Aconteceu nos anos setenta a promoção de um juiz de direito para a Comarca de Mondaí no extremo oeste catarinense. Para quem não conhece a região, é importante esclarecer que na época, o município de Mondaí e arredores era habitado de forma predominante por descendentes de imigrantes alemães, vindos do outro lado do Rio Uruguai.
Era verão e verão por aquelas paragens significa calor nos limites do suportável.
O recém promovido magistrado provinha da capital e jamais tivera contato com o interior. Chegou em Mondaí numa tarde ensolarada de fevereiro e enquanto os móveis da sua mudança estavam sendo arrumados na residência, dirigiu-se até um bar próximo para providenciar água gelada para si, esposa, filhos e também para os empregados da transportadora. Atrás do balcão, o bolicheiro, um alemão do tipo vovô chopão: galego, alto e gordo. Toalha por sobre o ombro, palito no canto da boca e uma produção de suor pela testa escorrendo pelo pescoço e alastrando-se pelo corpanzil. O ventilador de teto girando na velocidade máxima servia apenas para manter as moscas distantes do balcão. Vendo o forasteiro que se aproximava e após atender a outro cliente, dirigiu-lhe a palavra:
- Tu aí, o que é que vai?
O juiz, moço bem educado, ficou um tanto chocado com o modo, digamos, ríspido como foi atendido pelo bolicheiro. Mas, imperturbável, respondeu:
- Uma água mineral, por favor.
Depois de sorver o água e pedir outras para o pessoal de casa e pagar a conta, o magistrado indagou do alemão:
- O senhor não me conhece, não é mesmo?
- Não, por que?
- Eu também não o conheço. Mas quando duas pessoas não se conhecem, não devem se tratar por “tu”, expressão que deve ser usada quando há uma certa intimidade entre elas. O mais correto, quando as pessoas não se conhecem, é um tratamento respeitoso, tal como “senhor”, ou até mesmo “você”.
O alemão, sem entender muita coisa, ou entendendo muito mais do que se pensa cruzou os braços, e disse, num sotaque bem carregado:
- E no retontinho non fai nada?
(*) Relato do saudoso colega Dr. Olavo Weschenfelder, que omitiu a identidade do interessado.
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