quarta-feira, 29 de setembro de 2021

OS VERDADEIROS PATRIOTAS E OS CIDADÃOS DE BEM

OS VERDADEIROS PATRIOTAS E OS CIDADÃOS DE BEM
Pedro Hallal

Verdadeiros patriotas são os profissionais do Sistema Único de Saúde, que salvam vidas diariamente, atendendo pacientes doentes, aplicando vacinas

Entre várias notícias relacionadas à pandemia de Covid-19 na última semana, uma chamou muito à atenção: a primeira-dama escolheu se vacinar nos Estados Unidos ao invés de confiar no Plano Nacional de Imunização do Brasil. Essa decisão é um desrespeito com o Brasil, com a população pobre e trabalhadora, mas, principalmente, é um desrespeito com os profissionais de saúde, que se expõem diariamente, atendendo pacientes doentes, aplicando vacinas, ajudando a salvar vidas.

Que patriotismo é esse, que faz com que um cidadão brasileiro, que poderia ter se vacinado em julho no Brasil, somente aceite receber a vacina no final de setembro, nos Estados Unidos?

Que patriotismo é esse, que faz com que um cidadão brasileiro se recuse a receber a vacina no seu país, mas aceite recebê-la nos Estados Unidos?

O mais curioso nisso tudo é que o Brasil, e não os Estados Unidos, é reconhecido internacionalmente como um dos países com a estrutura de vacinação mais sólida do mundo. No Brasil, mais de 90% da população é favorável às vacinas e o movimento antivacina é restrito a pouquíssimos fanáticos. Nos Estados Unidos, há grande dificuldade em ultrapassar 70% da população se vacinando contra a Covid-19, o que, inclusive, tem gerado novos picos de casos e óbitos, especialmente entre os não vacinados e moradores dos estados com alto percentual da população não vacinada.

Para deixar o enredo ainda mais complexo, o próprio presidente do Brasil afirma que não se vacinou e, exatamente por isso, precisou de uma série de autorizações para participar da reunião dos chefes de estado em Nova York. Não adiantou: a comitiva brasileira acabou contaminada, auxiliando na disseminação do vírus.

O presidente, aliás, precisa vir a público explicar os motivos de ainda não ter se vacinado. Como figura pública, e supostamente representante dos patriotas e dos cidadãos de bem, ele deve respostas à sociedade:

Será que ele ainda acredita que a Covid-19 é uma gripezinha, que vai matar menos do que o H1N1, e por isso não se vacinou?

Será que ele acredita que as pessoas vacinadas podem mesmo virar jacarés, mudar o tom de voz, ou até verem crescer chifres em suas cabeças, e por isso não se vacinou?

Será que, assim como a primeira-dama, ele optará por receber a vacina fora do Brasil?

Ou será que não é tão patriota assim?

Enquanto isso, segue o cabo de guerra entre a variante delta e a campanha de vacinação no Brasil. Infelizmente, na última semana, começamos a perceber algumas evidências, ainda preliminares, de que a variante delta começa a emparelhar ou até a vencer a disputa contra a campanha de vacinação no Brasil. A queda contínua e abrupta do número de casos confirmados e do número de óbitos vem sendo substituída por uma estabilização e, alguns casos, até por um leve aumento.

É momento de estarmos alertas, mas não desesperados.

E, por favor, patriotas e cidadãos de bem (de verdade), tomem suas vacinas (de preferência, no Brasil) assim que chegar a vez de vocês no Plano Nacional de Imunização. Isso ajudará a salvar suas próprias vidas, mas também a vida dos seus familiares, dos seus amigos, e de toda a população brasileira. Quanto mais gente vacinada, menos o vírus circula, e quanto menos o vírus circula, mais protegido estamos.

Fonte: Folha de S. Paulo

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