sexta-feira, 27 de novembro de 2020

MR. MILES


Prezado mr. Miles: já li algumas histórias sobre as diferentes mão de direção no tráfego ao redor do mundo e gostaria de saber por que os Estados Unidos não usam a mão inglesa, já que vocês os colonizaram.
Alois Hawk, por email 

Well, my friend: já tive a oportunidade de discorrer sobre esse assunto desagradável em longínqua correspondência do passado. Mas folgo em repetir que só existe uma legítima mão de direção, que é a nossa, à moda inglesa. A outra maneira de conduzir é apenas o resultado de um capricho de Napoleão Bonaparte, que acabou, unfortunately, consagrando um erro. Senão vejamos: presume-se que os povos da Antiguidade sempre trafegavam pelo lado esquerdo. Uma bem conservado caminho romano descoberto aqui perto, em Sweney, corrobora, pela profundidade dos sulcos registrados pelos arqueólogo que, in fact, desde sua tenra infância, os povos já sabiam o que fazer. E a explicação, by the way, é de uma simplicidade conclusiva: já que a maioria dos humanos é destra, era importante cavalgar com a mão direita livre para poder saudar ou lutar contra o transeunte que viesse no sentido contrário. Very easy, isn't it?

Infelizmente para a história, aquele franco-corso baixinho e poderoso que veio a comandar as hostes gaulêsas era canhoto. E assim, por capricho, criou a mão errada.

Well: cerca de 35% das estradas mundiais, at least, ainda são dedicadas a veículos como os nossos, aqui na Grã-Bretanha. As demais converteram-se por motivos diversos.

Sobre a sua questão específica, dear Alois, informo que os americanos do norte — certamente ingratos pelo que legamos a eles — , vieram da mão inglesa para a equivocada ao longo do tempo. A primeira cidade a fazê-lo, em 1792, foi a Filadélfia. E a que resistiu mais tempo foi New Jersey, que, well, saiu do armário em 1813.

É bom que você e os demais leitores saibam que o Brasil só adotou a mão francesa em 1928, seis anos após o centenário de sua independência. Antes disso, I must say, não haviam regras. Reinava o caos. Carruagens, caleches, e diligências andavam por onde queriam, com seus cocheiros de libré soltando impropérios, como eu mesmo ví no Rio de Janeiro, durante a Exposição Comemorativa do Centenário da Independência.

Ainda sobre o tema, é preciso lembrar que, até hoje, inúmeros países não definiram por que lado do caminho preferem seguir, de modo que há mudanças de província para província ou cidade para cidade. O leste da Rússia, por exemplo têm áreas com a mão corretamente britânica. Na China, Hong Kong e Macau andam pelo lado certo. Já Pequim e Xangai adotaram o galicismo.

O mais curioso são os lugares onde predomina um sentido e os carros que circulam foram projetados para o sentido contrário. As Ilhas Virgens Americanas, for instance, seguem o nosso sistema de trânsito, herdado de seus antigos colonizadores dinamarquêses. However, só existem, por lá, carros americanos. Ou seja: é o que vocês chamariam de Samba do Crioulo Doido. Situação exatamente inversa ocorre em Mianmá e no Afeganistão: tráfego à francesa, veículos à inglesa. In other words, dear Alois: o que está feito, está feito. Não será nem a primeira, nem a última vez que a maioria escolhe os caminhos errados. 

Don't you agree?

Fonte: Mr. Miles - Facebook

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