terça-feira, 22 de agosto de 2023

ULTRAPROCESSADOS

Hélio Schwartsman


Livro faz radiografia de alimentos ultraprocessados e suas consequências para a saúde humana

Meus impulsos naturebas tendem a zero. Por isso, nunca dei muita atenção à grita contra os produtos químicos adicionados à comida. "Ultra-Processed People" (pessoas ultraprocessadas), do médico britânico Chris van Tulleken, me fez parar para pensar.

O livro não esconde um tom militante, mas nem por isso deixa de trazer uma profusão de dados científicos fortemente sugestivos de que o consumo dos chamados alimentos ultraprocessados (AUPs) está por trás da epidemia global de obesidade e outros agravos sanitários e ambientais.

"Ultra-Processed..." é bem completo. Fala da "descoberta" dos ultraprocessados, categoria proposta pelo cientista brasileiro Carlos Monteiro, da USP. Aventura-se pelo terreno da experimentação pessoal, na qual o autor se submete a um regime de ingesta de 80% de ultraprocessados por um mês e mede os resultados —o que, obviamente, tem mais valor retórico do que científico. Mostra por que AUPs explicam a propagação da obesidade melhor do que outras hipóteses e, por fim, oferece conjecturas para entender os vários efeitos que diferentes características dos AUPs podem estar causando.

Alguns exemplos: a extrema maciez dos alimentos pode estar por trás de problemas ortodônticos; emulsificantes afetam a microbiota intestinal, o que tem uma série de repercussões, inclusive psiquiátricas; o descompasso entre gosto e conteúdo nutricional pode levar ao consumo excessivo.

O nível de problemas que cada indivíduo enfrentará depende do nível de exposição aos AUPs, o que, por sua vez, tem muito a ver com o nível socioeconômico da pessoa. Uma das principais características dos ultraprocessados é serem muito baratos. Nesse contexto, os AUPs podem ser considerados um estilo alimentar —e um que tem muito a ver com a pobreza.

Depois de ler "Ultra-Processed" eu não comecei a abraçar árvores, mas passei a ler com mais atenção os rótulos dos produtos que levo para casa.

Fonte: Folha de S.Paulo

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