Numa tarde de inverno todos os colegas de escritório já tinham encerrado o expediente de sorte que eu me encontrava só. Ao toque da campainha abri a porta e era um senhor que pediu para conversar com o colega Eloir. Eu não sabia se o Eloir voltaria naquela tarde, circunstância que comuniquei àquela pessoa. Convidei-o a sentar e aguardar. Como o Eloir não chegasse e as minhas tarefas estavam concluídas, disse para aquela pessoa que eu teria que fechar o escritório, não sem antes saber se era cliente do meu colega, caso em que eu faria as anotações necessárias para deixar um lembrete sobre sua mesa. Mas não era cliente. Me disse que havia recebido uma "intimação" do advogado para comparecer ao escritório, mas não sabia do que se tratava. Pedi-lhe a cartinha e logo entendi o pedido do meu colega, que era advogado da Caixa Econômica Estadual para assuntos relacionados à inadimplência. Indaguei se ele era devedor da Caixa e a resposta foi negativa. Perguntei se era avalista de alguém e a resposta foi positiva. Então eu lhe expliquei que possivelmente o chamado da sua pessoa ao escritório tinha relação com algum débito do seu avalisado. O homem começou ficar nervoso. Vestia um grosso casaco de lã e logo o abriu pois estava suando. Procurou nos bolsos um pequeno frasco contendo pequenos comprimidos e logo compreendi a finalidade dos mesmos. Tremia tanto que não conseguia retirar nem mesmo a tampa do pequeno frasco. Então ele me pediu ajuda. Dei-lhe um comprimido e então ele me disse que era cardíaco. Àquelas alturas, de tão nervoso, nem mesmo conseguia colocar o comprimido sob a língua. Tive que fazê-lo. Quase que imediatamente ele começou a acalmar. Só então pude lhe dar uma explicação mais tranquilizadora. Também perguntei se necessitava alguma coisa a mais, ou mesmo ser encaminhado para o Pronto Socorro mas ele me disse que tudo já estava bem. Ele se assustou com a hipótese de vir a pagar dívida alheia. Eu me assustei ao ver alguém em tão crítica situação.
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