COMO APRENDI UM POUCO DE PORTUGUÊS
Hi, dear Mr. Miles. Eu 
adoro os artigos que o Sr. escreve. Não entendo como o Sr.possa escrever
 com um português tão lindo!! Acho que o Sr. tem um “ghost writer” que 
faça isso para o Sr. Eu já estou no Brasil uns 45 anos (sic) e não 
consigo ainda “master” esta língua. Parabéns e continua (sic) com o good
 work.
Doreen Wei, por email
Doreen, my darling, sua correspondência é gentil e lisonjeira. The 
truth, my dear, é que tenho um apreço especial pela última flor do 
Lácio, inculta e bela, a um tempo esplendor e sepultura. É um idioma que
 me intrigou desde a primeira vez que o conheci. Minha incorrigível 
lógica saxônica, for instance, não podia aceitar, sem espanto, 
conversar com pessoas que diziam “Pois não” significando sim e “Pois 
sim” significando não. It’s amazing, isn’t it?
Certa vez, fiz uma 
proposta romântica para uma jovem encantadora em um sarau no Maranhão e 
sua resposta foi “Pois sim”, o que me deixou nas nuvens. Entretanto, 
Doreen, daquele momento em diante ela tornou-se arredia e eu só fui 
compreender minha gafe meses mais tarde quando, em nova investida, ouvi 
um “pois não”, seguido de  um beijo longo e enlevante.
Ainda assim, 
Doreen, confesso que jamais teria ido tão longe no português se não 
tivesse conhecido, casualmente, no México (em 1955, if I remember), o 
saudoso amigo Aurélio, que vocês, no Brasil, alcunharam de Aurelião. 
Aurélio dava aulas de Estudos Brasileiros em uma Universidade local e 
encontramo-nos várias vezes, com outros professores, em bares da cidade.
 Contei a ele de meu apreço pelo português e sorví, encantado, seu rico 
vocabulário. O mais curioso, my dear Doreen, é que Aurélio tinha o 
peculiar hábito de explicar tudo o que dizia com muita clareza. Por 
exemplo: “Miles, veja como esta moça é bela, ou seja, tem forma 
agradável, perfeita e proporções harmônicas; ou seja: é elevada, boa, 
generosa, amena; ou seja: tem um conjunto de qualidades despertadores de
 um sentimento elevado de de prazer e admiração”.
No começo 
estranhei um pouco, mas acabei me habituando. Um dia, ao ver uma moça de
 vida fácil esgueirando-se bar adentro, Aurélio olhou com curiosidade, 
virou-se para mim e despejou: “Sabe como chamamos esse tipo de moça no 
Brasil? Pois aprenda uma:” — disse, no seu sotaque alagoano de Passo de 
Camaragibe “É bagageira, biraia, catraia, china, bruaca, findinga, 
gança, marafantona, jereba, loureira, murixaba, pécora, quenga, rascoa, 
sutrão, ventena, zabaneira e zoina. Só para lhe dar alguns exemplos da 
variedade de nosso idioma, meu amigo.”
Não é de admirar que acabei enriquecendo meu pequeno dicionário da língua portuguêsa, isn’t it?
Fonte: Facebook

 
 
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