terça-feira, 5 de abril de 2022

REELEIÇÃO E REPROVAÇÃO

REELEIÇÃO E REPROVAÇÃO
Sérgio Abranches

Tenho ouvido muito que nenhum presidente deixou de ser reeleito até hoje. É verdade. Também é verdade que são poucos casos. De quatro presidentes eleitos após a Constituição de 1988, três foram reeleitos e, um sofreu impeachment ainda no primeiro mandato. Se examinarmos o que ocorre com governadores, o quadro muda. Nas eleições de 2018, por exemplo, metade dos governadores que se candidataram à reeleição perdeu. Em 2014, dos 18 governadores que tentaram a reeleição, 11 não se reelegeram.

Uma outra forma de checar se há uma tendência inexorável à reeleição de presidentes é examinar a taxa de reprovação dos presidentes na véspera da eleição. Está no gráfico abaixo, com dados do Datafolha, que cobre todos os períodos.


Como se vê Fernando Henrique foi reeleito em 1998, com reprovação muito baixa, a mesma, por coincidência, de Lula, em 2006. Ambos tiveram apenas 17% de Ruim/Péssimo. Quando examinamos pelo índice Datafolha, que soma 100 à subtração da aprovação pela reprovação (abaixo de 100 é negativo e acima, positivo) Lula tinha um índice maior que o de FHC porque sua aprovação (Ótimo/Bom) era maior. Lula era aprovado por 49%, nas vésperas da eleição de 2006 e Fernando Henrique por 43%, na véspera do primeiro turno de 1998. O índice de Dilma Rousseff era mais baixo do que o de seus dois antecessores, mas ainda positivo, porque ela era aprovada por 38% e reprovada por 23%.

Bolsonaro, na pesquisa de março, tem índice de 79, portanto negativo, resultante de aprovação de apenas 25% e reprovação de 46%, o dobro da reprovação de Dilma Roussef. Com esses índices ele não se reelegeria, se a eleição fosse hoje. Claro que ainda estamos a seis meses da reeleição e ele pode melhorar sua aprovação. É pouco provável. A Pesquisa do IPESPE, do segundo semestre de março mostra que a pequena recuperação da aprovação de Bolsonaro, entre dezembro de 2021 e março deste ano, já parou. O Datafolha captou o primeiro movimento, mas não o segundo.

A economia vai piorar, a inflação vai subir e, quando começar a cair, continuará muito alta ainda por meses. Além disso, com a guerra na Ucrânia, os preços de alimentos básicos como pão, macarrão, frango, ovos e suínos continuarão pressionados por causa dos preço internacional do trigo.

A economia é o fator-chave nas eleições presidenciais. Em outubro de 1998, primeiro turno da reeleição de FHC, a inflação (INPC) era de 2,98%. Em outubro de 2006, primeiro turno da reeleição de Lula, era de 6,59%; no primeiro turno da reeleição de Dilma, era de 2,71%. Hoje, ela está em 10,54%. É um número fatal. O desemprego, nos mesmos períodos marcava, 13,4%; 4,7%; 8,4%; 11,2%, respectivamente. Combinando-se os dois índices, tem-se o índice de miséria: FHC foi reeleito com índice de 16,38; Lula, com o índice de 11,29; Dilma, com 11,11. Este índice hoje, para Bolsonaro, está em 21,74.

Em síntese, todos os indicadores indicam que a chance de reeleição de Bolsonaro é muito pequena, se não conseguir melhorar muito e rapidamente os índices econômicos fudamentais para avaliação do governo e sua aprovação. O mais crítico, é a inflação. Uma recuperação tão rápida não é provável pelos cenários dos analistas econômicos mais confiáveis.

Fonte: https://sergioabranches.com.br

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