domingo, 13 de dezembro de 2020

SALÃO DE SNOOKER

 SALÃO DE SNOOKER

Conheci o salão de snooker do Paulino no curso dos anos sessenta, em plena ditadura militar. Os jogos de azar haviam sido proibidos por Jânio Quadros e com os militares a proibição ficou bem mais rigorosa. 

Embora o snooker não fosse considerado como jogo de azar, seus ambientes eram vedados a menores de dezoito anos. 

Em Caxias havia um salão, conhecido como "Snooker do Paulino", localizado no centro da cidade e onde gostávamos de ir nas noites de sábado, depois do cinema. Já tínhamos um pouco de barba no rosto e o Paulino fechava um olho, permitindo a nossa permanência. 

Logo na entrada, ultrapassado o espaço destinado ao bar, chegava-se ao salão principal. Diversas mesas com seus tradicionais panos verdes. Luminárias sobre cada mesa de sorte a permitir iluminação rigorosamente igual em todos os cantos de cada mesa. 

O ambiente sempre era fumacento. Era o ambiente em que nós, pirralhos metidos, não podíamos permanecer muito tempo. Uma pena, pois naquele salão jogavam os áses da sinuca. Se havia um local para aprender as manhas ou jogadas de craque era aquele. Mas, as regras da casa falavam mais alto. 

Mesmo assim, na medida do possível fomos descobrindo um mundo novo e uma outra faceta dos que ali se apresentavam para jogar e que conhecíamos de vista, por encontros fortuitos na rua ou nos estádios de futebol. 

Lembro de um tipo único, nunca tirava o chapéu da cabeça, usava gravata e suspensórios. Bigode preto, bem aparado, e quase sempre com um charuto na boca. Em muitos aspectos o ambiente lembrava os filmes de gansters. 

Outros ficavam por ali sentados ou batendo papo com alguém, à espera de algum adversário ou a vacância de uma mesa. 

Para quem era um verdadeiro ás da sinuca, sempre seria um prazer e um desafio jogar contra alguém do mesmo nível ou superior. Só assim poderia aprender mais e mais e aprimorar o seu jogo. Mas também havia aqueles que esperavam algum jogador afoito desafiar um velho profissional. Nestes casos, corriam as apostas. 

Para nós restava descer ao porão. Um imenso salão com algumas dezenas de mesas, onde podíamos dar os primeiros passos para quem sabe, um dia, poder estrear no salão de cima. Para mim, ao menos, este tempo nunca chegou pois nunca consegui o mínimo destaque nesse esporte. 

Me conformava vendo os amigos jogando e vez por outra comia um caqui, frutas que o "seu" Paulino deixava num canto à espera do amadurecimento e deteriorização, para depois elaborar um excelente vinagre caseiro. Lembranças… 

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