domingo, 24 de abril de 2022

O LORDE DO ROUPÃO

O LORDE DO ROUPÃO
Fernando Albrecht

Entre os vários personagens da Porto Alegre dos anos 1970 e 1980, havia um senhor distinto de meia idade, aparentando ser um nobre desgarrado. Sempre de terno e gravata caprichosos, tinha até um roupão com o anagrama da família.

Na época, integrantes da famosa Mesa Um do Restaurante Dona Maria, na rua José Montaury, iam para a Sauna Guaíba após lauta refeição, às sextas-feiras. E sempre o víamos lá com seu roupão inglês. A bem da verdade, não era uma sauna do tipo que vocês estão pensando, era sauna mesmo.

O cara parecia um lorde. Era conhecido como Bom Marido. Diziam que era estancieiro forte.

Certo dia, ele sumiu. Alguns meses depois, reapareceu com uma história a tiracolo.

Contou que conhecera uma bela fazendeira e depois de arrufos iniciais, foram morar juntos em um pequeno apartamento na cidade. Convicto que, a partir dali, viveria com o burro na sombra. Para todos os efeitos, ele era um homem de posses. Semanas depois, a ficha caiu.

Estavam os dois jantando e bebendo a última garrafa de vinho bom no apê com poucos móveis, quando a cruel realidade veio à tona. Ela ergueu a taça.

– Me enganei.

Ele também levantou os taça.

– Eu também.

Fortunas, quando são falsas, desaparecem em seguida.

Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br

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