segunda-feira, 2 de junho de 2025

O RIO DE JANEIRO CONTINUA LENDO

Ruy Castro

Sua escolha pela Unesco como 'Capital Mundial do Livro 2025' se deve a seu patrimônio literário

O Rio de Janeiro continua lendo. A frase, espetacular, não é minha, mas de meu confrade na Academia Brasileira de Letras, o poeta Antonio Carlos Secchin. Bem poderia ser o mote do "Rio Capital Mundial do Livro", a superprogramação organizada pela Unesco a cada ano numa cidade e que terá o Rio por sede a partir de 23 de abril. É a 25ª edição —algumas das outras foram em Madri, Montreal, Atenas, Buenos Aires— e a primeira numa cidade de língua portuguesa. A escolha é feita por um comitê internacional formado por federações de editores, livreiros, escritores e bibliotecas.

Durante um ano, até 23 de abril de 2026, o Rio produzirá incontáveis debates, cursos e lançamentos, distribuirá livros no transporte público e promoverá eventos em bibliotecas —só no centro da cidade há 20— e livrarias. Um ponto alto será a Bienal do Livro, em junho, que se espera ser a maior até hoje. Outra iniciativa importante, a qualificação de jovens para o mercado editorial. O objetivo de tudo isso é fomentar a literatura, a sustentabilidade do mercado e a leitura de livros, inclusive pelos meios eletrônicos.

O Rio foi escolhido pelo seu "patrimônio literário", de alcance histórico e nacional. Há 100 anos, por exemplo, já abrigava escritores de todos os estados e os acolhia nos suplementos literários de dezenas de jornais diários e revistas, mais de 30 editoras e outras tantas livrarias —a principal, a Leite Ribeiro, com um estoque de 300 mil volumes, fachada de 100 metros de extensão e vitrines iluminadas dominando o largo da Carioca. E nos gabinetes de leitura, salões de discussões, grêmios, cafés, confeitarias e qualquer lugar onde se pudesse discutir ideias. Não raro, poetas trocavam bengaladas por uma metáfora.

O país mudou, mas não de todo. O livro se sentirá em casa aqui e o resultado não se medirá somente por exemplares vendidos ou leitores conquistados, mas por um aprimoramento espiritual coletivo.

O Rio de Janeiro continua lendo porque é algo que nunca deixou de fazer.

Fonte: Folha de S. Paulo - 26.mar.2025
Para o golfinho e a baleia, a felicidade é existir. O ser humano deve descobrir isto e se maravilhar com isto. (Jacques Yves Cousteau)

LUGARES

BRIEC - FRANÇA

A imagem mostra a Église Saint-Gorgon de Plovan ou a Chapelle Sainte-Cécile (Briec). Briec é uma comuna francesa na região administrativa da Bretanha, no departamento Finisterra. Estende-se por uma área de 67,85 km². Em 2010 a comuna tinha 5 376 habitantes. Wikipédia Apesar das poucas fontes que indicam a construção desta igreja, muitos elementos significativos a ligam ao estilo arquitetônico de Pont-Croix, provavelmente datando-a do final do século XIII. Foi amplamente reconstruída em 1791, e a torre sineira em si data de 1520. A igreja ainda abriga muitas estátuas transferidas da capela de Languidou no final do século XVIII.

FRASES ILUSTRADAS

domingo, 1 de junho de 2025

VINHO BRANCO EM MOSCOU

Nem querendo se consegue conversar em russo. A experiência de outras viagens para países de língua estranha, para dizer o mínimo, deveria ser a nossa salvação. Afinal, não tivemos problemas com bebida e comida em outros lugares, como Praga, Budapeste, Helsinki, Copenhagen, etc. Com rudimentos de inglês sempre nos fizemos entender. 

Em penúltimo caso, sempre existe um restaurante italiano ao seu dispor ou um garçom que fala espanhol e em último caso, até em Moscou é possível encontrar um Mc Donald’s, onde o cardápio nem precisa ser escrito em inglês, pois em se tratando de fast food sempre tem a foto. É só apontar para a foto do lanche que queremos e pronto, nos fazemos entender. Assim ocorreu em Haia, em Oslo e em outros lugares. 

Em Moscou, depois de instalados e de um banho reconfortante, pensamos que não seria difícil encontrar um restaurante italiano, expectativa suprida a menos de duzentos metros do hotel. O letreiro anunciava o Buon Apettito, cujas letras eram pintadas nas cores oficiais da Itália. 

Ao sermos atendidos logo na entrada do restaurante, arrisquei uma comunicação em italiano a fim de me certificar de que efetivamente estávamos certos. A resposta foi positiva e então ficamos tranqüilos. Até pedimos para trocar de lugar para uma ala de não fumantes, tudo sem maiores problemas. 

Estes começaram com a bebida já que não tivemos dificuldades com o que iríamos comer. Para acompanhar pensamos em vinho branco quando nos foi apresentada a respectiva carta. Havia o que queríamos, um pinot grigio. Mas a carta não indicava se era garrafa inteira, meia garrafa, etc. 

As tentativas de obter alguma resposta do simpático rapaz que nos atendia resultaram frustradas eis que ele não entendia uma só palavra do que eu dizia em italiano ou tentava dizer em inglês, ambos idiomas totalmente estranhos ao infante. 

Por gestos consegui ou pensei ter conseguido me fazer entender, ou seja, de que desejava apenas meia garrafa. Longos e demorados minutos após ele trouxe uma jarra muito pequena contendo uma dose do que eu supunha ser o meu esperado vinho. Meu cálculo, na hora, era de que o volume não passava de sessenta (60) miligramas, o que não daria nem mesmo para um segundo e generoso gole. 

O garçom não entendia absolutamente nada do que eu falava mas procurava ser simpático e compreensivo, tanto que chamou uma moça para vir até a nossa mesa. Também não tivemos sucesso. 

Levantei e fui até o bar onde identifiquei na prateleira meia garrafa de vinho tinto. Com gestos pedi que a colocassem sobre o balcão e então passei a tentar explicar que era aquela que eu queria, com a única diferença de ser vinho branco e não tinto e gelado. 

Minha salvação ocorreu quando uma terceira garçonete veio em socorro de todos. Ela tinha traços orientais e para minha surpresa, era a que melhor falava a língua italiana, se é que falava. Mas conseguimos nos entender a ponto de ter sucesso tanto na pedida da meia garrafa de vinho branco, quanto em obtê-la gelada. 

Enquanto eu ainda estava junto ao balcão, a simpática oriental providenciou ainda a retirada da pequena jarra que me fora servida anteriormente, a qual nem havia tocado. Para minha surpresa consegui identificar na conversa entre as duas pessoas junto ao balcão algo que soava como grappa. Será? Levei a pequena jarra ao nariz e de pronto identifiquei que o seu conteúdo realmente era grappa, daquelas cujo teor alcoólico torna-a altamente inflamável. 

Como eu havia conseguido resolver o meu problema, digamos, etílico, não indaguei de ninguém a razão pela qual aquela bebida me fora servida. Fiquei pensando o que eu teria dito para o garçom interpretar a minha pedida mas não encontrei resposta. 

Também tomou conta dos meus pensamentos saber o que o jovem garçom teria pensado de nós ao pedir grappa para acompanhar uma refeição leve como a que pedíramos – risoto e pasta. – Que hábitos estranhos têm esses brasileiros!, bem que poderia ser a conclusão do esforçado garçom. 

Além da inusitada experiência daquela noite, o restante transcorreu maravilhosamente bem, tanto que no dia seguinte resolvemos jantar no mesmo restaurante. O dia tinha sido muito quente – era a época dos incêndios nos arredores de Moscou – pelo que resolvemos ocupar uma mesa ao ar livre. 

Ao nos ver, a mesma garçonete que nos atendeu na noite anterior, reconhecendo-nos, não conseguiu esconder um certo ar de surpresa. Procurei tranqüiliza-la dizendo-lhe em inglês: 

-Tonight no wine. 

Ela entendeu e deu uma risada. Para nossa tranqüilidade e também dos garçons, resolvemos comer pizza e tomar bier, termos que ao que parece, são compreendidos em todos os lugares, inclusive na Rússia.
Onde há amor e sabedoria, não há medo e nem ignorância. (São Francisco de Assis)

LUGARES

TÍVOLI - ITÁLIA

Vila Adriana é um antigo complexo palaciano construído, no século II, para o Imperador Adriano. Situado na cidade de Tivoli, a uma trintena de quilómetros de Roma, figura entre os mais ricos conjuntos monumentais da Antiguidade. Wikipédia

FRASES ILUSTRADAS