domingo, 8 de dezembro de 2019

PEDINTES

PEDINTES

Desde criança acostumei com a expressão "esmoleiro" para identificar aquelas pessoas que dependem da caridade alheia para a própria sobrevivência. 

Conheci algumas dessas pessoas e o respectivo modus operandi e exemplifico com apenas dois deles. 

Lembro de um mudo que sempre ficava junto à bilheteria do Cinema Central. Seu apelo era gestual e todos entendiam. Sempre captava um troquinho junto às almas caridosas. 

Outro portava visível deficiência nos membros inferiores. Se movia auxiliado por um bastão. Tinha cadeira cativa na esquina da Farmácia Velgos. Sentado na calçada, estendia a mão segurando um velho chapéu de feltro para que nele as pessoas de boa vontade depositassem alguma coisa. Dizia-se que era bem de vida. Ao final da tarde um taxista vinha buscá-lo. 

Prefiro identificá-los como pedintes e me adianto em dizer que aqui não faço qualquer distinção entre os bem ou mal intencionados. 

Mas do rol de pedintes que encontrei pela vida destaco quatro deles, que pela inusitada forma de pedir, vale apenas compartilhar com os leitores.

Lembro da minha primeira viagem internacional ocorrida em 1997, cujo prefeito era Rudolph Giuliani, que ficou famoso por implementar a política conhecida por Tolerância Zero. 

Junto com outros companheiros de viagem conseguimos ingressos para um show na Broadway - Miss Saigon. Era uma noite muito agradável e findo o espetáculo resolvemos voltar caminhando ao nosso hotel. 

Em dado momento, um moreno alto, magro, mal vestido, que estava sentado junto à calçada levantou-se e passou a nos importunar tilitando umas moedas contidas numa daquelas famosas canecas de pedir. Pouca gente na rua e nós continuamos caminhando sem dar muitas explicações ao sujeito. 

Pois a cena não durou um minuto. Logo encostou uma viatura da qual desceram policiais não fardados e afastaram o sujeito do nosso grupo. Achamos todos que a atitude fazia parte da política implementada para combater a criminalidade da Big Apple, que na época, tirava o sossego da população e também dos administradores.

Os outros exemplos são bem mais amenos. Um desses pedintes eu conheci em Bruxelas junto à elegante Galeria Royal. 

Naquela tarde choveu muito e todos se abrigaram no interior da galeria, por sinal bem espaçosa. 

Em dado momento vimos um cão buscando contribuições dos refugiados, enquanto seu dono o acompanhava à distância. A foto diz tudo.

Nos deparamos com outros dois pedintes nas ruas centrais de Bolonha que apresentavam certas características intelectuais. O primeiro, provocativamente, exibia um tabuleiro de xadrez. 

Não permaneci no local para ver se alguém se sentia desafiado a jogar e de que maneira ele seria aquinhoado com alguns trocos. 

E se ele perder? me perguntei. 

De qualquer modo o dito cujo encontrou uma maneira inusitada de ganhar a vida. Só não sei era uma fórmula vencedora ou não.

Outro que resolveu inovar foi um que apelidei momentaneamente como "pedinte intelectual". 

Simplesmente se postou junto ao passeio público, livro aberto numa mão, olhos fixos nas páginas enquanto estendia a outra mão a segurar um recipiente apropriado a receber contribuições dos passantes.

Não posso dizer se a fórmula praticada pelos exemplos europeus se mostraram eficazes.

A mim interessa mais o registro do meio de vida encontrado por essas pessoas. 

Ou, como disse meu filho ao ver as fotos:

Nem só de músicos são feitas as atrações de rua!

Sobre eles, os músicos de rua, voltarei em outra oportunidade.

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