terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

ROMANCE FORENSE

O padrão Fifa na sala de audiências

Sala de audiências em cidade de médio porte. O advogado bastante conhecido - e com muitos anos de militância - ingressa no recinto e se detem ao lado da mesa do juiz, sobre a qual se encontram os autos dos processos que estão na pauta do dia.


As feições do profissional da Advocacia exibem a intenção de examinar o processo em que ele atuava. Mas o julgador, empossado havia um mês, mesmo percebendo que o advogado quer pegar os volumes, prossegue falando com os procuradores e partes que se encontram à mesa, ignorando o visitante recém chegado.

O advogado, então, se espicha e pega os autos sem interromper a audiência em andamento. Mas imediatamente ouve a advertência do magistrado, recriminando-o por sua ação:

- Doutor, o senhor não pode fazer isto.

- Como não? É minha prerrogativa profissional examinar os autos antes da audiência, e o senhor sequer me olhou, impedindo-me de pedir licença.

Ao que o magistrado retruca:

- Mas aqui o meu padrão é outro...

- Padrão, doutor? Padrão de que eu ouvi falar - e mal, por sinal - é o tal de padrão Fifa. O senhor assumiu recentemente e já possui padrão? Padrão, a gente adota em casa, com a mulher, os filhos, os empregados... - dispara, ferino, o advogado.

Um silêncio ruidoso domina a sala, até que o advogado verbaliza, encerrando o incidente com sutil ironia:

- Aqui, se o senhor aplicar a Loman, o Estatuto da Ordem, o CPC e a CLT, já estará de bom tamanho...

E logo complementa:

- São esses os diplomas que dispõem sobre as normas processuais padrão, aplicáveis nas audiências.

Com a face rubra, o novel juiz fica silente por alguns segundos. E só lhe resta prosseguir com a audiência que fora interrompida com a troca de farpas.

Nos corredores do foro, depois, na mesma tarde, só se falava na juizite desfeita.

Fonte: www.espacovital.com.br

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