quinta-feira, 27 de julho de 2023

NÃO TROPECE NA LÍNGUA

  


Número: 002
Data: 08/11/2017
Título: O MESMO

Embora possa ser relativamente comum em outros idiomas, no português do Brasil o uso de “o mesmo” no lugar de nomes e pronomes é considerado indevido e até inconveniente. A palavra mesmo pertence a diversas categorias gramaticais e seu emprego é absolutamente correto nas seguintes situações:

A. Como adjetivo/pronome (portanto variável), com o sentido de “exato, idêntico, tal qual, próprio, em pessoa”:

1. Foi pelo mesmo caminho.
2. Sou sempre a mesma pessoa.
3. Eles mesmos redigiram o discurso.

B. Como advérbio (portanto invariável), com o significado de “justamente, até, ainda, realmente”:

4. É lá mesmo que vendem o produto.
5. Estes remédios são mesmo eficazes.
6. Há mesmo necessidade disso?

C. Como conjunção concessiva, equivalente a “embora, apesar de”:

7. Mesmo diante de tais alegações em sede de reconvenção e contestação, o apelado quedou-se silente, reforçando ainda mais a veracidade delas.

8. Sendo assim, mesmo inexistente a cláusula resolutória, com o inadimplemento do outro contratante a parte lesada pode requerer a resolução do acordo.

D. Como substantivo (expressão invariável, no masculino), significando “a mesma coisa”:

9. Fato alegado e não provado é o mesmo que fato inexistente.

10. Houve incidência de juros legais a partir da citação e correção monetária a contar do ajuizamento do pedido, o mesmo acontecendo em relação às despesas processuais e custas derradeiras.

O problema está em usar “o mesmo” no lugar dos pronomes pessoais, sejam do caso reto (ele/ela) ou do caso oblíquo (o/a, lhe). Isso indica pobreza de linguagem ou falta de familiaridade com os pronomes pessoais. Algumas vezes – imagino – a pessoa tem insegurança no trato com os pronomes, mas ao mesmo tempo quer evitar a repetição de um determinado substantivo, então coloca o mesmo (ou a mesma, se feminino) no seu lugar.

Observe que nos exemplos 1 e 2, acima, mesmo acompanha um substantivo – não o substitui. No exemplo 3 acompanha um pronome. Em 4, acompanha um advérbio. Em 5 e 6, um adjetivo. Em nenhum bom exemplo a palavra mesmo toma a vez do substantivo.

É mais uma questão de estilo do que de gramaticalidade. Digamos então que fica ruim, ou não convém, escrever da forma abaixo:

Deixou de constar a declaração do condutor do veículo pelo fato de o mesmo estar hospitalizado sem condições de prestá-la.

Registra o parecer técnico que Valente abandonou a esposa e filhos por diversas vezes, sendo que a mesma mudou-se de Estado.

Ontem vi meu ex-chefe e convidei o mesmo para um cafezinho.

Já que o secretário executivo esteve nos visitando, entregamos ao mesmo a documentação.

Busque as fichas no almoxarifado e verifique se as mesmas estão carimbadas.

Desejando rever o conteúdo jurídico do projeto, solicito seja o mesmo retirado de pauta.

Em melhor português você diria assim:

Deixou de constar a declaração do condutor do veículo pelo fato de ele estar hospitalizado sem condições de prestá-la.

Registra o parecer técnico que Valente abandonou a esposa e filhos por diversas vezes, sendo que ela mudou-se de Estado.

Ontem vi meu ex-chefe e o convidei para um cafezinho.

Já que o secretário executivo esteve nos visitando, entregamos a ele [ou entregamos-lhe] a documentação.

Busque as fichas no almoxarifado e verifique se [elas] estão carimbadas.

Desejando rever o projeto, solicitou seja [ele] retirado de pauta.

Instituto Euclides da Cunha
Luiz Fernando de Queiroz, diretor
Rua Marechal Deodoro, 235 cj. 1204
CEP 80020-907 - Curitiba - PR
Fone (41) 3223.6543

Fonte: https://www.linguabrasil.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário