quarta-feira, 30 de junho de 2021

A LUANA E O PEDRO: ANTES E DEPOIS DA COVID

A LUANA E O PEDRO: ANTES E DEPOIS DA COVID
Pedro Hallal

Havia muito sobre o que escrever, mas é hora de mostrar o lado humano das coisas

Havia muito sobre o que escrever essa semana, após o depoimento na CPI e a revelação de um possível esquema de corrupção. Mas não tive dúvidas: era a hora de mostrar o lado humano das coisas.

Após o meu depoimento na CPI, recebi uma mensagem de WhatsApp de um número desconhecido. Eram palavras carinhosas e cumprimentos da Dra. Luana Araújo, que semanas antes, havia passado pela mesma experiência antropológica de prestar depoimento na CPI da Covid-19.

Imediatamente, respondi a ela que deveríamos escrever um texto juntos e a convidei para redigir a coluna dessa semana comigo.

Portanto, o texto de hoje é assinado por dois profissionais da área da saúde: uma médica, infectologista e epidemiologista, e um professor de educação física, epidemiologista.

Muito mais do que isso, o texto de hoje é de autoria de dois cidadãos que têm muita coisa em comum. Ambos sofremos com a morte de milhares de brasileiros todos os dias. Ambos sabemos que boa parte dessas mortes podem ser evitadas, com mais ciência e menos política. Ambos fomos atacados por extremistas, que utilizam as redes sociais para agredir qualquer um que pense diferente. Ambos somos jovens e queremos ajudar o nosso país a vencer a maior crise sanitária de nossas gerações.

Desde o começo de 2020, estamos em estado de alerta.

A infectologista Luana está na linha de frente, lidando com pacientes que lutam para sobreviver a maior pandemia das nossas gerações. A médica sabe o que funcionou e o que não funcionou para salvar a vida dos seus pacientes. Também é epidemiologista e emprega os estudos científicos mais rigorosos, não só para cuidar de seus pacientes, mas também para definir estratégias de saúde pública de enfrentamento à Covid-19 ao redor do mundo. A infectologista Luana, infelizmente, perdeu pacientes durante essa pandemia, mas também conseguiu ajudar a curar a grande maioria, seguindo sempre os preceitos mais avançados da ciência em um momento turbulento tanto dentro quanto fora da seara científica.

O epidemiologista Pedro luta em outra trincheira. Desenhou e implementou, em tempo recorde, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil. Menos de 20 dias depois da primeira morte por Covid-19 no Rio Grande do Sul, a equipe liderada pelo Dr. Pedro já estava nas ruas, conduzindo pesquisas para auxiliar na compreensão da pandemia. Em um ano e meio, o epidemiologista se manifestou na mídia mais vezes do que o fará em todo o restante de sua carreira.

Tanta a Dra. Luana quanto o Dr. Pedro foram vítimas de perseguição, mas, especialmente, de politicagem. A Dra. Luana, após ser convidada para ser a primeira infectologista na alta gestão do Ministério da Saúde durante o enfrentamento da pandemia, teve o convite desfeito por “desagregar”, com seu comportamento científico, o combate à pandemia de acordo com as posições adotadas pelo Governo Federal.

O Prof. Pedro sofreu tentativa de censura, teve o estudo descontinuado pelo Ministério da Saúde, e ainda sofreu processo persecutório por exercer seu direito de expressão e criticar o presidente da República.

Pior do que isso: aqueles que nos atacam sabem que seus ataques são apenas um gatilho para milhares de desconhecidos nos agredirem nas redes sociais e até presencialmente.

A Covid-19 é uma doença infecciosa, que se tornou epidêmica e depois pandêmica. Nada mais natural do que pessoas como nós, com formação em infectologia e epidemiologia, tenham se colocado desde o primeiro dia com a única intenção de ajudar. Fomos treinados para isso.

Se por um lado, uma multidão nos elogia e segue o que defendemos, por outro, uma minoria nos ataca por questões políticas e ideológicas.

Que país é esse?

Fonte: Folha de S. Paulo

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