quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

TESÃO MIGRATÓRIO

Saímos para o almoço e combinamos que iríamos ao Restaurante Stela, que era o mais próximo do nosso local de trabalho. 

Como sempre, o José Carlos seria o último a chegar. Até o havíamos apelidado de tranqueira de rio, numa alusão aos arbustos que levados pelas correntezas, que em dias de cheias, vão ficando enredados nas margens. 

Invariavelmente ele encontrava algum conhecido e sempre muito gentil, parava para uma troca de abraço reforçando os laços de amizade. 

Aguardamos pacientemente a sua chegada, não sem antes pedir um bom vinho tinto, sabendo de antemão que o colega retardatário aprovaria a nossa escolha. 

Quando finalmente ele apareceu na ponta do corredor e viu a nossa aflição, como que para não perder a viagem foi dizendo:

- Não adianta, eu não posso ver uma mulher bonita que sou obrigado a fazer-lhe um galanteio.

O Daniel, do alto dos seus quase setenta e tantos anos, aproveitou a deixa e falou com um carregado sotaque paulistano:

- Ôrra meu, na nossa idade, o tesão costuma migrar. Sorte a tua que migrou para o olho!

Antes que todos os caíssemos na gargalhada o José Carlos, com a sua habitual rapidez de pensamento arrematou:

- O importante é não perder a cisma.

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