quinta-feira, 16 de outubro de 2025

A DELICADA ARTE DE VIVER MUITO

Foto: Pixabay
 
*Mario Donato D’Angelo médico e pesquisador

Viver muito sempre foi, por séculos, uma raridade quase mítica. Era coisa de avó centenária que conhecia a cura das doenças no cheiro do mato, ou de personagem de romance russo, desses que morriam em São Petersburgo, sob a neve, citando Aristóteles em voz embargada. Longevidade era exceção. Agora virou estatística.

Vivemos mais. Isso é fato. A medicina avançou, os antibióticos viraram gente da casa, o colesterol passou a ser vigiado como se fosse um criminoso reincidente. A expectativa de vida subiu, e com ela a ideia, quase ingênua, de que bastaria durar para que tudo desse certo. Mas viver muito não é a mesma coisa que viver bem. E é aí que começa a grande arte.

Porque a verdade é que a longevidade chegou antes do manual de instruções. Achávamos que envelhecer seria como alcançar um mirante: olhar para trás com serenidade, cruzar os braços sobre o próprio legado, saborear os frutos de uma vida bem vivida. Mas a velhice, como a infância, exige cuidados diários, e também alguma poesia.

O corpo, esse velho cúmplice, começa a dar sinais de que o tempo passou. As juntas rangem como portas de armário antigo, os reflexos hesitam, os músculos se retraem. Mas não é só o corpo que envelhece: às vezes o mundo ao redor também se torna estranho, distante. Os amigos partem, os filhos se dispersam, as calçadas ganham degraus invisíveis. E de repente, o que mais dói não é o quadril, é o silêncio.

E então vem ela: a queda.

Não só a queda literal, essa que acontece no banheiro, no degrau da padaria, na pressa inocente de atravessar a rua. Mas a queda simbólica: do entusiasmo, da autonomia, da autoconfiança. A queda de uma imagem de si mesmo que antes era firme, decidida, ágil. A queda de um modo de viver que não se encaixa mais no corpo que agora abriga a alma com mais cuidado.

A Organização Mundial da Saúde diz que um terço dos idosos sofre uma queda por ano. E essa queda pode ser o primeiro passo de uma jornada difícil: fraturas, cirurgias, internações, perdas, de mobilidade, de independência, de ânimo. Mas veja bem: não se trata de um alerta sombrio. Trata-se, aqui, de um chamado amoroso à reinvenção.

Porque o envelhecimento também pode ser reinício. E preparar-se para ele é como preparar um jardim: exige tempo, presença, escolhas. É preciso cultivar força, sim, não para carregar sacos de cimento, mas para levantar-se da cadeira com leveza e poder abraçar um neto sem receio de tombar. É preciso elasticidade, não só nos músculos, mas nas ideias. E é preciso algo ainda mais raro: gentileza consigo mesmo.

Não se trata de negar a velhice. Ela chega, queira-se ou não, com suas rugas e suas lentidões, com seus esquecimentos charmosos e suas manias de repetir histórias. Mas há velhices e velhices. E há aquelas que florescem, porque foram cuidadas, porque tiveram sol e sombra, porque foram vividas com afeto, com liberdade, com algum humor.

Sim, o humor. Ele é, talvez, o músculo mais importante a ser mantido. Porque rir de si mesmo, das gafes, das perdas de memória, do tropeço nas palavras, é um jeito de desarmar o tempo. O velho ranzinza é um clichê injusto, há velhos encantadores, que dançam bolero na sala com o ventilador ligado e o cachorro olhando desconfiado. Que tomam vinho com moderação e sorvete sem culpa. Que, aos oitenta, aprendem a usar o celular, e ainda erram, mas riem do erro.

A longevidade, quando bem-vivida, é como uma tarde longa e luminosa. Daquelas em que o sol demora a ir embora e o tempo parece suspenso entre uma lembrança e outra. Não é preciso correr. Nem competir. Basta estar inteiro: corpo e alma em compasso.

É isso que propomos aqui: um olhar amoroso para o futuro que já chegou. A velhice não precisa ser sinônimo de decadência. Pode ser plenitude.

E envelhecer bem não é luxo, nem sorte, é construção diária. Com passos firmes, com gestos suaves, com a força das pernas e o riso no rosto. Com o cuidado do corpo, sim, mas também com a ternura da memória.

Porque o segredo não é apenas viver muito.

É fazer da longevidade uma arte íntima, uma coordenação delicada entre o tempo e o desejo.

E que, ao final, quando chegar a noite, a gente possa dizer, com lucidez e com alegria “Foi bom ter vivido tanto. Mas foi melhor ainda ter vivido bem.”

Fonte: https://diariodepetropolis.com.br/
Uma conclusão é o lugar a que chegaste cansado de pensar. (anônimo)

LUGARES

GENEBRA - SUÍÇA

A Ponte do Monte Branco é uma ponte rodoviária que atravessa o Lago Genebra, conectando as margens esquerda e direita da cidade.  Ela oferece vistas panorâmicas do famoso Jet d'Eau de Genebra e, em dias claros, do Monte Branco ao fundo. A ponte é uma importante via de tráfego e um ponto de referência icônico da cidade.

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quarta-feira, 15 de outubro de 2025

HOTEL DE LUXO

Houve um tempo que o Hotel Plaza de Itapema, era o supra sumo do luxo. Quatro casais de Caxias do Sul, habitualmente passavam alguns dias de férias naquele aprazível local. Era necessário programar as reservas com meses de antecedência. 

Num determinado verão, um casal não poderia acompanhar os demais, o que poderia ocasionar a perda do direito de próximas reservas. 

Amigos muito próximos do Cláudio convidaram-no para preencher a reserva do colega desistente. O Cláudio aceitou, embora os preços da estadia fossem salgados. Mas como ele sempre dizia: “pobre mas orgulhoso". 

Instalados, todos foram desfrutar da bela manhã de sol. À beira da piscina um garçom impecavelmente trajado atendia os felizes hóspedes, trazendo bebidas, petiscos, etc. 

Veio a conta e o Cláudio, como de hábito, conferiu item por item. O que destoava mesmo eram os valores lançados na comanda. Seguiu-se um comentário do Cláudio quanto aos preços ali praticados, quando o garçom, muito espirituoso, retrucou: 

- Desculpe Dr. Os preços não são caros. O senhor é que está ganhando pouco. (Fecha a cortina)
Existe uma certa Lei Eterna, a razão, habitando a mente de Deus e governando todo o Universo. (São Tomás de Aquino, teólogo italiano, 1224/25-1274)

LUGARES

MONREALE - ITÁLIA

A imagem mostra uma vista de Monreale, uma cidade na Sicília, Itália. Monreale é conhecida pela sua imponente Catedral, que é um Patrimônio Mundial da UNESCO. O nome "Monreale" deriva do latim "Mons regalis", que significa "montanha digna do rei", em referência à sua localização e à construção da Catedral no século XII. A cidade está localizada perto de Palermo, a capital da Sicília, e oferece vistas panorâmicas da região. A arquitetura da cidade, com seus edifícios históricos e palmeiras, é característica da região mediterrânea.

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terça-feira, 14 de outubro de 2025

SEPARAR-SE NÃO É SEMPRE UM PONTO FINAL

Fabrício Carpinejar
Fabrício Carpinejar

Separar-se não é decidir. É se distanciar da neurose colada ao amor, que não permite ver nem a si e nem ao outro com clareza.

Separar-se é pensar sem a necessidade imediata de corresponder às expectativas.

Não é um ponto final, é um parênteses para recuperar o espaço individual na dinâmica de casal.

O impulso é entender o fim como desamor, ruptura, abandono. A resposta é a menos sofisticada possível, costuma ser apenas exaustão. O cansaço impede o raciocínio e o desencontro momentâneo e forçado é um pedido de socorro para repor o equilíbrio.

A separação não é um passo para trás ou um passo para nunca mais, pode ser um passo para o lado, para não enlouquecer ou quebrar de vez.

O ideal é amadurecer dentro da relação, ajustando o ritmo na convivência, cedendo e aprendendo, mas muitas pessoas só conseguem se transformar sozinhas. Dependem do silêncio e da solidão, para negociar prazos com os seus defeitos. Só dão conta de seus erros quando são descobertas, não por imposição ou cobrança do outro.

Há ainda os que unicamente percebem o par na falta. Estão ao lado e lhes parece natural, não fruto de uma conquista. Precisam perder para reaver o valor. E quando o tem de volta já esquecem o exercício da sedução. Misturam amor e saudade, como se fossem sinônimos.

Separar-se tende a ser uma trégua. O que atrapalha a reconciliação é a pressão para que o tempo longe seja o menor possível. O que se vê é chantagem da carência, ultimatos do desespero, contagem regressiva do reato sob a pena de "nunca mais se falar".

Em toda a separação, o tempo é, a princípio, provisório. Torna-se definitivo pelo modo torto de reagir à notícia.

Demonizamos o afastamento. A insistência em permanecer junto, mesmo na precariedade, é o medo de que a companhia encontre alguém melhor durante o período ou perceba que realmente não gosta mais.

Todos têm o direito de se afastar. Amar jamais será um dever.

Fonte: O Globo
O homem não pode viver sem tentar descrever e explicar o universo. (Isaiah Berlin, filósofo americano)

LUGARES

FLORES DA CUNHA - RS

A imagem mostra o Monumento ao Galo, um símbolo icónico de Flores da Cunha, uma cidade no Rio Grande do Sul, Brasil. A cidade é conhecida como a "Terra do Galo" devido a um episódio ocorrido por volta de 1934. Um mágico teria passado pela cidade e prometido, durante um espetáculo, que cortaria a cabeça de um galo e, através de um truque de magia, a uniria novamente, fazendo o galo cantar de novo. No entanto, o mágico não conseguiu cumprir a promessa e fugiu com o dinheiro dos ingressos. Apesar do desfecho, o galo tornou-se um símbolo marcante para a cidade, sendo homenageado com este monumento, presente na bandeira municipal e em marcas de produtos locais.

FRASES ILUSTRADAS

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

A VOZ DE 40 GRAUS DE FEBRE

 Ruy Castro

Que homem seria capaz de encarar uma mulher com a voz de Iris Lettieri? Nenhum de nós, mortais

Os obituários sobre a locutora Iris Lettieri, morta no dia 28 último aos 84 anos, foram técnicos e profissionais. Informaram que ela morrera de infarto em seu apartamento em Botafogo e que, em 1976, depois de breve carreira como apresentadora de telejornais, fora contratada pela Infraero para anunciar as chegadas e partidas dos aviões no Aeroporto Internacional do Rio. E que, então, se tornara "a voz do Galeão".

É verdade. Mas é pouco. Duas gerações de usuários do Galeão, nacionais e estrangeiros, se apaixonaram por Iris. Na verdade, apaixonaram-se por sua voz, sem saber quem estava por trás dela. E talvez fosse melhor não saber, porque era a voz de uma mulher deslumbrante, imperturbável, inatingível, consciente de seu supremo poder de sedução. Uma voz de febre de 40 graus, como se saísse de um subterrâneo acetinado, em que até as pausas diziam coisas. Que homem seria capaz de encarar essa mulher? Não nós, mortais.

Os sobreviventes dos anos 60 a conheciam dos jornais da TV Tupi e, de óculos, que usava no dia-a-dia, nos anúncios das Óticas Fluminense. Mas poucos ligavam o nome à figura —a mulher da TV não tinha a sua voz, e a voz do aeroporto não tinha rosto nem nome. Nem precisava. Ao ouvir, no Galeão, "Varig... Vôo 276... Para Cuiabá... Embarque... Portão cinco...", queríamos embarcar com ela, para Cuiabá ou para onde fosse.

Na vida real, Íris era bonita, mas nada que lembrasse a voz do Galeão —mesmo porque, fora do microfone, não a usava. Falava com suave entonação natural, algo mais aguda, e achava graça quando, ao sabê-la de 1,60m, as pessoas não escondiam sua decepção. Parecia até se envaidecer com isso. Era a prova de que, apenas com a voz, virava a cabeça dos homens.

Na única vez em que nos falamos, na loja Modern Sound, explicou-me que sua locução era feita de palavras isoladas, depois rearranjadas eletronicamente para se adaptar aos aeroportos de outras cidades que agora a usavam. Iris não era mais apenas a voz do Galeão. Era a voz do Brasil.

Fonte: Folha de S. Paulo - 14.set.2025
As novelas são a história dos desejos humanos. (Napoleão Bonaparte, Imperador Francês, 1759-1821)

LUGARES

SCHIO - ITÁLIA

A imagem mostra a Igreja de San Pietro em Schio, Itália. A igreja, também conhecida como Duomo de Schio, é um edifício imponente com uma fachada neoclássica e colunas grandiosas, situada em uma posição elevada na cidade.

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domingo, 12 de outubro de 2025

PEGADINHAS DO GPS (I)

Nosso plano de viagem consistia em permanecer alguns dias em Paris e depois, pela primeira vez, faríamos um passeio de carro. Iríamos em direção à Alsácia e de lá para a Toscana na Itália, visitando antes os nossos amigos Bruna e Michele na Ligúria. 

Providenciei um GPS com mapas atualizados da França e da Itália. No último dia em Paris fomos a Montmartre e levei comigo a então nova maravilha dos viajantes. 

Se de um lado o GPS criava facilidades para seus usuários, por outro lado era preciso familiarizar-se com o mesmo. Minha intenção era chegar até o edifício do Grande Oriente de França a partir da Igreja de Sacre Coeur, pontos não muito distantes um do outro. Feita a programação passei a seguir as instruções e cheguei ao meu destino sem maiores problemas. 

No dia seguinte, confiante no meu novo guia, tomamos um taxi e fomos até a locadora, de onde iniciaríamos a segunda parte do nosso passeio. Segundo havíamos conversado com o nosso amigo Ruggero, a localização da locadora favorecia o nosso roteiro visto que já ficava para os lados que pretendíamos percorrer. 

Após as formalidades burocráticas, familiarizado com o Peugeot 207, saímos à rua, e assim que o sinal do satélite disse "presente", programei nosso próximo destino como sendo a cidade de Provins. Seguindo as instruções sonoras, notei que algo não estava tão de acordo como era esperado já que o movimento de veículos era cada vez maior e não nos afastávamos da cidade, antes, era visível que nela penetrávamos cada vez mais. Até que a paisagem passou a se tornar familiar. Algumas ruas, prédios e até a posição solar indicava que estávamos em Montmartre quando finalmente aquela voz feminina do GPS me parabenizou por ter chegado ao destino solicitado. Estávamos defronte ao prédio do Grande Oriente de França, justamente onde estivéramos no dia anterior. 

Estacionei em lugar permitido e me pus a reprogramar a dita maravilha eletrônica. Como eu não tinha zerado os itinerários, o ponto final ficou sendo aquele registrado no dia anterior e a máquina, com inteira obediência, atendeu à determinação que lhe foi dada. 

Afora o pequeno incidente e assimilado mais um item do conhecimento da modernidade, o GPS nos conduziu na direção pretendida, não sem antes transitar pelo centro de Paris, costeando o Sena e tudo o mais. Por sorte não tivemos que enfrentar aquela maluquice que é sair do contorno do Arco do Triunfo. 

Afora este pequeno incidente, em linhas gerais o GPS se mostrou uma ferramenta fantástica a serviço dos viajantes, principalmente por que já não se faz necessária a pesquisa incessante a mapas rodoviários. Não que os mesmos sejam dispensáveis. Ao contrário, é muito útil tê-los sempre à mão posto que vez por outra as estradas apresentam mudanças ainda não inseridas no satélite. Não que exista o perigo de se perder. O perigo é o GPS organizar uma nova rota, impondo, por vez uma sobrecarga na quilometragem. 
A verdade é sempre estranha; mais estranha do que a ficção. (Lord Byron, poeta inglês, 1788-1824)

LUGARES

BRUGES - BÉLGICA

Bruges, a capital da província de Flandres Ocidental, no noroeste da Bélgica, distingue-se pelos canais, pelas ruas de paralelepípedos e pelas construções medievais. O porto da cidade, Zeebrugge, é um importante centro para a pesca e o comércio europeu. Na Praça Burg, localizada no centro da cidade, o Stadhuis (prefeitura), do século XIV, conta com um elaborado teto esculpido. Perto dali, a Praça Markt tem um campanário do século XIII com um carrilhão com 47 sinos e uma torre de 83 metros que oferece vistas panorâmicas. ― Google

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