
terça-feira, 30 de setembro de 2025
ROUBAVA A PRÓPRIA CASA

LUGARES
segunda-feira, 29 de setembro de 2025
ATACAR O ESPAÇO
Já me disseram que não é assim, mas o contrário —que são os treinadores que inventam as expressões e os narradores apenas os seguem. Como diria o filólogo rubro-negro Antonio Houaiss, reservo-me o direito de discrepar. Nenhum técnico cunhou mais expressões que o inolvidável Tite—"treinabilidade", "externos desequilibrantes", "sinapses do último terço"— e nunca vi um narrador ou comentarista falar essas idiotices. E temos os 11 milhões de treinadores portugueses hoje no Brasil, que continuam a falar como em Lisboa —temporada é "época", primeiro tempo é "primeira parte", jogador descansado é "jogador fresco" —e ninguém adotou isso.
Há tempos, referi-me a sandices como "camisa pesada" (não de suor, mas de títulos), "entre linhas" (a velha intermediária) e "pressão baixa" (retranca). Quem inventou? O simples ato de atacar tornou-se "atacar o espaço" —querem que o jogador ataque o tempo? E os clubes não moram mais em suas sedes, mas em "prateleiras", como bules e açucareiros
Além disso, nem sempre a novidade prima pela lógica. O "passe vertical" não será, na verdade, horizontal? "Respeitar o minuto de silêncio" será respeitar a pessoa que morreu ou o próprio minuto de silêncio? Ao dizer que o juiz "prometeu cinco minutos de acréscimo", supõe-se que ele poderá não cumprir a promessa?
Num futebol em que se disputa a bola em crescente e atordoante velocidade, como será "jogar parado" ou, mais impróprio ainda, "jogar sem bola"? E haja tinta para passar nas traves.
LUGARES
domingo, 28 de setembro de 2025
BRETANHA - DEPARTAMENTO DE MORBIHAN
LUGARES
sábado, 27 de setembro de 2025
ROMANCE FORENSE
LUGARES
sexta-feira, 26 de setembro de 2025
FASCINATION
LUGARES
quinta-feira, 25 de setembro de 2025
CONTRA A MARÉ
LUGARES
quarta-feira, 24 de setembro de 2025
BEFEGO
LUGARES
terça-feira, 23 de setembro de 2025
POR QUE FALAMOS TANTO?
Martha MedeirosQue aflitivo é falar.
Através da fala, tentamos nos comunicar com aqueles que nos cercam, desde desconhecidos até pessoas que amamos. Com os estranhos é menos difícil, basta que a distância se mantenha. Os sentimentos não se infiltram no diálogo. Quanto custa? Xis. Este lugar está vago? Não. Onde fica a rua tal? Seguindo reto, terceira à direita.
Mas é só haver alguma intimidade, mínima ou máxima, para que as conversas se desenvolvam através de frases entrecortadas, de subentendidos e de resumos que nunca atingem a exatidão do que queremos dizer.
Pobres de nós. Nós, que somos povoados por fantasias, atrações, pavores, carências, entusiasmos, tudo tão, tão indizível. No entanto, é imperativo se comunicar, e lá vamos nós, impulsionados por expressões que vêm à mente sem nenhum rigor, sem nenhuma poesia, às vezes até sem nenhum sentido. São tantas as palavras à nossa disposição, tantas. E, ao mesmo tempo, tão poucas. Como não falhar diante das tentativas de oralidade?
Eu não quis dizer isso (mas ao mesmo tempo, quis). Não é isso que sinto (mas um pouco, é). Eu estava brincando (mas no fundo, não).
É angustiante estar à mercê de mal-entendidos e de tudo que tentamos expressar com alguma sensatez, mas que soa tão bobo diante da grandiosidade da nossa emoção. Quais são as palavras certas? Existem palavras certas? Como é que eu me traduzo? Como traduzo o humano em mim?
Não basta eu estar presente. É preciso que eu me manifeste, que eu opine, que eu responda às perguntas, mesmo as automáticas, principalmente elas. Eu não sei como verbalizar meus medos, não sei como dar voz à criança que ainda sou, não sei como reagir diante de uma ironia, não sei pedir para que os outros se calem para que eu me escute. Tudo tem um som: nossa tristeza, nossa excitação, nossa respiração, nossa dor. Mas insistimos em falar, em ser mais eloquentes do que o silêncio. Viver é uma tarefa para gigantes, não para seres frágeis como nós.
Eu não estou escrevendo esta crônica sozinha. Toda essa divagação foi inspirada pela peça Os Realistas, que está em cartaz no Rio – se você passar por lá, programe-se. No palco, quatro atores espetaculares, que honram o teatro com T maiúsculo. Debora Bloch, Emilio de Mello, Mariana Lima e Fernando Eiras são os quatro protagonistas que interpretam nossa grandeza e nossa pequeneza, esse antagonismo que nos constitui e que nos exaspera. Como fazer para que o tanto que somos (tão dúbios, tão sensíveis, tão bem-intencionados, tão confusos) encontre correspondência no tanto que articulamos (tão verborrágicos, tão sedutores, tão ríspidos, tão enrolados)? Na maioria das vezes, estamos apenas falando por falar.
Não estará mais do que na hora de nos aquietar?
Fonte: Zero Horta
LUGARES
segunda-feira, 22 de setembro de 2025
VOZES NO ESPAÇO
LUGARES
domingo, 21 de setembro de 2025
GARMISCH-PARTENKIRCHEN
LUGARES
sábado, 20 de setembro de 2025
LUGARES
sexta-feira, 19 de setembro de 2025
ROMANCE FORENSE
LUGARES
quinta-feira, 18 de setembro de 2025
ILHA GRANDE
quarta-feira, 17 de setembro de 2025
PARAQUEDISTAS
LUGARES
terça-feira, 16 de setembro de 2025
UM TANQUE PAZ E AMOR
Martha MedeirosAcompanhei pelas redes sociais uma convocação para que artistas e psicodélicos em geral se reunissem junto ao tanque que esteve exposto na Avenida Ipiranga, em Porto Alegre, a fim de dar a ele um aspecto mais lúdico: pintá-lo, colori-lo, forrá-lo de flores. Gostei. Seria uma manifestação crítica, porém pacífica, e de quebra enfeitaria a cidade.
Mas nem todos aprovaram a iniciativa. Alguns consideraram que o ato seria desrespeitoso com o Exército Brasileiro e muitos reclamaram de que há coisas mais urgentes às quais se dedicar.
Quanto ao Exército Brasileiro, não vi razão para que a instituição se sentisse agredida pela pintura de um blindado inoperante. Tanque é um veículo bélico. Mesmo quando em missão de defesa, não deixa de ser uma arma. Colori-lo não significaria extingui-lo. Seria apenas uma maneira divertida de lembrar que o espírito da cidade deveria combinar mais com paz do que com guerra.
Quanto ao fato de haver coisas mais importantes a serem focadas, nem se discute. Ou melhor: se discute à exaustão, como estamos fazendo em relação à segurança do Estado. É fundamental essa pressão para que o governo reverta o quadro de criminalidade, mas apenas se queixar não adianta. Já que segue massiva a resistência à legalização das drogas, que talvez contribuísse para a diminuição da violência, que tal se os consumidores parassem de usá-las a fim de enfraquecer o tráfico, que tem influência determinante no assunto? Utopia, eu sei, mas, quando não há recursos, é preciso investir em ideias, mesmo que delirantes.
Voltando às prioridades: colorir muros, por exemplo, é mais importante do que colorir um tanque, ok. Consertar calçadas, sinalizar ruas, pavimentar rodovias, mais ainda. Equipar postos de saúde, construir escolas, alimentar crianças, muito mais, muito mais. Na escala hierárquica dos problemas, um tanque na esquina é fichinha. Mas essa tendência de desprestigiar uma determinada mobilização só porque deveríamos canalizar nossa energia para outra de maior relevância é um convite à paralisação – acaba que ninguém faz nada.
Lutar pela despoluição do Guaíba é mais grandioso do que organizar um mutirão entre amigos para limpar a areia da praia, assim como inaugurar uma biblioteca é mais eficaz do que deixar um livro num banco de praça para que outra pessoa o leia, mas importante mesmo é deixarmos de ser tão patrulheiros e pararmos de depreciar a boa vontade de quem escolheu um gesto, mesmo que pequeno, para fazer a sua parte por um mundo menos ordinário.
Fonte: Zero Hora






