Junto com um casal de amigos, em 2002 viajamos para a Alemanha e ficamos numa pequena cidade distante uns cem (100) quilômetros de Frankfurt. Na cidade de Neuof morava um amigo nosso, músico de profissão, que seria o nosso cicerone. Por ser músico, nos finais de semana ele tinha compromissos profissionais e não poderia nos ciceronear para nenhum lugar. Por outro lado, em Frankfurt morava o Willy, amigo do nosso companheiro de viagem. Decidimos visitá-lo. Ligamos para o Willi e combinamos o encontro - ele iria nos aguardar na estação de trens. Nos deu instruções sobre os horários e outras informações pertinentes. No sábado partimos no horário e chegamos no horário, afinal estávamos na Alemanha. Tão logo desembarcamos, lá estava o Willi nos aguardando. Como ainda era cedo e não havíamos tomado o café da manhã, resolvemos fazer um frixtic ali mesmo. Fomos atendidos por um garçom italiano, conhecido do Willi. Me senti em casa falando com ele, já que não falo alemão. A primeira coisa que ele me disse é que não era italiano - eu sou romano! disse ele, arrematando que italianos eram os outros. Já relatei o encontro em outro post. Clique para ver. Ainda no sábado paramos num bar para tomar uma cerveja. Estava muito quente e sentamos nas cadeiras colocadas na rua, como é muito comum em toda Europa. Num dado momento o Willy apontou para um automóvel estacionado próximo de onde estávamos e disse que no local era proibido estacionar e logo, logo, veríamos como as coisas funcionam por lá. Não demorou um minuto encostou uma viatura policial e um carro guincho e os procedimentos de remoção do veículo tiveram início. Em seguida aproximou-se uma mulher e pelo que vimos era a dona daquela mercedes mal estacionada. Ela argumentava e só víamos o chefe da operação balançar a cabeça negativamente. Ela tentava dar um jeitinho na situação, sem sucesso. O carro efetivamente foi guinchado e então o Willi nos explicou que aquela imprudência sairia caro para a dita mulher. Primeiro teria que pagar uma pesada multa, além dos custos do carro guincho. Depois, teria que frequentar o curso destinado aos motoristas relapsos, período em que estaria com a sua habilitação suspensa. Tamanha eficiência convidava a refletir sobre o Brasil. Outra lição que aprendemos com o Willy era nunca atravessar uma rua, mesmo na faixa de pedestres, estando o sinal vermelho. Mesmo sem movimento de automóveis, raramente víamos alguém atravessando antes do tempo. Os infratores, sim os pedestres infratores poderia ser autuados e se sujeitariam ao pagamento de uma multa. Foi então que disse ao Willy que estranhava não ver nenhum policiamento nas ruas. Então ele explicou que raramente os policiais aparecem fardados. No mais das vezes estão em trajes civis o que facilita o elemento surpresa e também a consciência de que pode-se estar sendo vigiado a todo instante. Além disso, informou-se que nos locais públicos existiam muitas câmaras filmando tudo o que acontecia por ali. Coisas de primeiro mundo… Mas a melhor de todas ocorreu numa ciclovia, ocasião em que levei a maior bronca de um velho. Depois do almoço o Willy quis mostrar-nos o seu apartamento situado num bairro da cidade. Tomamos um ônibus e o destaque ficou por conta da ausência de cobrador. Apenas o motorista e ninguém mais para fiscalizar se havíamos pago a passagem, essas coisas. Tínhamos comprado o bilhete junto a uma máquina na rua e seguramos o ticket conosco. O Willy explicou que não existe cobrador e tudo funciona na base da responsabilidade e da confiança. Vez por outra um fiscal entra no ônibus (no trem também é assim), e pede o ticket para os passageiros. Se a pessoa não apresentar o comprovante aí a cobra fuma. A punição vai da multa até a prisão. Depois de visitarmos o cafofo do Willy retornamos ao ponto de ônibus para retornar ao centro e irmos para o Hotel. Eu caminhei na frente de todos para fazer algumas fotos e chegando no local fiquei aguardando os demais. Passou por mim um velho pedalando uma bicicleta e falou algumas coisas, que pelo tom de voz entendi como sendo uma bronca. Como não falo alemão, não entendi patavina mas o Willy, que vinha logo atrás ouviu e entendeu. Aí ele me explicou que eu estava parado na faixa destinada aos ciclistas, o que era uma falta grave da minha parte. Não consegui pedir desculpas àquele senhor, pois já ia longe. Mas creio que ele, tal como eu, não entenderia o nosso idioma. Ficaríamos empatados mas eu corria o risco de ele voltar, etcetera e tal e eu não tinha razão. Ficou a lição.domingo, 30 de novembro de 2025
UM SÁBADO EM FRANKFURT
Junto com um casal de amigos, em 2002 viajamos para a Alemanha e ficamos numa pequena cidade distante uns cem (100) quilômetros de Frankfurt. Na cidade de Neuof morava um amigo nosso, músico de profissão, que seria o nosso cicerone. Por ser músico, nos finais de semana ele tinha compromissos profissionais e não poderia nos ciceronear para nenhum lugar. Por outro lado, em Frankfurt morava o Willy, amigo do nosso companheiro de viagem. Decidimos visitá-lo. Ligamos para o Willi e combinamos o encontro - ele iria nos aguardar na estação de trens. Nos deu instruções sobre os horários e outras informações pertinentes. No sábado partimos no horário e chegamos no horário, afinal estávamos na Alemanha. Tão logo desembarcamos, lá estava o Willi nos aguardando. Como ainda era cedo e não havíamos tomado o café da manhã, resolvemos fazer um frixtic ali mesmo. Fomos atendidos por um garçom italiano, conhecido do Willi. Me senti em casa falando com ele, já que não falo alemão. A primeira coisa que ele me disse é que não era italiano - eu sou romano! disse ele, arrematando que italianos eram os outros. Já relatei o encontro em outro post. Clique para ver. Ainda no sábado paramos num bar para tomar uma cerveja. Estava muito quente e sentamos nas cadeiras colocadas na rua, como é muito comum em toda Europa. Num dado momento o Willy apontou para um automóvel estacionado próximo de onde estávamos e disse que no local era proibido estacionar e logo, logo, veríamos como as coisas funcionam por lá. Não demorou um minuto encostou uma viatura policial e um carro guincho e os procedimentos de remoção do veículo tiveram início. Em seguida aproximou-se uma mulher e pelo que vimos era a dona daquela mercedes mal estacionada. Ela argumentava e só víamos o chefe da operação balançar a cabeça negativamente. Ela tentava dar um jeitinho na situação, sem sucesso. O carro efetivamente foi guinchado e então o Willi nos explicou que aquela imprudência sairia caro para a dita mulher. Primeiro teria que pagar uma pesada multa, além dos custos do carro guincho. Depois, teria que frequentar o curso destinado aos motoristas relapsos, período em que estaria com a sua habilitação suspensa. Tamanha eficiência convidava a refletir sobre o Brasil. Outra lição que aprendemos com o Willy era nunca atravessar uma rua, mesmo na faixa de pedestres, estando o sinal vermelho. Mesmo sem movimento de automóveis, raramente víamos alguém atravessando antes do tempo. Os infratores, sim os pedestres infratores poderia ser autuados e se sujeitariam ao pagamento de uma multa. Foi então que disse ao Willy que estranhava não ver nenhum policiamento nas ruas. Então ele explicou que raramente os policiais aparecem fardados. No mais das vezes estão em trajes civis o que facilita o elemento surpresa e também a consciência de que pode-se estar sendo vigiado a todo instante. Além disso, informou-se que nos locais públicos existiam muitas câmaras filmando tudo o que acontecia por ali. Coisas de primeiro mundo… Mas a melhor de todas ocorreu numa ciclovia, ocasião em que levei a maior bronca de um velho. Depois do almoço o Willy quis mostrar-nos o seu apartamento situado num bairro da cidade. Tomamos um ônibus e o destaque ficou por conta da ausência de cobrador. Apenas o motorista e ninguém mais para fiscalizar se havíamos pago a passagem, essas coisas. Tínhamos comprado o bilhete junto a uma máquina na rua e seguramos o ticket conosco. O Willy explicou que não existe cobrador e tudo funciona na base da responsabilidade e da confiança. Vez por outra um fiscal entra no ônibus (no trem também é assim), e pede o ticket para os passageiros. Se a pessoa não apresentar o comprovante aí a cobra fuma. A punição vai da multa até a prisão. Depois de visitarmos o cafofo do Willy retornamos ao ponto de ônibus para retornar ao centro e irmos para o Hotel. Eu caminhei na frente de todos para fazer algumas fotos e chegando no local fiquei aguardando os demais. Passou por mim um velho pedalando uma bicicleta e falou algumas coisas, que pelo tom de voz entendi como sendo uma bronca. Como não falo alemão, não entendi patavina mas o Willy, que vinha logo atrás ouviu e entendeu. Aí ele me explicou que eu estava parado na faixa destinada aos ciclistas, o que era uma falta grave da minha parte. Não consegui pedir desculpas àquele senhor, pois já ia longe. Mas creio que ele, tal como eu, não entenderia o nosso idioma. Ficaríamos empatados mas eu corria o risco de ele voltar, etcetera e tal e eu não tinha razão. Ficou a lição.LUGARES
sábado, 29 de novembro de 2025
ROMANCE FORENSE
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sexta-feira, 28 de novembro de 2025
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quinta-feira, 27 de novembro de 2025
SOU VISTO, LOGO EXISTO: BAUMAN E A CEGUEIRA MORAL

Pascal já dizia que o encontro mais doloroso da vida é entre o eu e o mim. Passados mais de trezentos anos, o homem moderno com toda sua inteligência e exuberância, ainda teme esse encontro, pois sabe que enxergar-se sem uma máscara pode não ser uma experiência das mais entusiásticas.
Essa teatralidade da vida encontra na mídia e nas redes sociais o seu principal refúgio, uma vez que estas criam uma atmosfera fantasiosa da realidade, a qual os indivíduos mecanicamente domesticados acreditam. Mas, não é uma fantasia no sentido lúdico-poético, que é necessário à vida; e sim, uma fantasia que distorce a realidade e cria escravos do sistema.
Pouco a pouco, nós somos despersonalizados e convertidos em peças iguais de um mesmo tabuleiro. Ou seja, todas nossas características são suplantadas, a fim de que haja uma padronização social. Mais que isso, essa padronização social deve ser exposta nas redes sociais, de modo que todos vejam o resultado de um sistema que cria um exército de pessoas “felizes”.
Há, dessa forma, o que Zygmunt Bauman chama de “erosão do anonimato”, pois nós, enquanto indivíduos com características próprias, deixamos de ser, para pertencer a um grupo homogêneo e, necessariamente, público. Assim, toda a vida é convertida em um reality show, em que todos veem o que faço ou deixo de fazer, como se houvesse alguma diferença, já que nesse modelo “integrativo”, todos falam e se comportam do mesmo modo.
“Tudo o que é privado agora é feito, potencialmente, em público – e está potencialmente disponível para consumo público.”
Entretanto, não há integração alguma, pelo contrário, há uma alienação, em grande parte, voluntária a um sistema que cria autômatos convergentes nos mesmos sonhos, desejos e sentimentos. O problema agrava-se ainda mais com a necessidade de exposição, uma vez que nessa sociedade confessional, o cogito cartesiano ganha novo sentido, convertendo-se em um – “Sou visto, logo existo”.
Assim sendo, todos aqueles que de algum modo buscam fugir dessas amarras, acabam sofrendo constantemente punições de uma sociedade que tem como pedra angular a “liberdade”. Em outras palavras:
“A participação na sociedade confessional é convidativamente aberta a todos, mas há uma grave penalidade para quem fica de fora. Os que relutam em ingressar são ensinados (em geral do modo mais duro) que a versão atualizada do cogito de descartes é “sou visto, logo sou” – e quanto mais pessoas me veem, mais eu sou…”
Ser um indivíduo com personalidade e ideias próprias está fora de questão, assim como se negar a fazer da sua vida um reality show, preservando a sua intimidade para quem é íntimo. A modernidade líquida, o admirável mundo novo ou como queiram chamar, descaracteriza, despersonaliza e desindividualiza as pessoas, como se estas fossem produzidas em série e não possuíssem idiossincrasias que as diferenciem de qualquer outra.
Aplaudimos o desencantamento da vida, acumulando likes em pontos comuns. Padronizamos o comportamento e escondemos a individualidade em um quarto escuro. Talvez seja por medo de sentir-se sozinho que nos tornamos marujos de um barco que caminha sempre na mesma direção. Talvez seja pela vontade de fazer o mundo lembrar-se da nossa existência. Mas, em um barco onde todos são iguais, talvez nem você saiba quem é.
Fonte: https://provocacoesfilosoficas.com/03/01/2018
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quarta-feira, 26 de novembro de 2025
CADEIA EM JARAGUÁ DO SUL
terça-feira, 25 de novembro de 2025
A MAIOR INTIMIDADE

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segunda-feira, 24 de novembro de 2025
AS 20 MAIS
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domingo, 23 de novembro de 2025
ENGARRAFAMENTO
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sábado, 22 de novembro de 2025
ROMANCE FORENSE
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sexta-feira, 21 de novembro de 2025
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quinta-feira, 20 de novembro de 2025
POR QUE OS BARULHENTOS SÃO MAIS OUVIDOS QUE OS SÁBIOS
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quarta-feira, 19 de novembro de 2025
BLITZ NO TRÂNSITO
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terça-feira, 18 de novembro de 2025
DE CASTIGO NO MUSEU
Martha MedeirosQual será o pior emprego do mundo? A lista deve ser longa, e trabalhar dentro de um museu não deve fazer parte dela. Geralmente são belos prédios, o funcionário fica protegido das intempéries, convive com pessoas de bom gosto e passa os dias cercado por arte.
Será assim mesmo?
Recentemente conheci um antigo convento transformado em centro cultural numa cidade do Brasil. Fui até lá almoçar com um amigo (o restaurante era bem recomendado) e aproveitei para chegar um pouco mais cedo a fim de visitar a mostra que estava sendo exposta. O táxi me deixou na entrada às 11h30min da manhã. Entrei. Ao comprar meu tíquete, a moça da bilheteria suspirou: “Finalmente”.
Finalmente o quê? “Alguém.”
Sorri e me dirigi à primeira sala. Entreguei meu tíquete a uma moça e ela me deu o bom dia mais alegre que recebi na vida. “Bem-vinda. É a primeira.” Li seus pensamentos: “Talvez a última”.
Então fui entrando, sala por sala. Meus passos ecoavam. Não havia nem uma mosca com quem dividir meus comentários desabonadores – não me entusiasmei com nada. Olhei para o relógio e haviam se passado cinco minutos, mas parecia que eu estava cumprindo pena de 30 anos. Foi então que prestei atenção nelas. Nas mulheres que ficavam no canto de cada sala, guardando a integridade das peças. Umas sentadas, quase cochilando, e outras em pé, esticando os joelhos.
Olhando o dia inteiro para as mesmas obras, que não eram nenhum Van Gogh, nenhum Edward Hopper, nenhum Dalí. Eram quadros e esculturas pouco envolventes, expostos em salas em que quase ninguém transitava. Resolvi puxar assunto. “Posso fotografar?” “Sem flash, pode.” Perguntei para outra: “É sempre animado assim?”. Ela deu um sorriso encabulado. Então entrei em outra sala e havia uma instalação instigante. Vários facões pontiagudos pendiam do teto. Paredes pretas, tudo preto, apenas aquelas lâminas afiadas e brilhantes sobre minha cabeça e a da moça que ali dava expediente.
Eu sairia daquela emboscada em meio minuto, mas ela ficaria até às 5h da tarde com aqueles 300 facões sobre a cabeça. Imaginei o teto baixando lentamente, enquanto nós duas, amarradas, aguardaríamos a chegada de um super-herói. Mas não era um filme do Batman. Arrisquei: “Não é uma chatice passar o dia inteiro aqui dentro?”. Ela encheu as bochechas de ar e depois expirou, revirando os olhinhos. Boa resposta. Resolvi contemporizar. “Ao menos você está empregada, né?” Ela deu de ombros com as palmas da mão viradas pra cima, admitindo o consolo. Acho que era muda.
Fugi correndo daquele baixo astral e fui para o restaurante esperar meu amigo. Os garçons perambulavam pra lá e pra cá sorridentes, havia música boa, as mesas estavam ocupadas por jovens falantes e a arte saía da cozinha, em pratos saborosos. Lá era sempre animado assim, eu não precisaria perguntar.
Vigia de sala de museu. Coloquei na lista.
Fonte: Zero Hora
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segunda-feira, 17 de novembro de 2025
A MORTE EM CUECAS
O paletó do pijama de Getulio, com o furo da bala, ilibou-o de seus pecados. Mas onde estariam as calças?
Fonte: Folha de S.Paulo - 31/08/2025




