segunda-feira, 4 de julho de 2022

MENTIR É FURAR A FILA DA EXISTÊNCIA

Fabrício CarpinejarFabrício Carpinejar

Não existe mentira para poupar o outro. Você mente para proteger a si mesmo.

Mentir com a intenção de não magoar é magoar depois com juros. Destrói todas as verdades passadas e todas as verdades futuras. Perde a integridade da memória e o crédito do futuro. Não sobra nada para exercer a lealdade do presente.

Só que o mentiroso não é um ingênuo, mas no máximo um preguiçoso. Atalha as suas vitórias. Sabe bem o que está fazendo ao encurtar distâncias.

Você mente porque quer algum privilégio, um benefício, ou para não ser julgado e assegurar a impunidade de suas falhas.

A mentira é furar a fila da existência, é roubar o lugar de alguém. Seja por inveja, seja por ciúme, seja por insegurança, busca ostentar méritos que não foram conquistados pelo próprio esforço.

Rompe o senso democrático de igualdade, de respeitar o tamanho da sua condição atual. Tenta parecer quem não é pelas facilidades da convivência.

É o lucro indevido da experiência, o ágio das amizades, o leilão da família, o desvio do pedágio dos amores.

Porque sinceridade é humildade, é reconhecer os seus limites, é dizer “sou o que posso”.

Quem mente segue o propósito de passar um afeto para trás, dar uma rasteira emocional. Além de evidenciar a arrogância de subestimar o interlocutor - afinal, você acredita que ele não conta com a capacidade de descobrir a distorção.

Há um padrão de comportamento patológico de desvalorizar a companhia, subestimar a inteligência alheia, partindo do princípio de que é infinitamente melhor do que os demais.

Se a mentira dura mais do que vinte e quatro horas, significa que ela não é um descuido, uma distração, um lapso. Sua duração pode ser para a vida inteira. Foi arquitetada com plena consciência das consequências. Predominou um claro interesse de substituir um acontecimento autêntico, de fraudar o que é legítimo.

Quanto mais tempo demorar para desfazer o equívoco, mais difícil será o perdão. Porque faltou compaixão com as pessoas ao seu lado: desfrutou de dias e dias inumeráveis para não induzir ninguém ao erro.
A mentira jamais é solitária. Mentindo, você quer que o outro erre junto. Arrasta álibis para dentro de seus desastres. É a solidariedade do mal.

E pode até usar atenuantes, alegando que são mentirinhas. Mas mentirinhas também não existem. A mentira é um enorme vazio emprestado.

Fonte: Facebook

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