quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

UM CERTO MARCENEIRO

Encaramos a mudança para Pinhalzinho(SC). Nesses eventos os móveis sofrem, pela sua fragilidade e pela falta de cuidados dos carregadores. Mas chegaram ao nosso destino aparentemente incólumes. Decorridos apenas três (3) meses, acabamos enfrentando nova mudança por questões alheias à nossa vontade. Ocorreu na própria cidade de Pinhalzinho, sem contarmos com uma empresa especializada em tal logística. O guarda-roupas não resistiu a tantas emoções. Precisou ser pregado, o que dava a certeza de que não aguentaria mais uma mudança. Era imperioso comprar novos móveis de quarto. Obtive a indicação de um marceneiro na vizinha Nova Erechim. Fui visitá-lo afim de obter um orçamento. Forneci as indicações da nossa necessidade, principalmente quanto à certeza de um sem número de novas mudanças tendo em vista a mobilidade da minha profissão. Feitos os estudos, tudo em madeira maciça, com encaixes, sem pregos, com peças inteiramente desmontáveis. Era o que eu queria. Partimos para os preços, prazo de entrega e condições de pagamento. Não lembro do valor orçado, mas lembro que não era pouco. Quanto ao prazo de entrega ele foi avisando que antes de três (3) meses não poderia entregar a encomenda. Justificou dizendo que a partir da confirmação do pedido, poria a madeira a secar para só depois elaborar a sua arte final. Para condições de pagamento ele foi enfático. À vista! Respondi que eu poderia ir adiantando alguma quantia mensalmente. Seu argumento não me proporcionou alternativas. Segundo ele, com os móveis prontos, entregues e montados em minha residência, e somente após a minha aprovação ele receberia o seu pagamento. Para ele, o pagamento não representava apenas a troca do material e das horas de trabalho, mas antes, era colher a satisfação do cliente. E assim foi feito. De lá, para cá, enfrentamos umas seis (6) ou sete (7) mudanças. Toda vez que os encarregados para realizá-las viam o guarda-roupas de seis (6) portas, em madeira maciça, logo comentavam as dificuldades que enfrentariam. Sempre lhes expliquei que as peças eram desmontáveis e devidamente numeradas para facilitar a montagem. Nunca tivemos problemas e os móveis continuam os mesmos. 

Mais belo que o canto de um pássaro é o seu vôo; pois nem todo o canto é de alegria, mas todo o vôo é de liberdade. (Mia Couto)

LUGARES

BAVIERA - ALEMANHA
A Baviera é um estado do sudeste da Alemanha que faz fronteira com Liechtenstein, Áustria e República Tcheca. A capital do estado, Munique, é conhecida por seu festival anual da cerveja, a Oktoberfest, pelos museus de arte e pelo ornamentado Palácio Nymphenburg. A rota panorâmica da Estrada Romântica começa em Wurtzburgo, no noroeste, passa pelos vilarejos rurais e pelas cidades medievais do sul e termina nos vales dos Alpes, perto da fronteira sul da Alemanha. ― Google

FRASES ILUSTRADAS

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

É necessário aprender a arte de "abrir mão", a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial. (Rubem Alves)

LUGARES

ASSIS - ITÁLIA
Assis é uma cidade numa colina na região da Umbria no centro de Itália. Foi o local de nascimento de São Francisco (1181 – 1226), um dos santos padroeiros de Itália. A Basílica de São Francisco é uma enorme igreja de dois pisos inaugurada em 1253. Os seus frescos do século XIII, que retratam a vida de São Francisco de Assis, foram atribuídos a Giotto e Cimabue, entre outros. A cripta alberga o sarcófago em pedra do santo. ― Google

FRASES ILUSTRADAS

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

IDIOTA À BRASILEIRA

Adriano Silva*

Ele não faz trabalhos domésticos. Não tem gosto nem respeito por trabalhos manuais. Se puder, atrapalha quem pega no pesado. Trata-se de uma tradição lusitana, ibérica, reproduzida aqui na colônia desde os tempos em que os negros carregavam em barris, nos ombros, a toilete dos seus proprietários, e eram chamados de “tigres” – porque os excrementos lhes caíam sobre as costas, formando listras. O Perfeito Idiota Brasileiro, ou PIB, também não ajuda em casa. Influência da mamãe, que nunca deixou que ele participasse das tarefas – nem mesmo pôr ou tirar uma mesa, nem mesmo arrumar a própria cama. Ele atira suas coisas pela casa, no chão, em qualquer lugar, e as deixa lá, pelo caminho. Não é com ele. Ele foi criado irresponsável e inconsequente. É o tipo de cara que pede um copo d’água deitado no sofá. E não faz nenhuma questão de mudar. O PIB é especialista em não fazer, em fazer de conta, em empurrar com a barriga, em se fazer de morto. Ele sabe que alguém fará por ele. Então ele se desenvolveu um sujeito preguiçoso. Folgado. Que se escora nos outros, não reconhece obrigações e adora levar vantagem. Esse é o seu esporte predileto – transformar quem o cerca em seus otários particulares.

O tempo do Perfeito Idiota Brasileiro vale mais que o das demais pessoas. É a mãe que fura a fila de carros no colégio dos filhos. É a moça que estaciona em vaga para deficientes no shopping. É o casal que atrasa uma hora para um jantar com amigos. As regras só valem para os outros. O PIB não aceita restrições. Para ele, só privilégios e prerrogativas. Um direito divino – porque ele é melhor que os outros. É um adepto do vale-tudo social, do cada um por si e do seja o que Deus quiser. Só tem olhos para o próprio umbigo e os únicos interesses válidos são os seus.

O PIB é o parâmetro de tudo. Quanto mais alguém for diferente dele, mais errado esse alguém estará. Ele tem preconceito contra pretos, pardos, pobres, nordestinos, baixos, gordos, gente do interior, gente que mora longe. E ele é sexista pra caramba. Mesma lógica: quem não é da sua tribo, do seu quintal, é torto. E às vezes até quem é da tribo entra na moenda dos seus pré-julgamentos e da sua maledicência. A discriminação também é um jeito de você se tornar externo, e oposto, a um padrão que reconhece em si, mas de que não gosta. É quando o narigudo se insurge contra narizes grandes. O PIB adora isso.

O PIB anda de metrô. Em Paris. Ou em Manhattan. Até em Buenos Aires ele encara. Aqui, nem a pau. Melhor uma hora de trânsito e R$ 25 de estacionamento do que 15 minutos com a galera do vagão. É que o Perfeito Idiota tem um medo bizarro de parecer pobre. E o modo mais direto de não parecer pobre é evitar ambientes em que ele possa ser confundido com um despossuído qualquer. Daí a fobia do PIB por qualquer forma de transporte coletivo.

Outro modo de nunca parecer pobre é pagar caro. O PIB adora pagar caro. Faz questão. Não apenas porque, para ele, caro é sinônimo de bom. Mas, principalmente, porque caro é sinônimo de “cheguei lá” e “eu posso”. O sujeito acha que reclamar dos preços, ou discuti-los, ou pechinchar, ou buscar ofertas, é coisa de pobre.

E exibe marcas como penduricalhos numa árvore de natal. É assim que se mostra para os outros. Se pudesse, deixaria as etiquetas presas ao que veste e carrega. O PIB compra para se afirmar. Essa é a sua religião. E ele não se importa em ficar no vermelho – preocupação com ter as contas em dia, afinal, é coisa de pobre. O PIB também é cleptomaníaco. Sua obsessão por ter, e sua mania de locupletação material o levam a roubar roupão de hotel, garrafinha de bebida do avião e amostra grátis de perfume em loja de departamento. Ele pega qualquer produto ofertado numa degustação no supermercado. Mesmo que não goste daquilo. O PIB gosta de pagar caro mas ama uma boca-livre.

E o PIB detesta ler. Então este texto é inútil, já que dificilmente chegará às mãos de um Perfeito Idiota Brasileiro legítimo, certo? Errado. Qualquer um de nós corre o risco de se comportar assim. O Perfeito Idiota é muito mais um software do que um hardware, muito mais um sistema ético do que um determinado grupo de pessoas.

Um sistema ético que, infelizmente, virou a cara do Brasil. Ele está na atitude da magistrada que bloqueou, no bairro do Humaitá, no Rio, um trecho de calçada em frente à sua casa, para poder manobrar o carro. Ele está no uso descarado dos acostamentos nas estradas. E está, principalmente, na luz amarela do semáforo. No Brasil, ela é um sinal para avançar, que ainda dá tempo – enquanto no Japão, por exemplo, é um sinal para parar, que não dá mais tempo. Nada traduz melhor nossa sanha por avançar sobre o outro, sobre o espaço do outro, sobre o tempo do outro. Parar no amarelo significaria oferecer a sua contribuição individual em nome da coletividade. E isso o PIB prefere morrer antes de fazer.

Na verdade, basta um teste simples para identificar outras atitudes que definem o PIB: liste as coisas que você teria que fazer se saísse do Brasil hoje para morar em Berlim ou em Toronto ou em Sidney. Lavar a própria roupa, arrumar a própria casa. Usar o transporte público. Respeitar a faixa de pedestres, tanto a pé quanto atrás de um volante. Esperar a sua vez. Compreender que as leis são feitas para todos, inclusive para você. Aceitar que todos os cidadãos têm os mesmos direitos e os mesmo deveres – não há cidadãos de primeira classe e excluídos. Não oferecer mimos que possam ser confundidos com propina. Não manter um caixa dois que lhe permita burlar o fisco. Entender que a coisa pública é de todos – e não uma terra de ninguém à sua disposição para fincar o garfo. Ser honesto, ser justo, não atrasar mais do que gostaria que atrasassem com você. Se algum desses códigos sociais lhe parecer alienígena em algum momento, cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus do PIB. Reaja, porque enquanto não erradicarmos esse mal nunca vamos ser uma sociedade pra valer.

*

Fonte: brasildelonge.com
Todo mundo, mais cedo ou mais tarde, senta-se para um banquete de conseqüências. (R.L.Stevenson)

LUGARES

COSTA AMALFITANA - ITÁLIA
A Costa Amalfitana é um trecho de 50 km do litoral sul da Península Sorrentina, na região italiana da Campânia. É um destino popular de férias, com penhascos e uma costa acidentada, na qual se destacam pequenas praias e vilas de pescadores em tons pastel. A estrada costeira entre a cidade portuária de Salerno e Sorrento, no alto, passa por mansões, vinhedos plantados em terraços nas colinas e pomares de limoeiros à beira dos penhascos. ― Google

FRASES ILUSTRADAS

domingo, 8 de dezembro de 2024

PEDINTES

Desde criança acostumei com a expressão "esmoleiro" para identificar aquelas pessoas que dependem da caridade alheia para a própria sobrevivência. 

Conheci algumas dessas pessoas e o respectivo modus operandi e exemplifico com apenas dois deles. 

Lembro de um mudo que sempre ficava junto à bilheteria do Cinema Central. Seu apelo era gestual e todos entendiam. Sempre captava um troquinho junto às almas caridosas. 

Outro portava visível deficiência nos membros inferiores. Se movia auxiliado por um bastão. Tinha cadeira cativa na esquina da Farmácia Velgos. Sentado na calçada, estendia a mão segurando um velho chapéu de feltro para que nele as pessoas de boa vontade depositassem alguma coisa. Dizia-se que era bem de vida. Ao final da tarde um taxista vinha buscá-lo. 

Prefiro identificá-los como pedintes e me adianto em dizer que aqui não faço qualquer distinção entre os bem ou mal intencionados. 

Mas do rol de pedintes que encontrei pela vida destaco quatro deles, que pela inusitada forma de pedir, vale apenas compartilhar.

Lembro da minha primeira viagem internacional ocorrida em 1997. Nova York era o destino onde o prefeito era Rudolph Giuliani, que ficou famoso por implementar a política conhecida por Tolerância Zero. 

Junto com outros companheiros de viagem conseguimos ingressos para um show na Broadway - Miss Saigon. Era uma noite muito agradável e findo o espetáculo resolvemos voltar caminhando ao nosso hotel. 

Em dado momento, um moreno alto, magro, mal vestido, que estava sentado junto à calçada levantou-se e passou a nos importunar tilitando umas moedas contidas numa daquelas famosas canecas de pedir. Pouca gente na rua e nós continuamos caminhando sem dar muitas explicações ao sujeito. 

Pois a cena não durou um minuto. Logo encostou uma viatura da qual desceram policiais não fardados e afastaram o sujeito do nosso grupo. Achamos todos que a atitude fazia parte da política implementada para combater a criminalidade da Big Apple, que na época, tirava o sossego da população e também dos administradores.

Os outros exemplos são bem mais amenos. Um desses pedintes eu conheci em Bruxelas junto à elegante Galeria Royal. 

Naquela tarde choveu muito e todos se abrigaram no interior da galeria, por sinal bem espaçosa. 

Em dado momento vimos um cão buscando contribuições dos "refugiados", enquanto seu dono o acompanhava à distância. A foto diz tudo.

Nos deparamos com outros dois pedintes nas ruas centrais de Bolonha que apresentavam certas características intelectuais. 

O primeiro, provocativamente, exibia um tabuleiro de xadrez. 

Não permaneci no local para ver se alguém se sentia desafiado a jogar e de que maneira ele seria aquinhoado com alguns trocos. 

E se ele perder? me perguntei. 

De qualquer modo o dito cujo encontrou uma maneira inusitada de ganhar a vida. Só não sei era uma fórmula vencedora ou não.

Outro que resolveu inovar foi um que apelidei momentaneamente como "pedinte intelectual". 

Simplesmente se postou junto ao passeio público, livro aberto numa mão, olhos fixos nas páginas enquanto estendia a outra mão a segurar um recipiente apropriado a receber contribuições dos passantes.

Não posso dizer se a fórmula praticada pelos exemplos europeus se mostraram eficazes.

A mim interessa mais o registro do meio de vida encontrado por essas pessoas. 

Ou, como disse meu filho ao ver as fotos:

Nem só de músicos são feitas as atrações de rua!

Sobre eles, os músicos de rua, voltarei em outra oportunidade.


É mais belo clarear do que somente brilhar. (Tomás de Aquino, teólogo e santo italiano)

LUGARES

MÉTSOVO - GRÉCIA
Métsovo é um cidade no Epiro no norte da Grécia, entre Janina ao norte e Metéora ao sul. É o maior centro da cultura aromena na Grécia. Conta com pouco mais de seis mil habitantes e com uma área de 366,8 km². Wikipédia

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sábado, 7 de dezembro de 2024

ROMANCE FORENSE

Charge de Gerson Kauer
Petição de falecimento

Na cidade gaúcha de médio porte, o gerente bancário ali estabelecido há um mês chega à casa para onde recém se mudara e recebe, da empregada doméstica, um recado incomodativo.

- ´Teve´ aqui um oficial, deixou estes papéis e fez eu assinar uma tal de contrafé...

Era uma citação com hora certa em executivo fiscal. Preocupado, o bancário procura um advogado que o tranquiliza e promete liquidar a questão com uma só petição.

No dia seguinte aporta ao foro uma objetiva petição, com três argumentos e um arremate.

1. "O réu mudou-se dessa casa há alguns anos. Também, não pode apresentar os embargos à execução, porque, segundo consta, estaria morto e soterrado sob a frialdade inorgânica da terra, em algum cemitério, alhures”.

2. “O executado era um homem idoso e enfermiço. Se fosse vivo, talvez não pudesse pagar esse débito à argentária Fazenda Municipal. Hoje, a alma dele viaja além do arco-íris, essa fantástica fantasia de cores primárias que se aperfeiçoam à luz de um sol nascente e novo, ou sob a vermelhidão da tarde, depois da vazão das chuvas”.

3. “Consumado o falecimento, a robustecida alma do pobre homem, ora se regala e se banha na estanhada lisura das águas tépidas do luzente lago, onde o cisne do espírito se nutre naquilo que, comumente, chamamos de eternidade”.

E, logo após, o arremate:

“O devedor passou. Por essa razão, devolve-se, em anexo, a inusitada citação por hora certa, que o aqui peticionário recebeu em sua residência. Aproveita-se para alertar o bem remunerado magistrado - que recebe o contestado ´auxílio-moradia - e especialmente seus sempre presentes e multipoderosos estagiários, que, objetivamente, nem o devedor, nem sua alma residem no endereço em que foi deixada a papelada judicial”.

O juiz recebe o petitório, acha criativo o conteúdo da peça, mas despacha de forma econômica: "Diga o exequente".

Alguns dias depois, o Município peticiona para que "o feito seja suspenso por 60 dias, sem baixa, para diligências a fim de tentar localizar o espólio".

E assim o processo se encontra até hoje, passados mais de seis meses, enfiado na taciturna e empoeirada pilha nº 37. Os ácaros enviam lembranças. 

Fonte: www.espacovital.com.br
A sociedade moderna esquece que o mundo não é propriedade de uma única geração. (Oskar Kokoschka, Pintor austríaco, 1886-1980)

LUGARES

ÍMOLA - ITÁLIA
Ímola é uma comuna italiana da região da Emília-Romanha, província de Bolonha, com cerca de 64.348 habitantes. O monumento dedicado à Airton Senna fica dentro do parque, ao lado da pista, com todas aquelas bandeiras das mais diversas nacionalidades fazendo sua homenagem a um dos maiores pilotos do Brasil e do Mundo. 

FRASES ILUSTRADAS