sábado, 23 de abril de 2022

A INDISCIPLINA ESCOLAR NO PÓS PANDEMIA E OS ROBÔS

A INDISCIPLINA ESCOLAR NO PÓS PANDEMIA E OS ROBÔS
Claudia Costin

Não queremos na educação disciplina e ordem que robotizem nossos jovens

Num painel de que participei há alguns dias, um professor perguntou o que fazer frente a um aumento visível na indisciplina dos alunos, fato constatado por inúmeros educadores logo após a euforia pelo reencontro com os colegas na volta às aulas presenciais.

De fato, segundo relatos de gestores escolares, muitos incidentes de agressão, explosões de raiva e insatisfação ocorreram depois de certo tempo de retomada das aulas. Além disso, de acordo com pesquisa recente do Instituto Ayrton Senna na rede estadual paulista, 75% dos estudantes declararam-se irritados, ansiosos ou tristes em função do isolamento vivido.

Não há receituário fácil para um professor lidar com isso, afinal sua atuação é limitada aos contornos do seu fazer profissional. Foi oportuna, nesse sentido, a aprovação da lei 13.935, que estabelece que redes públicas terão que contar com serviços de psicologia. Aprovado em dezembro de 2019, pouco antes da pandemia, o dispositivo legal pode ajudar nesta situação de crise, resultante, ao que parece, do prolongado isolamento dos adolescentes, expostos seja à violência doméstica, seja à ausência dos pais, que tinham que buscar alguma fonte de renda para alimentar a família, mesmo que em serviços precarizados.

Para além do necessário suporte psicológico, conversas com os alunos podem ajudar. Os professores também viveram situações assemelhadas, e compartilhar suas dificuldades não os rebaixa; ao contrário, coloca-os como ouvintes empáticos. Outra abordagem que pode ajudar é a de trabalhar com aprendizagem baseada em projetos, integrando diferentes disciplinas e inclusive tematizando com a própria Covid.

Mas, ao ouvir a pergunta do professor, lembrei-me de várias escolas de ensino médio que visitei no agreste de Pernambuco, onde o que mais me chamou a atenção foi exatamente o oposto do quadro descrito pelo mestre. Os jovens pareciam engajados com as aulas, animados ao interagir no recreio e falantes ao me explicar o que estavam aprendendo. O segredo? Uma ideia proposta pelo grande educador brasileiro que inspirou aquelas escolas, Antônio Carlos Gomes da Costa: quando os alunos se descobrem portadores de sonhos de futuro e os convertem em projeto de vida, tornam-se protagonistas de sua própria aprendizagem, e a disciplina aparece não por imposição de cima para baixo, mas como um requisito para construir o que desejam.

Em tempos de robôs substituindo humanos na presente revolução digital, roubando-lhes tanto a empregabilidade como o futuro, tudo o que não queremos é uma escola com uma disciplina e ordem que robotize nossos jovens.

Fonte: Folha de S. Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário