segunda-feira, 5 de julho de 2021

CIRURGIA BARIÁTRICA

QUEM FAZ CIRURGIA BARIÁTRICA TAMBÉM DEVE SE EXERCITAR
Bruno Gualano

Acompanhamento de paciente por equipe multidisciplinar é peça-chave no sucesso de longo prazo da intervenção cirúrgica

Os dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE), apontam para o crescimento da obesidade no Brasil. Atualmente, cerca de 1 em cada 4 adultos estão obesos. O que fazer?

Como sabe o leitor, a adoção de um estilo de vida saudável é o pilar da prevenção da obesidade. Porém, pessoas com obesidade grave costumam encontrar dificuldades para aderir a comportamentos saudáveis.

Para casos mais complexos em que o peso excessivo vem acompanhado de doenças que aumentam os riscos de mortalidade –tais como diabetes, hipertensão e insuficiência cardíaca–, um tratamento extremo porém eficaz é a cirurgia bariátrica.

O Brasil ocupa a segunda colocação no ranking dos países que mais realizam esse procedimento (cerca de 68 mil ao ano), atrás somente dos EUA (aproximadamente 250 mil ao ano), onde a obesidade atinge 4 em cada 10 adultos.

Por restringir o volume do estômago e diminuir a absorção dos nutrientes, a cirurgia bariátrica resulta numa substancial perda de peso corporal. Com isso, diversos benefícios clínicos são observados.

Pouco tempo após a cirurgia, pacientes com diabetes podem ser ver livres da doença. Nem mesmo o tratamento intenso com medicamentos faz frente à eficácia da operação no controle dos níveis circulantes de açúcar. Por isso, no contexto do tratamento da diabetes, o procedimento tem sido chamado de “cirurgia metabólica”.

Embora seja uma indiscutível aliada em casos graves de obesidade, a cirurgia bariátrica não dispensa a adoção de um estilo de vida saudável, como revelam estudos conduzidos pelo nosso laboratório, na Universidade de São Paulo.

Em apenas 9 meses, observamos que os benefícios promovidos pela cirurgia tendem a se dissipar. E isso tem a ver com a incapacidade de o paciente adotar um estilo de vida saudável no período pós-operatório. Ao contrário do que se possa imaginar, a cirurgia por si não torna a pessoa mais ativa –para esse fim, a ferramenta é comportamental.

E a boa notícia vem justamente da observação de que pacientes que participam de exercícios supervisionados nos meses seguintes à cirurgia não apresentam retrocessos nas melhoras clínicas. Ao contrário: a atividade física potencializa os benefícios metabólicos e cardiovasculares do procedimento cirúrgico.

Além disso, a prática de exercícios é capaz de prevenir as perdas de massa muscular, funcionalidade e massa óssea –efeitos adversos frequentemente associados à cirurgia.

Portanto, nossos estudos trazem 5 importantes lições:

1) A cirurgia bariátrica é um tratamento importante da obesidade grave, mas seus efeitos positivos são menos duradouros na ausência de modificações do estilo de vida;

2) A prática de exercícios é uma estratégia simples, segura e eficaz que pode sustentar os benefícios e atenuar os efeitos indesejáveis da cirurgia;

3) A obesidade é uma condição complexa e multifatorial, contra a qual não existe uma bala de prata;

4) O procedimento cirúrgico não substitui a boa alimentação e a prática de atividade física no combate à obesidade. A busca por um estilo de vida mais saudável não deve cessar após a operação;

5) O acompanhamento do paciente por uma equipe multidisciplinar é peça-chave no sucesso de longo prazo da intervenção cirúrgica. A inatividade física não se corrige no bisturi.

Lembremos também que a cirurgia bariátrica é coberta pelo Sistema Único de Saúde, felizmente. Assim, assegurar que os dividendos desse procedimento perdurem não deixa de ser um exercício de bom uso dos sempre escassos recursos da saúde.

Fonte: Folha de S. Paulo

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