Morto e soterrado sob a frialdade
da terra
O gerente bancário - depois de um
dia de azáfama - chega à casa, em cidade interiorana, para onde recém se
mudara. Logo recebe, da empregada doméstica, um recado incomodativo.
- ´Teve´ aqui um oficial, deixou
estes papéis e fez eu assinar uma tal de contrafé...
Era uma citação em executivo
fiscal, contra pessoa que, talvez, tivesse residido, um dia, naquela casa. No
dia seguinte, o gerente se mobiliza e descobre que o executado falecera há pelo
menos seis anos. E logo obtem, no registro civil, uma certidão do registro de
óbito.
Ainda assim, preocupado, o
bancário procura um advogado que o tranquiliza e promete liquidar a preocupação
com uma só petição. O profissional da advocacia vai, então, ao teclado e
digita:
"O réu no processo em
epígrafe, mudou-se dessa casa há alguns anos. Também, não pode apresentar os
embargos à execução, porque, segundo consta, estaria morto e soterrado sob a
frialdade inorgânica da terra, em algum cemitério taciturno, alhures.
O executado era um homem idoso e
enfermiço. Se fosse vivo, não poderia pagar esse débito. Hoje, sua alma viaja
além do arco-íris, essa fantástica fantasia de cores primárias que se
aperfeiçoam à luz de um sol nascente e novo, ou sob a vermelhidão da tarde,
depois da sazão das chuvas.
Robustecida alma que ora se
regala e se banha na estanhada lisura das águas tépidas do luzente lago, onde o
cisne do espírito se nutre.
O executado passou. Por essa
razão, devolvemos a citação que recebemos em nossa residência, isto como
demonstrativo da atenção que devemos ao nobre Poder Judiciário".
O juiz recebe o petitório, acha
criativo o conteúdo da peça, mas despacha de forma econômica: "Diga o
exequente".
Alguns depois, o Município
peticiona para que "o feito seja arquivado, sem baixa, para diligências a
fim de tentar localizar o espólio".
Inerte o credor por mais de um
ano, o juiz decreta a extinção do feito: “Que Deus tenha acolhido a alma do
suposto devedor e que o credor conforme-se com o insucesso executivo”.
Aconteceu na comarca de
Catanduvas (SP).
Fonte: www.espacovital.com.br
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