sexta-feira, 15 de outubro de 2021

MR. MILES


É outono, mas Paris está com alma invernal

Mr. Miles, compungido como sempre que acontecem tragédias humanas pediu que informaasemos que, no momento em que escrevia essas linhas, estava em Paris.

"Well, my friends: as you know, embora eu não seja jornalista, tenho problemas em ficar longe dos fatos. Digo sempre que, nos momentos de maior dor ou alegria é que os habitantes de um lugar despem-se de suas vaidades e abandonam seus piores instintos para refletir sobre o que são, aonde vivem e o que pensam. In other words: tornam-se melhores. E, of course, isso não diz respeito aos franceses, pelos quais, é sabido, não nutro simpatia (mas apenas para fazer um pouco de humor). Diz respeito a todos os povos. Vim chorar por Paris — a mais bela cidade do mundo, preciso admitir — e pelos nossos vizinhos. O mesmo eu faria em qualquer do mundo. E só não vou ao autodenominado Estado Islâmico para prestar minha solidariedade à tantas vítimas inocentes (sobretudo as mulheres, unfortunately) por motivos óbvios. Todos sabem que nós, ingleses, só somos bem-vindos a região como decapitadores ou, I'm sorry to say, decapitados. Ou seja: não vou perder a cabeça e fazer uma loucura dessas, embora tantos inocentes já tenham perdido as suas, tanto lá como em Paris.

É possível que os fatos me atropelem — a ofensiva dos fanáticos parece incontrolável. However, no momento em que escrevo essas linhas tristes, é por Paris que choro. Como choraria em qualquer outro lugar aonde o ser humano voltasse a demonstrar que pouco evoluiu desde a pré-história e, by the way, sofisticou-se em sua forma de odiar, criando um sem número de redes sociais justamente para fazer o contrário.

Estou em uma cidade outonal já com alma invernal. Há pouca gente nas ruas, como se a temperatura estivesse diversos graus abaixo de zero. Há medo! Não sou de rezar, mas peço aos céus que desmanchem esse mais que justificado sentimento. Não apenas aqui, mas em todas as populações que, assustadas, preferem ficar no conforto de suas casas a viajar para um mundo misterioso e desconhecido.

É exatamente isso que esses bastards querem de nós. Que fiquemos em casa sem reação; que tenhamos horror de viajar por um planeta que, nesse caso passará a pertencer mais a eles do que a nós; que as mulheres usem burkas — e sejam violentadas e decapitadas caso mostrem seus narizes (this is real!). Sempre defendi, nesse espaço, que o mundo seria melhor sem nações, sem nacionalismos, sem religiões e sem sectarismo ideológico. Vocês, my friends, que supõem que eu tenha mais de 150 anos de vida, deveriam acreditar nas palavras de um viajante tão experiente. Besides, os verdadeiros viajantes se convencem que os que creem — nos (des)valores que mencionei é que matam.

Vejo o Bataclan em minha frente e lembro-me de tantas vezes que estive aqui para ver espetáculos e, depois, jantar com Maurice (N.da R.: Maurice Chevalier, célebre cantor, ator e humorista francês nascido em 1888, 23 anos após a fundação da casa de shows francesa, originariamente voltada à operetas). Bons tempos? Não, never! Duas guerras vieram a seguir, para a decepção de universalistas como eu.

Naquele tempo, my God, o Bataclan tinha um telhado na forma de um pagode chinês! A casa era tão importante que inspirou vários cabarés pelo mundo. Os que leram a história de Gabriela, de Jorge Amado, sabem que seu nome inspirou os proprietários do Bataclan de Ilhéus (presumo que eles não tenha ser inspirado na opereta homônima de Offenbach (antes que perguntem, esse eu não conheci). Hoje há bataclans por todo o país. Com n, com til, dando nome a todo o tipo de estabelecimento, inclusive motéis. Fiquei curioso de não ter lido referências a isso.

A lembrança é útil para esse momento em que todos agem como caracóis e se protegem em suas conchas. Não haveria bataclãs em todo o mundo, não fosse pelos viajantes. Nem vinhos de boa cepa ou canções de Edith Piaf. Pensem bem, my friends: é preciso viajar porque somos livres. E temos cabeças — que, como se sabe, são um problema para eles.

Fonte: Facebook

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