domingo, 14 de abril de 2024

IMIGRANTES E REFUGIADOS

Enquanto aguardávamos a chegada do nosso trem para Faenza, travei um bate-papo com uma mulher que também tomaria o mesmo trem. Seu destino era Rimini. Na conversa fiquei sabendo que ela também era neta de italianos. Gente do sul da Itália que emigrou para a África. Praticamente as mesmas dificuldades dos nossos antepassados. Contudo, o mais contundente de tudo, foi o relato que ela fez sobre as consequências sofridas pela sua família após a derrota da Itália na Segunda Guerra Mundial, por volta do ano 1943. Segundo ela, os franceses avançaram sobre o patrimônio dos italianos. O pai dela era farmacêutico e sob a acusação de ser fascista, teve o seu estabelecimento sequestrado, sendo que ele foi enviado para um campo de concentração ou de trabalhos forçados onde acabou morrendo. Ela tinha sete meses de idade. Não demonstrou rancor contra os franceses. Antes, mencionou outras perseguições, como aquela dos dias atuais contra italianos e cristãos de um modo geral na Líbia.

A conversa foi bem oportuna porquanto havia em Bolonha uma interessante mostra sobre sapatos e a relação/importância dos mesmos nas grandes movimentações humanas, seja por guerras, por necessidade de emigrar, etc.

Foi intitulada "As raízes do caminhar". Além de sapatos fisicamente expostos várias fotos e descrições dos mais variados eventos mundiais procuravam demonstrar o quão importante é na vida das pessoas aquele objeto de uso pessoal.

Alguns desses eventos eram bem recentes para não dizer atuais, bastando atentar para a realidade dos refugiados que diariamente aportam às costas europeias.

A violência que sucedeu a desintegração da antiga Iugoslávia, por exemplo, anda bem marcada na vida dos sobreviventes.


No particular, lembro de uma reportagem da TV italiana em que uma senhora, octogenária ou mais, aos prantos resumia a intolerância humana. 

Segundo ela, depois da primeira guerra mundial, a Itália havia perdido parte do seu território, onde ela morava, em favor da Croácia, se bem me lembro. 

Então ela e seus familiares, na Croácia, passaram a ser tratados como italianos, marcados assim, pelo estigma de serem estrangeiros.

Com a violência instalada depois do desmanche da Iugoslávia, mudaram para a Itália e então ela se queixava:

- Lá éramos tratados como italianos, ou seja, como estrangeiros e agora que estamos na Itália somos tratados como croatas, ou seja, continuamos estrangeiros.

Compreendi bem o drama da nossa interlocutora na estação de trem e muito sobre o significado e importância da mostra "As raízes do caminhar".

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