quarta-feira, 19 de novembro de 2025

BLITZ NO TRÂNSITO

Janeiro era o mês de férias forenses, mas os juízes substitutos, como eu, continuavam trabalhando. Eram deslocados para a sede de alguma circunscrição. Fui designado para responder pela circunscrição de Chapecó da qual fazia parte a Comarca de Xaxim. Antes mesmo de iniciar o período de substituição o titular daquela Comarca me comunicou que havia um processo de réu preso e a audiência para ouvir as testemunhas da acusação estava designada para o mês de janeiro, a qual eu deveria presidir. Na data aprazada me desloquei de Chapecó para Xaxim, onde fui cumprir a agenda. Era uma tarde quente e eu engravatado, numa época em que o ar-condicionado nos automóveis era coisa rara. Ao aproximar-me da praça central notei que havia uma blitz no trânsito. Parei o caro e fui abordado por um cabo da Polícia Militar que foi logo pedindo os documentos, meus e do veículo. Verificada a regularidade de tudo, inclusive com aquela tradicional vistoria de pisca-pisca, luz alta/luz baixa, farol de freio, pneus, etc., fui liberado. Não precisou de nenhum carteiraço, o que nunca foi do meu feito. Realizada a audiência e despachado o expediente de urgência, depois de duas horas aproximadamente, convidei o escrivão para me acompanhar até a Delegacia de Policia onde também funcionava a cadeia, para a vistoria mensal obrigatória. Ao passar pela praça antes referida notei que já não havia nenhuma blitz em andamento. Chegamos na delegacia e antes mesmo de falar com o delegado, fomos recebidos pelo cabo que horas antes havia me abordado na blitz. Ao me reconhecer como juiz, ele levantou todo constrangido, bateu continência, daquele jeito que os militares fazem diante de seus superiores e quis se desculpar. De imediato eu dispensei aquelas "homenagens" e disse-lhe para ficar tranquilo pois não havia feito nada de errado. Ao contrário, havia cumprido com o seu dever, o que era de todo elogiável. Já não recordo o nome do cabo. Lembro apenas que era alto, forte, de cor escura e do tipo bonachão. Cerca de quatro anos depois, quis o destino que eu fosse promovido justamente para a Comarca de Xaxim, onde reencontrei o cabo em plena atividade. Relembramos a forma como nos conhecemos e o susto que ele levou. Foram muitas risadas durante os anos felizes vividos naquela Comarca.

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