
Fabrício Carpinejar
Gaúcho é romântico. Por mais bagual que se porte, por mais machista que aparenta ser. É romântico. Ele se curva para a delicadeza das milongas e das trovas exaltando o pago. Sofre com a família e para a família. O galpão é a sua casa ancestral dentro da casa.
Faz fama de grosso, de insensível, de espora na bota, de facão na guaiaca, mas é um ingênuo devoto do amor.
É um menino prendado, que brinca de sujar as palavras, porém no fundo se lava com a poesia dos gestos. Disfarça-se de piadas desbocadas em rodas de violão, exagera causos de virilidade e heroísmo, para não parecer tão frágil como realmente é.
O gaúcho simula que é dominador, só que segue dominado pela exuberância simbólica de suas mulheres.
Uma prova é a bombacha. A bombacha não tem zíper. Não tem a fechadura masculina de poder, de estar disponível para qualquer momento, não tem a porta de fácil acesso da falocracia. A bombacha é cerimoniosa, não abre com um deslizar dos dedos para libertar o sexo.
A bombacha corteja, pajeia, seduz. Sua braguilha é feita de botões. Oferece a dificuldade de uma camisa.
Trata-se de um detalhe revelador. Precisa ser desabotoada pouco a pouco, com a reserva da surpresa, num movimento de respeito com a própria nudez e diante da nudez de quem se ama.
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