor de praia pouco asseada. Estranhas predileções culinárias têm os seres humanos, haven’t they?

No Japão, há alguns anos, namorei com a morte ao jantar um fugu. Para os que não sabem, trata-se de um peixe de tal maneira venenoso que só pode ser preparado por cozinheiros muitíssimo bem treinados na arte de extrair suas porções peçonhentas. Um único engano e o cliente jamais pagará a conta.

Well, I did it. E foi disgusting. O fugu, que custava os olhos da cara, poderia ter me matado. However, teria sido melhor, nesse quesito, comer um revólver.

Mas, se o prezado leitor chegou até aqui sem náuseas, prepare-se para a minha experiência mais exasperante. A não ser que você seja tão aberto a experiências exóticas como meu amigo Luigi Macielle – que aprecia feijoada com tireoides de porco –, jamais aceite comer um balut nas Filipinas.

Eu o fiz. Na aparência, são apenas ovos. Na prática, however, são embriões de patos ou galinhas em fase final de formação, servidos dentro da própria casca. Com um pouco de sal e pimenta, é possível engolir o primeiro pedaço. O problema, my friends, são as penas e os pequenos ossinhos que as acompanham.

Como se vê, my dear Torquato, você fez bem em recusar a carne de cavalo. Como já disse, eu mesmo o faria. E não porque, as you noticed, não seja ligeiramente curioso.”

Fonte: O Estadão

FRASES ILUSTRADAS

quinta-feira, 25 de junho de 2020

NÃO É A FALTA DE DEMANDA


NÃO É A FALTA DE DEMANDA, É A FALTA DE CAPITAL DE GIRO
Stephen Kanitz
Assisti várias lives do BTG, XP e Credit Suisse nesses três meses, com os melhores economistas desse país, e como sempre saio deprimido. 

Nenhum, repito, mencionou o problema de falta de capital de giro próprio, muito menos como resolvê-lo. 

Não identificando o problema, ficaram horas apresentando soluções (portanto, erradas) para a curva longa, câmbio, juros, deficit fiscal etc. 

Mas com muita convicção, o que me preocupa ainda mais é porque quem nada entende de como as empresas funcionam, os seguem. 

Assim impedindo os problemas verdadeiros de florescerem. 

Vou desenhar novamente de outro ângulo. 

Na época de Keynes, todo consumidor precisava dar uma “entrada” de 20% a 40%, um adiantamento ao camiseiro, alfaiate, construtor, marceneiro e até na compra de um carro. 

Era com essa “entrada”, que esses fornecedores compravam a matéria prima necessária. 

Keynes achava que as recessões se perpetuavam por falta de demanda, pura e simplesmente. 

Esquecendo-se de que parte dessa “demanda” era na realidade o capital de giro próprio necessário. 

Que naquela época nenhuma pequena empresa possuía depois de uma recessão, como agora no Brasil. 

Até hoje a construção civil depende desses 20% de “entrada”, e até 1984 a estatal Telebras exigia 100% de “entrada”. 

Demanda para telefones no Brasil existia na época, e muita, mas era essa estatal que não possuía o capital de giro próprio necessário. 

Por isso, por 20 anos os pobres não tinham acesso a comunicação nem a informação, condenados a pobreza por essa mesma estatal. 

Esse desconhecimento de Keynes, Hayek, Mises, Krugman, que jamais mencionam “necessidade de capital de giro”, somente “investimentos e capital fixo”, acaba sendo replicado por todos esses economistas do BTG, XP e Credit Suisse. 

Em vez de financiar 100% da demanda, que muitos propõem com bolsa família, bolsa dos invisíveis, investimentos em infraestrutura, bastaria financiar 20% em capital de giro próprio necessário. 

Justamente o que falta para essas empresas “girarem” sua capacidade ociosa, gerando produtos, salários e matérias primas pagas. 

As medidas que propõem são inviáveis com esse deficit fiscal porque são cinco vezes mais caras, e por serem caras geram mais deficit fiscal. 

Estamos numa espiral desastrosa e nenhum deles percebe. 

Alguém, por favor, traduz tudo isso? 

Eu honestamente não estou conseguindo explicar e o tempo está passando. 

Fonte: blog.kanitz.com.br
Torna-te aquilo que és. (Friedrich Nietzsche)

LUGARES

LUXEMBURGO

NÃO TROPECE NA LÍNGUA

ACENTUAÇÃO - OXÍTONAS

  • O sabiá não sabia nadar.
  • Pelé sofreu um ferimento na pele.
  • Em maio não se usa maiô.

Observe que as palavras sabiá, Pelé e maiô foram acentuadas para que pudessem ser lidas corretamente. Sem o acento, nós as leríamos como paroxítonas: saBIa, PEle, MAIo (a penúltima sílaba forte). Por que Telê tem acento? Porque a pronúncia é diferente de tele (telecomunicações). O coco-da-baía, por exemplo, não precisa de acento, pois é um paroxítono natural, como soco, bolo, tolo, mofo. A exceção é que deve ser acentuada (cocô).

Oxítonas são chamadas as palavras cujo acento tônico cai na última sílaba.

1. Assinalam-se com acento agudo ou circunflexo os vocábulos oxítonos que terminam em A, E, O seguidos ou não de S:

  • Iaiá ia ao parque comigo.
  • Na sua casa tem um pé de cajá.
  • Pepe veio receber seu cachê.
  • Vi jacarés nadando no rio.
  • Acabou o jogo de dominó.
  • Seus dois avôs usavam chapéu-coco.

Nesta regra se incluem as formas verbais seguidas de pronomes: contá-lo, amá-la, dizê-lo, magoá-las, marcá-la-ei, fá-lo-á, fê-los, movê-las-ia, pô-los, qué-los, dá-nos, etc. (ver também Não Tropece na Língua 251).

2. Marca-se com o acento agudo o E da terminação em ou ens:

  • Tem alguém aí?
  • Os que eram louvados são agora mencionados com desdém.
  • Vários nenéns foram doados ilegalmente.
É necessário colocar acento gráfico na última sílaba de palavra acabada em EM (ou seu plural ENS) para ela não ser lida como paroxítona, como em: forem, morem, desdenhem, cosem, acalmem, bebem, cedem etc. (verbos) ou imagem, imagens, garagem, plumagem, nuvem, item, itens, hifens, liquens, jovens, totem (substantivos) etc. Quando a palavra é monossílaba, o acento não é necessário: nem, vem, sem, tem, cem, quem, bem, trem, tens, vens, bens.

3. Usa-se o acento agudo nas palavras oxítonas com os ditongos abertos éis, éu(s) ou ói(s): anéis, corcéis, fiéis, papéis; céu, chapéus, ilhéus, véu; constrói, corrói, destrói, herói, sóis.

4. Terminação em I e U. Observe:

  • Aqui estão os livros. Desculpe, não quis feri-lo. Chamou à parte os gurupis.
  • O urso-panda come bambu. Vendem-se perus congelados. Eles parecem urubus.
Não há necessidade de acentuar graficamente aqui, feri-lo, gurupis, bambu, peru, urubus, por exemplo, porque pronunciar fortemente a última sílaba de palavras terminadas em i e u é o natural. Mas repare que em todos os exemplos o i ou o u formaram sílaba com outras letras (qui, ri, pis, bu, rus, bus). Porém, quando o i e o u estão sozinhos na sílaba, devem ser acentuados:

Sai já daqui – já saí. Ontem caí da escada como laranja cai do pé. Daí disseram: dai-nos seu perdão. Concluí que o tolo jamais conclui com acerto. Ai, como deve doer.
Atravessou a vau carregando um baú. Nas naus portuguesas havia muitos baús. Maus elementos não entram no grupo Emaús.

O hiato, portanto, é a razão de algumas formas verbais serem acentuadas e outras não. Exemplos: atraí-lo, distraí-la, traí-los, construí-la, subtraí-los, distribuí-los, atribuí-lo, destruí-la, instruí-lo, constituí-lo. Mas: admiti-lo, abri-las, adverti-las,  muni-lo, fingi-lo, permiti-nos, garanti-lo, persegui-las, consegui-los.

MONOSSÍLABOS TÔNICOS

Na regra dos oxítonos se incluem os monossílabos tônicos, palavras de uma só sílaba com pronúncia forte. Assinalam-se com o acento agudo os que terminam em a, e, o abertos, e com o acento circunflexo os que acabam em e, o fechados, seguidos ou não de s: pá, pé, pó / pás, pés, pós; dê, dês, vô, vôs; Sé, lá, lê, dá, nó, nós, vó, vós.

Fonte: www.linguabrasil.com.br

FRASES ILUSTRADAS

quarta-feira, 24 de junho de 2020

A verdade nunca é injusta; pode magoar, mas não deixa ferida. (Eduardo Girão)

LUGARES

BUDAPESTE - HUNGRIA

MAIS PALAVREADO

MAIS PALAVREADO

Contam que Pantufo, Rei da Cizânia, Imperador das Angulares (a Pequena e a Grande), do Alto e do Baixo Fonder e de todas as Rixas, tinha uma coleção de aves que piavam. Era a maior coleção de aves que piavam do mundo conhecido. E provavelmente do desconhecido também, se bem que deste se sabia pouco.

Um dia chegaram a Nova Velha, capital da Cizânia (a Velha Velha fora destruída por um paroxismo), dois viajantes, Metatarso de Castro e Palpos de Aranha. Os dois se dirigiram ao palácio real e pediram uma audiência com o rei.

- De que se trata? – quis saber o custódio real.

- Sabemos que Sua Excrecência tem a maior coleção de aves que piam do mundo – disse Metatarso.

- É verdade – disse o custódio, olhando os forasteiros de balaio. – Todas as aves que piam no mundo estão na coleção do nosso rei.

- Todas não – plicou Palpos.

- Como não? – replicou o custódio.

- Sabemos de aves raras que piam como nenhuma outra que não estão na coleção de Sua Indecência.

- E onde estão essas aves? – triplicou o custódio.

- Só diremos para Sua Demência em pessoa.

Os dois foram levados à presença de Pantufo, que reclinava sobre um almoxarife, abanado por dezessete lupanares enquanto uma lêndea semi-nua coçava o seu estrôncio. A sala do trono era toda decorada de alvíssaras e rocamboles silvestres.

- Sim? – disse o Rei da Cizânia, mastigando uma véspera e cuspindo os celidas na mão de um liminar.

- Trazemos notícias de aves que piam como nenhuma outra – disse Metatarso, fazendo salaminho.

- Aves que Vossa Mumificiência jamais ouviu falar – completou Palpos, com um arrabal até o chão.

- Impossível – disse o rei, com suco de véspera correndo pela pauta e o jargão real. – Eu tenho todas as aves que piam do mundo.

- Vossa Ardência conhece a xerox emplumada?

- Xerox emplumada?

- É uma ave que nós descobrimos.

- E ela pia? – trucou o rei.

- Copia – retrucou Metatarso.

- Como é que eu não conheço essa ave? – disse o rei, olhando com sódio para Teflon, o caçador real. – Onde vocês a encontraram?

- Num lugar que só nós conhecemos, Vossa Carência. Na margem oposta de um dos sete mares do vosso reino.

- Qual dos mares? O Mita, o More, o Racas, o Selhesa, o Fim ou o Condes Ferraz?

- Um desses – disse Palpos.

- Mmmm. Já vi tudo – disse Pantufo, coçando as bigornas. – Vocês querem alguma coisa em troca da informação. O que? Digam que será seu.

- Bem, Vossa Displicência – disse Palpos -, somos viajantes solitários. Muita falta nos faz a companhia feminina, principalmente em noites de torresmo e barracas…

- Ah, quereis catimbas – disse o rei. – Pois escolham as que quiserem do meu catimbeiro.

- Preferimos escolher entre suas filhas, Vossa Insuficiência.

O rei esbravejou chamando os viajantes de tudo, desde arrebóis até filhos de uma turbina, mas acabou concordando. Mandou chamar as filhas para que os viajantes escolhessem. Metatarso ficou com Ampola e Palpos com Lentilha, as mais encarnadas de todas.

- Agora digam onde estão as aves que piam como nenhuma outra.

- Bem – disse Metatarso – vossas filhas têm hábitos caros, Vossa Decadência. Como conseguiremos mantê-las felizes, comprar picuinhas, aleivosias…

- Está bem – interrompeu o rei.- Vocês terão uma renda vitalícia de um milhão de dolos por mês. Terei de aumentar os impostos, mas o povo compreenderá. Agora vamos às aves!

No dia seguinte, partiu a armada real, dez bulhufas escanhoadas e uma bulhufa-capitânia, entre gritos dos seus comanches:

- arrebitar o vetusto!

- Suspender o bilboquê de açafrão e o lume da alcatra!

- Pinicar a espátula e dobrar o macambúzio!

Durante a viagem, Pantufo não parava de pedir mais informações sobre as ave que encontrariam.

- Há a “voyeur de nuit” – disse Metatarso.

- E ela pia? – torquiu o rei.

- Espia – retorqui Metatarso.

- Há a piorra azul – disse Palpos.

- E ela pia?

- Rodopia.

- E a clínica do banhado.

- Ela pia?

- Terapia.

- Não podemos nos esquecer do marrecão larápio.

- Ele pia?

- Surrupia.

- E as cócegas selvagens...

- Elas piam?

- Arrepiam

A armada real levou dois anos para atravessar seis mares, com Metatarso e Palpos recebendo seu milhão de dolos por mês e entregando-se, todas as noites, a longas e lengas intermináveis charnecas com Ampola e Lentilha. Finalmente chegaram à margem oposta do Mar Condes Ferraz e desceram à terra. Mas não encontraram aves que piavam como nenhuma outra.

- Onde estão as aves? – quis saber Pantufo.

- Já sei o que houve, Vossa Dissidência – disse Palpos. – Esta não é a margem oposta.

- Claro – disse Metatarso. – A margem oposta fica do outro lado.

E lá se foi, de novo, a armada real.

- Arrematar as polpas de antanho!

- Acinturar a sirigaita maior!

Contam que a armada real está navegando até hoje, pois a margem oposta sempre muda, misteriosamente de lado. Apesar dos gritos do Rei Pantufo:

- Bando de conúbios!

- Caramanchões de uma pipa!

- Arras cuneiformes!

E a todas estas o povo pagando impostos. (VERÍSSIMO, Luis Fernando. O Analista de Bagé, Porto Alegre : L&MP Editores, 1995, p. 40)

FRASES ILUSTRADAS

terça-feira, 23 de junho de 2020

ESTANTES NO VÍDEO

ESTANTES NO VÍDEO
Ruy Castro

Ninguém dá entrevistas online na frente da geladeira ou do armário das panelas

Aldir Blanc, uma das grandes perdas impostas pela Covid, não podia ver uma foto em jornal de alguém diante de uma estante. Saía de lupa a ampliar a foto para ler os títulos nas lombadas dos livros. Aldir queria saber o que aquela pessoa gostava de ler e se tinha livros que ele ainda não tivesse e talvez precisasse ter. Lia dia e noite, sem parar. As fotos o mostravam em seu apartamento, na Muda da Tijuca, quase soterrado por eles. Se Aldir não tivesse sucumbido ao coronavírus, estaria hoje dando entrevistas online cercado por seu mundo de livros. Não seria exibicionismo e nem ele teria escolha. Eles tomavam os aposentos.

Transmissões online abundam agora na programação, e todo mundo aparece com uma estante ao fundo razoavelmente suprida de livros. Ou as pessoas lêem mais do que imaginávamos ou descobriu-se que a estante é o móvel mais nobre da casa, donde ser o cenário ideal. Não vi até agora ninguém se postar na frente da geladeira ou do armário das panelas. Não que não sejam também móveis da maior dignidade --- mas talvez uma parede com caçarolas não tenha o mesmo appeal de uma prateleira de livros.

Devido à alta incidência de estantes no vídeo, eu próprio passei a tentar decifrar os títulos nas lombadas e, pelo que já vi, cada entrevistado está bem servido de livros sobre sua especialidade. Os comentaristas políticos têm biografias de políticos; os esportivos têm histórias sobre futebol; os economistas, teorias econômicas.

Com uma exceção. Sempre que vejo o ministro da Economia Paulo Guedes na TV, ele está, sim, diante de uma estante, mas tristemente vazia exceto por alguns bibelôs e objetos não identificados. Zero livros.

Como o ministro se gaba de conhecer todas as teorias econômicas --- “no original”, frisou ---, imagino que tenha feito isso por correspondência. O que sua prática no ministério de Jair Bolsonaro, por sinal, demonstra.

Fonte: Folha de S. Paulo - 22/06/20
Para viajar basta existir. (Fernando Pessoa)

LUGARES

BERGEN - NORUEGA
Bergen é a segunda maior cidade da Noruega, com uma população de aproximadamente 250 mil habitantes. A cidade está cercada por sete montanhas, o que lhe confere uma bela paisagem, mas também o título de cidade mais chuvosa da Europa. É uma cidade muito popular quer para turistas norugueses, quer para turistas estrangeiros, sendo um do principais pontos de paragens dos cruzeiros dos mares do norte da Europa. Foi fundada em 1070, por Olav Kyrre, tendo sido a capital da Noruega até 1299, quando Oslo passou a ser a capital. Ainda assim, continuou a ser a maior cidade da Noruega até à década de 1830. Entre 1350 e 1750 pertenceu à Liga Hanseática. A parte antiga da cidade ligada à baía, chamada Bryggen, circundada por casas datando do tempo da Liga Hanseática, passou a integrar a lista do patrimônio da humanidade da Unesco, em 1979.

ROMANCE FORENSE

AS DUAS MERCEDES

A mulher promove ação de separação litigiosa sob a alegação de que o marido mantem romance com uma antiga vizinha de bairro. Postula elevada pensão alimentícia, pois o suposto infiel possui grande patrimônio. O juiz designa audiência de tentativa de conciliação.

O marido nega veementemente possuir relação adúltera, mas aceita firmar um acordo, reconhecendo que "o casamento está corrompido". Aceita deixar para a esposa a residência, um automóvel Mercedes 2011 – que a mulher curiosamente insiste que permanecesse consigo - e metade das aplicações financeiras. 

Na hora da fixação do valor da pensão, o cônjuge alega que os R$ 30 mil mensais pedidos pela esposa são muito elevados. Feitas várias ponderações pelo magistrado, o homem pede a palavra:

- Já estou dando muita coisa, excelência – diz dirigindo-se educadamente ao juiz.

Ao que a mulher retruca:

- O problema é que a Mercedes que vai ficar comigo tem um alto custo alto de impostos e manutenção.

- Então vende o carro e compra um mais barato, com manutenção mais em conta - propõe o marido.

- Não, eu já disse que eu quero ficar com a Mercedes. Banca tu esse custo, a culpa por tudo isso estamos passando é tua.

Exasperado, o ex-marido, explica a razão pela qual a ex-esposa insiste em ficar com o carro importado:

- Excelência, eu não tenho condições de pagar uma pensão maior. Não posso sustentar duas Mercedes – responde com uma perceptível pitada de ironia.

O juiz atalha:

- Eu não estou entendendo!

O ex-cônjuge, então, admite a existência do romance paralelo causador da separação: o nome da "outra" é, justamente, Mercedes.

Mais algumas intervenções do magistrado, ponderações do Ministério Público e recíprocas concessões ajustadas pelos advogados, o acordo é alcançado. A ex-esposa aceita a pensão mensal de R$ 15 mil, fica com a residência, recebe a Mercedes (automóvel) e metade das aplicações financeiras.

O homem fica, entre outras coisas, com a Mercedes em carne e osso.

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Podemos pretender ser quanto queiramos; mas não é lícito fingir que somos o que não somos. (José Ortega y Gasset)

LUGARES

AMSTERDAM - HOLANDA

A FAVOR DO VENTO

Martha Medeiros

Se ninguém se posicionasse contra a violência, contra a corrupção e contra outras tantas indignidades, viver seria ainda mais difícil do que normalmente é. Ser combativo é uma atitude necessária e exige bravura, coragem, empenho, espírito de luta. Meus aplausos e respeito a quem tem disposição para o enfrentamento.

Eu deixei de ter faz tempo. Lutei pelo o que eu queria lutar quando era garota e o saldo foi bom, mas parei de dar murro em ponta de faca e troquei de estratégia. Hoje, em vez de me posicionar contra isso e aquilo, em vez de ataques virulentos e muitas vezes quixotescos, prefiro viver de acordo com o que acredito que é certo. Funciona também, e desgasta menos.

Na esfera privada, não tento mais fazer ninguém mudar de ideia. Desisti de trazer para perto quem prefere ficar afastado. Não crio ilusão de que o que já se provou ineficaz um dia funcionará por obra do Espírito Santo. Não me fixo mais nos defeitos dos outros. Não perco a cabeça quando ouço asneiras (antes tinha vontade de sacudir a pessoa pelos ombros, fazendo seus cabelos voarem para frente e para trás como se fosse um boneco de pano).

Há muito que não espero que os outros ajam conforme eu gostaria. Não aguardo favores, elogios ou adesões. Não fico em estado de alerta para flagrar quando pisam na bola comigo – percebo quando pisam, mas procuro não estressar com isso. Nem sempre consigo ser tão magnânima, mas tento. E, por fim, perdoo. Não por ter parentesco em primeiro grau com Nossa Senhora, mas porque dá menos trabalho.

Lei do menor esforço, sim. Mas com resultados práticos muito favoráveis.

Agora escolho os caminhos menos tortuosos e as parcerias mais afetivas, sinceras e engraçadas. Se me fizer rir, está valendo. Digo não com a mesma facilidade com que digo sim: passei a ser 100% honesta em relação aos meus desejos, deixei de ser condescendente com o que não me satisfaz. Só tolero dificuldades que gerem algo positivo mais à frente. Cumpro tudo aquilo que eu exigiria dos outros se ainda tivesse disposição para fazer exigências. Agora só exijo de mim, e ainda assim, pouco.

A minha porção rigorosa e mesquinha existe, mas tenho educação suficiente para não exibi-la por aí. A minha parte canalha restrinjo aos meus pensamentos secretos. Sou do contra só quando contra mim. A briga é interna e não muito violenta: não me aplico golpes baixos. Meus demônios são inimigos adestrados.

No mais, sigo a favor do vento. Falo com clareza, faço escolhas condizentes com quem sou e facilito o que posso. Talvez, para alguns, uma vida sem tormentas diárias produza um vazio impossível de suportar. Cada um, cada qual. Eu joguei a toalha: o que não suporto mais nessa vida é peso.

Fonte: Zero Hora - 20/12/2015