terça-feira, 18 de julho de 2023

ROMANCE FORENSE

Juiz ladrão

Era uma tarde quente, numa segunda-feira, na cidade de Luz (MG). No fórum local transcorria, de forma solene, uma audiência regular, presidida por juiz recém chegado à comarca. Como o ar condicionado da sala estivesse pifado, as janelas estavam abertas.

Ao fundo, escutava-se distante - aproximando-se - o som de um piston, alguns tambores e gritos de “não tem conversa não; o juiz é um ladrão”.

A audiência seguia, escutava-se a frase repetitiva e o som se fazia cada vez mais próximo, a ponto de criar constrangimentos.

O magistrado, a despeito de pensar que as ofensas não poderiam, naturalmente, se referir à sua pessoa, foi-se tomando pelo vexame momentâneo.

Tentando quebrar aquele clima, desceu da sua solene cadeira e seguiu alguns passos até a janela para ver o que se passava. Provavelmente pensava em tomar alguma providência, ainda que fosse apenas para manter a ordem. Mas as vozes se faziam mais fortes e a expressão se repetia: “O juiz é um ladrão”.

Quando espiou para fora da janela, o juiz escutou outra expressão: “Roubou, roubou sim, roubou do Cruzeiro”.

Foi então que vislumbrou - um bumbo, dois pequenos tambores, um piston etc. e a claque – formada por torcedores envergando camisetas do Cruzeiro.

Todos estavam a reclamar contra o arbitro ´fulano de tal´, morador da própria cidade de Luz e que, na véspera, tinha ´roubado´ do time cruzeirense, numa partida contra o América Mineiro. Os manifestantes passaram à frente do fórum, seguiram pela mesma rua mais duas quadras, até a frente da moradia do árbitro futebolístico, que por cautela já sumira da cidade.

No fórum, com todos os personagens da cena judiciária tomados pelo momento cômico, o juiz relaxou e arrematou:

- Superado o constrangimento causado por incontroláveis emoções futebolísticas, prossiga-se com a audiência. 

Fonte: www.espacovital.com.br

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