quinta-feira, 3 de julho de 2025

CRIOULOS DOIDOS

Carlos Heitor Cony

Estamos carecas de lamentar as deficiências do ensino tal como vem se praticando no Brasil, sobretudo dos tempos autoritários para cá, quando as reformas no campo educacional foram desastrosas e, infelizmente, parece que ainda não chegamos ao fundo do poço.

Temos exceções, há uma brilhante geração de profissionais que estão dando para o gasto. Surpreendo-me com eles, na faixa dos 30 anos, que dominam um conhecimento surpreendente nos seus ramos da administração, da economia, da técnica e da ciência.

Mas são exceções, repito. Prevalece a grande, a imensa massa do estudante comum, que passa pelas escolas e até mesmo pelas faculdades e aprendem pouco, pouquíssimo, e, o que é mais doloroso, aprendem mal.

São conhecidos diversos casos que nos envergonham. Em época de vestibular, é comum a divulgação de besteiras que circulam nas provas, algumas delas de fazer os paralelepípedos da rua Lins de Vasconcelos chorarem. (Estou usando uma velha imagem do Nelson Rodrigues que é do meu agrado, nasci nesta rua e ela hoje está asfaltada).

Outro dia, após palestra em faculdade de uma das capitais mais prósperas do país, um professor me mostrou o xerox da prova de um aluno que se habilitava ao curso superior. O pasmo foi tão grande que ele, duvidando dos próprios olhos, tirou o xerox para mostrar aos colegas e ter certeza de que não lera errado.

A questão formulada era: "O que aconteceu de importante no Brasil em 1954". Resposta: "Getúlio Vargas foi enforcado porque mandou matar Carmem Miranda que estava em Paris".

Comentei recentemente que para a geração que está chegando ao mercado da comunicação e da publicidade, o mundo começou com Elis Regina, com o cinema-novo e a bossa-nova. Antes disso, há a muralha espessa, intransponível, que faz Tiradentes descobrir o Brasil, JK nascer em Brasília e Jesus Cristo ter morado no Vaticano, onde proibiu o uso da camisinha.

Fonte: Folha de S.Paulo - 10/05/2005

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