sábado, 2 de novembro de 2019

APORELY PRESTA EXAMES

APORELY PRESTA EXAMES

Aparício Torelly, o posteriormente famoso Barão de Itararé - título autoconcedido em homenagem à maior batalha da Revolução de 30, que acabou não acontecendo - cursou durante anos a Faculdade de Medicina. Como não estudava, repetiu de ano várias vezes, não conseguindo concluir o curso. 

Nas provas orais, diante de professores cansados de propor questões de cuja resposta Aporely, geralmente, sequer desconfiava, aconteceram pequenas maravilhas.

O catedrático, farto, puxou um osso de dentro da gaveta e apontou-o para Aporely:

- O senhor sabe o que é isto?

- Não senhor.

- Então deixe que lhe apresente: é um fêmur.

Aporely levantou-se e, segurando solenemente o osso pela outra ponta:

- Muito prazer.

A um exausto e sarcástico examinador, que propôs arriscasse, pelo menos, algum palpite, respondeu:

- Palpite só no prado.

A outro mestre, cansado, que fazia a última pergunta, bem fácil, para vê-lo acertar pelo menos uma:

- Seu Torelly, quantos rins nós temos?

- Quatro, professor.

- Quatro?

- Sim. Os seus mais os meus.

Durante um exame, a questão versava sobre os produtos naturais em que o carvão estava presente - desde o "carbono natural" ao "negro animal"; o inquiridor, brincando, fez um trocadilho, ao flexionar significativamente as palavras:

- Me dá um exemplo de carvão, bruto!

Aporely respondeu a pergunta corretamente, mas também não deixou de sugerir a pausa vocativa:

- Negro, animal!

Em outra oportunidade, a sala estava repleta, com várias bancas examinando simultaneamente. Entrou um servente e perguntou aos professores se desejavam alguma coisa. O que questionava Aporely disse, em alto em bom som, gozando o aluno que nada sabia:

- Traga um fardo de alfafa.

O bedel já saindo, sua mão girando o trinco da porta, quando Aporely levantou o indicador e gritou:

- ... E, para mim, um cafezinho.

Até que - finamente - depois de muitas tentativas infrutíferas, Aporely conseguiu passar de ano! Resolveu festejar condignamente. Morava numa pensão da Rua da Praia, em cujo andar superior havia uma sacada de ferro com corrimão de madeira. Na época, noticiando as festas oficiais, os jornais diziam que "as repartições públicas foram embandeiradas e iluminadas". Era já noitinha quando Aporely espalhou pela sacada dezenas de bandeirinhas nacionais e colocou sobre o corrimão cerca de cinqüenta velas acesas. De lá, à pequena multidão de curiosos, acenava e inventava discursos acalorados... (SÁ JUNIOR. Renato Maciel de, Anedotário da Rua da Praia, Porto Alegre: Editora Globo, 1982, p. 7)

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