sábado, 30 de novembro de 2019

O que se aprende no berço, dura para sempre. (Provérbio Espanhol)

FRASES ILUSTRADAS


HERÓI EM SURDINA

HERÓI EM SURDINA
Por Ruy Castro

Em 1930, se a ideia tivesse ocorrido a alguém, seria possível reunir na mesma sala no Rio, e ao redor do mesmo piano, Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Freire Junior, Eduardo Souto, Augusto Vasseur, Henrique Vogeler, Joubert de Carvalho, Sinhô, Ary Barroso, Nonô, Radamés Gnattali, Custodio Mesquita, Gadé, Vadico e Carolina Cardoso de Menezes. E se Zequinha de Abreu, que morava em São Paulo, estivesse no Rio, de visita, melhor ainda. Teríamos, ali, o estado-maior do piano brasileiro.

Todos eram grandes pianistas e estavam vivos e ativos. Mas não por muito tempo: Sinhô morreria em agosto, aos 41 anos; Nazareth, em 1934, aos 70; e Chiquinha, em 1935, aos 87. A maioria já prestara grandes serviços à música popular.

Outros começavam bem -Ary, Radamés, Custodio, Gadé, Vadico- e mesmo Carolina, aos 15 anos, já tinha o que mostrar: em "Na Pavuna", por Almirante, primeiro disco brasileiro a conter percussão de samba, gravado em dezembro de 1929, o piano era ela.

O que teria resultado daquele conclave? Só se pode especular, mas, se a reunião fosse para eleger um deles como o papa do piano e da composição, o carioca Nazareth levaria por unanimidade -o que incluiria o próprio voto. Ele sabia o que valia.

Até hoje, seus mais de 200 "tangos", polcas, valsas e quadrilhas, como "Odeon", "Fon-Fon", "Brejeiro", "Ouro Sobre Azul" e "Apanhei-te Cavaquinho", ficam tão bem numa sala de concerto quanto num pianinho de parede. Nazareth não queria ser dançado, mas ouvido -e como devia doer-lhe ter sido chamado por Mario de Andrade de "anunciador do maxixe".

Os 150 anos de seu nascimento estão sendo lembrados, mas bem ao nosso jeito: intramuros, em surdina. Se o Brasil fosse mais grato a seus heróis, Nazareth já seria biografia, filme, selo, estátua, nome de teatro e cadeira na universidade.

Fonte: Folha de S. Paulo

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

O difícil de confundir alhos com bugalhos é que ninguém sabe o que são bugalhos. (Max Nunes)

FRASES ILUSTRADAS


NÃO TROPECE NA LÍNGUA


COMPUTO, ME ADÉQUO, EXPLUDO (2)

Em vista de três consultas específicas, estávamos falando sobre os verbos defectivos ou defeituosos, aqueles que apresentam lacunas em algumas pessoas verbais. Nessa categoria se enquadram todos os verbos que exprimem fenômenos meteorológicos. Por exemplo, amanhecer, chover, anoitecer, garoar, gear, nevar, trovejar só se conjugam na terceira pessoa do singular de cada tempo e não possuem as formas imperativas. São chamados verbos impessoais.

Há outros que podem ser considerados defectivos, os pessoais, que se apresentam sobretudo na terceira pessoa do singular e do plural de cada tempo, como os que exprimem fenômenos da natureza vegetal (arborescer, frutificar, murchar, verdejar, vicejar etc.) e os verbos onomatopaicos ou imitativos de vozes animais e de ruído das coisas (balir, cacarejar, ganir, grasnar, latir, mugir, badalar, chiar, espoucar/espocar, tilintar/tlintar etc.). 

Tanto os verbos que exprimem estados atmosféricos ou vegetativos quanto os onomatopaicos admitem conjugação completa, pois eles podem ser empregados em sentido figurado (eu trovejei de raiva, amanheço pensando em ti, nós frutificamos, eles uivaram de dor) e também em outras acepções, como “eles badalam em todas as festas; o filme foi muito badalado”.

Alguns, entretanto, continuam defectivos, já que não têm a primeira pessoa do presente do indicativo, tais como os verbos falir, parir, balir, latir, colorir, que por conseguinte não têm o presente do subjuntivo.

EXPLODIR não é verbo defectivo em si. Ele é conjugado conforme o verbo dormir, segundo dicionários especializados; portanto, pode-se dizer “ele explode, eu expludo; ele que expluda o balão”. O dicionário Houaiss registra as conjugações brasileiras explodo, exploda, observando que também existem expludo e expluda. Já vi expludo em livros editados em Portugal, numa boa. Aqui, depois que o ex-presidente Figueiredo falou (corretamente) “eu expludo”, criou-se o estigma e a má reputação do verbo, como se ele devesse ter explodido de outra forma: "Ele que se exploda!"

COMPUTAR não é tampouco verbo defectivo. Existem e são usadas formas como “eu computo, ele computa os dados diariamente; computa isso para mim?” Não falar “computa” seria talvez uma opção pessoal por causa da sonoridade indigesta para alguns. O dicionário Aurélio não traz o presente “computo, computas, computa”, como faz o Houaiss, que registra todas as formas. Mas devemos lembrar que as palavras existem não porque os dicionários querem que elas existam. É o contrário: os dicionários devem espelhar o vocabulário existente. 

De qualquer modo, um alerta: quem está se submetendo a um concurso público deve evitá-las, pois nunca se sabe o grau de tolerância da comissão que vai corrigir as provas, a qual pode aceitar ou rejeitar o Houaiss, dicionário que se propôs a registrar um uso efetivo, encontrado mesmo entre falantes cultos, assim considerados, na ciência linguística, os brasileiros da zona urbana que têm curso superior completo. Aliás, formas em discussão jamais deveriam ser objeto de provas de língua portuguesa.

Fonte: www.linguabrasil.com.br

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Se formos mudar as coisas de modo como devem ser mudadas, teremos de fazer coisas que não gostaríamos de fazer. (John Lennon)

FRASES ILUSTRADAS


TORÍBIO

TORÍBIO
Por Sérgio Jockymann

Pois, Toríbio veio para a casa do coronel com dois meses. Era um desses gatos malhados, concebido em noite de lua em cima de telhado de zinco. Tinha por isso uma certa falta de equilíbrio, que desengonçava o corpo todo. Ora, como havia em Vila Velha um Toríbio gente que caminhava do mesmo modo, foi o coronel olhar para o gato e o batismo aconteceu:

- Vem cá, Toríbio.

O Toríbio possuía uma inclinação muito brasileira pelos que estavam no poder e por isso se entendeu logo com o coronel. Que, diga-se de passagem, não era muito amigo de gato. Mas com o Toríbio foi uma exceção, um pouco provocada pelo fígado do coronel que andava muito bem e um pouco pela malandragem do gato, que era um safado de pai e mãe.

Começa que não miava como os outros gatos miam, quando a cozinheira corta a carne. O Toríbio armava uma cara de vítima e se deixava ficar no meio da cozinha até que os corações amoleciam e o pedaço de carne caia a seus pés. Aí, o danado ao invés de abocanhar a carne como todos os gastos, olhava primeiro para o benfeitor, puxava um miado agradecido do fundo do peito e só depois apanhava a carne com muito cuidado e ia comer num canto.

Por essas artes, todo mundo deu de dizer que o Toríbio só faltava falar. Lá pelos seis meses, quando já estava querendo botar corpo de gato grande, aconteceu um desastre. O coronel cansado de alisar o bichano, jogou o Toríbio do sofá para uma poltrona e o infeliz caiu de mau jeito. Torceu o corpo e se pôs a lançar miados pavorosos, enquanto o coronel esquecia todas as mortes que tinha na consciência, para se derreter em aflições:

- Toríbio, meu filho, o que foi isso? Fala comigo, Toríbio.

E o Toríbio a berrar como um desesperado, enquanto o coronel trovejava que queria um veterinário na casa imediatamente. Eram dez da noite, o que para Vila Velha era alta madrugada, mas mesmo assim seu Venâncio veio como um raio. Mal entrou, o Toríbio se jogou no chão e mudou os berros para um choro muito sentido.

- Que foi?

- Descadeirou.

Seu Venâncio levou uma hora apalpando, até que deu o veredito:

- Coronel, o bicho sofre de raquitismo. Tá propenso a mau jeito.

- Não quebrou nada?

- Não senhor.

No dia seguinte, o Toríbio iniciava uma dieta de sol e óleo de fígado de bacalhau. Refugava um pouco o primeiro, porque era verão, mas se babava com o segundo.

Só que mudou de personalidade. Quer dizer, a personalidade ficou a mesma, mas os agravantes é que apareceram. Era ver alguém e o Toríbio começava a puxar a perna. Graças a esse recurso infame, vivia nuns dengues de dar nojo. Então quando o escolhido era o coronel, o Toríbio encenava uma paralisia completa. Mais de uma vez, foi apanhado em plena corrida pela entrada do coronel e sem um segundo de vergonha, freiava e trocava o passo para um aleijume de cortar o coração. O coronel se cuspia de riso com aquela safadeza e como era outro do mesmo estilo, os dois se davam como o pai e filho. E o Toríbio foi indo até que se tornou um déspota. Exigia comida especial, cama especial e até sardinha uma vez por semana. E ai que negassem qualquer coisa, que ele logo começava a puxar de uma perna. E diga-se de passagem, que o desavergonhado nem escolhia mais a perna para puxar. Puxava a primeira que desse e mantinha a mentira, mesmo quando o coronel estrilava:

- Toríbio, foi a outra perna.

O Toríbio lançava um olhar ofendido e não trocava de perna, como a dizer que ninguém sabia melhor do que ele onde era a lesão. Claro que com tanta vida boa, botou um corpo enorme e só emagrecia na temporada de boemia. Aí, ia mancando até a porta, cruzava a soleira e do outro lado, era outro gato. Erguia a cabeça, estufava o peito e saía pelo quintal com ares de tigre de cinema. Mas, nesta altura, dona Carmen, a mulher do coronel, deu de implicar com o gato dormindo na cama do casal e começou a mover uma campanha surda contra o Toríbio:

- Esse gato está cheio de pulga.

Lá ia o coronel a catar as pulgas do Toríbio, que embebedava com a catação. Ficava num tal estado de prazer, que às vezes despencava do colo do coronel como um saco de batatas. Também batia no chão e logo puxava da perna. Mas por mais que o coronel catasse, dona Carmen sempre aparecia com mordidas de pulgas até que fechou a questão:

- Ou ele ou eu.

O coronel já andava de amigações com a mulata Maria e teve uma vontade de dizer que preferia o gato. Mas se conteve, porque não ficava bem para um coronel de tanto prestígio político andar abandonando a companhia da esposa num local tão sagrado. Pelo que, saiu o Toríbio, que arrastou todas as patas que tinha sem o menor resultado. Foi jogado do lado de fora da porta, onde miou a noite inteira. No dia seguinte recusou, ostensivamente, os cafunés do coronel e mancou, desaforadamente, pela casa toda. Ficou assim cinco dias, enquanto o coronel se roia de remorsos. E foi na sexta noite que tudo aconteceu. O coronel estava lá pelo terceiro sono, quando ouviu ruídos medonhos embaixo da cama e num segundo já estava fora dela de revólver na mão, enquanto berrava para dona Carmen que acendesse a luz. E mal a luz acendeu, deu com o Toríbio agarrado com unhas e dentes na cabeça de uma enorme jararaca que chicoteava no chão procurando se libertar. Mas qual o que, o Toríbio não soltava a peçonhenta, roncando com quantos bofes tinha. E antes que o coronel saísse do espanto, o gato deu um safanão na cobra e quebrou o espinhaço da bicha. Aí, deu um pulo para o lado e assistiu ofegante aos últimos estertores da cobra. Só quando ela parou de se mover, o Toríbio olhou para o coronel no meio dos olhos, virou a cabeça e saiu capenguendo para fora do quarto. Não chegou à sala, porque o coronel se lançou atrás dele com os olhos rasos d´água:

- Toríbio, meu filho, nunca mais.

Dona Carmen ainda tentou desmaiar, mas foi pura perda de tempo, porque o coronel instalou o gato a seu lado e declarou com voz embargada:

- Podem me chamar de assassino, mas de ingrato nunca.

E aí, quando dona Carmen recolhia os badulaques para dormir no outro quarto, o Toríbio atingiu seu momento de glória. Olhou para ela e por pura desfaçatez se arrepiou todo e soprou o ar pelas ventas. (JOCKYMANN, Sérgio. Vila Velha, Porto Alegre : Editora Garatuja, 1975, p. 27)

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

As ciências aplicadas não existem, somente as aplicações da ciência. (Louis Pasteur, químico e biólogo francês, 1822-1895)

FRASES ILUSTRADAS


DORMIR JUNTOS

DORMIR JUNTOS
Martha Medeiros


É o sonho de toda garota em vias de transformar-se em mulher: dormir junto com o seu Romeu. Talvez ela nem tenha encontrado o príncipe ainda, mas já sonha em dividir lençóis com ele. Um homem seu a noite inteira, os dois protegidos por quatro paredes. Nada daquela pressa de motel, daquele cenário impessoal, daquele castigo de ter que sair de madrugada para voltar para a casa dos pais. Nada de barraca de camping, aquele desconforto, aqueles insetos todos que não foram convidados. Nada de cochilos na rede, de romance dentro do carro, de rapidinhas no meio do mato. Isto faz parte do anedotário da adolescência, quando estamos a ponto de bala e tudo vale. Bom mesmo é dormir juntos numa aconchegante cama de casal, com direito a oito horas de sono e intimidade.

Case e verá. Dividir o mesmo colchão tem vantagens, evidente, e não apenas aquelas que você está pensando. É ótimo enfiar os pés no meio das pernas do outro, principalmente quando está fazendo 2 graus lá fora. É ótimo quando ele levanta para tomar água e traz um copo pra você também. É ótimo ter alguém para pedir que investigue que barulho estranho foi aquele na sala. É ótimo ter alguém para abraçar sem segundas intenções, sem erotismo, só pelo carinho, só pelo calor. Pena que não seja sempre assim.

O amor é cego mas não é surdo: seu príncipe ronca. Você não ronca, mas fala dormindo. O silêncio exigido depois das 22 horas é quebrado por grunhidos, relinchos, ruídos cavernosos. Ou confissões desencontradas, gritos de pesadelo, nomes que não deveriam ser ditos. Vocês acham que fazem muito escândalo acordados, mas é quando entram no mundo dos sonhos que o fuzuê começa.

Se não é o ronco que tira o humor do casal, é o termostato. Ela quer três cobertores assim que entra março. Ele admite uma colcha quando está nevando. Ela dorme de pijama, meias e uma caixa de Kleenex na cabeceira. Ele entra na cama como veio ao mundo e liga o ar-condicionado na potência máxima, não importa a estação do ano. Apaixonados de dia, arquiinimigos de madrugada.
Ele quer a janela aberta, ela trancafiada. Ele quer as cobertas soltas, ela gosta de tudo bem preso na cama. Ele quer três travesseiros de pluma só para ele, ela dorme sem nenhum porque tem problema de coluna. Ele tem o sono leve, acorda quando ela espirra. Ela tem o sono pesado, não acorda com o alarme de incêndio. Ele se vira a noite inteira, ela se mexe tanto quanto um cadáver. Ele gosta de ver o Amaury Jr. na cama, ela gosta de ler. Ele deixa as meias que usou o dia inteiro jogadas no chão do quarto, ela coloca duas gotas de Chanel número 5 depois de escovar os dentes. Ela é Marylin, ele é Maguila, e quando não estão transando, sonham com uma cama king size, até que dois quartos os separem.

Fonte: Facebook

domingo, 24 de novembro de 2019

OLHOS NEGROS

LENDAS DA CANÇÃO "OLHOS NEGROS"
Por Luciana do Rocio Malon e Cida Groski 

(Patrícia Kaasss canta Ochi chyornie - Olhos Negros)

A canção Olhos Negros tem muitas lendas urbanas; leremos algumas delas abaixo:

A Cigana de Olhos Negros:

Esta lenda foi contada pela professora Cida Gorski, uma simpática idosa de 97 anos, e ela me pediu para redigi-la e colocá-la na Internet.

Reza a lenda que, no século dezenove, o poeta ucraniano Evgeny Grebenka viajou para Rússia e, num dos bosques deste país, ele avistou um acampamento cigano. Ao chegar, neste local, ele avistou um grupo de ciganos cantando e dançando. Ele ficou encantado com os sons dos violinos. Mas o que lhe chamou atenção mesmo foi uma cigana de cabelos castanhos, pele branca, encorpada e olhos muito negros. 

Então naquele momento, ele escreveu o seguinte poema:
O político de carreira é aquele que faz de cada solução um problema. (Woody Allen)

FRASES ILUSTRADAS


sábado, 23 de novembro de 2019

A civilização é, simplesmente, uma série de vitórias sobre a natureza. (William Harvey, médico inglês, 1578-1657)

FRASES ILUSTRADAS


OS FRANCESES E O BIGODE

OS FRANCESES E O BIGODE


Se  assistimos nos últimos anos, aqui na França, uma reabilitação da barba e encontramos  nas ruas homens elegantes portando este “adereço”, o mesmo não acontece com o bigode.

E olha que as tentativas de re-introdução desta prática foram inúmeras e entre elas o movimento social chamado Movember. Os participantes de Movember (moustache+november), no mês de novembro, deixam crescer o bigode para chamarem a atenção dos governos sobre os aspectos ligados à saúde masculina.

Mas o bigode continua sendo visto como atributo marginal com adeptos bizarros ilustrados pelo World Beard and Moustache Championships.

Não encontro argumentos que expliquem a sentença de morte deste ilustre sinal distintivo masculino a não ser o artigo da revista Slate.fr. O autor considera que  a decadência do bigode está associada ao fato dele ter se tornado, ao longo das últimas décadas, um acessório preferido dos ditadores.  De Stalin à Bachar El Assad, sem esquecer Hitler, Saddam Hussein e Pinochet, todos eles aderiram ao bigode. Entre os 147 ditadores modernos encontramos 62 bigodudos.


Foto: Astérix et Obélix au service de Sa Magesté, filme de Laurent Tirard com Gérard Depardieu, Edouard Baer e Guilhaume Gallienne.

De marca registrada dos gauleses, ormamento maior da masculinidade, e adereço preferido do homem francês até o final da primeira guerra mundial, a moustache se transformou em símbolo de poder e autoridade. Uma pena!

Fonte: Conexão Paris

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados pelo caráter, não pela cor da pele. (Martin Luther King, ativista americano)

FRASES ILUSTRADAS


NÃO TROPECE NA LÍNGUA


OU FÁBRICAS DE MEIAS OU FÁBRICAS DE SABÃO

O leitor Wildemberg Cotts, do Rio de Janeiro, pergunta como reconhecer quando a conjunção ou tem o sentido de exclusão e de equivalência em frases não muito óbvias. Como óbvias ele cita frases do tipo “andar ou caminhar, subir ou descer”, em que está clara a condição de exclusão. O exemplo de equivalência apresentado é “Rui Barbosa ou a Águia de Haia”; aqui, só reconhece o sentido de equivalência do ou quem sabe que Rui recebeu o apelido de Águia de Haia. 

De fato, pode haver alguma confusão entre os dois usos da partícula ou se o contexto for insuficiente para elucidar a questão da sua dupla possibilidade de emprego.

Em primeiro lugar, ou é uma conjunção alternativa, o que implica alternância ou exclusão. Quando restar alguma dúvida disso, o redator pode repetir a partícula, e então ficará claro desde logo que se trata de exclusão:

Pode-se tomar chá ou café. [ideia de alternância: v. toma chá e depois café]
Pode-se tomar ou chá ou café. [ideia de exclusão: somente um deles]
Ou vocês visitam o templo de Hércules ou o de Hermes. 
Se a transcrição longa estiver em recuo da margem, ou em letra diferente, ou em espaço menor, o leitor saberá que está lendo um trecho citado.
Em segundo lugar, ou é uma conjunção explicativa, equivalendo a isto é. Neste caso, para não deixar dúvida ou ambiguidade no texto, pode-se usar a locução ou seja, como é habitual, ou então usá-la mentalmente para tirar a prova:

A receita pede meio litro ou 500 ml de leite. (= A receita pede meio litro, ou seja, 500 ml.)

Visitem o templo de Hércules ou Héracles. (Os dois se equivalem; portanto: o templo de Hércules ou [seja] Héracles.)

--- Mário S. M. da Silva, de Niterói/RJ, entre outros leitores, consulta sobre o plural de locuções adjetivas, ou seja, quando é que se pluraliza o adjunto adnominal constituído da preposição “de” mais um substantivo, como em sala de aula, banho de sol, auto de infração, amor de mãe, tipo de personalidade, termo de convênio, fogo de artifício, cadastro de pessoa, bolsa de trabalho etc.

Em princípio, só o primeiro substantivo vai para o plural, ficando a locução adjetiva [duas palavras que correspondem a um adjetivo, como: de mãe = maternal; de infração = infracional; em grupo = grupal] no singular, sobretudo quando o substantivo da locução é abstrato. Então, teremos: salas de aula, banhos de sol, autos de infração, amores de mãe, tipos de personalidade, termos de convênio, fogos de artifício, cadastros de pessoa, bolsas de trabalho, bolsas de estudo, tabelas de decisão, espécies de solo, tons de azul, fábricas de sabão, caixas de cerveja, bancas de jornal etc.

No entanto, temos de levar em consideração que existem os casos em que se pluraliza o segundo substantivo. De acordo com Napoleão Mendes de Almeida, isso acontece quando o substantivo do adjunto adnominal, sendo concreto, não expressa “matéria contínua” (como cerveja, café, sabão), mas sim “passa a indicar variedades, unidades, indivíduos”. Neste caso, temos: fábrica de meias e de chapéus, caixa de fósforos, grupo de árvores, mostra de orquídeas, cadeira de rodas, cujo plural é fábricas de meias e de chapéus, caixas de fósforos, grupos de árvores, mostras de orquídeas, cadeiras de rodas.

Também existem casos em que o uso não é uniforme, pois depende da interpretação: há postos de combustível/de gasolina(matéria contínua) e postos de combustíveis (indicando variedades); caixas de remédio e caixas de remédios e assim por diante. 

Fonte: www.linguabrasil.com.br

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

A união do rebanho obriga o leão a deitar-se de fome. (Provérbio Africano)

FRASES ILUSTRADAS


O FULMINADOR

O FULMINADOR
Por Sérgio Jockymann

Pois, seu Tidinho até os oitenta anos foi uma perfeita nulidade. Casou duas vezes e nas duas vezes se deixou dominar pela mulher, teve seis filhos e nos seis não teve a menor influência. Não falava, não cantava, não assobiava. Tinha só uns sorrisos que não diziam nada, mas que mesmo assim ou por isso mesmo foram ajudando sua vida. Até que morreu a segunda esposa e o filho mais velho tomou conta da estância. Um mês depois, seu Tidinho teve o primeiro sintoma de mudança, quando desceu do cavalo e avisou:

- Cansei dessa porcaria de vida. Quero ir para a vila. 

Ora, o comum em Vila Velha era que as pessoas de setenta anos quisessem ir para a estância, onde como disse o finado Hortêncio, “sem nada o que fazer se pode espichar o tempo”. O filho mais velho bateu nas costas do seu Tidinho, riu e não tomou a menor providência. Na semana seguinte, no entanto, ele insistiu:

- Quero ir para a vila.

E ficou insistindo um ano inteiro, até que o filho mais velho perdeu a paciência e berrou:

- Só vai o dia que um raio me partir.

E seu Tidinho tremendo de indignação, bateu a boca desdentada e disse:

- Tomara que um raio te parta!

Foi falar e acontecer. Nem deu para ouvir o trovão. O raio pegou o filho mais velho na soleira da porta e se não o partiu em dois, o torrou por inteiro antes que o vivente pudesse gritar. Foi um berreiro só na casa. Mas seu Tidinho ficou ali parado muito surpreso e um minuto depois, com muito cuidado, tocou com a ponta da bota no defunto e só teve um comentário:

- Ora, vejam só!...

Ele se trancou no quarto. No dia seguinte, antes do defunto sair, seu Tidinho saiu de lá, cumprimentou os presentes e se desculpou:

- Eu não sabia que tinha tanta força.

Pelo que, durante três meses, Vila Velha comentou o caso, e concluiu:

- Praga de pai é um caso muito sério.

O segundo filho instalou seu Tidinho na Vila e nunca pôs o pé fora de casa em dia de temporal. Seu Tidinho deu para passear na praça e teve um súbito rejuvenescimento notado por observações meio espantosas em velhos de oitenta anos:

- Como tem mulher bonita neste mundo de Deus, barbaridade.

Ora, vai daí que de repente seu Tidinho deu para seguir, muito discretamente é claro, a viúva do finado Eleutério, que andava lá pelos quarenta, mas era muito conservada. Tão conservada que já tinha um pretendente, o boticário Alfredinho, que não gostou da história e cortou o caminho do seu Tidinho:

- Tu não me segue mais a viúva seu velho caduco.

Seu Tidinho tremeu o queixo, olhou para o céu carregado, piscou os olhinhos e cuspiu:

- Tomara que um raio te parta.

O boticário Alfredinho riu na cara dele, deu meia volta e atravessou a praça. Estava a dez metros de casa, quando foi atingido pelo raio e segundo o testemunho de vários presentes morreu olhando para seu Tidinho, que lá do meio da praça esfregava as mãos muito satisfeito. O Padre Ramão na missa de domingo disse que ninguém tinha poderes sobre os raios de Deus, mas Vila Velha inteira não acreditou. Até o coronel que era positivista, deu para cumprimentar seu Tidinho, explicando para os amigos:

- Tem muita coisa científica que o homem ainda não descobriu.

E com isso, seu Tidinho passou a merecer o maior respeito na cidade, embora nos dias de trovoada não encontrasse um só cristão no seu caminho. Ora, esse respeito todo terminou alterando seu Tidinho, que em 1932, saudou a revolução paulista com uma declaração estarrecedora:

- São Paulo tem razão. Tou com eles.

Vila Velha fervia de ardor bélico. O Corpo de Provisórios já havia desfilado pela cidade e o coronel já tinha jurado que faltava amarrar cavalo na Praça da Sé, porque no obelisco não chegava. No meio desse ardor revolucionário, que punha faíscas até nos olhos das ovelhas, seu Tidinho passeava pela cidade insistindo:

- São Paulo tem razão. Tou com eles.

O coronel se fez de surdo por dois dias até que o major Otacílio protestou que aquilo estava acabando com o moral da tropa:

- Tem índio aí já querendo voltar para casa coronel.

Só por isso o coronel chamou o delegado de polícia e ordenou:

- Dá um jeito no Tidinho.

O delegado pediu demissão do cargo imediatamente. O coronel então decidiu ceder a honra para o major Otacílio, mas ele não quis saber:

- A tropa precisa de mim.

Foram realizadas quinze reuniões até que o coronel exasperado convocou o padre Ramão:

- O assunto é religioso. Tão desmoralizando a Igreja.

O Padre Ramão aceitou o desafio e foi falar com o seu Tidinho. Explicou o problema da moral da tropa, mas seu Tidinho não se convenceu:

- Com oitenta e um anos, um homem não muda de idéia assim.

- Vão lhe prender, seu Tidinho.

- Tomara que um raio parta o coronel se me prenderem.

O Padre Ramão achou que era muito justo, deu a igreja por satisfeita e devolveu o caso ao coronel.

- Um positivista como o senhor não deve acreditar em praga.

Foi um momento histórico, porque de repente todo mundo olhou para o coronel e ficou à espera de sua decisão.

Ele piscou os olhos por três vezes, limpou a garganta e desatou o nó:

- O positivismo ensina a tolerância e como gaúcho eu respeito os adversários.

E foi assim que, durante toda a revolução constitucionalista, seu Tidinho passeou pela praça diariamente insistindo que São Paulo tinha razão e que estava com eles. E o povo de Vila Velha era tão tolerante que jamais desrespeitou a opinião do seu Tidinho. (JOCKYMANN, Sérgio. Vila Velha, Porto Alegre : Editora Garatuja, 1975, p. 22)

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

O medo é o mais perigoso dos sentimentos coletivos. (Émile Herzog – André Mauroius -, ensaísta francês, 1885-1967).

FRASES ILUSTRADAS


SEGREDO É PARA SER CONTADO A UMA SÓ PESSOA

SEGREDO É PARA SER CONTADO A UMA SÓ PESSOA
Fabrício Carpinejar

Segredo é destinado a uma pessoa, ninguém mais. É uma confissão exclusiva, um desabafo personalizado. Não inclui grupos de discussão. 

O que provoca a fofoca é o segredo contado para vários amigos. Daí deixa de ser segredo para ser uma notícia reservada. 

Não há como controlar os círculos da voz na multidão, não há como conter as informações depois - pois todo amigo tem uma namorada que tem uma rede de conhecidos. 

A privacidade deve ser protegida já elegendo apenas uma fonte de intimidade. 

Procure estabelecer um definitivo paradeiro para a história. Evitará julgamentos emocionais, impressões apressadas e distorções. Telefonar para diferentes confidentes enfraquecerá a importância do relato e aumentará as chances de ruído. Até porque um terminará sabendo que o outro sabe. E não cabem duas exceções. Duas exceções formam o boato. 

Segredo será vazado quando ocorre o desejo de agradar o círculo inteiro de amizades. A unanimidade não combina com a exposição das fragilidades. O equívoco é perseguir a aprovação no lugar da compreensão. Abrir um defeito ou uma falha é coisa séria e requer sigilo para a reparação. Mais fácil manter algo guardado em uma relação de confiança do que em muitas de duvidoso e complicado consenso. 

Mesmo que desfrute de grandes parcerias do peito, é necessário escolher uma para cada segredo, sob o risco de transformar o silêncio do túmulo em choradeira de berçário. 

O que é dito ao pé de um único ouvido é mantido de pé pelo resto da vida.

domingo, 17 de novembro de 2019

SOM SABADELL

In the 130 th anniversary of the creation of Banco Sabadell we wanted to pay tribute to our city with the campaign "Som Sabadell." This is the flashmob we do as a climax with the participation of over 100 people in the Vallès Symphony Orchestra and the choirs of Lieder and Friends of l'Opera and the Choral Belles Arts.

Dans le 130 e anniversaire de la création de Banco Sabadell, nous voulions rendre hommage à notre ville avec la campagne "Som Sabadell." Il s'agit de la flashmob que nous faisons en tant que point culminant avec la participation de plus de 100 personnes dans l'Orchestre symphonique de Vallès et les chœurs de Lieder et les Amis de l'Opéra et des arts de chorales Belles.

În 130 ani de-a creării de Banco Sabadell am vrut să plătească tribut pentru orasul nostru, cu campania "Som Sabadell." Aceasta este flashmob facem ca un punct culminant, cu participarea a peste 100 de persoane din Simfonia a Vallès orchestra si coruri de lieduri şi prietenii de l'Opera şi Arte muzică beletristica.

EN EL 130 º aniversario de la creacion de Banco Sabadell hemos querido rendir homenaje a una campaña Con Nuestra Ciudad "Som de Sabadell". Esta Es la flashmob Que Como colofón final al realizamos Participación estafadores mas de 100 personajes de la Orquesta Sinfónica del Vallès y los corrosivos de la Ópera y Lieder y los Amics de Belles Arts de coral.
O eleitor, obrigatoriamente, tem que ser qualificado. O candidato, não. (Max Nunes)

FRASES ILUSTRADAS


sábado, 16 de novembro de 2019

As más leis constituem a pior espécie de tirania. (Edmound Burke, escritor irlandês, 1729-1797)

FRASES ILUSTRADAS


OBRA PRIMA DA PINTURA


O quadro de hoje é dos mais importantes de Velásquez, o que significa que é dos mais importantes da História da Pintura. 

É necessário conhecer um pouco da história das guerras em que a Espanha se envolveu, para apreciá-lo melhor. Breda é uma cidade holandesa situada na província de Brabante do Norte. De 1581 a 1590, e depois de 1625 a 1637, pertenceu à Espanha. Sua captura, em 1625, é “um dos poucos sucessos espanhóis durante a Guerra dos Trinta Anos”. O comandante das tropas espanholas foi o general genovês Ambrogio Spinola.

Podemos calcular o que isso significou para os espanhóis, humilhados por anos de guerras e desmandos. Algum tempo depois, a Espanha, de novo exangue com outras derrotas, o rei se lembra de pedir a Velázquez que retrate esse momento de glória. Será sua única obra de tema histórico.

Também conhecido como “As lanças”, o óleo sobre tela de 3m07 × 3m67 cm, é considerado por grande parte dos críticos de arte como a tela mais perfeitamente equilibrada do pintor. O quadro faz que o espectador, encantado por sua beleza, pela força e originalidade da composição, seja levado para dentro da cena, quando a praça forte de Breda, antes considerada inexpugnável, é entregue pelos vencidos aos vencedores. O general vitorioso está à nossa direita e o holandês, Justijn van Nassau, à nossa esquerda.

Apesar das aparências, os dois campos não confraternizaram. O fim de um sítio de dez meses deixou marcas tenebrosas que podemos calcular olhando para o fundo da tela. O gesto aparentemente afável de Ambrógio nos remete ao fato de que ele não era nem espanhol, nem holandês. Como Velásquez não esteve em Breda, nem era militar, baseou-se em relatos feitos a ele pelo general genovês, na segunda viagem que fez à Itália.

Mas é só olhar com olhos de ver as expressões dos soldados, dos dois lados, voltados para nós, os espectadores, e captar suas mensagens...

Acervo Museu do Prado, Madrid 

(Publicado originalmente em 12 de março de 2009) 

Fonte:Blog do Noblat

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

O maior castigo para aqueles que não se interessam por política, é que serão governados pelos que se interessam.  (Arnold Toynbee)

FRASES ILUSTRADAS


NÃO TROPECE NA LÍNGUA


POLICIAL-MILITAR: SUBSTANTIVOS E ADJETIVOS COMPOSTOS

--- O que distingue o substantivo composto do adjetivo composto? Tiago Jeremias, Itaí/SP

--- É correto escrever sócio-titular e sócio-dependente com hífen? Cristine Nolêto Alves, Brasília/DF

O substantivo composto e o adjetivo composto mantêm as características próprias do substantivo [dá nome aos seres] e do adjetivo [qualifica ou caracteriza os seres], o que determina uma formação diferenciada entre os dois. 

O substantivo composto é formado principalmente por:

- SUBSTANTIVO + SUBSTANTIVO (às vezes com preposição no meio): 
hotel-fazenda, hospital-dia, situação-problema, licença-maternidade, vale-refeição, público-alvo, tempo-limite, diretor-presidente, bicho-da-seda, cor-de-rosa

- SUBSTANTIVO + ADJETIVO ou adjetivo + substantivo: alto-mar, cachorro-quente, batata-doce, boia-fria, curta-metragem, dedo-duro, má-fé

- VERBO + SUBSTANTIVO: bate-boca, beija-flor, conta-gotas, guarda-sol, porta-aviões, saca-rolhas, vira-lata

O adjetivo composto é formado de dois ou três adjetivos, isto é:

- ADJETIVO + ADJETIVO: administrativo-financeiro, afro-brasileiro, político-partidário, sócio-histórico-cultural 

CASOS SUTIS 

Existem alguns casos, bem mais sutis, que podem confundir o redator, levando-o a não perceber que dois vocábulos podem estar formando um adjetivo composto. Isso ocorre quando a mesma palavra funciona ora como substantivo, ora como adjetivo. Uma boa maneira de distinguir um do outro é observar o uso (às vezes implícito) do artigo, que sempre estará determinando o substantivo, e não o adjetivo. Vamos exemplificar a situação com as palavras policial e militar.

SUBSTANTIVO (para melhor percepção do substantivo, grifamos o artigo também):

Dizem que um policial está envolvido na trama.

O militar chegou cedo ao quartel.

ADJETIVO:

Será feita uma minuciosa investigação policial.

O material pertence à Polícia Militar.

SUBSTANTIVO E ADJETIVO juntos (não há um composto):

Será homenageado o policial militar que se sobressaiu na operação.

ADJETIVO COMPOSTO:

Abriu um inquérito policial-militar contra o então bispo de Volta Redonda.

Favor procurar o Destacamento Policial-Militar.

É importante lembrar que o adjetivo só se liga a um substantivo por hífen quando juntos formam nova unidade semântica, ou seja, quando perdem seu sentido literal e passam a transmitir nova ideia. Assim sendo, em relação à segunda pergunta, não há razão para unir com hífen sócio titular e sócio dependente, pois o adjetivo aí não perde seu sentido original: trata-se de um sócio que tem a característica de ser efetivo ou titular (assim com juiz titular e professor titular) e um sócio que depende de outro. O hífen não mudaria o sentido das palavras, da maneira como acontece com “cachorro quente” e “mesa redonda” contrapondo-se a cachorro-quente e mesa-redonda, por exemplo. Diferente é o caso de sócio-gerente, em que temos a união de dois substantivos: um sócio que é ao mesmo tempo gerente.

Como despedida da coluna Não Tropece na Língua, vimos apenas um resumo da formação dos compostos. Informações mais completas sobre essa questão podem ser encontradas no livro Só Palavras Compostas, disponível no sítio Língua Brasil, ou no Manual da Boa Escrita: vírgula, crase, palavras compostas (Ed. Lexikon, 2014). 

Fonte: www.linguabrasil.com.br

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Onde acaba a lei começa a tirania. (William Pitt, ex-Primeiro-ministro inglês, 1759-1806)

FRASES ILUSTRADAS

A ORDEM

A ORDEM
Por Sérgio Jockymann

Pois, quando o Brasil entrou na guerra, o coronel já tinha se aposentado e entregue a Prefeitura para o dr. Aristides, que por sua vez havia entregue a sub-prefeitura de Capão Alto para o Borrachudo, seu desilustre cunhado. O Borrachudo, que na verdade se chamava Olegário, havia apanhado o apelido por culpa de uma dama, que assediada insistentemente por ele, explodiu: 

- Mais chato do que tu, só mosquito borrachudo.

No dia seguinte não existia mais Olegário. O Borrachudo estava definitivamente batizado. Não gostou muito da transformação, mas como tudo habitua neste mundo de Deus, depois de dois anos, até assinava documento com o apelido. O Borrachudo não era mau sujeito. Era apenas uma nulidade completa, dessas que já nasce e fica nulidade sem a ajuda de ninguém. Sua única virtude era ter uma irmã bonita, que casou com o dr. Aristides e levou o irmão no enxoval. Marido e cunhado nunca se deram bem e a malquerença começou já na noite de núpcias quando o Borrachudo teve a brilhante idéia de abrir o quarto nupcial para perguntar aos noivos se tudo estava bem. No momento, os noivos não estavam muito bem e dizem que o dr. Aristides levantou da cama pedindo uma espingarda aos berros, enquanto o Borrachudo muito surpreso dizia:

- Mas o que é que tem? Ela é minha irmã!

Dali por diante o dr. Aristides fez o possível e o impossível para se livrar do cunhado. Tentou inclusive alistar o Borrachudo na Marinha, o que causou um problema monumental porque o marinheiro se perdeu a caminho do mar e foi detido quando falsificava a assinatura do cunhado numa remessa bancária. Por essas e por outras, que o dr. Aristides quando assumiu a Prefeitura remeteu o Borrachudo para o Capão Alto, que ficava lá no meio do mato e só conseguia comunicação com Vila Velha nos meses de verão, porque no inverno nem jacaré podia andar na estrada.

Para felicidade geral da família, o Borrachudo casou com uma paraguaia Tati-bitati, que só sabia rir como uma desesperada de tudo que o marido falasse. Aí então o Brasil entrou na guerra e o chefe de polícia teve a magnífica idéia de prevenir as autoridades do interior, contra a quinta-coluna. O aviso oficial chegou à Delegacia de Vila Velha, que tirou várias cópias para as subdelegacias. Como Capão Alto nem brigadiano tinha, o Borrachudo recebeu a cópia e uma hora depois já se alarmou.

- Alemão não pode andar de barco nas águas territoriais brasileiras.

Despachou imediatamente um emissário ao cunhado pedindo instruções. O dr. Aristides foi apanhado em pleno almoço, jogou um prato de sopa pela janela, arrancou os cabelos, jurou que um dia mataria o cunhado e remeteu o emissário de volta com uma ordem taxativa:

- Faça o que der na telha.

O Borrachudo no dia seguinte confidenciou à paraguaia que o dr. Aristides, embora fosse seu cunhado, era um relapso.

- O país em perigo e ele não toma providência.

E decidiu imediatamente dar o exemplo. Pregou um cartaz na porta da bodega do seu Salustiano, proibindo terminantemente alemão de navegar nas águas territoriais. Desenhou embaixo um Viva o Brasil e assinou. O cartaz provocou muita discussão na bodega, porque uns insistiam que águas territoriais eram águas paradas e outros teimavam que eram águas correntes. A discussão foi decidida no domingo, quando o Borrachudo entrou na bodega armado de quarenta e quatro e avisou: 

- Preciso de um piquete para prender um espião!

Foi a bodega inteira. Tomaram a picada para o Arroio Muçum, com o Borrachudo na frente cantando o Hino Nacional. Isto é, cantando a primeira parte do Hino Nacional, porque de momento não havia ninguém que soubesse a segunda. O piquete venceu a Coxilha do Degolado e marchou ferozmente para as margens do Arroio Muçum, onde fez alto.

- Lá tá ele.

No meio do Arroio Muçum, seu Herrmann pescava tranqüilamente. O Borrachudo sacou o revólver e berrou:

- Chegue aqui!

Seu Herrmann disse que estava com um jundiá na linha, mas o Borrachudo não aceitou a desculpa.

- Chegue aqui se não atiro!

Seu Herrmann piscou várias vezes, mas como era acostumado a obedecer primeiro e perguntar depois, remou para a margem. Mal pôs os pés em terra, foi preso.

- Agora é a lei. Alemão não pode andar em água brasileira.

Seu Herrmann disse que não era alemão e o Borrachudo quase teve um ataque.

- Mas o teu desplante, alemão! Todo mundo sabe que teu avô veio da Alemanha. Tá preso.

E foi assim que, na semana seguinte, seu Herrmann foi acusado de espionagem nas águas do Arroio Muçum e enviado a Porto Alegre, onde levou exatamente um ano e dois meses para provar que só estava pescando jundiá e, assim mesmo, só conseguiu sair depois que jurou que jamais residiria a menos de cem quilômetros do mar. E para desespero do dr. Aristides, o Borrachudo recebeu uma carta de Washington, louvando o seu zelo pela defesa do continente americano. (JOCKYMANN, Sérgio. VilaVelha, Porto Alegre : Editora Garatuja, 1975, p. 18)