sexta-feira, 17 de março de 2023

MR. MILES


Viagens com tração animal

Nosso viajante britânico registra, com prazer, a correspondência que recebeu de Waldomiro Benedito de Carvalho, de Itapetininga, no interior de São Paulo.

"Foram lindas observações de um jovem viajante — contou Mr. Miles — , a respeito de Waldomiro, que fará 90 anos em janeiro do próximo ano. Unfortunately, o texto é copioso, mas quero registrar alguns trechos".

Desde quando, em 1957, fui pela primeira vez aos EEUU, nunca mais deixei de viajar e conhecer outros países, tudo por minha conta e risco. Não possuo muitos passaportes mas, já guardei oito deles com todo o carinho. É um repositório de belas lembranças eis que, folheando-os relembro as (38) trinta e oito nações que conheci e em muitas delas voltei em várias ocasiões; fiz até um álbum com 462 fotos das Américas do Norte, do Sul e Central, Europa, África, Oriente Médio, Turquia; que publiquei na Internet Não pretendo parar, pois ainda tenho bastante disposição. Pretendo ir à Nova Zelândia ou fazer um safari no Parque Serengueti, no Quênia. Qual deles o senhor me recomenda?

"Well, my friend, a decisão tem de ser toda sua. Sua explosão de entusiasmo e energia revela a alma de um grande viajante, que seguirá — como eu — percorrendo o mundo e fazendo descobertas. Adoro a Nova Zelândia, mas como meus leitores sabem, tenho um fraco pela África (aonde estou agora). Se eu tivesse de escolher, iria para o safári, lembrando que o Serengueti estende-se, também pela Tanzânia. E se a dúvida seguisse grande, optaria pelos dois destinos em uma mesma viagem.

Aliás, nosso viajante glutão não vai esquecer tão cedo a galinha ao molho piri-piri que lhe ofereceram os diretores da Associação de Pescadores de Vilanculos, um vilarejo litorâneo de choupanas de palha e obesos baobás que fica 700 quilômetros ao norte de Maputo, na costa de Moçambique. “It was spicy like hell”, conta-nos mr. Miles que, apesar de ter sentido suas mucosas irromperem em grossas labaredas assim que ingeriu o primeiro naco do bípede apimentado, comportou-se como um cavalheiro até o fim da refeição, em honra a seus anfitriões. Aliviado apenas pela refrescância da cerveja Manica que “thank God, estava gelada”, nosso correspondente britânico viajou, em seguida, para a vizinha ilha de Bazaruto, onde hospedou-se no idílico resort de propriedade de um xeique saudita com quem estudou na Inglaterra. Sua ideia era aproveitar as águas tépidas do Índico, cavalgar pelas dunas e desfrutar de scotchs ao poente. Três dias depois, porém, ao escrever estas linhas, mr. Miles seguia apenas alternando purê de batatas com anti-ácidos, incapaz de afastar-se mais do que cinco metros do water-closet mais próximo.

A seguir, a pergunta da semana:

Poluição extrema. Atrasos nos aeroportos. Acidentes de trens. O senhor não acha que seria melhor voltarmos ao tempo da tração animal?
Nivaldo Utrillo, por email

Well, my friend, é claro que me lembro da tração animal, até porque ainda recorro às suas diversas modalidades com alguma freqüência. Ou o senhor jamais subiu no lombo de um cavalo e sequer fez uma daquelas carriage rides em Nova York ou Viena? Tenho grande apreço pelos equinos em geral e um respeito reverente aos muares, cuja resistência e perseverança me comove especialmente. Lembro-me da mula Balalaika que, anos atrás, transportou-me por mais de uma semana através dos montes Urais. Sozinha, ela encontrou uma maneira de nos tirar daqueles penhascos quando eu já me considerava irremediavelmente perdido.

Camelos e dromedários, as well, continuam em uso em grande parte do planeta. Já recorri a seus (deles) serviços several times, embora seu galope descomunal, I must say, tire todas as minhas vértebras do lugar.

Também fiz várias jornadas a bordo de gentis elefantes asiáticos que, definitivamente, não são recomendadas para pessoas que enjoam.

Se você é leitor dessa coluna, deve saber que, certa feita, meu saudoso amigo Nelson Mandela e eu até mesmo apostamos uma corrida montando avestruzes no vale do Grande Karoo. A modéstia me impede de dizer quem venceu o páreo, mas posso lhe assegurar, my fellow, de que avestruzes não se enquadram na categoria “tração animal”. Eles têm força e velocidade, mas falta-lhes, unfortunately, bestunto e senso de direção. O que, however, é facilmente oferecido pelos veiculos motorizados de hoje. Em outras palavras, my friend, adoro os animais. Mas, exceto Trashie, minha raposinha de estimação, prefiro cada um deles em seu lugar. Porque para percorrer esse planeta sem fim, a tração mecânica é, sem dúvida, melhor.

Fonte: Facebook

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