sexta-feira, 17 de abril de 2020

MR.MILES


Para Malta, 'right now'! 

Mr. Miles, o homem mais viajado do mundo* - O Estado de S.Paulo

Nosso solerte viajante anda escrevendo cartas muito longas. Eis porque temos de abreviar as introduções. A seguir, a carta da semana:

Saudações, mr. Miles. Estou pensando em passar um mês na ilha de Malta em janeiro de 2014. Surgiu uma dúvida: o clima é tranquilo nesta época? Tenho medo de fazer minha primeira viagem internacional e não aproveitar nada por causa do frio. Vale dizer que me formei agora em um curso de inglês e a viagem servirá para eu lapidar a língua. Resumindo: dá para aproveitar a ilha em janeiro? Pegar uma praia (mesmo que não esteja tão quente)? Aproveitando as perguntas, gostaria de saber se realmente Malta é uma boa escolha no aspecto cultural e econômico. Obrigado pela atenção. 
Neto Walter, por e-mail

"Well, my friend: regozijo-me com a oportunidade de voltar a falar da linda e heroica ilha de Malta. Unfortunately, não tenho ótimas notícias do ponto de vista climático, as you asked me. Ainda que muito próxima da África (e também da Sicília, na Itália), as temperaturas em janeiros rondam os 10 a 12 graus centígrados. Você verá muita gente na praia - mas trata-se, of course, de noruegueses, finlandeses e suecos, povos que só precisam de temperaturas positivas para vestirem calções e biquínis e usarem fortíssimos protetores solares.

Não acredito, however, que você estará entre eles. Ainda assim ouso recomendar, sharply, que não desista de seu propósito. Em primeiro lugar porque os malteses falam um inglês de excelente qualidade, já que estiveram sob nosso domínio até 1979. Tenho o orgulho de dizer, as well, que eu estava nas muralhas do Forte Santo Elmo, em Valeta, no dia 10 de maio de 1979, quando as força britânicas partiram e entregaram o país aos seus devidos habitantes, pela primeira vez em uma história de milhares de anos. 

Nossas tropas saíram sob aplausos, ao contrário de dezenas de outras que se revezaram na ocupação da bela ilha. Ocorre, my friend, que, por sua situação geográfica, o domínio de Malta sempre representou o controle do Mediterrâneo. Do you know what I mean? Fenícios, cartagineses, romanos, normandos, turcos e cruzados (entre outros) lutaram por séculos para estar no controle do território. E o pior: todos foram bem-sucedidos em algum momento.

O lado bom dessa história é que, de alguma forma, Malta guarda traços de todas essas culturas, o que, as you see, responde à sua questão do ponto de vista cultural. Mas não se engane, dear Neto! A sofisticada ilha - sim, você verá como ela é chique - abriga seus 380 mil habitantes em uma área que equivale a um sexto de Londres. Ou seja: suas 40 paróquias ficam bem perto umas das outras. Nelas, by the way, funcionam nada menos do que 344 igrejas. Se você pecar demais, sempre haverá um confessionário ao seu lado.

Os malteses também falam malti, um idioma de origem semita, grafado, porém, em alfabeto romano. São simpáticos e surpreendentemente acolhedores, dada sua longa convivência com invasores. Valeta, a capital, tem uma arquitetura muito especial, que lhe rendeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. E possui, as well, a mais esplêndida atração da ilha (as I see): a 'co-Catedral' de São João Batista, cujo interior, divinamente entalhado, guarda uma coleção de obras-primas de Caravaggio - que inclui a Decapitação de São João Batista, presumivelmente a melhor de suas obras.

E eu disse 'co-Catedral', porque há outra, com o mesmo nome, em Medina, uma cidade completamente árabe a dez minutos da capital. 

Tenho muito mais a dizer, mas, se não consegui ainda convencê-lo a seguir seus planos originais, lastimo dizer que acabo de me convencer a voltar a Malta e rever meu velho amigo Vincent Gerada, de cujos dois netos sou padrinho. Sorry, my friend: quero pegar o primeiro voo disponível!"

Fonte: O Estadão

Nenhum comentário:

Postar um comentário