sábado, 7 de junho de 2025

ROMANCE FORENSE

Charge de Gerson Kauer
A zona do meretrício do juiz e da estagiária

Na comarca de médio porte, a maioria dos servidores estava em greve. O juiz tentava realizar as audiências, com parcos recursos de pessoal: apenas dois funcionários no foro e uma limitada estagiária, cedida há três meses pela Prefeitura.

O grande processo da tarde era sobre tráfico de drogas, com prisões e enorme apreensão feita na zona do meretrício.

A jovem estagiária Magdinha, instada pelo magistrado, mostrou-se disposta:

- Eu posso digitar a audiência, mas não sou muito rápida no computador, nem tenho experiência.

- Sem problemas. Iremos devagar – admitiu o juiz.

Ele ouvia os depoimentos, e ditava para Magdinha. A duras penas os termos eram concluídos e assinados, um a um, pelos depoentes, pelos defensores e pelo promotor.

O juiz assinaria tudo de uma vez, no final. Quatro horas e meia depois terminou a audiência; então todos foram embora e o magistrado – ficando só - resolveu dar uma lida.

Perplexo, então, observou que, em todos os depoimentos, toda a vez que ditara “zona do meretrício”, a estagiária fizera constar “zona do meretíssimo”.

Não havia mais como consertar o que estava escrito e impresso, pois os depoimentos eram muitos e estavam todos assinados. A solução foi deixar assim mesmo...

Mas o juiz foi precavido, ao sentenciar. Para evitar embaraços no tribunal - se o MP e os desembargadores chegassem a ler os depoimentos atentamente... – o magistrado fez constar, em letras itálicas negritadas, a seguinte observação:

“Registro preliminarmente que, nos depoimentos, as reiteradas referências feitas à ´zona do meretíssimo´ [e nem sequer ´meritíssimo´ era...], a esforçada estagiária que auxiliou na prestação jurisdicional cometeu repetitivos equívocos: a intenção foi a de digitar, evidentemente, ´zona do meretrício´, local da cidade onde se deu a vigorosa ação policial e a consistente apreensão de drogas”.

No segundo grau, MP e Corte passaram voando, sem escalas, por cima dos erros de digitação. E a sentença foi confirmada.

Na comarca, Magdinha ficou conhecida como a “meretíssima estagiária” (e nem meritíssima era).

E na região, o eminente juiz foi gozado pelos colegas, com o epíteto de “meretrício Doutor Fulano”...

Fonte: www.espacovital.com.br

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