quinta-feira, 17 de março de 2022

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


CITAÇÃO & CITAÇÕES
--- É muito comum eu citar apenas trechos de um acórdão ou de uma doutrina, e entre uma citação e outra costumo elaborar a peça, por exemplo, assim:
“aaaaaaa
(...)
aaaaaaaa”.
Pergunto-lhe se essas reticências devem ser colocadas entre parênteses, ou se não, qual é a forma realmente correta. Se omito o início de uma frase é certo citar assim “...aaaaaaa” ou assim “aaaaaaa”? E se a omissão é no interior da frase? Valéria Cristina Barbosa, Frutal/MG
As omissões em citações – permitidas quando não alteram o sentido da frase ou do texto – são indicadas pelo uso de reticências entre parênteses ou entre colchetes. Geralmente elas são utilizadas no interior de um trecho, no meio de uma oração ou entre uma frase e outra; ou entre um parágrafo e outro quando se suprime um parágrafo inteiro. Apenas neste último caso é que se deixam as reticências numa linha sozinha, como Valéria exemplificou acima.  Depois de definir um critério – parênteses ou colchetes –, siga-o até o fim do trabalho. Vamos ver alguns exemplos:
  • As coleções são concebidas na sede do grupo, no Oregon [...], onde está concentrada sua capacidade de design, bem como sua estratégia comercial [Chesnais, 1996, p. 135].
  • O incentivo à criação do mercado mundial é onipresente, assim como o é o incentivo para racionalizar a organização espacial em configurações de produção eficientes (...), redes de circulação (...) e de consumo (...).
  • A questão da automação é a mais carregada de possibilidades positivas e negativas. (...) Há em todas as tendências de vanguarda um derrotismo a propósito da automação, ou no melhor dos casos, uma subestimação dos elementos positivos do futuro cuja proximidade os começos da automação revelam bruscamente (Asger Jorn, op. cit.).
Raramente se encontra esse tipo de notação no início da frase ou trecho citado; ele só é usado quando se omite o verbo, o sujeito ou outra(s) palavra(s) que quebre(m) a sequência do relato ou a estrutura sintática do período. Eis dois exemplos; no primeiro se omite o sujeito sintático [ele]:
  • Assim sendo, como afirma um engenheiro que atua no CGIR, (...) passou dez, doze anos trabalhando em cima de sistema com fio onde ele via as coisas acontecerem. Com a entrada do sistema digital 
  • Quanto ao roubo qualificado contra a vítima, não há como desclassificá-lo para o delito de furto sob o fundamento de que não ocorreu violência ou grave ameaça, tendo em vista seu depoimento prestado em juízo:
“(...) que tão logo entrou no automóvel os acusados nele também ingressaram, tendo um adentrado pela porta dianteira do passageiro e o outro pela porta de trás do lado do motorista etc.”
Cabe mencionar que uma frase pode ser citada desde seu início ou a partir de qualquer palavra (observada a condição de que ela não perca o sentido, é claro), pois só assim o redator tem condição de dar continuidade e fluidez à sua própria frase. E também o corte final da citação fica a critério de quem está citando, daí não ser necessário colocar reticências ao fim da cada período para dizer que o autor citado continua falando. Isso está implícito.
E por falar em colchetes: estes são de praxe quando numa citação de livro ou transcrição de depoimento se enxertam comentários ou palavras para entendimento. Exemplo: 
  • O operador não sai desses comandos aqui, [ele] cumpre rotinas, talvez faça uma coisa assim [faz um gesto circular]. No momento em que a pessoa chega a um nível em que aprendeu as rotinas, satura. Não surgem oportunidades. [breve silêncio] O serviço é muito rotineiro. Não dá, não dá para fugir muito daqui.
Fonte: www.linguabrasil.com.br

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