Charge de Gerson Kauer |
Na comarca de médio porte, a
maioria dos servidores estava em greve. O juiz tentava realizar as audiências,
com parcos recursos de pessoal: apenas dois funcionários no foro e uma limitada
estagiária, cedida há três meses pela Prefeitura.
O grande processo da tarde era
sobre tráfico de drogas, com prisões e enorme apreensão feita na zona do
meretrício.
A jovem estagiária Magdinha,
instada pelo magistrado, mostrou-se disposta:
- Eu posso digitar a audiência,
mas não sou muito rápida no computador, nem tenho experiência.
- Sem problemas. Iremos devagar –
admitiu o juiz.
Ele ouvia os depoimentos, e
ditava para Magdinha. A duras penas os termos eram concluídos e assinados, um a
um, pelos depoentes, pelos defensores e pelo promotor.
O juiz assinaria tudo de uma vez,
no final. Quatro horas e meia depois terminou a audiência; então todos foram
embora e o magistrado – ficando só - resolveu dar uma lida.
Perplexo, então, observou que, em
todos os depoimentos, toda a vez que ditara “zona do meretrício”, a estagiária
fizera constar “zona do meretíssimo”.
Não havia mais como consertar o
que estava escrito e impresso, pois os depoimentos eram muitos e estavam todos
assinados. A solução foi deixar assim mesmo...
Mas o juiz foi precavido, ao
sentenciar. Para evitar embaraços no tribunal - se o MP e os desembargadores
chegassem a ler os depoimentos atentamente... – o magistrado fez constar, em
letras itálicas negritadas, a seguinte observação:
“Registro preliminarmente que,
nos depoimentos, as reiteradas referências feitas à ´zona do meretíssimo´ [e
nem sequer ´meritíssimo´ era...], a esforçada estagiária que auxiliou na
prestação jurisdicional cometeu repetitivos equívocos: a intenção foi a de
digitar, evidentemente, ´zona do meretrício´, local da cidade onde se deu a
vigorosa ação policial e a consistente apreensão de drogas”.
No segundo grau, MP e Corte
passaram voando, sem escalas, por cima dos erros de digitação. E a sentença foi
confirmada.
Na comarca, Magdinha ficou
conhecida como a “meretíssima estagiária” (e nem meritíssima era).
E na região, o eminente juiz foi
gozado pelos colegas, com o epíteto de “meretrício Doutor Fulano”...
Fonte: www.espacovital.com.br
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