Ruy Castro
Poucos filmes têm tantas frases que ficaram para sempre
Há dias, falando dos inacreditáveis 80 anos de "Casablanca", um dos filmes mais amados do cinema, afirmei que mesmo os que nunca o viram conhecem algumas de suas frases, ditas por Ingrid Bergman ou Humphrey Bogart. E citei o "Toque ‘As Time Goes By’, Sam", por Ingrid, e o "Nós sempre teremos Paris", por Bogart. Leitores escreveram lembrando outras frases imortais do filme.
Já no começo, um tíbio Peter Lorre, pouco antes de ser morto a tiros pela Gestapo, geme para Bogart: "Você me despreza, não é?". E Bogart, sem muito interesse: "Se eu pensasse em você, talvez desprezasse." Minutos depois, Claude Rains, no papel do amável chefe de polícia, pergunta a Bogart: "Que diabo você veio fazer em Casablanca?". Bogart responde: "Vim por causa das águas." Rains: "Que águas? Estamos no meio do deserto!" E Bogart: "Fui mal informado."
Há o diálogo entre Bogart e o oficial nazista, interpretado pelo fabuloso Conrad Veidt. Diz Veidt: "O que você acharia se nós invadíssemos Nova York?". Bogart: "Há certas zonas de Nova York que eu não os aconselharia a invadir." E o primeiro diálogo entre Ingrid e Bogart no cabaré deste em Casablanca. Ela: "Você se lembra da última vez que nos vimos? Foi no dia em que os alemães entraram em Paris." Ele: "Não é um dia fácil de esquecer. Os alemães estavam de cinza, você de azul." Horas depois, desesperado por tê-la reencontrado, um apaixonado Bogart chora para Sam: "De todos os botequins de todas as cidades do mundo, ela tinha de vir ao meu!".
No fim, Bogart mata o nazista com um tiro na presença do chefe de polícia. Este chama um gendarme e ordena: "Major Strasser foi alvejado. Prenda os suspeitos de sempre."
Tudo isso obra de quatro roteiristas, os irmãos Julius e Philip Epstein, Howard Koch e, sem crédito na tela, Casey Robinson, que brigavam o tempo todo e um não sabia o que os outros estavam escrevendo.
Fonte: Folha de S. Paulo
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