domingo, 10 de setembro de 2017

PROBLEMAS REAIS

Hélio Schwartsman

Estou curioso para ler "Só Mais um Esforço", livro que meu colega colunista Vladimir Safatle lança este mês, mas do qual a "Ilustríssima" já antecipou trechos.

Dentre as muitas ideias que o autor apresentou nessa prévia, destaco uma que gostaria de explorar melhor. Safatle faz uma crítica da tecnocracia que, segundo ele, procura transmutar "uma guerra civil contra setores pauperizados" num discurso de racionalidade econômica, no qual medidas como a reforma da Previdência são descritas como "remédio amargo, porém necessário". Para o autor, a tecnocracia tenta pintar os que criticam sua lógica "como uma criança que crê na onipotência do pensamento, incapaz de lidar com o princípio de realidade que ensina que só posso gastar o que ganho".

Não discordo da tese geral de que com frequência setores da sociedade procuram revestir suas opções políticas de uma suposta universalidade científica. Reconhecer isso, porém, não significa que não existam problemas técnicos de verdade que demandam solução. E a situação fiscal brasileira, eu receio, é um deles.

Proponho um experimento mental. O candidato do PSOL, ou mesmo Lula, venceu a eleição presidencial e, a partir do dia 1º de janeiro de 2019, terá um país e um orçamento para administrar. A situação não é das mais tranquilas. Nossas despesas aumentam num ritmo superior ao das receitas e há uma regra, a do teto, que limita o crescimento das despesas do governo aos gastos do ano anterior corrigidos pela inflação. O que ele vai fazer para lidar com isso?

Só vejo três caminhos, ou se cortam despesas, notadamente na Previdência, que é onde o crescimento dos gastos ocorre de forma vegetativa, ou se aumentam as receitas (via impostos ou dívida), ou se deixa a inflação subir até ajustar as contas.

Seria importante que todos os candidatos dissessem honestamente como pretendem lidar com o problema, que, infelizmente, não é imaginário.

Fonte: Folha de S. Paulo

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