sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

MR. MILES



Saídas para a claustrofobia

Querido mr. Miles: cada vez que leio seus artigos fico com mais vontade de viajar. Meu marido, porém, sofre de claustrofobia e não entra, nem amarrado, em aviões ou navios, de modo que meu horizonte é diminuto. O que você sugere?
Carolina Peters Azevedo, por email

Well, well, my dear Caroline, eis uma questão delicada. A claustrofobia, as you know, é um distúrbio de intensidade variável, cuja superação é possível, mas, sometimes, longa e penosa. Tenho alguns amigos que padecem desse mal, com reações distintas. O caso mais radical que conheço é de um antigo comandante de submarinos da Royal Navy, que, após anos de imersão, pediu baixa e decidiu nunca mais entrar em qualquer recinto fechado. Hoje, Riddick — esse é seu nome —, é personagem popular em Chesil Beach, no sul da Inglaterra. Dorme nas praças, jamais entra em qualquer recinto fechado e quando quer beber uma Guinness ou comer uma kidney pie, faz seu pedido pela janela dos pubs que já o conhecem.

O caso de Riddick é incorrigível, my dear. Mas há outros que, apesar do sofrimento, não permitem que o mundo lhes feche a porta. My good friend Tony Queiroga, também chamado Tony on the Rocks, por seu apreço a bebidas com gelo, não entra em elevadores ou aviões. Contudo, darling, para não diminuir seus horizontes, tomou two very wise decisions. Abriu uma hospedaria, onde recebe gente do mundo todo e comprou uma motocicleta Triumph, com a qual tem viajado fartamente. É uma logística engenhosa. Ele parte para um determinado destino na companhia de seu springer spaniel Jimmy Hendrix (que usa o capacete sem ganir) e, ao chegar, vai direto ao aeroporto para encontrar a esposa que, of course, viaja de avião.

I don’t know, my dear, se seu marido tem o espírito criativo de Tony ou a triste apatia de Riddick. Mas lembro-me, vagamente, de que o casamento tem algo a ver com compartilhar alegrias e tristezas. Se você tem compartilhado a triste realidade da claustrofobia de seu companheiro, é justo que ele se esforce para compartilhar a sua alegria de viajar, buscando auxílio profissional ou soluções criativas.

Em último caso, I must say, viajar sozinha pode ser uma ótima alternativa. Converse com ele e, for sure, as coisas se arranjarão.

Ou estariamos diante do primeiro caso de claustrofobia infecciosa jamais descrito?

Fonte: O Estadão

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