quarta-feira, 9 de julho de 2025

DIA DE GOLEIRO

Foto: Nani Humor
Como qualquer outra, a Vila Imperial tinha o seu clube de futebol – o Esporte Clube Imperial – cujas cores eram o azul e o branco. Cada vez que as economias permitiam a compra de um novo jogo de camisetas o mesmo era estreado com fotografia, que depois era devidamente emoldurada e colocada na parede da sede social.

Disputava o campeonato varzeano. Nunca ganhou uma competição. No máximo conseguiu dois vice-campeonatos. Via de regra era composto por atletas nascidos e criados na própria vila, o que reforçava a prática do amadorismo.

Por ele passaram figuras especiais. Uma dessas figuras era o Pitchi. Sempre voluntarioso, era capaz de protagonizar os mais insólitos acontecimentos. Como atleta, dentro dos padrões técnicos do time, saía-se bem atuando em qualquer posição.

Certa feita, numa final de campeonato, o empate não interessava uma vez que tal resultado favorecia o adversário. Era necessário ganhar o jogo. Pela segunda vez o E.C. Imperial chegava a uma final depois de tantos anos de existência e alí estava a rara oportunidade de colocar as faixas de campeão.

Passados dos quarenta do segundo tempo, o time adversário fazia mais cera do que a Cachopa produzida pelas Indústrias Matarazzo. Eis que num dos raros ataques contra a meta do Imperial ocorreu um lance lateral para o adversário, bem próximo à linha de fundo.

Como o negócio era administrar o tempo restante de jogo, nenhum jogador adversário vinha cobrar o arremesso lateral. Pitchi, que na ocasião jogava de goleiro, ficou desesperado com tamanha morosidade. Não teve dúvidas, saiu da área, foi até a linha lateral, apanhou a bola com toda a pressa do mundo e a recolocou em circulação. Só que, para ser fiel às regras do jogo, endereçou a bola ao Palito, meia-esquerda do time adversário, pois era deles a vantagem. Ao receber a bola, surpreso mas sem reclamar do inusitado, Palito, que não era bobo, investiu em direção à área, estando ausente o goleiro, marcou sem dificuldades, aquele que seria o gol da vitória deles ou da auto-derrota do E.C.Imperial.

Na tradicional reunião de toda Segunda-feira, o assunto não poderia ser outro: a perda do campeonato, agravada pelas condições particulares do gol sofrido. Um grupo queria que o Pitchi fosse expulso do Clube, - por alta traición, bradou Pepe, em seu portunhol já de todos conhecido.

A turma do bolão não aceitou a proposição, considerando que o indigitado Pitchi pontuava bem naquele esporte e nunca faltava aos treinos. Outros defendiam uma suspensão apenas das atividades no futebol.

- E quem será o goleiro? – disse Albino – que era do Departamento Técnico, apreensivo diante da notória carência de atletas naquele setor.

Em meio às correntes opostas, João Cravos y Rosas, o presidente, ponderou que era necessário ouvir o interessado, que por sinal estava presente.

- E daí, Pitchi, qual é a tua defesa? – perguntou o presidente.

A resposta veio impregnada de profunda indignação:

Defesa? Mas que defesa? Onde estava o marcador do Palito? Onde estavam os nossos beques?

- Com uma defesa dessas não jogo mais de goleiro!

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