domingo, 26 de outubro de 2025

OUTRO ORIENTAL EM APUROS

A cultura japonesa é muito distinta da ocidental. Muito respeitosos e reverenciais, os japoneses têm no trabalho um dos pilares da sua existência. No Japão, é rude olhar as pessoas nos olhos e tocá-las. Um amigo nissei, a quem recorri para entender o que ocorreu comigo, confirmou o comportamento do nosso personagem. Pois bem. Era o nosso último dia de férias. Estávamos em Florença de onde partiríamos para o Brasil via Paris. Malas prontas, encetamos a última caminhada sem qualquer destino ou compromisso, apenas para ajudar a passagem do tempo. Sem nos afastarmos demasiadamente do nosso hotel, fomos em direção a um prédio antigo, com muros altos, semelhante a uma fortaleza. Paramos para identificar no mapa aquele local. De repente senti um um toque no meu ombro esquerdo e ao me virar dei de cara com um japonês. Aparentava uns sessenta ou setenta anos de idade (a gente nunca sabe a idade dos orientais). Sua expressão facial era de desespero. Ele não falou nada. Apenas abriu a mão e me mostrou um papel com uma única palavra escrita: QUESTURA. Ele procurava desesperadamente a sede da polícia que eu de pronto sabia o significado em italiano. Houve um tempo em que meus planos para alcançar a cidadania italiana era residir por uns tempos naquele país. Dentre as providências a serem tomadas, uma delas seria solicitar a permanência no país justamente na tal Questura. Voltemos ao problema do japonês. Eu não tinha dúvidas de que deveria ajudá-lo pois com certeza ele não falava outro idioma que o próprio. Caso contrário, teria falado comigo em inglês, o que é muito comum entre os orientais. Sem saber onde era a Questura, a primeira ideia que surgiu em minha mente foi a de obter informações nas proximidades. Não foi necessário. Bem às minhas costas identifiquei o prédio da polícia por uma placa. Gesticulei para o desesperado senhor para que me acompanhasse os poucos metros que faltavam para alcançar o seu objetivo e relatei para a pessoa que estava na recepção o ocorrido. O japonês me agradeceu com aquele gesto característico de curvar-se um pouco e imediatamente seguiu a pessoa que pediu para acompanhá-lo. Não sei qual era o problema que afligiu aquele senhor, mas como viajante, suponho que ele tivesse perdido o passaporte, que convenhamos, dá uma tremenda dor de cabeça. A propósito de outro oriental.

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