terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

EM QUEM VOCÊ ACREDITA?

Deirdre Nansen McCloskey*
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

A responsabilidade é nossa, não do STF; não podemos crer em qualquer coisa dita

Antes era fácil. Quando você era pequeno, acreditava em sua mãe, depois em seus amigos, depois nos padres e nos professores.

E houve um tempo antes da internet em que você acreditava em tudo o que um colunista da Folha dizia ou no que era dito no telejornal.

Nos Estados Unidos, até a invenção do noticiário a cabo e depois a explosão da internet, havia três redes e meia, ABC, NBC, CBS e a Public Broadcasting Network, a que poucas pessoas assistiam. Naquela época, sabíamos o que era Verdade. Observe a letra maiúscula. Não era apenas a verdade do dia a dia, em letras minúsculas.

O grande âncora do noticiário nacional da CBS, Walter Cronkite, terminava seu breve noticiário todas as noites dizendo em sua voz autoritária: "Foi assim que aconteceu em..." e citava a data. Quando ele se voltou contra a Guerra do Vietnã, milhões de americanos de repente souberam que foi assim que aconteceu. Era Verdade.

Depois da internet não. Você provavelmente conhece pessoas que acreditam que Bolsonaro ganhou a última eleição. E essa não é a única coisa impossível em que elas acreditam. A democratização das notícias corroeu a autoridade. Bom. No entanto, a autoridade responsável e autocrítica não é de todo ruim. A ciência tenta ser assim, embora imperfeitamente. Mas pelo menos os cientistas e Walter Cronkite, sua mãe e seu padre estão comprometidos com a verdade. No mínimo, eles tentam sinceramente não contar mentiras para você. Grandes Mentiras, com G e M maiúsculos.

Nenhum compromisso desse tipo fundamenta uma mídia totalmente democrática. Nunca foi assim. Qualquer tolo com uma caneta podia, antigamente, espalhar boatos sobre bruxas. Qualquer tolo com um jornal podia começar guerras. Qualquer idiota com uma estação de rádio podia, e ainda o faz, espalhar Mentiras. Hoje em dia qualquer idiota, ou vilão, com um computador pode dizer que Bolsonaro ganhou ou que o Partido Democrata dos EUA é uma conspiração de pedófilos trabalhando numa pizzaria em Washington.

Como corrigir isso? Não envolvendo o Estado, eu disse a você recentemente. Tentamos isso nos EUA sob a "doutrina da justiça" para rádio e TV.

Não, a responsabilidade é nossa, não do STF. Não podemos voltar a crer, como crianças, em qualquer coisa que é dita. Fique esperto sobre o que os antigos chamavam de "retórica". Essa é a verdade adulta, em letras minúsculas.

*Economista, é professora emérita de economia e história na Universidade de Illinois, em Chicago

Fonte: Folha de S. Paulo - 07/02/23

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