sexta-feira, 31 de outubro de 2025

GILLES DREU

ALOUETTE
A experiência é a mestra dos imbecis. (Tito Livio, historiador romano, 59-64 a.C.- 17.d.C.)

LUGARES

VICO EQUENSE - ITÁLIA

A imagem mostra a Chiesa della Santissima Annunziata em Vico Equense, Itália, à noite. Vico Equense é uma comuna italiana na província de Nápoles, Campânia, localizada na Península Sorrentina e na Baía de Nápoles. A Chiesa della Santissima Annunziata é notável por ser considerada a primeira e mais bela catedral da Itália construída sobre o mar. A localização oferece vistas panorâmicas espetaculares da Baía de Nápoles.

FRASES ILUSTRADAS

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

ESSES IDIOTAS DEVERIA LER NELSON RODRIGUES

Oliver Harden

Há uma espécie de idiotice triunfante que se alastra como erva daninha no jardim da modernidade. É a idiotice satisfeita, exibicionista, pavoneada em vídeos, reels e frases de efeito que parecem saídas de manuais de autoajuda escritos por analfabetos emocionais. É o império da mediocridade narcisista, onde a burrice adquire um ar de virtude e a ignorância, um tom de sabedoria alternativa. Diante desse espetáculo grotesco de superficialidades, só há uma sentença possível, esses idiotas deveriam ler Nelson Rodrigues.

Ler Nelson Rodrigues seria, para essa geração de idiotas digitais, como olhar-se pela primeira vez num espelho que não mente. Nelson foi o anatomista da alma nacional, o cirurgião sem anestesia do ridículo humano. Onde o senso comum enxerga moral, ele via hipocrisia, onde a sociedade via pureza, ele via recalque, onde o povo via progresso, ele via decadência. Ler Nelson é confrontar-se com o próprio abismo, com o lodo disfarçado de virtude, com o teatro farsesco da normalidade social.

O problema é que o idiota moderno, e aqui falo do idiota que opina, influencia e vende sua ignorância com entusiasmo de pregador, jamais suportaria essa leitura. Nelson Rodrigues exige inteligência e vergonha, duas coisas que o influenciador contemporâneo não possui. Sua escrita é um espelho que não devolve filtros, um espelho que mostra o hálito podre da opinião, o fetiche da exposição e a nudez moral de quem confunde visibilidade com valor.

A idiotice atual não é uma ignorância inocente, mas uma ignorância performática. O sujeito não sabe, mas exibe o não saber com orgulho, como se a estupidez fosse sinal de autenticidade. Nelson chamaria isso de "idiotice orgulhosa", uma doença do espírito que transforma a burrice em capital simbólico. O que vemos nas redes sociais é exatamente isso, um desfile de egos que acreditam ser profundos porque falam de si mesmos, um carnaval de opiniões rasas travestidas de consciência crítica.

Nelson Rodrigues compreendia o Brasil, e o ser humano, com uma lucidez insuportável. Ele sabia que o homem é uma criatura cômica e trágica, movida por desejos inconfessáveis, paixões ridículas e ambições miúdas. Sua ironia não era gratuita, era terapêutica, nascia do diagnóstico preciso da estupidez coletiva. Ler Nelson é vacinar-se contra a demagogia do otimismo, contra a burrice das frases prontas e contra a estética do vazio que domina a internet.

Esses idiotas, que hoje se sentem missionários do óbvio, não suportariam a brutal honestidade de Nelson. Ele não os pouparia. Chamá-los-ia de canalhas sentimentais, de cretinos com diploma, de mediocridades convencidas de sua própria genialidade. Nelson tinha horror à burrice travestida de virtude, à ingenuidade arrogante, à pureza que apodrece por dentro. Se vivo fosse, faria do feed digital um palco de tragicomédias e dos influenciadores, personagens de suas peças mais sombrias.

Porque, no fundo, Nelson Rodrigues continua atual justamente por ser cruelmente humano. Ele desmascara, ridiculariza e, ao mesmo tempo, compreende. E é por isso que esses idiotas deveriam lê-lo, não para aprender literatura, mas para descobrir o que significa olhar-se sem filtro, sem plateia, sem a covardia confortável do "like".

Ler Nelson Rodrigues é perder a inocência, e talvez seja esse o problema. O idiota contemporâneo não quer lucidez, quer aplauso, não quer pensar, quer aparecer, não quer compreender o trágico, quer vendê-lo em prestações. Mas a verdade é simples, enquanto não lerem Nelson Rodrigues, continuarão tropeçando nas próprias selfies, convencidos de que iluminam o mundo, quando na verdade apenas ampliam o breu.

Fonte: Facebook
Deus não é compatível com a maquinaria, a medicina e a felicidade universal. A gente tem que escolher. Nossa civilização escolheu a maquinaria, a medicina e a felicidade. (Aldous Huxley, escritor inglês, 1894-1963)

LUGARES

VALPARAÍSO - CHILE

Valparaíso é conhecida por suas colinas íngremes, casas coloridas e arte de rua, sendo um Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO. A cidade está localizada na região central do Chile, a cerca de 120 km de Santiago, e abriga um dos principais portos do país. O nome Valparaíso tem origem em Valparaíso de Arriba, em Castela-La Mancha, Espanha. A Grande Valparaíso é a segunda região metropolitana mais populosa do Chile.

FRASES ILUSTRADAS

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

AMOR INCONDICIONAL

O processo versava sobre uma tentativa de homicídio. A acusada era a pessoa mais popular da sua comunidade, quer pela sua truculência, quer pelo seu porte físico. Com a autoridade de quem media 1,80 de altura, com um físico de lutador de sumô e uma força descomunal, sua palavra era verdadeira lei no morro.

Aquele era mais um dos inúmeros processos em que ela figurava como acusada, pois briga era com ela mesma. E como tinha uma, digamos, certa vantagem física em relação aos seus opoentes, quase sempre do sexo masculino, ela acabava levando a melhor nas contendas e a pior nas conseqüências legais.

Por razões que desconheço, a acusada investiu contra seu companheiro, munindo-se de um machado e num só golpe acertou a face do mesmo, provocando-lhe um ferimento daqueles que lembram o Bochincho - "cortado do beiço à orelha..."

Pois naquela audiência seriam ouvidas as testemunhas da acusação e é claro, a vítima, na condição de informante.

Assim que a vítima ingressou na sala de audiências, imaginei a covardia da acusada. Era nítida vantagem física dela, com o corpanzil já mencionado e a figura mirrada do seu opoente. E ainda munida de um machado, enfrentando, se é que o termo é apropriado, o seu companheiro, um sujeito alto, magro e tímido ao extremo. A imensa cicatriz que portava no rosto era como um documento de identidade.

Quanto à desavença entre os dois, com a voz tão baixa quanto possível, quase sussurrando, ele respondeu que fora motivada por ciúmes.

- Seu Juiz, ela é muito ciumenta, disse ele, parecendo muito assustado.

Dado que a acusada era notoriamente muito truculenta, indaguei da vítima se depois daquela briga eles tiveram outras e se voltaram a conversar, ao que respondeu prontamente que apesar da briga, a convivência conjugal continuava como antes.

A resposta pegou a todos de surpresa, pois não seria de imaginar que depois de uma tentativa de homicídio alguém pudesse continuar vivendo sob o mesmo teto com o seu agressor.

- Então vocês continuam amigados, vivendo na mesma casa, comendo na mesma mesa e dormindo na mesma cama?

- Sim, respondeu prontamente.

- Mesmo depois de ter levado aquela machadada?

- Sim senhor.

- O senhor levou uma machadada que quase o matou. A cicatriz provocada lhe desfigura o rosto. Ela é ciumenta e mesmo assim você continua morando com ela? Você não tem medo?

- Medo eu tenho...

- E então? reforcei.

- O que faz o amor... Disse ele com um olhar matreiro para a sua amada.
As verdades convertem-se em dogmas, desde o instante em que passam a ser discutidas. (Gilbert Keith Chesterton, escritor inglês, 1874-1936)

LUGARES

BUDAPESTE - HUNGRIA

A Praça dos Heróis é uma das praças mais importantes de Budapeste, capital da Hungria. Fica situada num extremo da avenida Andrássy, perto do parque da cidade. Wikipédia

FRASES ILUSTRADAS

terça-feira, 28 de outubro de 2025

DIFERENÇA ENTRE APOIAR E APROVAR NO CASAMENTO

Fabrício Carpinejar
Fabrício Carpinejar

No casamento, um dos grandes equívocos é aguardar aprovação enquanto o correto é esperar o apoio. 

Aprovação é paternal ou maternal, não pode ser ritual de casados, porque cria a dependência e a submissão. Alguém se anulará pela carência. Alguém se arrependerá de sua iniciativa e de suas ideias. Alguém agirá pela ansiedade do aplauso. Alguém será permanentemente avaliado. Alguém deixará de viver as suas opiniões em nome do aval de um dos lados. 

Não é agradável sofrer com a oposição, é desgastante, às vezes cansa e traz o divórcio, porém é desesperador adotar o que não se acredita só para não brigar. 

Mulher e marido devem apoiar, jamais aprovar. Apoiar é respeitar a diferença. Apoiar é reconhecer o valor da posição contrária. Apoiar não é submissão, é estar junto concordando ou discordando. Apoiar é admitir o contraponto e não sonhar com o consenso entre duas personalidades diferentes. 

Consenso entre dois é um disparate, o termo democrático funciona com mais envolvidos. Consenso entre dois corresponde a uma miragem de paz, é quando o primeiro manda e o segundo obedece. Consenso entre dois não é liberdade, é poder. E poder restringe a ação, não ilumina todos os caminhos. Quem tem poder tem menos liberdade. Quem tem liberdade não precisa do poder. 

Há gente que não faz nada na relação se não obtém aprovação. Depende da aprovação do que vestir, depende da aprovação para receber amigos em casa, depende da aprovação para o que comer e o que beber, depende da aprovação para dormir e mexer no celular. São escravos silenciosos do amém. O sim que começou como agrado, avançou como hábito e recrudesceu em abandono do próprio pensamento. 

Na simbiose da aprovação, o amor é perigosamente infantilizado e abre a guarda para o surgimento de um tirano dentro de casa. Sempre existe aquele que se beneficia da fragilidade, explora os bem-intencionados e manda e desmanda no casamento. 

O desejo de agradar de qualquer jeito desemboca na obediência cega. No fim, terminará não determinando o que é realmente seu da rotina, apagará a sua identidade, não saberá escolher um canal de televisão ou uma roupa ou uma comida, de tanto que ficou sujeita ao que a sua companhia considera adequado. 

Apoie, que é um gesto de igualdade, não aprove. Ninguém é melhor do que o outro para aprovar.

Fonte: Zero Hora
Deus dá pente a quem não tem cabelo. (Barão de Itararé)

LUGARES

LOURDES - FRANÇA

A imagem mostra o Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, um importante centro religioso católico localizado na cidade de Lourdes, na França.

FRASES ILUSTRADAS

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

O CRIADOR ANÔNIMO

Ruy Castro

Todos admiram os logos de 007, 'Cabaret', 'Manhattan' e outros e ninguém sabia de quem eram

O logotipo de James Bond, 007, todos conhecem. O 7 é a coronha da pistola, a que se acoplou o gatilho e o cano de uma Walther PPK. Para alguém com licença para matar, nada melhor como cartão de visita. O pôster de "Amor, Sublime Amor" (1961) —"West Side Story", claro—, também já dizia tudo: a silhueta de um casal dançando nas escadas de incêndio de um edifício depauperado. E o de "Cabaret" (1971)? Um totem luminoso de teatro com Liza Minnelli encarapitada nele. E o de "Manhattan" (1979), de Woody Allen? As silhuetas de edifícios-símbolo de Nova York, como o Empire State, o Chrysler, as Torres Gêmeas e o Citicorp Center, soletrando a palavra "Manhattan" para formar o famoso skyline.

Tenho fascínio por artes gráficas e sempre quis saber de quem eram essas marcas. Em vão —os créditos dos filmes não as atribuíam a pessoas, mas a empresas que não me diziam nada. Agora sei. São todas de autoria de Joe Caroff, um designer gráfico morto há dias em Nova York, aos 103 anos.

Caroff não era famoso nem entre os colegas. Ao contrário deles, não assinava os desenhos, não fazia exposições, não publicava portfólios. Só trabalhava. E, como fazia isso muito bem, era requisitado por editoras de livros, companhias de teatro e produtores de cinema. Chegou a produzir uma capa de livro por dia. Para ele, estava bom —"Sou só um prestador de serviços", dizia.

Caroff recebeu US$ 300 pelo logotipo de 007, criado para um filme de produção modesta, "O Satânico Dr. No", em 1962. Nada mal, porque a marca só lhe tomou alguns minutos para bolar e uma hora para executar. Como ele poderia adivinhar que aquele seria o primeiro de uma bombástica série de filmes, hoje no 25º? Todos explorando o famoso logotipo, pelo qual nunca mais recebeu um centavo —e nunca se queixou.

Ele foi também o autor dos belíssimos cartazes de "Os Reis do Iê-Iê-Iê" (1964), dos Beatles, "Último Tango em Paris" (1972), com Marlon Brado, e "Zelig" (1983), também de Woody Allen. Sempre anônimo, como parecia gostar.

Fonte: Folha de S.Paulo - 07.09.2025
Se A é o sucesso, então A é igual a X mais Y mais Z. O trabalho é X; Y é o lazer; e Z é manter a boca fechada. (Albert Einstein, físico alemão, 1879-1955)

LUGARES

NYON - SUÍÇA

A imagem mostra o Castelo de Nyon, localizado na cidade de Nyon, Suíça, às margens do Lago Léman. O Castelo de Nyon fica no alto de uma pequena colina e oferece uma vista panorâmica da cidade e do lago. Parte do castelo foi utilizada como prisão até o final do século XX, e as escritas dos presos foram mantidas. O castelo abriga um museu histórico, com exposições de arte e porcelanas antigas. Nyon também é a sede da UEFA e tem um museu romano com ruínas bem preservadas.

FRASES ILUSTRADAS

domingo, 26 de outubro de 2025

OUTRO ORIENTAL EM APUROS

A cultura japonesa é muito distinta da ocidental. Muito respeitosos e reverenciais, os japoneses têm no trabalho um dos pilares da sua existência. No Japão, é rude olhar as pessoas nos olhos e tocá-las. Um amigo nissei, a quem recorri para entender o que ocorreu comigo, confirmou o comportamento do nosso personagem. Pois bem. Era o nosso último dia de férias. Estávamos em Florença de onde partiríamos para o Brasil via Paris. Malas prontas, encetamos a última caminhada sem qualquer destino ou compromisso, apenas para ajudar a passagem do tempo. Sem nos afastarmos demasiadamente do nosso hotel, fomos em direção a um prédio antigo, com muros altos, semelhante a uma fortaleza. Paramos para identificar no mapa aquele local. De repente senti um um toque no meu ombro esquerdo e ao me virar dei de cara com um japonês. Aparentava uns sessenta ou setenta anos de idade (a gente nunca sabe a idade dos orientais). Sua expressão facial era de desespero. Ele não falou nada. Apenas abriu a mão e me mostrou um papel com uma única palavra escrita: QUESTURA. Ele procurava desesperadamente a sede da polícia que eu de pronto sabia o significado em italiano. Houve um tempo em que meus planos para alcançar a cidadania italiana era residir por uns tempos naquele país. Dentre as providências a serem tomadas, uma delas seria solicitar a permanência no país justamente na tal Questura. Voltemos ao problema do japonês. Eu não tinha dúvidas de que deveria ajudá-lo pois com certeza ele não falava outro idioma que o próprio. Caso contrário, teria falado comigo em inglês, o que é muito comum entre os orientais. Sem saber onde era a Questura, a primeira ideia que surgiu em minha mente foi a de obter informações nas proximidades. Não foi necessário. Bem às minhas costas identifiquei o prédio da polícia por uma placa. Gesticulei para o desesperado senhor para que me acompanhasse os poucos metros que faltavam para alcançar o seu objetivo e relatei para a pessoa que estava na recepção o ocorrido. O japonês me agradeceu com aquele gesto característico de curvar-se um pouco e imediatamente seguiu a pessoa que pediu para acompanhá-lo. Não sei qual era o problema que afligiu aquele senhor, mas como viajante, suponho que ele tivesse perdido o passaporte, que convenhamos, dá uma tremenda dor de cabeça. A propósito de outro oriental.
De todos os infortúnios que afligem a humanidade, o mais amargo é que temos de ter consciência de muito e controle de nada. (Heródoto, historiador grego, 484 a.C.(?)-430-420 a.C.)

LUGARES

ALBEROBELLO - ITÁLIA

Alberobello é uma comuna italiana da região da Puglia, província de Bari, com cerca de 10.855 habitantes. Estende-se por uma área de 40 km², tendo uma densidade populacional de 271 hab/km². 

FRASES ILUSTRADAS

sábado, 25 de outubro de 2025

ROMANCE FORENSE

Tudo por dinheiro
Por Ronaldo Sindermann, advogado (OAB/RS nº 62.408)

Um estagiário voltando, de lotação, do Foro Central para o escritório senta-se ao lado de um senhor muito bem vestido.

O estagiário olha e pergunta:

- O senhor é aquele que aparece nos debates jurídicos na televisão?

- Sim, eu costumo ir a muitos debates e por isso o jovem me reconheceu.

E o douto logo propõe:

- Como vai demorar o nosso percurso, que tal fazermos um jogo de perguntas e respostas?

Após instantes de vacilação, o estagiário concorda.

- Pode ser !...

- Como tenho grande conhecimento jurídico, eu lhe faço eu uma pergunta; se você não souber a resposta me dará dois reais. Em seguida, você me faz uma pergunta sobre qualquer ramo do direito; se eu não souber responder dou-lhe cem reais. Aceita?

- Tudo bem ! - concorda o estagiário.

- É proibida a realização de qualquer trabalho, salvo na condição de aprendiz, aos menores de... ?

- Não sei ! - responde o estagiário.

- A resposta correta é 16 anos, conforme o artigo 403 da CLT, que estabelece ser proibido qualquer trabalho a menores de 16 de idade, salvo na condição de aprendiz. Assim, dê-me os dois reais e faça-me uma pergunta - sentencia o douto.

- Qual a fruta que, por meio de lei, se transformou em fruta nacional ? - questiona o jovem.

- Realmente não sei - responde o mestre do Direito.

- Então passe-me os cem reais - reclama o estagiário.

O douto atende e pede:

- Aqui está seu dinheiro, mas agora me diga que fruto é esse que, por previsão legal, se transformou em fruta nacional ?

- Também não sei. Tome lá seus dois reais que eu vou descer na próxima esquina.

Já fora da lotação com a cédula de cem reais na mão, o estagiário grita:

- Cupuaçu ! Cupuaçu ! Cupuaçu !...

Fonte: www.espacovital.com.br
A fotografia é um método de desenho que corta e modela a realidade de um momento. (Henri Cartier-Bresson, fotógrafo francês)

LUGARES

CAXIAS DO SUL - RS

O Museu Ambiência Casa de Pedra é um museu instalado em uma casa histórica da cidade de Caxias do Sul, no Brasil.

FRASES ILUSTRADAS

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

THE MARMALADE

REFLECTIONS OF MY LIFE

O bacalhau é um peixe lavado e passado a ferro. (Barão de Itararé)

LUGARES

OLÍMPIA - GRÉCIA

O Templo de Hera , ou Heraion , é um antigo templo grego arcaico em Olímpia , Grécia , que foi dedicado a Hera :61 , rainha dos deuses gregos :195–197 . É o templo mais antigo de Olímpia :61 e um dos mais veneráveis ​​de toda a Grécia.

FRASES ILUSTRADAS

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

MATER ET MAGISTRA

Carlos Heitor Cony
  
Nada mais estúpido do que, católicos ou não, aconselharem o papa João Paulo 2º a renunciar. Antes de tudo, qualquer renúncia é questão de foro íntimo. Além do mais, a pressão de grupos ou pessoas, por mais importantes que sejam, no sentido de alguém pedir a renúncia de um papa ou de um governante, é uma violência provinda de uma conspiração preliminar. Imprópria, por conseguinte, no seio de uma igreja regida por códigos e tradições.

Que o atual papa está doente, caindo pelas tabelas, está. Continua lúcido, mas suas energias minguam a cada dia, tornando difícil o comando que ele exerce sobre uma instituição que conta com 20 séculos de existência e um bilhão de crentes.

Contudo, o governo central da Igreja, a cúpula política e administrativa, criada e mantida por ele, permanece intacta, azeitada nos mínimos detalhes. Evidente que este mecanismo tem como núcleo as diretrizes e a personalidade do papa reinante. E assim permanecerá enquanto João Paulo 2º estiver vivo, condição que, segundo os católicos, não pertence aos homens mas a Deus.

Os apressadinhos, que desejam mudar a Igreja para lá ou para cá, devem pensar duas vezes antes de dar qualquer palpite a respeito. A Igreja atravessou dois mil anos na História sem pressa, o problema central dela não é adaptar-se aos tempos, mas continuar dando o seu recado espiritual, seja ele simpático ou não às gerações que chegam e vão embora.

De tempos em tempos, concílios ecumênicos são convocados por determinado papa e algumas correções de curso são feitas, mas sempre em torno do eixo central que a mantém, para os verdadeiros católicos, e como disse outro papa, mãe e mestra.

Fonte: Folha de S. Paulo - 15/02/2005
Condenar a televisão seria tão ridículo como excomungar a eletricidade ou a teoria da gravidade. (Federico Fellini, cineasta italiano)

LUGARES

ORTÍGIA - ITÁLIA

Ortígia é uma pequena ilha italiana onde se encontra o centro histórico de Siracusa, Sicília. Segundo a lenda, recebeu o nome de Ortígia quando os deuses a deram a Ártemis; as ninfas da ilha fizeram brotar a fonte de Aretusa para agradar Ártemis. Wikipédia

FRASES ILUSTRADAS

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

O PINTOR E A CAMIONETE

Ele era pintor. Não tenho certeza mas morava no Real Hotel. Choferiava um veículo que na nossa infância denominávamos de "fordeco". Era do tipo camionete, ano 1929 ou próximo, desses que se vê assistindo os filmes dos inesquecíveis O Gordo e o Magro. 

Como fosse o tipo de veículo que pelas suas características todo mundo sabia pertencer ao pintor, que no caso, era conhecido por Gelatti. Essa "marca registrada" que era a própria camionete, era uma espécie de seguro, uma garantia de que nunca seria furtada. Ninguém se atreveria a furtar um bem que todos sabiam pertencer ao pintor Gelatti. 

Como o veículo era usado para transportar todo o aparato de pincéis, tintas e escadas para o labor do Gelatti, o mesmo era todo aberto e não exibia nenhum aparato de segurança. O feliz proprietário também colaborava para essa garantia. Era um sujeito folclórico e por onde passava sempre havia conversa em volume acima do normal. Morando no Real Hotel, era assíduo frequentador das mesas de feltro verde dos clubes próximos. 

Naqueles tempos estacionamento não era problema. Sempre haviam vagas disponíveis nas proximidades dos dois estabelecimentos e para facilitar a vida dos motoristas, o estacionamento era no sentido oblíquo. 

Tudo seria um mar de rosas se não existissem os eternos aprontadores. Vez por outra três ou quatro garotões frequentadores daquelas imediações "furtavam" a camionete indo estacioná-la cerca de um ou dois quarteirões do local original. Quando o Gelatti saia do carteado ou de manhã saia do hotel para trabalhar tinha a desagradável surpresa de não encontrar o seu instrumento de trabalho. Bestemas e mais bestemas. 

A sacanagem se repetia com tal intensidade que o Gelatti resolveu dar um basta naquela brincadeira. Comprou uma corrente com cadeado e estacionou a camionete junto a um poste de eletricidade onde aprisionou a mesma. Os malandros, assim que chegaram para mais uma aventura, dando de cara com aquelas correntes, ficaram um tanto frustrados no seu intento, mas… alguém teve a brilhante idéia de conseguir outra corrente com outro cadeado e fizeram o mesmo que o Gelatti havia feito. Acorrentaram a camionete no mesmo poste. 

Ao sair para o trabalho, vendo a sua camionete no lugar onde a deixara na noite anterior, ele ficou satisfeito. O sentimento de vitória durou pouco, só alguns minutos para dizer a verdade. Sentindo-se o feiticeiro contra o qual havia se virado o próprio feitiço, de sua boca saíram bestemas e mais bestemas. 

Os autores? Desconheço, mas desconfio. Quem me relatou os fatos foi o Alfredinho. Tendo em vista o seu passado aprontão… 
O homem é um experimento; o tempo mostrará se valeu a pena. (Mark Twain, escritor americano, 1835-1910)

LUGARES

BERGEN - NORUEGA

A imagem mostra a estátua de Ludvig Holberg na praça Vågsallmenningen, em Bergen, Noruega. Ludvig Holberg (1684-1754): Foi um renomado dramaturgo, historiador e filósofo norueguês-dinamarquês, considerado o pai da literatura dinamarquesa e norueguesa. A estátua está situada na movimentada praça Vågsallmenningen, perto do histórico Mercado de Peixe de Bergen, um ponto focal na cidade. A praça é um local vibrante, cercado por lojas, cafés e edifícios históricos, oferecendo aos visitantes a oportunidade de apreciar a rica herança cultural de Bergen.

FRASES ILUSTRADAS

terça-feira, 21 de outubro de 2025

CÂMBIO MANUAL

Martha MedeirosMartha Medeiros

Ler é bom, simplesmente. Não precisa servir para nada

No último livro que li em 2015, o personagem Pablo tomava as principais decisões da sua vida enquanto mudava as marchas do carro. Um detalhe, apenas um detalhe. A história do livro é outra e nada tem a ver com isso. Mas a competência do autor me fez enxergar nitidamente aquele Pablo que passava de primeira para segunda quando se animava com uma ideia delirante, e de segunda para terceira quando se sentia confiante de que aquele era mesmo o caminho que deveria seguir, e que voltava para a segunda marcha quando de repente uma dúvida reduzia seu entusiasmo.

Uma vida, quando bem vivida e bem pensada, nos obriga a essas alterações de força do motor. Uma ideia puxa outra ideia, encontra a estrada livre em frente, acelera, aí surgem os obstáculos, freamos, nos adequamos à baixa velocidade novamente, até que uma fresta se abre, decidimos avançar por ela, e engatamos a segunda, a terceira, a quarta, a quinta, sentindo o êxtase da conquista: o deslizar merecido depois de uma escolha que foi feita em um único segundo, administrando racionalização e audácia. Até que se chega a algum ponto morto, e tudo começa novamente.

Isso quando não somos forçados a dar ré. A gente se desencoraja, às vezes.

Eu, como muitos, dirijo um carro com câmbio automático e acho bem prático. Acomodo o câmbio no D de Drive e é só ir. Pouco esforço. O motor se adapta às circunstâncias, o carro decide qual a potência exigida, não precisa de mim.

Emoção nenhuma. Como um pensamento sem mudanças.

Para que serve ler? Aproveitando a deixa, poderia responder que é para lembrar que usar a cabeça é um exercício estimulante, que terceirizar nossas escolhas é preguiça, que estar no comando exige responsabilidade, que é preciso saber quando avançar e quando recuar, enfim, essas coisas que fazem da troca de marchas uma bela metáfora pra vida, mas não: ler é bom, simplesmente. Não precisa servir para nada.

O livro que citei na abertura dessa coluna, o último que li em 2015, foi o genial Aventuras Provisórias, de Cristóvão Tezza. E entrei em 2016 lendo Trapo, também de Cristóvão Tezza. E oxalá Cristóvão Tezza continue comigo nessa longa jornada pela frente, me inspirando, entretendo, ensinando, divertindo, comovendo ou, se for o caso, não servindo pra nada.

A não ser, talvez, para me fazer sentir a plenitude de engatar a primeira e assumir os riscos desta viagem – um ano que começa é sempre uma nova estrada que se pega, e quero avaliar eu mesma de quanta força vou precisar e de quais emoções não pretendo abrir mão.

Meu carro é automático. Eu, não.

 Fonte: Zero Hora
Minha intenção é demonstrar que a máquina celeste não é um ser divino, mas um relógio. (Johannes Kepler, astrônomo alemão, 1571-1630)

LUGARES

BORDEAUX - FRANÇA

A imagem mostra a Rue Sainte-Catherine em Bordeaux, na França, uma das ruas comerciais mais longas da Europa.

FRASES ILUSTRADAS

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

O FILME QUE NÃO FOI

Ruy Castro

EUA arquivaram documentário de Hitchcock sobre os campos de extermínio; não ficava bem ofender os alemães

Nestes tempos de Trump, uma pulga nos surge atrás da orelha e pergunta: "E se os EUA que sempre admiramos, de Frank Sinatra, Scott Fitzgerald e Marilyn Monroe, só tiverem existido em nossa fantasia? E se nem tudo tiver sido ‘Fly Me to the Moon’, ‘O Grande Gatsby’ e ‘O Pecado Mora ao Lado’?". É uma pulga mal-informada, porque qualquer estudo elementar da história nos ensina que, quando se trata dos EUA, muito do que de fato importa nunca chega ao nosso conhecimento ou só chega quando não faz mais diferença. Eu, por exemplo, secular fã de Alfred Hitchcock e me julgando uma autoridade no mestre, só há pouco soube de uma história que o envolveu e, não por ele, deveria envergonhar toda uma nação.

Em 1945, terminada a Segunda Guerra e abertos os campos de extermínio, Hitch foi convidado por um produtor inglês a supervisionar um documentário sobre as atrocidades cometidas pelos nazistas, a partir de material filmado pelos soldados americanos, ingleses e soviéticos. Aceitou e, já em Londres, passaram-lhe meia hora de filme já montado. O que ele viu obrigou-o a ir para o hotel e ficar de cama por uma semana.

As cenas, então ainda inéditas, mostravam corpos nus e esqueléticos de prisioneiros às pilhas ou sendo desenterrados de covas que eles próprios tinham sido obrigados a cavar e onde foram atirados vivos; quilos de obturações a ouro e cabelo que lhes foram arrancados; e milhares de pijamas listrados de que não precisavam mais e que seriam destinados a novos prisioneiros.

Quando se recuperou, Hitchcock foi orientar os editores do documentário. Recomendou-lhes privilegiar as tomadas longas e à média distância, para não deixar dúvida sobre sua autenticidade, e evitar muitos cortes, para que não fossem acusados de manipulação. O filme foi montado e a narração em off, escrita.

Mas, então, os EUA se deram conta de que a Alemanha reconstruída seria uma aliada fundamental em sua nova luta contra a URSS. Não ficaria bem ofendê-la com essas imagens desagradáveis. O filme foi arquivado.

Fonte: Folha de S. Paulo - 11.set.2025
Este mês, em dia que não conseguimos confirmar, no ano 453 a.C., verificou-se terrível encontro entre os aguerridos exércitos da Beócia e de Creta. Segundo relatam as crônicas, venceram os cretinos, que até agora se encontram no governo. (Barão de Itararé)

LUGARES

TAORMINA - ITÁLIA

Construído no terceiro século antes de Cristo, o teatro antigo de Taormina é um antigo teatro grego, localizado na cidade de Taormina, na ilha italiana da Sicília. Wikipédia

FRASES ILUSTRADAS

domingo, 19 de outubro de 2025

CILADAS LINGUÍSTICAS

Décadas passadas, uma propaganda televisiva de um produto de higiene pessoal alardeava o seguinte bordão: Parece Denorex, mas não é.

Caminhando pelo centro histórico da simpática Viana do Castelo, no norte de Portugal, nos deparamos com a placa que ilustra este post.

De um modo geral, as placas têm grande como utilidade principal orientar as pessoas, principalmente os forasteiros, quanto à localização de atrações, prédios, ruas, etc.

A placa em comento, todavia, gerou em nós mais dúvidas do que certezas. 

Erva, para nós brasileiros, é sinônimo de maconha, à excessão dos gaúchos, e/ou sulbrasileiros, para os quais a erva largamente consumida é a erva-mate.

No caso em foco, a Praça da Erva é ilustrada com folhas  verdes, com o que aquele logradouro, ao menos à primeira vista, fica associado à maconha. Seria uma praça em que a venda ou o consumo daquela droga tinha um local específico naquela pequena cidade?

O mais intrigante é que a placa logo abaixo indicava a direção do Instituto Português da Juventude. A indicação das duas placas apontava para uma flagrante contradição. 

Mas o professor Google a atualmente a IA ajudam a entender as expressões linguísticas de outros povos, evitando julgamentos precipitados. E quem busca, acha. Eis o que encontrei:

“Velha Praça do centro medieval, antigamente chamada de Terreiro da Erva e Praça dos Ferradores. A Praça da Erva constitui, desde a época medieval até às primeiras duas décadas do século passado, uma importante praça da Vila e depois da cidade, porque era daqui deste pequeno pátio lajeado que nesses velhos tempos partiam e chegavam as diligências ou carruagens puxadas a cavalos de Ponte de Lima, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez e tantas outras localidades como Vigo, Ferrol e Corunha a Norte e o Porto a Sul. Era aqui, nesta emblemática praça que existiam as indispensáveis cavalariças. E era também aqui que numa larga pia as parelhas de cavalos eram lavadas e depois lhes davam de comer e de beber num grande bebedouro então existente.” (Texto retirado do livro “Toponímia da Cidade de Viana do Castelo”. Autor: António de Carvalho)

E noutro site, tomo conhecimento de que "a placa inferior aponta para o Instituto Português da Juventude, uma instituição que apoia atividades para jovens", num verdadeiro contraponto ao uso de drogas, mormente pela juventude. 

Tal como a propaganda mencionado no início, aquilo que parecia ser, não era...
Ouvir de outro o que se sabe verdadeiro sobre si mesmo jamais é a mesma coisa. (Aldous Huxley, escritor inglês, 1894-1963)

LUGARES

VALPARAÍSO - CHILE

A imagem mostra La Sebastiana, uma das casas-museu do famoso poeta chileno Pablo Neruda, localizada em Valparaíso, Chile.

FRASES ILUSTRADAS

sábado, 18 de outubro de 2025

ROMANCE FORENSE

A cachorra do juiz

Já se contou aqui a história de "Taquariinha", o cachorro da juíza. O animal tinha três singularidades: 1) era magérrimo (daí o nome); 2) recebia da magistrada cem vezes mais afeição do que a consideração dela com os advogados da comarca; 3) costumava se desapertar na sala de audiências.

Um dia a faxineira do fórum deu o estrilo, o caso chegou à Corregedoria e "Taquariinha" teve que se recolher à casa da magistrada.

Hoje a história é da "cachorra do juiz", mas a presença canina é apenas um detalhe na rotina de um magistrado que se notabilizou por fatos incompatíveis com a magistratura: fazer cavalo de pau, com seu carro, no estacionamento do foro; não ser assíduo ao trabalho; ter comparecido a um festival musical vestindo apenas camiseta e cueca.

O juiz tinha uma cadela - a "Odara" - que era presença forense toda a vez que o homem da capa preta comparecia ao trabalho.

Um dia os fatos chegaram documentados ao tribunal. Na sindicância, o corregedor destacou que a cachorra do juiz “fazia necessidades fisiológicas na sala de audiências, pulava nas testemunhas e mordia pessoas que estavam no local. Além disso, funcionários forenses recebiam determinações de limpar as fezes do animal”.

Na sala dos advogados da comarca conta-se que, confessadamente, a grande paixão do juiz era mesmo a cadela "Odara". Mas que ele estava em busca também de uma "gatinha", a quem assediava com insistentes torpedos telefônicos - justamente, uma das promotoras de justiça da comarca.

Foi dela a representação que bateu na corregedoria. O magistrado está afastado preventivamente.

Fonte: www.espacovital.com.br
A ciência será sempre uma busca, jamais um descobrimento real. É uma viagem, nunca uma chegada. (Karl Popper, filósofo austríaco).

LUGARES

SÃO PETERSBURGO - RÚSSIA

A imagem mostra a Catedral de Santo Isaac, localizada em São Petersburgo, Rússia. É a maior e mais suntuosa catedral ortodoxa de São Petersburgo. Seu interior é decorado com mármores russos, italianos e franceses, e com 43 tipos de minerais. A cúpula da catedral foi dourada com cerca de 100 quilos de ouro. A catedral é adornada com quase 400 obras, incluindo esculturas, pinturas e mosaicos.

FRASES ILUSTRADAS

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

ARTURO SANDOVAL & BOSTON POPS

CARAVAN
O mal do governo não é a falta de persistência, mas a persistência na falta. (Barão de Itararé)

LUGARES

ORTÍGIA - ITÁLIA

Ortígia é uma pequena ilha italiana onde se encontra o centro histórico de Siracusa, Sicília. Segundo a lenda, recebeu o nome de Ortígia quando os deuses a deram a Ártemis; as ninfas da ilha fizeram brotar a fonte de Aretusa para agradar Ártemis. Wikipédia

FEASES ILUSTRADAS

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

A DELICADA ARTE DE VIVER MUITO

Foto: Pixabay
 
*Mario Donato D’Angelo médico e pesquisador

Viver muito sempre foi, por séculos, uma raridade quase mítica. Era coisa de avó centenária que conhecia a cura das doenças no cheiro do mato, ou de personagem de romance russo, desses que morriam em São Petersburgo, sob a neve, citando Aristóteles em voz embargada. Longevidade era exceção. Agora virou estatística.

Vivemos mais. Isso é fato. A medicina avançou, os antibióticos viraram gente da casa, o colesterol passou a ser vigiado como se fosse um criminoso reincidente. A expectativa de vida subiu, e com ela a ideia, quase ingênua, de que bastaria durar para que tudo desse certo. Mas viver muito não é a mesma coisa que viver bem. E é aí que começa a grande arte.

Porque a verdade é que a longevidade chegou antes do manual de instruções. Achávamos que envelhecer seria como alcançar um mirante: olhar para trás com serenidade, cruzar os braços sobre o próprio legado, saborear os frutos de uma vida bem vivida. Mas a velhice, como a infância, exige cuidados diários, e também alguma poesia.

O corpo, esse velho cúmplice, começa a dar sinais de que o tempo passou. As juntas rangem como portas de armário antigo, os reflexos hesitam, os músculos se retraem. Mas não é só o corpo que envelhece: às vezes o mundo ao redor também se torna estranho, distante. Os amigos partem, os filhos se dispersam, as calçadas ganham degraus invisíveis. E de repente, o que mais dói não é o quadril, é o silêncio.

E então vem ela: a queda.

Não só a queda literal, essa que acontece no banheiro, no degrau da padaria, na pressa inocente de atravessar a rua. Mas a queda simbólica: do entusiasmo, da autonomia, da autoconfiança. A queda de uma imagem de si mesmo que antes era firme, decidida, ágil. A queda de um modo de viver que não se encaixa mais no corpo que agora abriga a alma com mais cuidado.

A Organização Mundial da Saúde diz que um terço dos idosos sofre uma queda por ano. E essa queda pode ser o primeiro passo de uma jornada difícil: fraturas, cirurgias, internações, perdas, de mobilidade, de independência, de ânimo. Mas veja bem: não se trata de um alerta sombrio. Trata-se, aqui, de um chamado amoroso à reinvenção.

Porque o envelhecimento também pode ser reinício. E preparar-se para ele é como preparar um jardim: exige tempo, presença, escolhas. É preciso cultivar força, sim, não para carregar sacos de cimento, mas para levantar-se da cadeira com leveza e poder abraçar um neto sem receio de tombar. É preciso elasticidade, não só nos músculos, mas nas ideias. E é preciso algo ainda mais raro: gentileza consigo mesmo.

Não se trata de negar a velhice. Ela chega, queira-se ou não, com suas rugas e suas lentidões, com seus esquecimentos charmosos e suas manias de repetir histórias. Mas há velhices e velhices. E há aquelas que florescem, porque foram cuidadas, porque tiveram sol e sombra, porque foram vividas com afeto, com liberdade, com algum humor.

Sim, o humor. Ele é, talvez, o músculo mais importante a ser mantido. Porque rir de si mesmo, das gafes, das perdas de memória, do tropeço nas palavras, é um jeito de desarmar o tempo. O velho ranzinza é um clichê injusto, há velhos encantadores, que dançam bolero na sala com o ventilador ligado e o cachorro olhando desconfiado. Que tomam vinho com moderação e sorvete sem culpa. Que, aos oitenta, aprendem a usar o celular, e ainda erram, mas riem do erro.

A longevidade, quando bem-vivida, é como uma tarde longa e luminosa. Daquelas em que o sol demora a ir embora e o tempo parece suspenso entre uma lembrança e outra. Não é preciso correr. Nem competir. Basta estar inteiro: corpo e alma em compasso.

É isso que propomos aqui: um olhar amoroso para o futuro que já chegou. A velhice não precisa ser sinônimo de decadência. Pode ser plenitude.

E envelhecer bem não é luxo, nem sorte, é construção diária. Com passos firmes, com gestos suaves, com a força das pernas e o riso no rosto. Com o cuidado do corpo, sim, mas também com a ternura da memória.

Porque o segredo não é apenas viver muito.

É fazer da longevidade uma arte íntima, uma coordenação delicada entre o tempo e o desejo.

E que, ao final, quando chegar a noite, a gente possa dizer, com lucidez e com alegria “Foi bom ter vivido tanto. Mas foi melhor ainda ter vivido bem.”

Fonte: https://diariodepetropolis.com.br/
Uma conclusão é o lugar a que chegaste cansado de pensar. (anônimo)

LUGARES

GENEBRA - SUÍÇA

A Ponte do Monte Branco é uma ponte rodoviária que atravessa o Lago Genebra, conectando as margens esquerda e direita da cidade.  Ela oferece vistas panorâmicas do famoso Jet d'Eau de Genebra e, em dias claros, do Monte Branco ao fundo. A ponte é uma importante via de tráfego e um ponto de referência icônico da cidade.

FRASES ILUSTRADAS

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

HOTEL DE LUXO

Houve um tempo que o Hotel Plaza de Itapema, era o supra sumo do luxo. Quatro casais de Caxias do Sul, habitualmente passavam alguns dias de férias naquele aprazível local. Era necessário programar as reservas com meses de antecedência. 

Num determinado verão, um casal não poderia acompanhar os demais, o que poderia ocasionar a perda do direito de próximas reservas. 

Amigos muito próximos do Cláudio convidaram-no para preencher a reserva do colega desistente. O Cláudio aceitou, embora os preços da estadia fossem salgados. Mas como ele sempre dizia: “pobre mas orgulhoso". 

Instalados, todos foram desfrutar da bela manhã de sol. À beira da piscina um garçom impecavelmente trajado atendia os felizes hóspedes, trazendo bebidas, petiscos, etc. 

Veio a conta e o Cláudio, como de hábito, conferiu item por item. O que destoava mesmo eram os valores lançados na comanda. Seguiu-se um comentário do Cláudio quanto aos preços ali praticados, quando o garçom, muito espirituoso, retrucou: 

- Desculpe Dr. Os preços não são caros. O senhor é que está ganhando pouco. (Fecha a cortina)
Existe uma certa Lei Eterna, a razão, habitando a mente de Deus e governando todo o Universo. (São Tomás de Aquino, teólogo italiano, 1224/25-1274)

LUGARES

MONREALE - ITÁLIA

A imagem mostra uma vista de Monreale, uma cidade na Sicília, Itália. Monreale é conhecida pela sua imponente Catedral, que é um Patrimônio Mundial da UNESCO. O nome "Monreale" deriva do latim "Mons regalis", que significa "montanha digna do rei", em referência à sua localização e à construção da Catedral no século XII. A cidade está localizada perto de Palermo, a capital da Sicília, e oferece vistas panorâmicas da região. A arquitetura da cidade, com seus edifícios históricos e palmeiras, é característica da região mediterrânea.

FRASES ILUSTRADAS

terça-feira, 14 de outubro de 2025

SEPARAR-SE NÃO É SEMPRE UM PONTO FINAL

Fabrício Carpinejar
Fabrício Carpinejar

Separar-se não é decidir. É se distanciar da neurose colada ao amor, que não permite ver nem a si e nem ao outro com clareza.

Separar-se é pensar sem a necessidade imediata de corresponder às expectativas.

Não é um ponto final, é um parênteses para recuperar o espaço individual na dinâmica de casal.

O impulso é entender o fim como desamor, ruptura, abandono. A resposta é a menos sofisticada possível, costuma ser apenas exaustão. O cansaço impede o raciocínio e o desencontro momentâneo e forçado é um pedido de socorro para repor o equilíbrio.

A separação não é um passo para trás ou um passo para nunca mais, pode ser um passo para o lado, para não enlouquecer ou quebrar de vez.

O ideal é amadurecer dentro da relação, ajustando o ritmo na convivência, cedendo e aprendendo, mas muitas pessoas só conseguem se transformar sozinhas. Dependem do silêncio e da solidão, para negociar prazos com os seus defeitos. Só dão conta de seus erros quando são descobertas, não por imposição ou cobrança do outro.

Há ainda os que unicamente percebem o par na falta. Estão ao lado e lhes parece natural, não fruto de uma conquista. Precisam perder para reaver o valor. E quando o tem de volta já esquecem o exercício da sedução. Misturam amor e saudade, como se fossem sinônimos.

Separar-se tende a ser uma trégua. O que atrapalha a reconciliação é a pressão para que o tempo longe seja o menor possível. O que se vê é chantagem da carência, ultimatos do desespero, contagem regressiva do reato sob a pena de "nunca mais se falar".

Em toda a separação, o tempo é, a princípio, provisório. Torna-se definitivo pelo modo torto de reagir à notícia.

Demonizamos o afastamento. A insistência em permanecer junto, mesmo na precariedade, é o medo de que a companhia encontre alguém melhor durante o período ou perceba que realmente não gosta mais.

Todos têm o direito de se afastar. Amar jamais será um dever.

Fonte: O Globo
O homem não pode viver sem tentar descrever e explicar o universo. (Isaiah Berlin, filósofo americano)

LUGARES

FLORES DA CUNHA - RS

A imagem mostra o Monumento ao Galo, um símbolo icónico de Flores da Cunha, uma cidade no Rio Grande do Sul, Brasil. A cidade é conhecida como a "Terra do Galo" devido a um episódio ocorrido por volta de 1934. Um mágico teria passado pela cidade e prometido, durante um espetáculo, que cortaria a cabeça de um galo e, através de um truque de magia, a uniria novamente, fazendo o galo cantar de novo. No entanto, o mágico não conseguiu cumprir a promessa e fugiu com o dinheiro dos ingressos. Apesar do desfecho, o galo tornou-se um símbolo marcante para a cidade, sendo homenageado com este monumento, presente na bandeira municipal e em marcas de produtos locais.