
Fabrício Carpinejar
Separar-se não é decidir. É se distanciar da neurose colada ao amor, que não permite ver nem a si e nem ao outro com clareza.
Separar-se é pensar sem a necessidade imediata de corresponder às expectativas.
Não é um ponto final, é um parênteses para recuperar o espaço individual na dinâmica de casal.
O impulso é entender o fim como desamor, ruptura, abandono. A resposta é a menos sofisticada possível, costuma ser apenas exaustão. O cansaço impede o raciocínio e o desencontro momentâneo e forçado é um pedido de socorro para repor o equilíbrio.
A separação não é um passo para trás ou um passo para nunca mais, pode ser um passo para o lado, para não enlouquecer ou quebrar de vez.
O ideal é amadurecer dentro da relação, ajustando o ritmo na convivência, cedendo e aprendendo, mas muitas pessoas só conseguem se transformar sozinhas. Dependem do silêncio e da solidão, para negociar prazos com os seus defeitos. Só dão conta de seus erros quando são descobertas, não por imposição ou cobrança do outro.
Há ainda os que unicamente percebem o par na falta. Estão ao lado e lhes parece natural, não fruto de uma conquista. Precisam perder para reaver o valor. E quando o tem de volta já esquecem o exercício da sedução. Misturam amor e saudade, como se fossem sinônimos.
Separar-se tende a ser uma trégua. O que atrapalha a reconciliação é a pressão para que o tempo longe seja o menor possível. O que se vê é chantagem da carência, ultimatos do desespero, contagem regressiva do reato sob a pena de "nunca mais se falar".
Em toda a separação, o tempo é, a princípio, provisório. Torna-se definitivo pelo modo torto de reagir à notícia.
Demonizamos o afastamento. A insistência em permanecer junto, mesmo na precariedade, é o medo de que a companhia encontre alguém melhor durante o período ou perceba que realmente não gosta mais.
Todos têm o direito de se afastar. Amar jamais será um dever.
Fonte: O Globo
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