sexta-feira, 31 de julho de 2020

MR. MILES

APRESENTANDO MR. QUEUE

Mr. Miles recebeu e agradece a todos os votos de pronta recuperação enviados a Trashie, sua cadelinha russa. Informa, aliás, que Trashie está prestes a ter alta da clínica Promises e se encontra ansiosa por retomar as viagens com seu companheiro.
A seguir, ele responde à pergunta da semana:

Caro mr. Miles: fui embarcar outro dia no Aeroporto de Congonhas e descobri que o velho e tumultuado check-in de minha companhia aérea tinha sido substituído por dois velhos e tumultuados check-ins. Não é muito azar?
César Romero, por e-mail

''Well, my friend, o azar de alguns é a sorte de outros. No caso, a inexplicável sorte de um velho desafeto meu, o decrépito e quase aposentado mr. Queue, cuja especialidade sempre foi criar dificuldades. Por cumprir essa tarefa, Queue conquistou títulos imponentes, como superintendente de Operações ou vice-presidente de Planejamento Estratégico e, there''s no doubt about, sempre foi competente ao exigir novos atestados e certificados, de modo a dificultar a vida de quem quer que fosse.

Tinha, as well, uma rara habilidade para negacear estoques de produtos cobiçados, de modo a aumentar seu preço e, sobretudo, provocar longas filas nos estabelecimentos que geria. A idéia, most of the time, era fazer com que a empresa ou o governo para quem trabalhava lucrasse, mais tarde, com o alívio decorrente da interrupção de suas ações.

Believe me, fellow: pessoas assim podem ser muito úteis. Mr. Queue chegou a ter uma frota de Rolls Royces quando implementou a filosofia dos call centers, muitos dos quais ainda funcionam sob sua inspiração.

Nesse caso, of course, a proposta era criar mecanismos protelatórios para que assinantes de determinados serviços raramente conseguissem dispensá-los. As más línguas dizem que foi ele o inventor do gerundismo, um linguajar brilhantemente evasivo.

Well, as boas práticas da administração tornaram meu compatriota obsoleto. However, devido a seu alentado currículo, soube, recently, que ele foi contratado por uma grande companhia aérea brasileira, com o propósito de racionalizar os check-ins, diminuindo a espera dos passageiros.

Queue, of course, trabalhou com seu talento de praxe. Propôs a criação do pré-check-in eletrônico. Computadores resolvendo tudo. Da emissão do boarding pass à inserção eletrônica da milhagem no sistema. Uma idéia genial. Donde nasceu, however, uma segunda fila: a dos desafortunados passageiros já registrados que tinham a péssima idéia de levar roupas e objetos pessoais consigo.

Queue tornou tudo ainda melhor (do seu ponto de vista). Profissional sofisticado, ele programou os novos computadores para errar na aceitação dos dados de forma randômica, para que os que usassem o antigo sistema (sem bagagem) tampouco sentissem qualquer alívio.

Well: está tudo funcionando às mil maravilhas. Encontrei Queue, dias atrás, com a auto-estima renovada. Orgulhoso, ele me contou a respeito de sua nova façanha. ''Você deveria envergonhar-se, Queue'', disse-lhe, indignado. ''You''re right, Miles'', respondeu-me, com franqueza. ''Faltou acoplar ao computador uma câmera para que os bilhetes sejam emitidos com a foto do passageiro impressa em quadricromia. Seriam, pelo menos, mais 60 segundos por passageiro...''

E pôs-se a fazer contas, incorrigível.''

Fonte: O Estadão

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