Eram tempos diferentes aqueles. Falo do início dos anos oitenta (80), época em que ingressei na magistratura. As pequenas comarcas foram instaladas com estrutura precária. Na maior parte delas a figura do Delegado de Polícia era atribuída a um sargento da Polícia Militar. E aqui não vai nenhum reparo aos policiais militares, ao contrário, a maioria deles mostrou desempenho acima da média. Mas, ao mesmo tempo em que representavam o papel do investigador deviam atuar na repressão, o que no mínimo causava uma sobrecarga de trabalho.
Quando fui promovido para a comarca de Xaxim, a mesma tinha fama de ser muito conturbada, com sérios problemas de violência. Eu não acreditava muito no que ouvia, partindo do princípio de que a sede do município era formada, na sua grande maioria, por famílias oriundas de Guaporé, no Rio Grande do Sul, cuja principal característica era a origem italiana, ou seja, povo ordeiro e trabalhador. Com o tempo, o meu raciocínio mostrou-se de todo acertado. Problemas haviam, sim, principalmente no interior. Mas problemas existem para serem resolvidos.
Eis que algum tempo antes da minha chegada em Xaxim o Sargento Kotinsky assumiu a função de Delegado de Polícia. Por certo, ao seus ouvidos também chegaram informações sobre problemas de violência que iria enfrentar. E ele os enfrentou com inteligência.
Assim que chegou na Comarca, promoveu uma reunião com as diretorias de todas as entidades sociais dos municípios integrantes da comarca. Traçou diretrizes para a boa convivência daquelas comunidades. A primeira e principal exigência foi que cada comunidade deveria montar o que ele chamava de Comissão de Segurança. Explicou o modo de funcionamento e cada uma delas, depois de constituída, recebeu do sargento as orientações básicas para a manutenção da ordem.
Com aquela providência, conscientizou as pessoas acerca das suas responsabilidades. E por fim, lançou uma advertência. As comunidades que não instituíssem a sua Comissão de Segurança, ou que constituída, não se mostrasse eficiente, não receberiam autorização para futuros eventos. Foi um santo remédio. Problemas aconteceram, claro, mas em número ínfimo em comparação com a realidade até então existente.
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